Crise de saúde no DF: como a dengue se tornou um problema tão grande?

A situação atual de Ceilândia e das demais regiões periféricas do DF, que são as principais áreas com casos de dengue, mostra como é importante investir na infraestrutura das regiões a fim de prevenir a situação trágica que é vivida pelas populações locais.

Crise de saúde no DF: como a dengue se tornou um problema tão grande?

No dia 22 de fevereiro, o governador Ibaneis Rocha (MDB) declarou que as instituições de saúde do Distrito Federal (DF) estão em estado de crise com hospitais públicos e particulares em colapso. Embora essa crise possa parecer uma surpresa, era mais que esperada.

Em setembro de 2023 o portal de meteorologia METSUL fez denúncias sobre as fortes ondas de calor que se iniciariam naquele período em todo território nacional. Nos meses seguintes, diversas mídias publicaram matérias que também previam fortes ondas de calor para os próximos períodos. Com o calor, pode-se observar diversas mudanças no ecossistema, e entre uma delas, o aumento da proliferação de mosquitos. A partir daqui fica claro que a situação que nos encontramos já era esperada. Mesmo após diversos alertas iniciados em setembro sobre o aumento do calor, os órgãos nacionais de saúde não iniciaram campanhas, e nem realizaram a limpeza de áreas estratégicas. E no final, a população foi quem se prejudicou. Aproximadamente 3,1 milhões de pessoas estão com suspeita de dengue em território nacional, e nos 4 primeiros meses deste ano, tivemos um total de mais de 1200 mortes confirmadas. Mortes, vale destacar, que seriam completamente evitáveis.

Utilizando o recorte de Brasília, em janeiro foi apontado que a capital teria 16 mil casos de dengue e se encontra com dificuldade de lidar com a epidemia. Nos últimos 10 anos, o Distrito Federal perdeu R$ 241 milhões em prevenção de arboviroses, e não houveram novas contratações na área de saúde. Como forma de suprir as necessidades da cidade, foram estabelecidos contratos temporários que expiraram em 2023 e não foram renovados. De acordo com o SindSaúde, “Antes do impacto devastador da explosão de casos de dengue que está assolando o Distrito Federal, a rede pública de saúde enfrentava uma crise silenciosa”. Dessa forma, fica claro que a precarização do trabalho, a partir dos contratos temporários, bem como os progressivos cortes em investimento público na área da saúde, contribuíram diretamente para o agravamento da crise por aqui.

Nesse contexto de crise, as Unidades de Pronto Atendimento ficaram superlotadas, deixando os pacientes esperando por horas em situação humilhante, acarretando episódios lamentáveis como,por exemplo, a “pancadaria” na unidade do Recanto das Emas. Pacientes reclamam de ficar horas esperando para ter seu atendimento negado devido a “baixa gravidade dos sintomas”.

Em Ceilândia, região que ocorre maior número de casos de dengue, uma visita expõe uma realidade insalubre: Diversas áreas abandonadas se transformando em depósito de lixo. Ou seja, diversas áreas se transformando em focos de mosquitos. Em fevereiro, a região apresentou quase 10 mil casos de dengue. Essa realidade fica ainda mais visível ao observarmos os relatos de pessoas que passaram por situações de descaso ao buscar ajuda em alguma unidade de saúde.

A situação atual de Ceilândia e das demais regiões periféricas do DF, que são as principais áreas com casos de dengue, mostra como é importante investir na infraestrutura das regiões a fim de prevenir a situação trágica que é vivida pelas populações locais. Desvela-se também como o estado, diferente do que é acreditado por muitos, não existe para proteção de sua população, mas sim para proteção da propriedade privada. Isso fica claro quando se é permitido que terrenos abandonados se mantenham dessa forma sem que ninguém seja responsabilizado, o que faz com que, no final, a população seja a única a pagar.