'Uma breve discussão sobre a criação do sentimento de camaradagem' (Luis Paulo)
Buscamos ligar nossas atividades políticas com nossa vida pessoal, o que deu um sentido mais amplo a nossa luta, estamos unidos pela libertação e humanização da nossa classe e que isso está ligado a nossas pequenas batalhas do dia a dia.
Por Luis Paulo para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Em resposta a tribuna 'Sobre a necessidade da camaradagem como construção de um sentimento coletivo'.
Uma breve tribuna, mas que diz muito sobre algumas dificuldades que já deveriam ter sido superadas pelo partido, para construirmos o verdadeiro partido de vanguarda que nos levará a nossa tão almejada revolução. Precisamos desenvolver um laço forte e recíproco com a nossa a classe, e talvez a pessoa que melhor expressou esse sentimento foi Alexandra Kollontai, então trago uma citação dela:
"A ideologia proletária se esmera para que nasça e se fortaleça, em cada membro da classe operária, um sentimento de compaixão pelos sofrimentos e pelas necessidades dos seus companheiros de classe, uma compreensão delicada das aspirações do outro, uma consciência profunda e penetrante dos seus laços com os outros membros da coletividade. Mas todos esses sentimentos de simpatia, de compaixão, de tato, decorrem de uma mesma fonte comum: a faculdade do amar, não no sentido estritamente sexual, mas na concepção mais larga do termo.
Enquanto emoção (sentimento), o amor é um elemento de ligação e, consequentemente, de organização".
No núcleo que atuo atualmente (Privadas UJC-RS) enfrentávamos, e ainda enfrentamos, diversos problemas que acabam ocasionando um grande número de militantes inorgânicos, afastados ou desligados, e um dos fatores que observamos que mais contribuem para essa situação é que somos um núcleo altamente proletarizado, a grande maioria dos nossos camaradas trabalham e estudam, alguns em empregos muito precarizados como entregador de aplicativo e estagiário, outros já possuem filhos, moram sozinhos ou com seus companheires, o que adiciona mais uma jornada de trabalho, o doméstico, nos sobra pouquíssimo tempo para nos dedicarmos ao nosso trabalho político, o que também ocasionava um certo distanciamento entre nós. Como criar laços fortes com o outro em uma rotina massacrante que mal nos deixa dormir de forma tranquila?
Nos debruçamos sobre esses problemas de forma talvez pouco teórica, talvez porque certamente nossos problemas não são exclusivos, diversos outros coletivos e células do PCB possuem esses mesmos problemas e também buscaram soluções, mas como o próprio camarada escreve em sua tribuna, nos falta uma integração que permitiriam trocar informações e experiências de forma muito mais orgânica, e por isso nossa teoria foi nossos poucos estudos individuais e nossas observações da realidade, e com isso, de forma mais coletiva fomos a prática. Buscamos conhecer mais nossas camaradas, suas realidades, problemas, limitações e potencialidades para que assim pudéssemos organizar nosso núcleo com base no que era possível, alguns exemplos do que pensamos e/ou realizamos podem ser:
- Realizamos reuniões a cada duas semanas, no fim de semana, com uma duração um pouco mais curta e uma metodologia mais flexível, de forma presencial e virtual e após reuniões buscamos ter momentos de confraternização;
- Criamos um grupo para além dos nossos meios oficiais de comunicação, onde temos conversas completamente livres, falamos dos nossos problemas, conquistas, pedimos conselhos, fazemos piadas, recomendamos vídeos e textos que achamos interessantes, debatemos sobre os mais diversos assuntos, criamos um ambiente onde nos permitiu integrar de forma tão natural o debate mais teórico e científico com os assuntos mais banais do nosso dia a dia;
- Estamos planejando criar um clube de leituras, cinedebates e um grupo de jogos para fortalecer nossas ligações;
- Em momentos onde membros do núcleo tiveram problemas financeiros a pasta de finanças se dispôs a emprestar o valor necessário para resolvê-los, aqui cabe outra discussão que estamos desenvolvendo em nosso núcleo, devemos desenvolver uma pasta de finanças tão robusta e profissionalizada onde não tenhamos que emprestar esses valores, e sim dar aos nossos camaradas como a forma de auxílio em imprevistos de suas vidas ou até para poderem ter mais tempo dedicado às suas tarefas pelo partido.
Enfim, em síntese, buscamos ligar nossas atividades políticas com nossa vida pessoal, o que deu um sentido mais amplo a nossa luta, estamos unidos pela libertação e humanização da nossa classe e que isso está ligado a nossas pequenas batalhas do dia a dia. Não podemos dizer que nossos problemas estão completamente resolvidos pois ainda temos questões a se resolver, como divisão de tarefas generificadas e uma grande predominância de militantes brancos, o que nos aponta a uma falta de compreensão das particularidades dos militantes mulheres e negros no nosso núcleo, mas acredito que com os espaços que criamos para a compreensão e a critica aberta e franca entre nós estamos no caminho certo para desenvolver de forma plena nossa camaradagem.
Gostaria de desenvolver de maneira mais profunda a questão da camaradagem dentro e fora do partido, mas por falta de tempo tenho que me limitar a essa breve tribuna.
Um grande abraço!