'Da União das CRs aos Delegados Natos – A Cronologia de uma Picaretagem' (Núcleo Unicamp da UJC)
A discordância fundamental da base não é referente à união ou não das CRs, mas sim da metodologia aplicada para tanto; sem discussão, apresentação, contemplação e qualquer outra etapa importante para esta tomada de decisão.
Por Núcleo Unicamp da UJC para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Essa crítica foi tirada como encaminhamento da última reunião de núcleo da UJC Unicamp, após uma pauta de debate sobre o processo de unificação das CRs, em que diversas dúvidas foram esclarecidas, fazendo com que muitas outras viessem à tona. Julgando ser um tema de interesse de toda a militância, o núcleo encaminhou também que a crítica fosse enviada para o Órgão Central em formato de tribuna a ser publicada no Em Defesa do Comunismo.
Camaradas, como já é de conhecimento amplo da base, nos dias 18 e 19 de Novembro ocorreu uma reunião do CRP no qual alguns temas polêmicos foram discutidos, dentre eles a da votação de união da CR da UJC e da CE do CFCAM com o CR do PCB-RR e a posterior aprovação de delegados natos para etapas regional de São Paulo.
Antes de mais nada cabe uma ressalva quanto ao referendo das cooptações da CR-UJC pela base, feito de forma tão atropelada que é questionada por mais de uma vez na referida reunião do CRP. A base de nosso núcleo e, até onde temos conhecimento, da absoluta maioria dos demais organismos de base, sequer tinha ouvido falar daqueles nomes até o momento de aprová-los ou não! Assim, restou a ela se abster por desconhecimento enquanto todos os nomes eram aprovados pelo pequeno número de votos oriundos de quem os conhecia por convivência e não pelo sistemático e científico sistema de repasses que deveríamos ter. Isso exprime os dois problemas centrais dessas cooptações e seu referendo, camaradas.
O primeiro sendo que os organismos de base têm papel passivo na escolha de seus dirigentes fora do momento congressual; não é solicitado aos núcleos que destaquem nomes dentre os quais a CR-UJC escolheria os que melhor se enquadrem na sua demanda, por exemplo, mas são colhidos diretamente pela CR os melhores a seu ver, o que, deixando de lado qualquer juízo de valor, traz um óbvio viés para a seleção de camaradas, que tendem a ser sempre os mais próximos dos ciclos de convivência dos camaradas que já estão na CR e que podem ter seu trabalho acompanhado de perto. Esse processo, além de colocar na instância não necessariamente os nomes mais qualificados, mas sim os mais qualificados a que a CR tem acesso direto, perpetua a super-representação dos núcleos da capital da instância e vai na contramão da interiorização do partido.
Para além disso, essa forma de cooptação foge daquilo que deveria ser a prática de uma organização leninista: a formação coletiva de quadros. Não fica clara para a base os critérios que levaram ou deixaram de levar camaradas a serem destacados para tarefas estadualizadas e cria-se aquilo que dentro do nosso próprio núcleo criticamos: a cultura de um secretário “apadrinhar” um militante para “formá-lo”, um verdadeiro sistema bizantino de formação de quadros, como se a formação de um quadro comunista pudesse ser feita fora da coletividade militante, sem o debate sobre critérios e responsabilidades.
O segundo problema é que nós não temos um sistema amplo e transparente de prestação de contas des membros da CR, mas apenas o que conseguirmos pinçar das atas enviadas à base, o que nos deixa no escuro quanto à qualidade do trabalho dessus camaradas e nos impossibilita de fazer uma avaliação crítica se queremos ou não destacar sue nome em um momento de votação.
Agora sobre a unificação propriamente dita, camaradas, primeiramente salientamos que em absolutamente nenhum momento antes da conferência onde isso foi votado isso foi colocado em pauta. Quando tivemos debates sobre o espaço, sobre a construção do XVII congresso, e sobre quem dos núcleos iriam nos representar, nada disso foi posto. Até onde nos consta, o próprio conjunto da instância tomou conhecimento dessa questão no mesmo momento em que a base, menos de uma semana antes da realização da plenária. Isso naturalmente levanta o questionamento sobre a origem desse debate; se nem a CR-UJC tinha ciência dessa ideia, quem a teve e porque não a compartilhou até o último momento?
Para que fique claro, traçamos aqui uma linha do tempo resumida dos acontecimentos que antecederam essa votação, a partir das datas em que os documentos foram disponibilizados para o conjunto da militância do núcleo UJC UNICAMP:
28/08 - Circular CR-UJC 031/2023 - Convocação da Conferência Extraordinária Regional com 3 pautas: 1) aprovação do documento de conjuntura, 2) aprovação da adesão ao RR e 3) aprovação das cooptações;
10/09 - Circular CR-UJC 034/2023 - Documentos-base da Conferência, com a lista de cooptações e análise de conjuntura;
30/09 - Prazo máximo para a realização da etapa de núcleo para a Conferência e data da etapa local do núcleo UJC UNICAMP;
09/10 - Conferência Extraordinária Regional;
10/10 - Circular CRP 009/2023 - Convocatória da Plenária Estadual;
18/10 - Comunicado sobre a mudança da data da Plenária Estadual de 21/10 para 28/10;
25/10 - Circular CRP 011/2023 - Ata da reunião da CRP, realizada no dia 21/10, com algumas falas sobre a unificação onde, inclusive, há camaradas que apontam que a questão deveria ser melhor debatida com as bases, antes de tomar uma decisão;
28/10 - Plenária Estadual. Aprovação da unificação das CRs.
Fica claro, seguindo essa linha do tempo, que os núcleos poderiam ter, no máximo, 7 dias de debate sobre a questão, isso considerando que essa questão aparece tangencialmente no debate da ata do CRP, e não como uma proposta política concreta, com balanços e acúmulos gerais, para a discussão do conjunto da militância e des delegades da Plenária. Portanto, mesmo que pudesse ser dito que as bases tiveram “acesso ao debate”, ele não aconteceu de forma ampla e qualificada, garantindo o espaço para a polêmica e a síntese coletiva dentro dos núcleos.
Destacamos, não foi uma mera decisão burocrática ou centralização feita em curto prazo. É uma gigante mudança na nossa estrutura organizativa, feita após o referendo das cooptações da CR-UJC, mudando radicalmente o caráter do referendo; não aprovamos, na prática, a direção da UJC, mas sim de todo o partido. Camaradas, isso é claramente mais do que uma questão organizativa para o XVII Congresso, foi uma manobra política ridícula e sem transparência para garantir a manutenção de uma direção completamente descolada da base – algo admitido por ela própria no pleno previamente mencionado – em posições de poder decisório em nosso partido. Ora, quantas vezes criticamos esse comportamento no velho PCB?
Mais grave, essa instância que se propôs ser meramente organizadora dos trabalhos até o Congresso, agora decide questões organizativas de longo prazo e consegue impor, também sem o debate amplo com as bases, a sua presença completa dentro do Congresso Estadual de São Paulo, pulando o processo de avaliação e confiança da militância na sua base, e, não duvidamos que no futuro próximo, se colocando dentro da nominata de delegados para o Congresso Nacional.
Se é fato que es camaradas da CR-UJC têm muitas tarefas nas mãos e não têm tempo de militar junto à base, a solução em um partido leninista não pode ser a sua perpetuação em seus cargos a despeito da incapacidade da base de avaliar seu trabalho, mas sim uma redefinição da divisão do trabalho na instância que alivie a carga de cada camarada e permita, ao menos, prestar contas a seu organismo de base quanto a seu trabalho de direção. Segue disso um nítido atropelo da CR e o prosseguimento dessa discussão no agora CRP é ainda mais pavoroso. É nítido como ocorreu, no mínimo, uma ação antidemocrática, quanto à qual urge uma autocrítica da CR-UJC com uma reflexão e encaminhamentos para garantir que esse tipo de engano ou atropelo não ocorra mais.
Camaradas, em segundo ponto, problemas coletivos devem ser coletivizados e problemas individuais devem ser individualizados. Percebemos a existência legítima de um debate e uma tentativa de qualificá-lo por parte da CR, inclusive por aqueles que defendem a não existência de um atropelo e apesar de julgarmos uma posição radicalmente rebaixada, entendemos o direito democrático que es militantes da CR têm de defender sua colocação.
Não reconhecemos, no entanto, o rebaixamento político que é resumir aqueles que alegam um atropelo como “um sentimento de derrotados que não aceitam a derrota” como resumido pelo camarada Machado na ata desta reunião. Primeiramente, muitos dos que alegam um atropelo concordam com a união das CRs. A discordância fundamental da base não é referente à união ou não das CRs, mas sim da metodologia aplicada para tanto; sem discussão, apresentação, contemplação e qualquer outra etapa importante para esta tomada de decisão. Não há sentido em falar em "vitoriosos" ou "derrotados" quando a base sequer pôde participar do debate!
Ainda mais rebaixado é querer dar “ares democráticos” a essa decisão simplesmente porque ela foi tomada em plenária com “o conjunto da militância”. Ora camaradas, a nossa democracia não é simplesmente o voto da maioria, ela é o conjunto do processo de discussão e polêmica. Não tem como legitimar essa decisão como democrática quando fica claro que 1) ela muda o caráter político e as consequências organizativas das decisões tomadas na Conferência da UJC e que 2) percebendo a importância e consequências dessa decisão, ela não passou pela ampla discussão necessária da base nas suas etapas locais para levar à Plenária a síntese do conjunto da militância sobre o tema da unificação das CRs e como eleger o CRP “expandido”.
Aqui algumes camaradas poderão argumentar que não se sustenta o argumento sobre a mudança do caráter político da decisão da Conferência da UJC, já que são espaços deliberativos diferentes e que “não daria para prever o resultado da votação”. Perguntamos: se “não daria para prever o resultado da votação”, porque a pressa para aprovar essa resolução, que membros do próprio CRP diziam que era necessário levar à discussão ampla da base, no último espaço deliberativo amplo antes do Congresso, sem a discussão na base? Porque a pressa para justificar o atropelo? Porque as atitudes cínicas e preventivas contra as críticas que viriam “dos derrotados”? Pior ainda, essa questão se soma à questão des delegades nates que já é uma polêmica clara para a militância de São Paulo: não só elegemos sem saber a CR-UJC para a dirigência do Partido, como também elegemos sumariamente todos para serem delegadas da fase estadual do Congresso do Partido, novamente, sem saber.
Se não tivermos a luta ideológica aberta e honesta em nossas fileiras daqui em diante, camaradas, não teremos nenhuma chance de construir um partido mais avançado do que o que deixamos para trás. O centralismo democrático exige que as posições políticas se choquem frontalmente e que a vitoriosa seja adotada pela totalidade da base, enquanto o que ocorreu foi a imposição de uma posição monolítica à base, sem margem suficiente para debate. Como o camarada Ivan Pinheiro disse uma vez – referindo-se ao CC do velho PCB, cabe ressaltar – só pode exigir o centralismo democrático a direção que o exerce.
Resumir um descontentamento orgânico, apresentado de forma independente em diversos núcleos de de diversas regiões do estado como um sentimento de derrotados que não aceitam a derrota é um flagrante e inadmissível desrespeito com a base e uma postura cínica que foge ao debate concreto do que foi o processo de unificação das CRs, seu claro atropelo e a falta de discussão nos núcleos. É impensável que um dirigente de um partido proletário tenha essa posição perante a base, com atitudes cínicas e uma flagrante apresentação mentirosa dos fatos que giram em torno dessa questão em redes sociais, posturas que já foram criticadas anteriormente por esse núcleo em relação à CR-UJC e que novamente colocamos às claras.
O nosso núcleo reivindica, portanto, uma autocrítica des integrantes da CR-UJC no agora CRP, referente à falha metodológica com a qual foi feita essa junção, mas também reivindica uma autocrítica do camarada Machado pelo nítido descaso com a base e pelas mentiras colocadas em suas redes sociais.
Reivindicamos, também, que seja reavaliado pela instância e pela CNP a legitimidade da delegação nata do CRP no XVII Congresso Extraordinário do PCB, pelos seguintes motivos:
- Os motivos expostos, inclusive em tribunas preparatórias, quanto à sobrecarga de tarefas de camaradas da CR-UJC não cabem como justificativa visto que, graças às debilidades do velho partido que estamos tentando superar, a base está igualmente sobrecarregada, quando não mais! Camaradas que têm 2 ou 3 jornadas de trabalho, estudos e família para cuidar não existem somente na direção, existem também na base;
- O XVII Congresso foi perseguido por nós com unhas e dentes como o momento de renovação das lideranças que a Conferência Política proposta pelo CC do Velho PCB não podia nos conceder, portanto, é incabível que na realização desse exato congresso, a direção que existia sob a estrutura do velho PCB tenha privilégios para a participação e tenha condições de reeleger a si mesma;
- Como exposto na tribuna "Delegados Natos uma Ova", a CR-UJC votou de forma unificada – propositalmente ou não, visto que o que nos interessa não é o valor moral da intencionalidade dessa decisão, mas sim suas implicações políticas para o futuro – pela delegação nata, após ter executado a manobra política para a unificação das e do CR sem o devido processo de discussão nas bases, como anteriormente exposto, que a possibilitou garantir sua participação no congresso independente de aprovação;
- Como es própries membros do CRP expuseram no último pleno, a base desconhece seu trabalho e muites delus teriam dificuldade em ser aprovades para o congresso em seus organismos de base. O caminho para o avanço do partido não é a aceitação acrítica da participação no congresso de camaradas cuja atuação política não pode ser avaliada pela base, mas uma radical mudança organizativa que garanta a cooperação profunda entre base e direção e, quando isso não for possível, a prestação recorrente de contas do trabalho político realizado pela instância;
Saudações comunistas,
UJC - Núcleo Unicamp