'De que serve a UJC? Uma resposta ao camarada P. Acácio' (Pedro Alcântara)
Um militante em formação que defende uma linha vacilante, a defende por ainda estar aprendendo. O papel dos camaradas do partido, então, é refutar e corrigir os erros da juventude, sem qualquer tipo de paternalismo, mas levando isso em consideração.
Por Pedro Alcântara para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
"[D]evo dizer que essas tarefas da juventude em geral e das uniões da juventude comunista e de quaisquer outras organizações em particular poderiam exprimir-se com uma só palavra: a tarefa consiste em aprender." Vladimir Ilych Lênin, As Tarefas das Uniões das Juventudes, 1920
Camaradas, venho aqui fazer o que vou chamar de resposta indireta à tribuna do camarada P. Acácio. Chamo assim pois não tratarei diretamente do problema colocado pelo camarada, a saber, o da "situação de inversão de papéis, onde o partido é muito menor que a juventude, tendo muito menos trabalho e muito menos quadros formados", mas tentarei mostrar porque a dissolução da UJC não é uma ideia tão boa quanto parece.
A proposta colocada pela tribuna nasce de uma certa incompreensão (que, de forma alguma, atribuo única e especificamente ao camarada) sobre o papel da organização de juventude. Circula a ideia, em parte por culpa da cultura política do antigo PCB, de que a UJC seria um órgão "inferior" do partido, uma divisão dos assuntos de juventude. Como bem colocou Lênin em um artigo de 1915 (A internacional da juventude: uma análise), os mais velhos "frequentemente não sabem como abordar a juventude", muito menos lidar com as necessidades específicas dos jovens enquanto se formam como comunistas.
Se coube à UJC (e aos coletivos, não esqueçamos) defender os princípios marxistas que guiam os comunistas, não foi porque os dirigentes da UJC são "bonzinhos" e os do partido "mauzinhos", como faz parecer o camarada, mas porque esse fenômeno não é, de forma alguma, algo novo. É justamente na juventude que se manifesta o ódio ao oportunismo na sua forma mais intensa.
E isso se explica: a organização, sendo o lugar onde se formam os futuros comunistas, carrega dentro de si o espírito inquieto, efervescente, questionador da juventude. Essa, no entanto, é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, isso diminui o efeito de políticas de direções mandonistas e oportunistas, por outro, abre espaço para os mais diversos desvios. É nesse momento que entra o partido.
A falta de clareza e consistência teóricas se apresentam tanto no partido quanto na organização de juventude, mas por motivos diferentes. Um militante formado do partido que defende uma linha vacilante, a defende por oportunismo. Um militante em formação que defende uma linha vacilante, a defende por ainda estar aprendendo. O papel dos camaradas do partido, então, é refutar e corrigir os erros da juventude, sem qualquer tipo de paternalismo, mas levando isso em consideração.
A importância da organização de juventude começa a tomar um contorno mais nítido. Algo que é inadmissível no partido é perfeitamente admissível, e até esperado, numa organização de juventude (contando que se corrijam os desvios, claro). E isso não se resume aos assuntos da juventude. A juventude pode e deve se envolver nos mais diversos campos da luta política. E, se é verdade o que disse Lênin, que "sem trabalho, sem luta, o conhecimento livresco do comunismo, adquirido em brochuras e obras comunistas, não vale absolutamente nada", então que a juventude integre a luta quotidiana dos comunistas. É completamente absurdo dividir que tarefas seriam propriamente "da juventude" e quais não seriam, principalmente se vamos restringir a UJC ao movimento estudantil, como propõe o camarada (dos outros trabalhos "a definir" não se vê um exemplo).
O camarada ainda cita a fórmula leninista, segundo a qual, "formas organizativas servem para se lidar com situações políticas". Não tenho discordância alguma com o conteúdo da fórmula, mas sim com a análise do camarada. Vivemos num momento de considerável crescimento do interesse espontâneo da massa de trabalhadores e estudantes (a maioria jovens), mas, ao mesmo tempo, de profunda confusão ideológica e falta de clareza teórica, até mesmo dentro da UJC. Como pode, nessas condições, a UJC perder a razão de ser?
Paradoxalmente, a solução das ditas relações entre a juventude e o partido está na própria tribuna. Um pouco entulhada, mas ainda lá. Vejamos, se o problema é ter quadros e trabalhos numa estrutura "subordinada, com poderes deliberativos inferiores e relativos em relação ao partido", a solução é muito simples: dar mais autonomia (Lênin chega a falar em independência completa) para a juventude. Os jovens, e isso que custa aos "adultos" do partido entender, precisam dessa autonomia pois avançam em direção ao socialismo de forma completamente diferente daqueles que vieram antes. Negar essa autonomia significa engessar a organização e deixar de formar bons comunistas. É empacar o movimento. Os únicos que tem a perder com isso, e por essa razão tentam impedir a todo custo que a juventude adquira sua merecida independência, são os oportunistas.