'Contra a banalização da crítica' (Mattheus Leal)

Critiquem as fragilidades de nossa construção, mas não descredibilizem a orientação da autocrítica e não a transformem em um meio de criar sensacionalismo barato.

'Contra a banalização da crítica' (Mattheus Leal)
"A todo momento, há o risco de cometer erros com efeitos adversos na luta dos trabalhadores contra o capitalismo em direção ao socialismo."

Por Mattheus Leal para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Saudações, camaradas. O presente texto foi redigido a partir de uma reflexão, não somente sobre a autocrítica de um militante comunista dentro das fileiras do Partido Proletário, mas também sobre as tentativas de uso e emprego dessa prática por militantes de esquerda que não são adeptos da linha marxista-leninista.

A autocrítica de um militante que compõe as fileiras do Partido Comunista é tarefa centenária e deverá ser exercida por todos os militantes que buscam melhorar sua atuação nos mais variados espaços de luta e disputa. Dentro das fileiras de um Partido Comunista, a palavra ganha outro sentido além do literal, passa a ser uma atitude que busca a  “manutenção” de um militante - não que este tenha sido quebrado. Em nossas fileiras a autocrítica é compreendida além de ser somente a capacidade de avaliar objetivamente suas próprias ações, comportamentos, desempenho e resultados, passa a ser uma tarefa que tem relação direta com o desenvolvimento da atuação de um militante comunista, bem como o ambiente e as relações em que este encontra-se inserido. Assim, a autocrítica praticada dentro de um Partido Comunista não têm a sua essência prática compreendida quando empregada usualmente em outros espaços por sujeitos que não são adeptos ao marxismo-leninismo ou do marxismo em geral. Comumente, durante debates e conversas amistosas, estes interpretam na maioria das vezes a autocrítica como o ato de "mea-culpa" após julgarem uma atitude errônea ou contraditória em si e em terceiros e que levará ao desenvolvimento pessoal do sujeito.

A autocrítica, desde Marx, tem sido destacada como uma ferramenta essencial nas atividades políticas de um Partido Proletário. Isso se deve ao fato de que, vivendo no sistema capitalista e estando constantemente expostos às influências mais negativas da ideologia dominante, que é a ideologia burguesa, os quadros do Partido devem reconhecer a necessidade concreta de analisar suas próprias ações e seus impactos nas vidas das massas e em sua luta. A todo momento, há o risco de cometer erros com efeitos adversos na luta dos trabalhadores contra o capitalismo em direção ao socialismo.

Sendo o propósito da autocrítica revelar e eliminar nossos erros e debilidades, não é claro que nas condições da construção da revolução brasileira, isso só pode facilitar a luta dos comunistas contra os inimigos da classe operária? Lenin levou em conta esses aspectos específicos da situação que havia surgido após os Bolcheviques terem tomado o poder na URSS, quando, em Abril e Maio de 1920 ele escreveu em seu texto “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”:

“A atitude de um partido político diante de seus erros é um dos critérios mais importantes e seguros para a apreciação da seriedade desse partido e do cumprimento efetivo de seus deveres para com a sua classe e as massas trabalhadoras. Reconhecer francamente os erros, pôr a nu as suas causas, analisar a situação que os originou e discutir cuidadosamente os meios de corrigi-los é, o que caracteriza um partido sério; nisso consiste o cumprimento de seus deveres; isso significa– educar e instruir a classe e, depois, as massas” (Vol. XX p. 200).

Colocar a autocrítica em prática, submetendo-se a uma análise objetiva rigorosa de sua atuação política nas fileiras do partido, no desenvolvimento das tarefas e dos reflexos dessa atuação na sociedade, considerando a experiência histórica de outras lutas, é, portanto, uma das tarefas mais cruciais de todo comunista revolucionário.

É imperativo reiterar: é somente por meio da autocrítica que podemos refletir sobre nossos próprios erros para corrigi-los. Sem dúvida, essa postura humilde é aquela que um revolucionário deve adotar em relação a si mesmo durante sua prática diária da militância e também para sua vida e relações interpessoais. Fazer a autocrítica é reconhecer nossas próprias limitações, mas também estar disposto a corrigi-las; é isso que nos permite estabelecer um vínculo sólido com as massas, fortalecendo assim a conexão inquebrantável com toda a classe proletária, a qual inevitavelmente confiará no Partido comprometido com o avanço de sua própria luta.

Não se trata meramente de qualquer forma de autocrítica que necessitamos. É imprescindível que busquemos aquelas reflexões internas capazes de elevar o patamar de atuação dos militantes comunistas, consolidar seu ânimo combativo, reforçar sua confiança na conquista por espaços e potencializar seu vigor,

Critiquem as fragilidades de nossa construção, mas não banalizem a orientação da autocrítica. Critiquem as fragilidades de nossa construção, mas não descredibilizem a orientação da autocrítica e não a transformem em um meio de criar sensacionalismo barato. Critiquem as deficiências de nossa construção, mas não deturpem a orientação da autocrítica e não a transformem em uma arma para caça às bruxas contra nossos próprios militantes.


REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

- LENIN, Vladimir. Acerca do infantilismo “de esquerda” e do espírito pequeno burguês, 1918. Disponível em< https://www.marxists.org/portugues/lenin/1918/05/05.htm>

-  LENIN, Vladimir. Esquerdismo: doença infantil do comunismo, 1920. Disponível em: < https://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/esquerdismo/>