'Das discussões infantis sobre segurança digital' (Cauan V.)
Palavras escritas em "Termos de Uso dos Dados" valem tanto pra burguesia quanto as palavras de unidade desse Comitê Central.
Por Cauan V. para Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Diante dos debates que temos que incluem esta própria plataforma e as "tribunas públicas" que foram postas no Twitter e no Medium, um dos elementos apresentados no debate para criticar a própria existência desse é justamente a dita falta de segurança através de "dar munição ao nosso inimigo com dados da nossa organização". Esse tipo de argumentação é só um reflexo do caráter infantil dos debates sobre segurança digital no Partido.
Google Docs, Drive, Trello, Telegram, Signal, Protonmail. Por acaso, algum desses serviços foi feito por um partido comunista? São serviços que utilizamos cotidianamente na nossa organização e sendo muito claro, não há garantia alguma deles não estarem coletando nossos dados e os vendendo. Palavras escritas em "Termos de Uso dos Dados" valem tanto pra burguesia quanto as palavras de unidade desse Comitê Central.
Mas não defendo que retornemos ao Neolítico escrevendo atas/relatorias em cadernos à mão, realizando debates por cartas e enviando circulares por pombos-correio, minha defesa aqui é de justamente utilizarmos criticamente as ferramentas que estão à nossa disposição, camaradas! Enquanto não podemos ter nossas próprias ferramentas com a segurança devida, com servidores dedicados e entendendo os limites de cada plataforma que utilizamos, dentro de uma análise concreta da luta de classes compreendendo a conjuntura que estamos,
devemos utilizar todas as ferramentas que facilitem nosso trabalho, sem espantalhos.
Acredito que o debate trazido na tribuna "Comunistas de iPhone: aplicativos como forma organizativa e dinamizador partidário" (de camarada Bruno Franzoni) é uma porta de entrada pra esse avanço necessário, porém trago aqui um outro espectro do prisma para se analisar porque há abdicação de se facilitar os trabalhos (inclusive os pertinentes ao digital!) usando falta de segurança de forma abstrata como um fantoche, não como parte de uma análise
científica que compreende a necessidade da utilização de todas as ferramentas possíveis para desenvolvermos melhor nossa comunicação com a classe trabalhadora e como suporte pras nossas atividades, observando a conjuntura concreta que nos localizamos.
Camaradas, se após os casos expostos da Wikileaks e o da Cambridge Analytica nós ainda tratamos a questão do uso de dados como se estivéssemos usando chapéus de alumínio, como se qualquer coisa que na real nos facilite ser "entrega de dados ao inimigo" sem critério algum, acredito que o próximo passo é nosso partido defender a construção de bunkers pra evitar invasões alienígenas, ao invés de nos profissionalizarmos nos diferentes espaços e frentes de atuação, a fim de construirmos nossos próprios meios de comunicação.
Creio que essa possa ser só a primeira parte de um debate que deve se aprofundar, inclusive explorando mais justamente a questão da segurança digital, por hoje me contento a delinear sobre a forma do debate.