'De manhã vou pro trabalho mas, quando é tarde da noite eu choro”: Apontamentos acerca da luta contra a jornada 6x1 e a necessidade de seu fim!' (W.)
A luta contra a jornadas 6x1, vai além da luta contra a exploração desenfreada do capitalismo. É a luta pela vida da classe trabalhadora brasileira, principalmente negra e jovem.
Por W. para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Salve camaradas, trago nesta tribuna alguns apontamentos acerca da luta contra a jornada 6x1 e para além da necessidade de esta bandeira ser uma das principais pautadas dentro de nossas lutas. Antes disso, segue a música de Matheus Fazeno rock intitulada “só suor e lágrima” que também é a referência do título.
“4:20 da manhã, eu tô saindo
Tipo, nem o sol tá saindo
Mas eu tô aí na função
Na confusão eu vou, na condução
Com ou sem condição
Contem quantos são
40 favelado no busão ou mais
A vida está assando nos fornos industriais”
Camaradas, vemos ultimamente um movimento conhecido como Vida Além do Trabalho (VAT) que tem se levantado pela internet, confesso que não estou por dentro de todas as movimentações que estão ocorrendo. O importante é que já foram coletadas cerca de 500 mil assinaturas em todo o Brasil, para além das visualizações que os vídeos no tiktok tem alcançado.
Não estou aqui pautando para que aconteça uma adesão direta com essas movimentações vindas deste movimento em específico, entretanto, precisamos fazer a leitura que esses números nos mostram a necessidade da população que trabalha nessa jornada quer o seu fim! Tendo em vista que a maior parte desses trabalhadores são jovens negres que estão tendo um primeiro contato com o mundo do trabalho. Para além da questão do etarismo, entendendo que as empresas que adotam esse tipo de jornada não contratam pessoas acima de 40/50 anos, pois, irá dar “prejuízo” por não conseguir seguir o fluxo rápido que é cobrado.
Camaradas, falo aqui enquanto uma pessoa que vive diretamente isso, trabalho em uma loja de varejo e outros segmentos, uma das grandes lojas populares de roupa. O que é visto e vivido dentro desta jornada é assustador, trabalhadores que diariamente precisam se automedicar com analgésicos visto as dores de fazer movimentos repetitivos. Quando fala-se nas dores, cargo chefe desse tipo de jornada, são incontáveis as formas e locais. Na primeira semana que entrei na empresa comecei a ter fascite plantar e bolhas nos dois pés ( que até hoje as bolhas e a fascite plantar não se curaram, pois não dá tempo do descanso), todo dia meu celular registra 10 km andado apenas no meu horário de trabalho. Em nenhum espaço de trabalho existe local para sentar, são as 8 horas de trabalho em pé, só existem duas cadeiras no caixa mas se verem que estão usando muito no outro dia já é retirado. No caixa é o dia todo em pé, os trabalhadores do varejo estão o dia todo dobrando milhares de roupas. Para além disso, os horários e a escala é apenas organizada semanalmente, consequentemente não dá para pensar em fazer outras coisas a não ser o trabalho.
Junto a isto, ocorre o processo das metas diárias que precisam ser batidas e são números e mais números que culpabilizam diretamente o trabalhador por não ter batido a meta. Mesmo que mês passado você duplicou a meta, se nesse mês você não bater já corre o risco de perder o emprego.
O que está mais do que claro aqui é que não existe nada para um trabalhador que cumpre uma jornada de 6x1 além do momento de ir e voltar do trabalho. Isso porque não foi colocado aqui o tempo perdido no transporte público sucateado das cidades. O tempo que resta no dia é para se organizar para o próximo dia de trabalho, embora que se você é mulher, é estudante, tem filho, precisa cuidar de familiar ainda existe todo o processo do terceiro turno, o cuidado e/ou a reprodução social.
Por fim, a luta contra a jornadas 6x1, vai além da luta contra a exploração desenfreada do capitalismo. É a luta pela vida da classe trabalhadora brasileira, principalmente negra e jovem. Para além de um debate teórico ou que fique por tribunas e tweets, é preciso pôr os pés nas ruas junto com estes trabalhadores lutando condições de trabalhos dignas e que possamos ter o luxo capitalista do tempo e do ócio.