'Contra P. Acácio e Consortes' (Visuallar)
A defesa absurda dos amantes da tese 2 desvia até mesmo de nossos objetivos com a resolução: nossa preocupação era com o contato com a periferia, como atuar sobre a periferia, e qual é a conclusão desses senhores? Focar no proletariado de classe média!
Por Visuallar para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Introdução
Camaradas, escrevemos esta tribuna em função de uma posição que julgamos nociva: esta é uma resposta à P. Acácio e consortes.
Na Primeira Conferência Regional Exclusiva da UJC-SP, para a qual fomos eleitos delegados pelo núcleo de base, houveram posições ridículas que não só foram defendidas e mantidas, mas radicalizadas e que cada vez mais aproximam-se do absurdo.
É claro que a retórica de Acácio não é a única que responderemos, pois não é a única massa decomposta que veio à superfície no pós conferência. Nossa discussão perpassa pela noção de proletariado e periferia, o papel da periferia na Revolução Brasileira, os famosos vícios do PCB moribundo.
Para começar, usemos da pobre contextualização do Camarada Pedro.
PPP – Prolixidade e Pobreza de Pensamento: C.P. e a cientificidade
O Camarada Pedro (doravante C.P.), em sua tribuna, trata de uma discussão que tivemos durante a I Conferência Regional Exclusiva da UJC-SP.
A polêmica era a respeito do nosso foco de massificação das fileiras serem de quadros oriundos da periferia [tese 1] x oriundos do proletariado [tese 2], e, posteriormente, uma proposta de quadros proletarizados oriundos da periferia [tese 3], a qual acredito ser uma boa síntese. (C.P. em PPP – Periferia, proletariado e personalismo)
C.P. diz que nossa defesa da tese 1 foi extremamente anti-científica e que a tese 2 teria sido uma alteração “infinitamente melhor” (sic!). C.P. também diz que houve um erro metodológico quanto à definição de proletariado na tese 2 (lembremos que essa foi defendida, com todas as forças, por Acácio). A metodologia é o que define uma ciência, portanto, a tese 2 é “extremamente anti-científica”. E isso não deveria lhe passar despercebido, já que pronuncia:
[...] é necessário que em toda discussão que permeia nossas táticas tenha um nível de cientificidade e ortodoxia[!] no método de análise do Brasil atualmente.
Ademais, diz que a tese “infinitamente melhor” teria como problema a idealização! Ora, se é o método que define uma ciência; em nosso caso, a ciência do proletariado, o socialismo científico; e, como somos marxistas, não resta dúvida de que nosso método é o materialismo histórico-dialético. Se ocorre uma idealização, é de novo um erro quanto ao nosso método (um erro crasso, que demonstra justamente o nosso despreparo quanto à formação e a unidade ideológica) uma vez que não trata da questão material e ainda descola o proletariado de sua historicidade (como Acácio fez). Outro problema metodológico é usar da “classe trabalhadora” (que é um termo inexato, não científico), como se o nosso foco, principalmente em nosso movimento de proletarização, não fosse o proletariado em si.
C.P., justamente por conta da sua própria lógica enferma que surge a partir de uma compreensão puramente livresca da discussão, cai numa tautologia[1]: ele prova que a periferia é proletária[2](observem que por isso a tese 1 é mais específica, ou seja, delimita melhor nossa atuação em frente a tese 2, que é muito generalista) e, portanto, a tese 3 (quadros proletarizados oriundos da periferia) não é nada mais que “quadros proletarizados oriundos do proletariado”, ou ainda, “quadros proletarizados oriundos de uma seção específica do proletariado” (e essa seção foge da elite proletária com a qual temos atuado majoritariamente, o que é reconhecido como um problema da nossa tática). “Sejam mais científicos!” clama C.P. sem dar atenção às próprias palavras.
A defesa absurda dos amantes da tese 2 desvia até mesmo de nossos objetivos com a resolução: nossa preocupação era com o contato com a periferia, como atuar sobre a periferia, e qual é a conclusão desses senhores? Focar no proletariado de classe média!
C.P. insiste em dizer que há uma diferença fundamental na nossa tese com a tese 2. Não discordamos. A diferença é que a nossa tese compreende a formação histórica do proletariado no Brasil (apesar de C.P. insistir no contrário) e, ainda mais, da maioria do proletariado brasileiro. Ou será que a maioria do proletariado está em apartamentos que a elite proletária tem acesso? Será que a maioria do proletariado (em SP) está na Paulista, onde fazemos a maior parte dos nossos atos e eventos? Com a defesa do marxismo-leninismo tão presente, por que não fazemos uma análise materialista; diferentemente da tese 2; e nos organizamos em favor da hegemonia proletária? Por que não reavaliar e reorientar nossos trabalhos em função da nossa estratégia?
Acácio: etarismo e maturidade revolucionária
Na Conferência em questão, quando referendamos cooptações para a CR-SP, Acácio observou, pobre e erroneamente, que uma camarada; apesar de sua experiência e prática exemplares; seria muito jovem e teria muito a aprender para se adequar a cooptação. O camarada indica que há relação direta entre idade e maturidade, por que os senhores e as senhoras do PCB-CC não possuem essa maturidade revolucionária?
Tratou de acrescentar que temos que parar de tratar as cooptações como reconhecimento de algo, como premiação por uma diferenciação. Lênin mesmo dizia que os melhores de nós devem subir no comando. Como se demonstra que se é melhor em algo? Pela prática! É pelo mesmo critério que julgamos o CC golpista, aqueles demonstraram-se incapazes, insuficientes, despreparados e outros tantos nomes que podemos dar e, por isso, estamos pela reconstrução. Se o camarada entendesse o revolucionário que ele mesmo tenta reivindicar (tanto em sua péssima tribuna, quanto em suas falas), não cometeria tão crasso erro.
Acácio, proletariado e o PCB moribundo: os famosos vícios do PCB-CC
Muito se fala dos vícios herdados do velho PCB. O culturalismo e o economicismo são típicos. Vimos quão pouco Acácio conhece do leninismo; e aqueles que compartilham de seu oportunismo não estão atrás; agora, veremos quão pouco conhece dos fundadores do socialismo científico, do método do materialismo histórico-dialético.
Concepção de proletariado, exclusão da periferia e idealismo
P.A., em um debate sobre nossa direção estratégica das forças revolucionárias, define o proletariado como aquele que possui relação direta com a produção.
Ora, se o proletário é apenas aquele que possui relação direta com a produção de mercadorias, ignora-se algo crucial na análise marxiana: as relações de produção. Tanto faz se o sujeito possui meios de produção ou não, o que importa é que produza, que tenha sua mão na produção.
Se em Marx aquele que possui uma propriedade e produz com ela é um pequeno-burguês, em Acácio, é um proletário genuíno. Se em Marx aquele que possui um terreno e planta para vender é um camponês, em Acácio, é um proletário.
Assim, Acácio não está preparado para lidar com a direção correta das forças revolucionárias. Tampouco está preparado para definir nossos aliados e inimigos, nossa tática e estratégia, nossa organização e execução.
P.A., assim como o PCB moribundo, defende que a periferia não é relevante para nossa atuação e o triunfo de nossa classe. Acácio insiste, erroneamente, que a periferia não é proletária, mas lumpenproletariado (proletariado em farrapos), ou seja, aquele que não participa da produção de mais-valor na cadeia de produção. Tanto para nós, periféricos, quanto para quem não dedica apenas seu desdém à periferia brasileira, está claro que representa um enorme desvio da realidade.
Acácio insiste na pobreza das relações reais, no seu simplismo, mas apenas revela o seu próprio simplismo, sua própria pobreza. Acácio, incapaz de captar a realidade e, assim, entender abstratamente o seu movimento, inverte o materialismo e se contenta com o idealismo pueril; abstrai a realidade e diz "eis o que tu és", assim como a Crítica crítica o faz em relação a história[3], Acácio faz seu objeto girar em torno de si, ao invés de sua investigação gravitar em torno do objeto. Em suma, faz da realidade sua imagem e semelhança.
O entendimento de que na periferia há apenas lumpenproletariados, combinado com a ausência de giros para atuação na periferia, é apenas uma ideia e prática racistas herdadas do PCB CNPJ.
Das providências
Considerando todo o exposto, precisamos de elementos para a resolução desses desvios. Assim, enumeramos:
1. Devemos alterar, primeiramente, nossa formação:
a. É crucial a exposição do materialismo histórico-dialético de forma coerente e embasada. Este é um ponto fundamental, sem ele não poderemos fazer o próximo. Se nós pretendemos ser um partido marxista-leninista (como entendemos que não há nenhum no Brasil, poder-se-ia dizer até mesmo o partido marxista-leninista), não podemos cair em idealismos, ainda mais de forma tão frequente; b. Devemos formar sobre a realidade brasileira, a realidade da periferia, indígena, quilombola, sobre a questão campesina, etc. Sem um ou nenhum desses dois eixos, será impossível a direção correta do proletariado, será impossível definir seus aliados e adversários, suas possibilidades e limitações, nem mesmo podemos definir táticas e estratégias eficazes.
2. Devemos orientar uma formação contínua. Atualmente, a única coisa que força o militante a continuar sua formação, a ler e solucionar teoricamente os problemas práticos, é apenas a prática. Mas e quando a prática errada leva à teoria doentia do oportunismo? Precisamos sempre orientar nossos militantes para a linha política correta. Por isso, a fim de construir a unidade ideológica e assegurar o conteúdo ideológico correto, é crucial que as instâncias superiores (em especial CN e CRs) responsabilizem-se pela formação de seus militantes. Falamos muito de ter uma literatura revolucionária e isso não está errado, mas para que ela aconteça, precisamos de uma tradição de formação, é necessário também que tenhamos os melhores dirigentes, o melhor OC, etc.; e
3. Precisamos dedicar giros para a periferia, isso não significa tirar um militante do núcleo USP, por exemplo, e colocá-lo num núcleo de bairro, mas significa que militantes (principalmente de classe média e pequeno-burgueses) devem ter trabalhos com a população periférica perto de seu local de atuação.
Saudações marxistas-leninistas,
Visuallar
[1] Lógica circular, eis um exemplo curto: “estatização é ruim”, “por que é ruim?”, “porque estatização tira a competitividade do mercado”, “por que tira a competitividade?”, “porque é ruim”.
[2] Importante dizer que, na verdade, a maior parte da periferia é sim proletária, mas C.P. desconsidera a pequena-burguesia periférica e, por isso, cai na tautologia citada. Se não ignorarmos a pequena-burguesia, aí sim estaremos falando de uma tese 3 diferente e melhor que a tese 1. Para os fins desta tribuna, usaremos da concepção errada de C.P., pois se trata de seu entendimento desconexo da realidade.
[3] 3 Vide A Sagrada Família, ou, a crítica da Crítica crítica contra Bruno Bauer e consortes, p. 21.