'Comunicação, pensamento e métodos: materialização de métodos para avançarmos em nossas construções' (Thiago Augusto Lintzmaia)

Precisamos de uma cultura partidária de pensar coletivamente, e o pensamento só muda com a materialidade. Devemos materializar tais métodos e apoiar esses métodos em ferramentas para que possamos avançar em nosso pensamento coletivo.

'Comunicação, pensamento e métodos: materialização de métodos para avançarmos em nossas construções' (Thiago Augusto Lintzmaia)
"Devo frisar que a criação de ferramentas é algo que, além de trabalhoso, não deve ser feito de maneira artesanal e isolado do resto do partido, pois assim estaríamos continuando o que é tão criticado no antigo PCB, de cada local se desenvolver por conta própria."

Por Thiago Augusto Lintzmaia para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, tendo em vista a necessidade de avançar nas questões comunicativas que envolvem socialização de acúmulos e também pensar novos métodos de análise e construção de respostas, escrevo essa tribuna para socializar alguns conhecimentos da área de pensamento visual, mas que também tem um pouco de acúmulo sobre comunicação e design da informação nas propostas. É minha intenção fazer apontamentos que possam levar a uma prática a ser construída, não somente dar ferramentas prontas - evitar cair em um ferramentismo – mas que nos permitam pensar coletivamente sobre diversas questões dentro e fora da organização, como também pensar as próprias ferramentas e métodos que usamos, da maneira auto generativa que a práxis bem feita demanda. Os apontamentos que farei passam em primeiro momento por questões teóricas, aplicáveis em situações diversas, e termino entrando em questões práticas para elucidar como as bases teóricas podem ser aplicadas, tentando validar aquilo que a teoria traz. Escrevo essa tribuna também fazendo um diálogo com a tribuna de camarada S.E.V. em 'Contribuições para o partido revolucionário' da data 15/10/2023, pois acredito que pensar questões relacionadas ao pensamento visual e comunicação junto com a propostas sugeridas na tribuna dele pode ser vantajoso.

Linguagem linear x linguagem em superfície

Antes de citar exemplos práticos de como usar o pensamento visual, quero usar esse espaço para discutir um pouco o porquê a linguagem não-linear (ou em superfície) é mais vantajosa do que a linear em alguns pontos. A linguagem linear, que usamos ao escrever e ler textos, é a linguagem que, para sua compreensão, é necessário ir do ponto A ao B de forma linear. Não se começa a ler uma linha da esquerda para direita no nosso idioma, e essa lógica se dá para todo um texto, como não se lê o parágrafo 2 antes do parágrafo 1, página 2 antes da página 1 e assim por diante. Já a linguagem em superfície funciona a partir de outra lógica, onde o ponto de entrada e saída é mais flexível e o próprio leitor tem controle sobre como absorver o conteúdo. Imagine um quadro com várias fotos grudadas. Não é necessário sequer ver a foto 1 para entender o que a foto 2 comunica, cada foto tem informação suficiente para se sustentar sozinha. É possível que se olhe e se absorva, com mais atenção, apenas uma das fotos, a foto 5 por exemplo, de maneira independente das outras, dessa maneira cada pessoa interage de sua maneira com a todas as fotos, escolhendo seu ritmo, dando foco para aquilo que é mais relevante. Além disso, e aqui entra o principal valor do pensamento visual, o todo, quando apreendido, dá novo significado para cada elemento e cada elemento dá significado ao todo e tal processo se dá de maneira diferente da leitura linear ao possibilitar que vejamos conexões entre elementos a partir de sua disposição espacial. Por exemplo, a foto 1 colocada do lado da foto 2 traz sensações e significados diferentes se, por exemplo, a foto 1 for colocada do lado da foto 5. Coloque a foto de uma criança junto com uma outra foto de uma paisagem e se tem uma sensação, mas coloque a foto da criança junto com outra foto de dois adultos e se tem uma sensação diferente. Dessa maneira, as relações espaciais podem ser aproveitadas para gerar significados que, de maneira linear, seriam muito difíceis de ser gerados. A linguagem linear pode e faz associações espaciais, similar a linguagem em superfície, no entanto com a linguagem em superfície mover informações e criar novas associações é muito mais fácil do que na linguagem linear. Na linguagem em superfície, não é necessário reescrever para que as coisas se encaixam, os significados trazidos pelas relações espaciais são manipulados muito mais facilmente, não gastando tempo para que seja reconfigurado como se dão as informações.

A linguagem em superfície é algo que muitos já estamos acostumados, basta abrir o Youtube ou ir na opção pesquisar do Instagram, ali estão exemplos claros da linguagem em superfície e suas vantagens para quem lê tais informações, no entanto, em nossas construções, não exploramos esse tipo de linguagem de maneira estratégica, não estamos acostumados a nos comunicar de maneira não-linear, apesar de, em nossas mentes, muitos de nós, se não todes, movemos informações de um lado para outro sem nem perceber, mudando a ordem e proximidade do que pensamos, assim como a linguagem em superfície nos permitiria fazer em um papel e de maneira coletiva.

Outro valor da linguagem em superfície é a facilidade que essa se dá para signos no geral, como imagens e dados, não somente textos. Muitas vezes, ao invés de descrever extensamente algo, basta usar uma imagem ou um diagrama. Também possibilita que possamos, ao categorizar e agrupar informações similares, ver onde existem lacunas em nosso pensamento coletivo, quais conexões faltam serem feitas para que, por exemplo, a informação de um lado da página se aproxime mais do outro lado da página, para que uma compreensão "flua" para outra. Tal disposição permite mais facilmente a colaboração, que cada um traga seus acúmulos, principalmente por uma informação colocada no espaço não requerer que outra seja mudada, mas que elas se completem.

O processo de pensar fora da cabeça, ou pensamento visual

Para deixar mais claro como se dá o processo de pensamento feito em uma superfície (chamado pensamento visual), vou agora, de maneira idealizada e breve, discorrer como poderíamos planejar um ato qualquer usando os métodos de pensamento visual, tirando proveito do que tal método nos tem a oferecer. Podemos, em um pedaço de papel, separar seções para cada aspecto envolvendo a organização de um ato. Citando como exemplo apenas algumas partes da organização de um ato, podemos criar a seção de agitação, a sessão de materiais, a seção de segurança e a seção organizações que participaram, assim dividindo um espaço (uma folha qualquer) em quatro partes. Podemos deixar que cada camarada traga suas experiências e conhecimento para cada uma das seções, dispondo a informação de cada espaço. Assim, simplificando que um ato tenha apenas esses aspectos e nenhum mais, temos mapeado todas as áreas do ato, em um documento criado coletivamente. Sendo as seções já estabelecidas, isso deixará claro nossas deficiências (qual seção se encontra vazia) e qual temos mais acúmulos, qual está mais cheia de informação.

Continuando, em um segundo papel que pode ser colado junto ao primeiro, podemos criar uma seção de horários, locais de encontro, e destacamentos, assim, ao passarmos do momento de mapeamento para o processo de planejamento, todas as informações para o planejamento estariam presentes, no mesmo documento, ficando fácil de visualizar se, por exemplo, existem muitos materiais para um único camarada levar ao ato, qual camarada tem mais contato com as outras forças que estarão compondo o ato, qual seria a complexidade da segurança para o ato, etc.

Indo além, pode-se aproveitar para, usando todas as informações já inseridas e categorizadas nas duas folhas, transformar um planejamento em um organograma, com um plano de ação claro, sendo assim evidente, mais uma vez, caso alguma parte do que foi mapeado e/ou está no planejamento está sendo ignorado, pois a informação está disposta de maneira espacial e ocupando seu espaço a frente de todes, não se perde a informação trazida por e camarada x que está registrada na linha 14 da ata da reunião que foi realizada a alguns dias. O processo de mapeamento e planejamento ocorre de maneira mais integrada, colaborativa e ágil.

Assim pode-se montar um painel fixo, com seções já delimitadas, para o planejamento de atos futuros e de maneira iterativa, conforme se vê o que tem valor de estar ali, o que não é necessário e o que tem de ser adicionado, é possível aprimorar tal painel, se tornando este uma ferramenta a ser utilizada e socializada. A socialização da ferramenta criada a partir da prática tem o valor de demonstrar como está sendo feito o planejamento para outros órgãos e, para além disso, pode ajudar sendo um pontapé para outros organismos que não tem experiência na área. Como por exemplo, já que discutimos aqui um painel para organização de um ato, tal painel seria uma ferramenta valorosa se um outro organismo nunca tivesse organizado um ato, já que é mais do que um texto explicando como fazer, é exatamente a ferramenta usada por outros camaradas de dentro da organização para fazer o ato acontecer.

O processo de pensamento visual é um processo que lida com o caos e a ordem, a divergência (informações são inseridas de maneira livre) e a convergência (agrupamentos e categorização), para posteriormente gerar uma síntese. Por isso possibilita que todes participem e colaborem na construção, tudo sobre um espaço físico compartilhado (no caso o papel onde são feitas as anotações). As lacunas se tornam claras, onde precisamos avançar, sendo que o próprio processo evidencia a falta de respostas para determinadas questões que temos. Aprendemos e podemos gerar uma compreensão sobre a própria militância a partir do que falta, não somente a partir do que está presente.

Como um outro exemplo muito claro de como funciona o pensamento visual, do qual não é necessário muita imaginação, basta pensar em como planejar uma estratégia de segurança sobre determinada área urbana. Quais ruas bloquear, por onde passará o ato, para onde dispersarem em determinado ponto do ato caso haja necessidade. Tais informações dispostas espacialmente sobre um mapa são de muito melhor compreensão do que em um texto ou lista. O que sugiro, camaradas, é que não devemos nos negar a pensar sobre o que pode ser melhor disposto de maneira espacial e visual, pensar que não somente o que já é feito de maneira espacial e visual deve ser feito dessa maneira, que podemos avançar e pensar em novos métodos de construção, para além do conteúdo, mas também repensar a forma de como pensamos coletivamente de maneira radical e revolucionária, entendendo quais vantagens e desvantagens de se alterar a forma, de se reestruturar algo que já estabelecido, errando e acertando no processo.

Necessidade de criar espaços para permitir avançarmos

Após discorrer sobre como se dá o processo, se torna fundamental discorrer sobre como nem tudo é tão simples, e não é uma mudança simples (colocar informações em post-its e colar em um papel) que faz tudo mudar ou darmos um salto. Para que tais processos sejam valiosos, é preciso que haja método e que haja um olhar crítico sobre a aplicação de tal método. Uma maneira viável de não cairmos em um ferramentismo (de aplicar uma mesma ferramenta diversas vezes de forma mecânica) é existir profissionalização na aplicação do método, formando camaradas que sejam capazes de mediar e de entender fraquezas e forças do método, sendo as ferramentas (ex. painéis) partes de um método, não o método em si. Digamos que, por exemplo, se crie uma ferramenta a ser usada para se montar um ato, com os seções já delimitadas, similar à como sugeri acima, e distribuídos para todos organismos que montam atos. Tal ferramenta não garante o sucesso do ato, apenas ajuda no planejamento de tal ato, sendo necessário usar de maneira crítica a ferramenta disponibilizada, estar apto a modificá-la, entender porque cada seção foi feita e qual seu valor, pois somente assim tal ferramenta tem valor. É necessário formação para se usar os métodos e aplicar ferramentas que fazem parte do método. Para além disso, não é porque é proposto que o pensamento visual é mais participativo que ele de fato é, somente uma boa mediação pode garantir uma participação plena ao aplicarmos ferramentas e seguirmos um método, tendo em conta as próprias particularidades que o método requer, mas também as particularidades que temos de cada camarada, sendo papel do mediador não encaixar o método em quem está participando da aplicação, mas fazer com que quem está participando da aplicação tenha plena participação crítica nele.

Para que tais métodos se tornem valorosos, para além do que está (ou pode estar) posto é necessário que haja um ciclo de revisão de métodos, em busca de um constante melhoramento de métodos e do ferramental posto, para além de uma boa mediação. Aqui eu faço menção à tribuna do camarada S.E.V., que propõe tal centralização de desenvolvimento de métodos. Tal centralização é muito valorosa na minha opinião, pois, para além de todos os pontos citados em sua tribuna ao defender tal órgão do partido, ainda facilita o processo de assistência. Se existir uma ferramenta para planejamento de ato, por exemplo, é retirado o peso do assistente do organismo, sendo que não é necessário que seja descrito do zero como realizar um ato, ou que recorra a uma cartilha, a própria ferramenta já estará posta, sendo assim possível passar direto a discussão crítica de tal ferramenta e a aplicar ou modificar para aquele contexto, não sendo necessário que es camaradas leiam um manual e cada um monte em suas cabeças quais serão os próximos passos. A ferramenta, que deve constantemente ser melhorada e criticada, já traz passos prontos para agilizar o processo. Precisamos de uma cultura partidária de pensar coletivamente, e o pensamento só muda com a materialidade. Devemos materializar tais métodos e apoiar esses métodos em ferramentas para que possamos avançar em nosso pensamento coletivo.

Exemplo de socialização de acúmulos usando linguagem visual

Para mostrar como o pensamento visual é útil para dispor informações, validando para es camaradas que não tem muito contato com tal tipo de comunicação, organizei algumas tribunas usando relações espaciais para mostrar como a comunicação visual pode nos ajudar a compreender e assimilar informações de uma maneira sistematizada.

Peguei algumas tribunas que estão disponíveis, as inseri em uma ferramenta de pensamento visual e agrupei-as baseado nos tópicos que tais tribunas discutem.

Algumas tribunas publicadas colocadas em um painel e agrupadas por temas

Se supormos que aqui estão todas as tribunas já produzidas para nosso congresso e que suas categorizações e agrupamentos estão corretos, vemos rapidamente sobre qual pauta nossa militância está produzindo mais material. Fica evidente que dispomos pouco esforço para discutirmos lutas nos bairros e formação, mas que discutimos e temos muitos acúmulos sobre combate à opressão. Não temos nada sobre a questão militar, mas nos dedicamos a discutir finanças, etc. Já vi, em outras tribunas, camaradas discutindo que tínhamos poucas tribunas em tal pauta, e muitas em outras pautas. Com a atual disposição das tribunas, agrupar e analisar qual área temos mais acúmulos socializados nas tribunas se torna uma tarefa a mais para pensarmos coletivamente, na disposição espacial, que aqui exemplifico, fica logo evidente quais áreas foram mais ou menos debatidas nas tribunas.

Zoom na seção coletivo - partido
Zoom na seção finanças

Além de categorizar as tribunas por tema, também podemos ligar uma tribuna a outra usando linhas e setas, usando como critério das ligações se uma tribuna é reposta de outra. Fazer tal ligação por elementos gráficos nos permite acompanhar como determinada discussão está "caminhando", se uma tribuna foi respondida. Indo além do que aqui representado neste exemplo, podemos ligar tribunas que não são respostas diretas, mas que mencionam outras tribunas, com o uso de um elemento gráfico diferente, como linhas pontilhadas por exemplo. Para além do que está representado aqui por mim, podemos escolher quais informações são relevantes a serem passadas, como por exemplo tamanho da tribuna ou data, e achar maneiras de representar tais informações de maneira gráfica, sendo basta ser estabelecido qual informação é relevante de ser passada e achar uma maneira criativa e eficiente de apresentá-la. Na atual disposição das tribunas no site em defesa do comunismo, temos uma distribuição linear que lista todas as tribunas por data de publicação, conforme foram sendo publicadas, e é muito difícil ver quais tribunas foram respondidas ou de ver quais debates estão ocorrendo em determinado tema.

Zoom na seção combate à opressões 

Tal disposição também permite rapidamente ter uma rápida leitura do que já foi abordado em certo tema. Comunicar de tal maneira as tribunas, para além de apenas comunicar o que já foi tratado, facilita também a tomada de ações des camaradas que pretendem escrever uma tribuna. Se, por exemplo, decido socializar meus acúmulos sobre combate à opressões, posso rapidamente ver o que já foi escrito, dar um zoom na tela e posteriormente abrir cada uma das tribunas que tem temas similares ao que pretendia escrever. Tal processo facilita que não sejamos redundantes e facilmente podemos confirmar se o conteúdo do que queremos abordar em uma tribuna já foi abordado, e isso sem usar nenhuma ferramenta de busca, apenas precisamos "andar" pelas informações ali dispostas.

Com esses exemplos busco apenas validar como as informações que já temos podem ser melhor dispostas. Proponho, caso ainda não tenha ficado claro, que sejamos críticos da forma que socializamos acúmulos, tanto para dentro quanto para fora do partido, e que achemos novas formas de nos comunicar. O uso das tribunas como exemplo foi para facilitar e mostrar como algo que temos como tão certo da forma que está disposto pode ser repensado, como a comunicação visual pode trazer benefícios para comunicação que a linguagem linear dificilmente traria.

Exemplo de ferramenta usando pensamento visual

Para melhor exemplificar como é uma ferramenta que utiliza de pensamento visual, como a que sugeri mais acima no texto, criei rapidamente uma ferramenta e irei rapidamente descrever suas seções e como utilizá-la. Criei uma ferramenta que seria utilizada para auxiliar no balanço de uma atividade feita em conjunto com outras forças. Tal ferramenta foi criada baseada na experiência que tive de balanços que participei e tive acesso, e percebi que certos pontos de discussão no balanço se repetiam, então criei um painel com seções delimitadas para serem preenchidas.

Painel com exemplo de ferramenta a ser utilizada para balanço de atividade em conjunto com outras forças, com seções delimitadas a serem preenchidas

O painel se divide em 3 seções maiores, 1) sobre o ato, 2) nossa organização, e 3) outras forças. Cada seção tem a parte superior e parte inferior, sendo a parte inferior a parte de balanço em si e a parte inferior com o que há de ser feito. Irei descrever o que está presente somente na seção 2, já que o objetivo é descrever como se dá o processo, não a planilha em si.

Seção voltada para analisarmos como foi a atuação de nossa organização na atividade

Cada uma das áreas estabelecidas delimita qual informação há de ser inserida. Por exemplo, temos a seção que pede para ser preenchido sobre a quantia de militantes nossos que compareceram na atividade. Outra seção pede para ser preenchido os materiais utilizados. Outra pede para que sejam preenchidos os principais acúmulos da atividade. O painel, como sugiro, vem acompanhado de exemplos para ajudar quem irá preencher o painel. A seção inferior vem delimitada com 2 seções de "o que fazer agora" e busca tirar encaminhamentos. Como proponho, a seção inferior deveria ser um espaço a ser preenchido após a síntese e discussão, assim podemos garantir que o balanço não será apenas um balanço para discutirmos o que foi, mas encaminhamentos serão tirados após o balanço. Tal processo, de fazer o balanço e posteriormente tirar algo a ser feito do balanço, é algo que aprendemos que tem valor na prática e, com a ferramenta aqui proposta, tal prática de fazer algo após o balanço já vem estabelecida. A própria ferramenta coloca a demanda de fazer algo após o balanço.

Como tal ferramenta seria utilizada, se 2 ou 3 camaradas seriam destacados para preencher a planilha e só deixar a seção inferior (o que fazer agora) para uma reunião conjunta ou se toda a planilha seria preenchida em reunião é uma questão de método e há de ser discutida. Como falei mais acima no texto, a ferramenta não é o mesmo de método. A ferramenta é algo que apoia a aplicação de um método, mas não existe separada do método. Como o método é construído, quais ferramentas e como cada ferramenta será utilizada há de ser discutido, por isso é importante entender as ferramentas de maneira critica. Mas, considerando que atualmente se quer temos tais ferramentas, apenas cartilhas com manuais, muitas vezes produzidas de forma artesanal pelas bases, ter um ferramental robusto, que apoie métodos, se mostra como um passo rumo a bom caminho para sairmos do método artesanal que nosso partido se encontra.

Conclusão

Os exemplos que trouxe não vem com a proposta de serem aplicados, apenas como demonstração de materialização do que pode ser feito. Muito se discute sobre avançarmos e criarmos métodos, aqui busquei mostrar como ferramentas podem ser materializadas para suportar métodos, como parte de tais métodos podem chegar nas bases. Mas devo frisar que a criação de ferramentas é algo que, além de trabalhoso, não deve ser feito de maneira artesanal e isolado do resto do partido, pois assim estaríamos continuando o que é tão criticado no antigo PCB, de cada local se desenvolver por conta própria. Não é a criação e aplicação de métodos que nos tira do artesanalismo, mas a integração das instâncias de como fazer, sendo a práxis o que define como e o que é o partido. Para além de cada instância avançar em métodos, é necessário um órgão centralizador que desenvolva/avance os métodos já estabelecidos, aprendendo com como os métodos estão sendo utilizados de norte a sul e no país inteiro, aprendendo com cada especificidade de cada região, avançando não somente sobre o “que é” a região, mas como como tal região faz sua práxis. O processo de observar e acompanhar como se dá a dinâmica de aplicação de métodos pode ser facilitado pelo uso de um ferramental estabelecido e traz uma possibilidade de avanço significativo para termos uma maneira de atuação que unifique enquanto dá espaço para a especificidade de cada local.