'Contribuições a tribuna do (da) camarada Satierf sobre a disputa dos militares e policiais' (Gustavo Batista)
Outro fator fundamental para se considerar na nossa luta pela disputa das consciências dos trabalhadores da segurança civil e militar é o fator racial, já que boa parte dos trabalhadores policiais mortos em serviço são trabalhadores negros.
Por Gustavo Batista para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
A estigmatização dos militares e agentes de segurança, principalmente nos últimos 59 anos desde a ditadura empresarial-militar até o recente governo negacionista da ditadura de Bolsonaro, é uma constante nas esquerdas e não ocorre sem motivo, uma vez que os militares e policiais nos últimos anos estiveram totalmente fechados com os interesses da burguesia nacional e internacional por consequência da condição capitalista dependente do Brasil. Algo que como foi apontado pelo camarada em sua tribuna também perpassa por nós comunistas, o que demonstra uma compreensão limitada de como se constrói uma revolução, já que ao longo da história várias revoluções só ocorreram devido a organização da classe trabalhadora militar armada com a teoria e a pratica revolucionária, desde o movimento 26 de julho em Cuba até a ideia Songun na Coreia Popular, que, derivada da ideia Juche, que entende a autodeterminação como central vai defender o exército popular como fundamental para defender a materialidade da experiência socialista naquele pais e barrar os avanços imperialistas. Contudo, camaradas, não precisamos ir tão longe para compreender a potencialidade de militares com consciência de classe para o nosso campo. Aqui no Brasil temos vários exemplos de militares que foram fundamentais para a construção do comunismo em solo brasileiro, como Nelson Werneck Sodré, Luís Carlos Prestes, Carlos Lamarca e tantos outros que foram fundamentais para a construção de movimentos de luta contra a ditadura como POLOP. Outro fator fundamental para se considerar na nossa luta pela disputa das consciências dos trabalhadores da segurança civil e militar é o fator racial, já que boa parte dos trabalhadores policiais mortos em serviço são trabalhadores negros, que, por sua vez, são também o recorte da classe trabalhadora mais brutalizado e morto pelo estado burguês no geral. Dados de 2020 do Fórum de segurança pública mostram que quase 63% dos policiais mortos em serviço são negros.
Sendo assim, qual postura que devemos assumir como comunistas? Condenar esses trabalhadores pretos e periféricos ou compreender que eles também são vítimas do policiamento ostensivo para o qual trabalham de modo a fazer com que a consciência de classes desses mesmos trabalhadores se torne um fato para contribuir com a superação do capitalismo brasileiro?
A resposta me parece bastante óbvia, camaradas, não podemos fazer uma revolução partindo de preconceitos e julgando toda uma classe de trabalhadores tão afetada pelas contradições do capitalismo como reacionária, já que, como apontado pelo camarada Satierf boa parte desses trabalhadores fazem parte da base da hierarquia militar e estão permeados por uma série de interseccionalidades que devem ser levadas em conta. Paz entre nós, guerra aos senhores deve ser mais do que uma mera palavra de ordem, deve ser um chamado a ação no movimento real, compreendendo que todos somos trabalhadores e que um polícia civil ou um militar de baixa patente é tão vítima, e, portanto, tão fundamental na construção da revolução brasileira como qualquer outro trabalhador. Todas as consciências devem ser disputadas, pela unidade classista e pelo futuro socialista!