DeepSeek e a disputa imperialista por liderança na disputa tecnológica

Ascensão do DeepSeek chinês na corrida tecnológica global e seus impactos na disputa imperialista entre EUA e China revela as limitações do capitalismo no desenvolvimento autônomo de países como o Brasil.

DeepSeek e a disputa imperialista por liderança na disputa tecnológica
Reprodução/Foto: Dado Ruvic/Reuters.

Por Redação

Nos últimos anos, o campo da inovação tecnológica tornou-se um dos principais teatros da disputa imperialista, refletindo as tensões geopolíticas entre as grandes potências. A mais recente revolução nesse cenário é a ascensão do DeepSeek, uma inovação proveniente da China que visa estabelecer a nação como líder global no campo da inteligência artificial (IA) e da análise de dados. No entanto, o DeepSeek vai além de uma simples inovação tecnológica, representando a própria batalha imperialista entre os EUA e a China pelo controle da liderança científica e tecnológica mundial, que impacta diretamente nas relações de poder entre as nações.

Dessa forma, essa disputa tem um significado maior dentro de uma ótica de crítica à economia política, de modo que essa inovação tecnológica não é um processo autônomo ou neutro, mas sim, um reflexo das relações de classe, do controle do conhecimento e da distribuição desigual do poder no mundo. O avanço do DeepSeek está profundamente inserido nas contradições do sistema capitalista, que, em sua fase imperialista, busca não só explorar os mercados, mas também dominar as formas de conhecimento e as novas forças produtivas.

Trata-se de uma competição pelo controle de mercados e tecnologias essenciais que moldam a economia global, e, nesse contexto, as nações imperialistas buscam garantir sua supremacia não só no comércio, mas também no desenvolvimento e controle de inovações tecnológicas. O lançamento do DeepSeek pela China, por exemplo, é uma resposta estratégica a esse domínio. Ao desenvolver uma tecnologia que pode competir com as grandes inovações dos EUA, como as que alimentam a inteligência artificial de empresas como Google e Amazon, a China não está apenas avançando no campo científico, mas buscando reverter a hierarquia do conhecimento tecnológico global.

A disputa imperialista entre os EUA e a China no campo da tecnologia

O DeepSeek surge em um momento crucial na rivalidade geopolítica entre os Estados Unidos e a China. A tecnologia desenvolvida pela China reflete uma intenção explícita de desafiar a supremacia imperialista dos EUA, que se mantém como líder global no campo da inovação, sobretudo nas áreas de inteligência artificial, computação em nuvem e análise de big data.  O avanço de tecnologias como o DeepSeek desafia diretamente a posição dominante das corporações imperialistas dos Estados Unidos, como Google, Microsoft e Amazon, cujas ações estão sujeitas a flutuações com as tensões geopolíticas e comerciais.

Esse fenômeno, característico da fase imperialista do capitalismo, é marcado pela oscilação das ações dessas corporações.

Em resposta ao avanço da China, os Estados Unidos reagiram com uma série de medidas protecionistas, incluindo a imposição de sanções contra empresas chinesas como a Huawei e a recusa de tecnologia avançada para evitar o avanço do país nas áreas mais estratégicas. A guerra comercial entre as duas potências intensifica-se não apenas nas tarifas, mas também no terreno da ciência e da tecnologia. A China, por sua vez, ao desenvolver inovações como o DeepSeek, está buscando uma autossuficiência tecnológica, desconstruindo a dependência das patentes e inovações ocidentais.

Os EUA, ao tentarem isolar a China nas áreas tecnológicas, confirmam a centralidade da tecnologia como uma forma de hegemonia imperialista. Ao mesmo tempo, a China não está apenas reagindo, mas avançando com seu próprio projeto de soberania tecnológica, e o DeepSeek é a expressão dessa nova fase. Trata-se de um jogo de poder em que o controle das novas tecnologias se traduz diretamente em um controle maior sobre os fluxos econômicos globais, sobre os mercados de trabalho e, finalmente, sobre a capacidade de moldar o futuro econômico global.

A inflamação do mercado e as reações ao avanço da China

A introdução do DeepSeek no mercado tecnológico tem produzido efeitos diretos e profundos nas dinâmicas econômicas globais, especialmente no setor de alta tecnologia, onde a competição entre os gigantes imperialistas se intensifica. A inovação chinesa não é apenas uma questão técnica ou científica, mas um movimento estratégico para reconfigurar as relações de poder dentro do capitalismo global. A reação do imperialismo estadunidense a esse avanço não se limita à oposição política e diplomática, mas se reflete em uma série de movimentações econômicas que buscam garantir a supremacia dos EUA no mercado global de tecnologias emergentes. No entanto, a intensificação dessa competição não ocorre de forma simples ou linear. Ela se torna um militarismo tecnológico que reflete a natureza predatória do capitalismo imperialista ao passo que mistura estratégias de bloqueio, sanções e uma luta pelo controle de patentes e mercados.

Esse contexto revela um aumento das ações dessas corporações, com o aumento da concentração de capital no setor tecnológico. As incertezas geradas por essa disputa entre as potências levam os investidores a reagir de forma imprevisível, com os preços das ações variando conforme o avanço ou retrocesso das tensões geopolíticas. As potências imperialistas utilizam suas grandes corporações tecnológicas como instrumentos de guerra econômica, com impactos diretos sobre a economia global e as condições de vida das classes trabalhadoras em todo o mundo.

Além disso, o desenvolvimento de tecnologias como o DeepSeek acirra ainda mais a concentração monopolista das grandes corporações em poucas mãos. Embora essas inovações possam ser consideradas avanços técnicos, o uso delas no capitalismo tende a beneficiar uma minoria, enquanto a maioria da população global permanece à margem do acesso a esses novos recursos. Assim, o próprio avanço científico e tecnológico, sob o capitalismo, se torna uma ferramenta de concentração e controle, não de desenvolvimento social e econômico para as massas.

A dependência brasileira e a insuficiência do capitalismo no desenvolvimento tecnológico

A recente ascensão do DeepSeek e a crescente rivalidade entre os Estados Unidos e a China pelo controle da vanguarda tecnológica global expõem, de maneira clara, a dependência estrutural do Brasil e de outras nações em relação aos centros imperialistas de poder. Embora o Brasil se coloque como uma potência emergente em diversos setores da economia global, sua posição na cadeia imperialista continua sendo de dependência tecnológica. Essa dependência é particularmente evidenciada no campo das inovações científicas e tecnológicas, nas quais o Brasil é um país submisso às decisões políticas e econômicas tomadas pelas potências imperialistas, como os EUA e a China.

Uma outra análise permite entender que a dependência tecnológica do Brasil não é um acidente histórico, mas uma consequência direta da inserção subordinada do país no sistema capitalista global.

A realidade do Brasil, como parte integrante da periferia do capitalismo, impõe limitações estruturais ao seu desenvolvimento tecnológico. O país está inserido em uma divisão internacional do trabalho que o coloca como fornecedor de matérias-primas e produtos de baixo valor agregado, em vez de um centro de inovação e produção tecnológica. A história da industrialização no Brasil, profundamente marcada pelo modelo de substituição de importações e pelo projeto de desenvolvimento voltado para o mercado interno, nunca foi capaz de se desviar da lógica imperialista que restringe as possibilidades de avanço tecnológico genuíno.

Durante as últimas décadas, os investimentos em ciência e tecnologia no Brasil foram extremamente limitados, e as políticas públicas frequentemente priorizaram a absorção e adaptação de tecnologias desenvolvidas em outros países, em vez de fomentar um desenvolvimento tecnológico autônomo e baseado nas necessidades sociais do povo brasileiro. Esse padrão de desenvolvimento, imposto pelo capitalismo mundial, está atrelado à ideologia neoliberal que, ao longo dos anos, limitou os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e desestruturou o que restava da indústria nacional. O Brasil, assim, se vê relegado a um papel secundário no avanço das novas tecnologias, onde a dependência dos centros imperialistas se perpetua.

Além disso, a dependência do Brasil em relação aos grandes polos tecnológicos globais também se reflete na subordinação da sua educação e pesquisa científica aos padrões estabelecidos pelos países imperialistas. A maior parte das universidades brasileiras, embora produza conhecimento em várias áreas, ainda se encontra dependente de parcerias e colaborações com centros de pesquisa nos Estados Unidos, na Europa e, mais recentemente, na China. A falta de uma infraestrutura nacional robusta para o desenvolvimento de tecnologia de ponta, aliada à escassez de recursos direcionados à pesquisa científica independente, impede que o Brasil tenha a capacidade de competir em igualdade de condições no campo da inovação global.

O avanço do DeepSeek não é apenas uma vitória tecnológica da China, mas um reflexo das profundas assimetrias do capitalismo mundial, onde as nações periféricas como o Brasil são simplesmente consumidores de tecnologias produzidas no centro imperialista. O país, ao invés de produzir suas próprias inovações, é forçado a adotar as tecnologias que as grandes potências impõem, o que limita seu próprio desenvolvimento. Nesse contexto, a reação do imperialismo estadunidense ao avanço tecnológico da China, e a tentativa de manter sua hegemonia tecnológica, só intensifica a marginalização do Brasil nesse processo.

O capitalismo, como sistema de exploração, não tem como objetivo o desenvolvimento social, mas sim a maximização do lucro e o controle do poder global pelas grandes potências imperialistas. As inovações tecnológicas, sob o domínio do capitalismo, são produzidas não para melhorar as condições de vida da população mundial, mas para garantir o controle econômico e político das potências dominantes. O DeepSeek, por exemplo, é uma tecnologia que pode beneficiar amplamente a sociedade, mas é também um produto que serve à acumulação de capital e à manutenção da hegemonia de um bloco imperialista sobre o restante do mundo.

Essa lógica de desenvolvimento sob o capitalismo, centrada na competição e no controle do mercado, impede que países como o Brasil usufruam dos benefícios das inovações científicas e tecnológicas de maneira ampla e democrática. Ao invés de criar as condições para o desenvolvimento autônomo e sustentável, o capitalismo reforça a dependência dos países periféricos, enquanto as grandes potências controlam as tecnologias que poderiam impulsionar uma verdadeira revolução social. O Brasil, como parte dessa cadeia imperialista, permanece à margem dos avanços tecnológicos e, na maioria das vezes, é apenas um consumidor das inovações que surgem nos centros do capitalismo global.

Além disso, a busca pela maximização do lucro das corporações transnacionais impede que as inovações sejam direcionadas para resolver os problemas estruturais e sociais de países como o Brasil. O capitalismo não tem interesse em resolver as desigualdades sociais, em reduzir a pobreza ou em promover o desenvolvimento sustentável. Ao contrário, ele cria as condições para que as grandes potências mantenham o controle das inovações, sem que estas beneficiem verdadeiramente as massas trabalhadoras do mundo.

Para o Brasil, a questão do DeepSeek não é apenas uma questão tecnológica, mas uma questão de soberania nacional. A dependência tecnológica do país reflete a subordinação econômica e política a um sistema imperialista que impede qualquer avanço significativo. A verdadeira emancipação do Brasil, assim como de outras nações periféricas, só se torna possível quando o país conseguir romper com a lógica do capitalismo global, que coloca os interesses das grandes potências acima das necessidades do povo.

A luta pela autossuficiência científica e tecnológica é uma luta contra a subordinação ao imperialismo. Só através da priorização das necessidades da classe trabalhadora e dos setores populares o DeepSeek e outras inovações tecnológicas não seriam vistos como instrumentos de controle e poder das grandes potências.