'De onde viemos e para onde vamos? Discurso de abertura da Etapa Estadual no RS' (Theo Dalla)

Após cerca de sete meses após a consolidação de nossa cisão no Rio Grande do Sul, chegamos, finalmente, neste que é um de seus momentos mais importantes: o XVII Congresso Extraordinário do Partido Comunista Brasileiro.

'De onde viemos e para onde vamos? Discurso de abertura da Etapa Estadual no RS' (Theo Dalla)
"Camaradas, a ninguém agrada uma cisão. O árduo e doloroso processo de cisão não aconteceu por mero capricho. Menos ainda se tratava de uma disputa de egos ou discordâncias pontuais. Nada valeria a pena uma cisão, que sempre significa redução de forças, desorganização momentânea e, por consequência, aumento exponencial da dificuldade e quantidade do trabalho militante, se não fosse por motivos extremamente importantes."

Por Theo Dalla para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Este discurso foi lido na abertura da Etapa Estadual do XVII Congresso Extraordinário do PCB, com objetivo de ressaltar nossa trajetória, princípios e valores a serem cultivados tanto durante nossa Etapa Estadual, como para o futuro de nossa organização.

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Camaradas,

Após cerca de sete meses após a consolidação de nossa cisão no Rio Grande do Sul, chegamos, finalmente, neste que é um de seus momentos mais importantes: o XVII Congresso Extraordinário do Partido Comunista Brasileiro. Neste mês, todos os estados realizam suas etapas regionais do Congresso, a partir do que restará apenas a etapa nacional, que acontecerá ao final do mês de maio. Dado os profundos erros e desvios de princípio cometidos pelo antigo Partido, a realização de um amplo debate nacional sobre os rumos do PCB, ainda no ano passado, figurou como a principal e indispensável reivindicação colocada para assegurar a unidade de nosso Partido, exigência que foi sistematicamente desprezada e rejeitada pelo antigo Comitê Central do PCB. É como fruto desta luta de classes no interior do Partido que se originou, então, o Movimento pela Reconstrução Revolucionária do PCB, que, como bem resumiu antiga direção da UJC quando se posicionou sobre a cisão, realizaria o XVII Congresso Extraordinário "na lei ou na marra".

Feliz ou infelizmente, cá estamos nós, organizando este que é dos Congressos mais democráticos do Partido na última década, marcada pelo cerceamento dos debates, das divergências e da circulação de opiniões. Este Congresso, com seus erros e acertos, tem o mérito de ter tornado assunto público o debate sobre os rumos do Movimento Comunista Brasileiro, em relação ao qual, em nosso sítio virtual, quaisquer pessoas, militantes ou não, têm o direito de contribuir para o tão necessário avanço do comunismo em nosso país e para a construção de um instrumento revolucionário capaz de dirigir a Revolução Brasileira.

Camaradas, a ninguém agrada uma cisão. O árduo e doloroso processo de cisão não aconteceu por mero capricho. Menos ainda se tratava de uma disputa de egos ou discordâncias pontuais. Nada valeria a pena uma cisão, que sempre significa redução de forças, desorganização momentânea e, por consequência, aumento exponencial da dificuldade e quantidade do trabalho militante, se não fosse por motivos extremamente importantes. Estavam no centro da disputa princípios irrenunciáveis para quaisquer comunistas espalhados pelo mundo. É o papel de vanguarda do Partido Comunista, ou seja, a concepção de que o Partido Comunista deve ser o dirigente da luta de classes do proletariado; é o internacionalismo proletário, a irrestrita solidariedade com todos os povos oprimidos e explorados do mundo e a condenação absoluta das guerras imperialistas, sem ceder a qualquer uma das burguesias que disputam entre si por fatias maiores de dominação sobre a humanidade; é a independência de classe do proletariado, que não pode se sujeitar e subordinar seus interesses aos de nenhuma outra classe, que não pode se colocar a reboque das ilusões burguesas e pequeno-burguesas, independentemente da conjuntura política; é a defesa do verdadeiro centralismo democrático, que tem na crítica, na autocrítica e no amplo debate público de divergências, sem prejuízo da unidade de ação coletiva; é a insustentabilidade dos métodos artesanais de trabalho, que tanto nos limitou e limita; é o espírito de urgência histórica para enfrentar a barbárie capitalista que assola e oprime a imensa maioria da humanidade; são esses os principais motivos que nos obrigaram a elevar a luta interna do PCB até suas últimas consequências. E são estes princípios que não podem ser abandonados - jamais! - por toda pessoa que se considere comunista no Brasil e no mundo.

Camaradas, neste momento tão importante, também se faz necessário relembrar valores caros e indispensáveis à militância comunista, valores sem os quais a palavra camarada torna-se pura demagogia. Apesar de todos nós sofrermos a influência da ideologia burguesa, fruto da socialização opressora desta sociedade, é nosso dever cotidiano construir uma nova forma de relação entre seres humanos. Uma forma de relação que busque - sempre! - superar todas as formas de opressão, de individualismo, de egoísmo, de ganância, de competitividade entre nossa classe. Esta, por menor que pareça, é também uma tarefa grandiosa e mesmo dolorosa, porque exige um firme compromisso com a a transformação e o autoaperfeiçoamento diários, exige estar face a face, todos os dias, com o que há de pior em nós mesmos, e não fugir à batalha de construir algo superior. Não é aceitável, camaradas, que os homens em nossas fileiras tomem liberdades com as camaradas mulheres, que as silenciem, que as ignorem, que as menosprezem, que as assediem. Não é aceitável, camaradas, que a militância da cor branca exclua os e as camaradas pretos e pretas, que lhes fetichezem, que lhes negue a cultura, que lhes estigmatizem, que lhes trate como o Outro e não como um igual. Não é aceitável, camaradas, que as pessoas LGBTs sejam desrespeitadas e discriminadas por sua sexualidade, que as pessoas trans tenham sua identidade negada, seus pronomes desrespeitados, seus nomes mortos evocados. Porém, camaradas, muito mais do que saber o que não fazer, é preciso que saibamos o que fazer. Em vez do individualismo, construir a coletividade; em vez do egoísmo, construir a alteridade; em vez da ganância, construir o trabalho coletivo e dividir os frutos; em vez da competitividade, construir a irrestrita solidariedade. Mas, mais profundo que tudo isso, ou melhor, o que baseia tudo isso, é a construção de relações de igualdade, relações em que o Outro deixa de ser estranho e alienado do Eu. Somente quando passarmos a nos importar genuína e humanamente uns com os outros, quando passarmos a valorizar a Escuta de tudo que nossos e nossas camaradas tem a dizer, independentemente de quem seja, quando passarmos a sentir o impulso de ajuda mútua quando vemos um camarada trabalhando sozinho, quando nos dispormos a corrigir imediatamente tudo que vemos de errado (desde os desvios políticos até o papel de lixo jogado no chão da sede), quando passarmos a olhar com foco, ouvir com atenção e cuidar com fraternidade uns dos outros, só aí é que seremos dignos da palavra camarada. 

Por fim, camaradas, vos lembro do motivo pelo qual estão aqui. Não estão por diversão, não estão por hobby, não estão por falta do que fazer, não estão (ou não devem estar) por amizade. Estão aqui porque acreditam profundamente na possibilidade e, mais do que isso, na necessidade inadiável de destruir o poder que domina, oprime e explora nosso povo há séculos. Estão aqui porque sabem que o marxismo-leninismo é a ciência capaz de nos guiar nos mais difíceis caminhos que forem necessários percorrer. Estão aqui porque não abaixaram a cabeça e não desistiram frente a barbárie do mundo. Estão aqui porque não permitiram que o capitalismo lhes arrancasse o último fio de humanidade. Estão aqui porque sabem, porque acreditam, porque tem a convicção que, independentemente da sofisticação das armas, das técnicas e ideias utilizadas pela burguesia para dominar a humanidade, é impossível que eles vençam. Porque sabem que eles jamais alcançarão uma dominação plena, absoluta e invencível. Que independentemente da força da mão que nos oprime, eles jamais vão impedir que gritemos, que nos juntemos, que os enfrentemos, como muito bem prova e dá exemplo o povo palestino na luta contra a dominação sionista. Porque a história é a história da luta entre as classes, cujo motor é a contradição, e eles não podem acabar com a contradição que move este mundo. Estão aqui porque têm a certeza de que a vitória da classe trabalhadora é inevitável, porque, sem dúvidas, nós venceremos.

Um bom congresso a todos nós!