'Como podemos realizar um movimento revolucionário em meio uma massa majoritariamente cristã?' (Facó)
Para termos maior poder político nesse meio devemos ter presença e ocupar os meios religiosos, com ênfase no católico-evangélico, com o objetivo de disputa dessa grande massa religiosa, para que ela possa se aproximar da luta comunista e dificultar a inserção reacionária que hoje é observada.
Por Facó para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
O fenômeno bolsonarista, sobretudo a bancada institucional cristã, soube se apropriar da massa cristã, sendo capaz de realizar demonstrações públicas e dentro de igrejas de suas leituras reacionárias, cultivando à hostilidade religiosa e o entontecimento religioso que os blinda das contradições da realidade por meio de narrativas mitológicas e conspiratórias [1]
Dentro da disputa religiosa, o meio católico-evangélico sendo um espaço debilmente disputado pela linha radical, foi entregue à predominância do discurso reacionário religioso, fazendo com que a grande massa proletarizada religiosa de 70% da população brasileira seja facilmente absorvida pelo reacionarismo, enquanto nós comunistas estamos marginalizados nessa disputa, tendo em nosso campo de militância somente massas religiosas igualmente marginalizadas como as religiões afro-brasileiras e as massas ateias que dificilmente se somam à 15% da população brasileira [2]
Portanto, para termos maior poder político nesse meio devemos ter presença e ocupar os meios religiosos, com ênfase no católico-evangélico, com o objetivo de disputa dessa grande massa religiosa, para que ela possa se aproximar da luta comunista e dificultar a inserção reacionária que hoje é observada. Afirmo isso pois não se é efetivo a guerra à religião, em um cenário brasileiro, de raízes coloniais, o cristianismo possui raízes profundas que somente poderão ser discutidas no socialismo, como lenin escreveu "Nenhum livro educativo arrancará a religião de entre as massas oprimidas pelos trabalhos forçados do capitalismo"[3]. Assim então, se não podemos arrancar a religião das massas oprimidas, por outro lado, podemos promover à essas massas oprimidas à luta para governar a própria religião, reconstruí-la, reforma-la.
Dessa forma, temos a necessidade de criar uma linha de propaganda voltada ao cristianismo, incentivando a releitura da bíblia sob a ótica popular, reivindicando os signos cristãos em um viés revolucionário, buscando na religiosidade não "ser na criatura oprimida seu suspiro" mas sim despertar à ação concreta. Ademais, nossa propaganda deve servir de plataforma para denunciar e apontar as contradições que a bancada institucional cristã e suas figuras públicas produzem.
O que estou propondo não é novo, é uma linha política já disputada, tanto no surgimento da Teologia da libertação, tanto pelas tentativas de aproximação do Papa Francisco com o marxismo, quanto na internet, com o youtuber Bruno Reikdal e páginas como o Cristianismo Comunista que realizam trabalhos voltados a essa disputa religiosa. Esses são somente exemplos para despertar um cristianismo revolucionário
Claro, essa proposta vai ser também duramente criticada dentro do meio comunista, pela dificuldade que se apresenta a relação do idealismo cristão com o materialismo marxista para despertar um cristianismo popular, e também pela predominância do ateísmo militante dentro do comunismo, que não pretende abrir espaço para discutir a religiosidade, apesar da trégua que a promessa de ganho político possa abrir a possibilidade desse debate, como primeiro plano descrito no texto de lenin "Sobre a Atitude do Partido Operário em Relação à Religião"[3]. Por fim, essa proposta tem acordo com a preservação do ateísmo militante no interior do partido, já que a mesma não abre mão do materialismo ao se discutir a religião cristã, tratando a mesma dentro de seu desenvolvimento conforme a realidade de seu tempo.
Viva Antônio Conselheiro!
Viva Canudos!