Como se faz agitação com o jornal na empresa

A leitura do jornal deve ter uma finalidade. Não se trata de ler apenas pelo gosto de ler. Devemos orientar a leitura e a palestra para conseguir resultados práticos – para que os operários tomem atitude e lutem. Por isso é preciso ligar o assunto lido com os interesses mais sentidos dos operários.

Como se faz agitação com o jornal na empresa

Agitprop, suplemento de A Classe Operária, Órgão Central do PCB; publicado em Junho de 1952.


*   A leitura coletiva

*   Correspondências de empresa

*   Algumas experiências concretas

O jornal é um grande agitador. Nossa imprensa popular traz diariamente informações e comentários sobre os problemas do povo, a situação política e a opinião do Partido. São artigos e notícias que ajudam a esclarecer as massas e levá-las à luta. Nossos agitadores precisam utilizar a imprensa em seu trabalho, combinando a agitação pelo jornal com a agitação falada. Uma deve completar a outra.

UM EXEMPLO CONCRETO

É possível fazer agitação com o jornal dentro da empresa? A experiência de uma grande fábrica de tecidos de São Paulo responde que sim.

Numa das seções desta fábrica, um companheiro do Partido chega ao local de trabalho meia hora antes de começar o serviço. Leva um exemplar da “Voz Operária” ou do “Hoje”. Vários operários vão chegando 10, 15, 20 minutos antes do início do trabalho. Reúnem-se em grupo e o agitador lê notícias e artigos do jornal. Enquanto isso, um operário fica de vigia para avisar quando se aproxima algum espião da empresa. Os vigias se revezam de cinco em cinco minutos, e assim todos ouvem a leitura. Depois de lido cada artigo, trava-se uma discussão sobre o assunto. Alguns operários são analfabetos, e seu interesse é tão grande que são os primeiros a chegar para ouvir a leitura desde o começo.

Qual é o resultado obtido com esta leitura? A “Vos Operária”, que vendia 18 exemplares na fábrica, vende hoje 45. Quase não se vendia o “Hoje”, agora se vende 80 exemplares diariamente. E não é por acaso que 60% dos operários desta fábrica já assinaram o Apelo por um Pacto de Paz. Este exemplo nos mostra que, apesar da reação, é possível fazer agitação com a imprensa dentro da empresa.

LEITURA DOS JORNAIS

Uma das melhores formas de utilizar a imprensa na agitação é justamente a leitura coletiva dos jornais. Como se deve fazer a leitura dos artigos e notícias?

O notável agitador soviético Kalinin nos dá neste sentido um grande ensinamento:

“Não basta que se leia o jornal. – diz ele – É necessário que a leitura seja acompanhada de debates em torno do material lido. Do contrário pode acontecer que algum dos participantes já tenha lido o jornal e por isso não preste atenção à leitura; ou algum outro deixe de se interessar, porque somente a leitura pouco proveito lhe traz. Quando se discute o assunto lido, é natural que todos se interessem pela leitura. Discutamos. Por que motivo não devemos discutir sempre?”

Aberta a discussão sobre o assunto, o agitador deve explicar o sentido das palavras que não foram bem compreendidas, esclarecer as dúvidas dos ouvintes e responder suas perguntas. Trava-se assim uma palestra viva e interessante, da qual todos participam.

ESCOLHA DO ASSUNTO

Como o tempo para a leitura é muito curto, deve-se escolher a matéria que vai ser lida. O agitador precisa antes passar a vista no jornal e ver quais os assuntos mais interessantes.

Um dia pode-se ler uma notícia sobre a guerra bacteriológica. Outro dia, uma nota sobre as reivindicações da própria empresa ou de uma outra empresa. Ou um artigo sobre a carestia, desmascarando o governo de Vargas, contando como vivem os operários na URSS, etc.

A leitura do jornal deve ter uma finalidade. Não se trata de ler apenas pelo gosto de ler. Devemos orientar a leitura e a palestra para conseguir resultados práticos – para que os operários tomem atitude e lutem. Por isso é preciso ligar o assunto lido com os interesses mais sentidos dos operários.

Numa empresa metalúrgica de São Paulo, por exemplo, um companheiro leu uma notícia da “Voz Operária” sobre o Acordo Militar com os Estados Unidos. Alguns operários disseram que aquilo não os atingia, porque não eram mais jovens sobre a nova lei do Serviço Militar, mostrando que a convocação atinge até os 45 anos. Argumentou também sobre a carestia e a opressão que os operários sofrem com a guerra. O resultado foi que em poucos dias 90 operários desta empresa assinaram um protesto contra o Acordo Militar.

A leitura coletiva dos jornais na empresa deve ser um trabalho constante. Ela habitua os trabalhadores a lerem nossa imprensa, eleva sua consciência política, aproxima-os do Partido.

OUTRAS FORMAS DE UTILIZAR O JORNAL

Além da leitura coletiva, há outras maneiras de utilizar o jornal na agitação dentro da empresa:

Recortes de artigos e notícias da imprensa popular podem ser colados em papelão e circular de mão em mão. São os chamados “passa-passa”. Ao lado do recorte geralmente se escreve uma pequena frase, ligando o assunto aos interesses da massa da empresa.

Para esta forma de agitação podem ser utilizadas até mesmo certas noticias da imprensa reacionária. Numa fábrica da riquíssima família Assumpção, em São Paulo, correu um “passa-passa” que causou grande repercussão. Era um recorte de um jornal burguês onde aparecia o milionário Assumpção de smoking, tomando champanhe numa festa granfina entre mulheres decotadas e cheias de jóias. Ao lado o agitador escreveu: “Enquanto ele goza a vida, nós é que pegamos no pesado – Obriguemos este explorador a nos dar aumento de salários”.

Outras vezes os jornais são colados na parede da privada ou nos bebedouros. Os artigos mais interessantes são assinalados com lápis vermelho. Assim são lidos diariamente por centenas de operários.

Numa empresa americana de Santo André, a sede dos operários aumentou muito quando apareceu a “Voz Operária” colada perto dos bebedouros. A todo momento os operários saiam para beber água... e ler o jornal. A guarda da fábrica arrancou o jornal da parede e passou a vigiar o bebedouro. Mas no outro dia o jornal apareceu colado na privada... E assim continuou a ser lido pelos operários.

Há empresas onde se pode deixar exemplares do jornal em certos lugares estratégicos, de modo que os chefes e espiões não os descubram. Na margem do jornal se escreve: “Companheiro: leia e deixe aqui para outro ler”.

Numa empresa metalúrgica de São Paulo, onde este método é empregado, cada exemplar da “Voz Operária” é lido por dezenas de operários. O jornal fica escondido atrás do forro. Sempre que há um intervalo de alguns minutos, exigido pelas próprias condições de serviço, os operários lêem trechos do jornal.

MAIS CORRESPONDÊNCIAS DE EMPRESA

Para que os nossos jornais despertem o interesse da massa, é preciso que eles tragam notícias e comentários sobre a vida nas empresas. As reportagens e notícias denunciando a exploração e as perseguições têm grande repercussão dentro da fábrica. Em muitos casos, basta uma reportagem para levar a massa à greve. Há algum tempo atrás, uma só reportagem do jornal “O Democrata” contribuiu decisivamente para o desencadeamento de uma greve dos operários do matadouro de Fortaleza. Entretanto, a imprensa popular contém ainda poucas correspondências de empresa. É indispensável que os companheiros das células mandem mais notícias para os jornais.

UTILIZEMOS E DIVULGUEMOS NOSSA IMPRENSA

Precisamos divulgar nossa imprensa, fazer propaganda de nossos jornais no meio da massa e aproveitá-los melhor em nosso trabalho de agitação. Ainda há muitas empresas onde nem entram os jornais populares.

Condições existem, como já vimos, para fazer de nossos jornais poderosos instrumentos de agitação. E esta é uma das tarefas mais importantes dos encarregados de agitação e propaganda das células e de todos os comunistas.