'Crítica sem agitação é avanço engavetado' (Contribuição anônima)

Criticar é agitar, e agitar o debate para o conjunto da classe trabalhadora com quem dialogamos — e melhor ainda com os que ainda não alcançamos — é a maneira mais efetiva e rápida de se refinar debate, a capacidade de formulação, a unidade real e compromissada.

'Crítica sem agitação é avanço engavetado' (Contribuição anônima)
"Mesmo alguns que criticam a atuação burocrata do CC parecem falhar em compreender que não é possível estabelecer um diálogo (e portanto, “unidade”) com uma fração que impediu o debate"

Contribuição anônima para a Tribuna de Debates Preparatória para o XVII Congresso Extraordinário.

Quando Lênin diz que “a crítica é inseparável da agitação”[1], é importante considerar essa afirmação pela conclusão que ela impõe: os debates internos, que já deveriam ser constantes e abertos para toda militância do complexo partidário, também deve ser público, como fizeram, aliás, os camaradas da iniciativa RR com a tribuna de debates, uma semana depois de lançaram o manifesto, se não me engano. Alguns questionaram a legitimidade da agitação por um congresso (também gostaria de contribuir mais pra frente com a falsa polêmica sobre a “sigla PCB-RR”), argumentando que o meio do debate e da crítica (qualquer um que não fosse a tribuna de debates que nunca existiu ou que não eram silenciados nas “instâncias corretas”) feriram a unidade. Não é bem assim.

“A crítica dentro dos limites dos princípios do Programa do Partido deve ser bastante livre não apenas nas reuniões do Partido, mas também nas reuniões públicas. Tal crítica, ou tal 'agitação' (porque a crítica é inseparável da agitação) não pode ser proibida.”[2]

É bem óbvio que o Twitter não deve ser o meio do complexo partidário debater aberta e francamente, e sinceramente ninguém afirma isso. Mas ele pode ser, se essa foi a forma que se encontrou, no atual contexto de crise partidária, de tornar pública para o conjunto da militância uma série de polêmicas, abusos de poder, boicotes e perseguições internas que se acumulavam por debaixo do tapete. Agora se debate o partido! Quem milita na juventude definitivamente sentiu a diferença na muito mencionada unidade de ação. Os debates reavivaram os interesses, sacudiram certo imobilismo e mobilizaram as bases. Porém, acho que, para além da questão de se foi feito o melhor com o que se tinha à disposição ou não, nossos debates internos devem, sim, ser públicos. No Instagram, no YouTube, no Twitter. E na nossa imprensa (uma futura imprensa verdadeiramente centralizada e profissional). E nos sindicatos que compomos. Nos locais de trabalho e nos locais de estudo. Nossos debates internos não deveriam ser realizados nesses meios, mas definitivamente devem circular por eles (excluindo, é claro, pontos confidenciais). Por todos eles, nos meios de comunicação de massa e de debate público. Criticar é agitar, e agitar o debate para o conjunto da classe trabalhadora com quem dialogamos — e melhor ainda com os que ainda não alcançamos — é a maneira mais efetiva e rápida de se refinar debate, a capacidade de formulação, a unidade real e compromissada.

O CC detém o monopólio da crítica no partido, e mesmo alguns que criticam a atuação burocrata do CC parecem falhar em compreender que não é possível estabelecer um diálogo (e portanto, “unidade”) com uma fração que impediu o debate e silencia sumariamente a oposição. Quem acha que fazer a crítica “nas instâncias corretas” com uma direção que, no melhor caso, ignora e no pior a pune com expulsões é a melhor saída, a esse ponto, é muito ingênuo ou propositalmente quer fugir do tema central.

Somente o debate franco e público pode criar uma unidade real. Este é um ponto que Lênin reitera em vários momentos. Seja, por exemplo, na carta à Apollinaria, onde o bolchevique defende o debate franco e aberto como forma de restaurar a unidade na social-democracia revolucionária russa: “Sem luta não pode haver uma escolha, e sem uma escolha não pode haver avanço exitoso, nem pode haver uma unidade duradoura. E aqueles que começam a luta agora não estão de forma alguma destruindo a unidade. Não há mais qualquer unidade, ela já foi destruída até o fim. O marxismo russo e a social-democracia russa já são uma casa divida contra si mesma, e uma luta aberta e franca é uma das condições essenciais de restaurar a unidade."[3]. Na mesma carta, mais especificamente sobre o caráter público do debate: “É claro que a luta na imprensa vai causar mais mal-estar e nos dar algumas boas porradas, mas não somos tão frágeis assim para ter medo de levar porrada! Desejar uma luta sem porradas, diferenças sem luta, seria o cúmulo da ingenuidade, e se a luta for travada abertamente, será cem vezes melhor que o "gubaverismo" estrangeiro e russo, e levará, eu repito, cem vezes mais rápido a uma unidade duradoura."[4].

Na carta Ao partido, Lênin, debatendo todo o percurso do luta entre os bolcheviques e a fração menchevique, defende o congresso como a única forma de restaurar a unidade: “Cada tendência do partido, cada grupo deve declarar aberta e definitivamente o que pensa da situação atual do partido e que solução deseja. […]. Vemos uma saída prática para a crise na convocação imediata do Terceiro Congresso. Só ele pode esclarecer a situação, resolver os conflitos e confinar a luta dentro dos limites adequados. Sem um congresso, tudo o que podemos esperar é a desintegração progressiva do partido.”[5]. Tentando não saturar o texto de citações por nada, minha tentativa é a de demonstrar que, em diferentes momentos de agudização das contradições dentro do partido revolucionário, Lênin defendeu o debate democrático e público como a saída mais eficiente para uma unidade duradoura.

O tipo de unidade que nos faz aceitar as subsequentes quebras de centralismo pela fração burocrata (e aqui falando de todas elas, já públicas e de conhecimento da maioria dos militantes, incluindo a debochada desculpa dada pelo Eduardo Serra por ter participado do encontro da PMAI em Seoul, conhecidos assediadores acobertados e etc) “não vale um centavo”.

A verdadeira unidade nasce da crítica, e esta é inseparável da agitação.


REFERÊNCIAS

1- Centralismo Democrático: “Liberdade para Criticar e Unidade de Ação”

2- Idem

3- Centralismo Democrático: “Cartas para Apollinaria Iakúbova”

4- Idem

5- Centralismo Democrático: “Ao partido