Como os ricos ficaram mais ricos no governo progressista de Obrador no México
A fortuna das famílias mais ricas do México aumentou em 45,2% no governo Obrador. Um dos empresários que mais se beneficiou com isso foi Carlos Slim, empresário do ramo de telecomunicações.
Por El Machete, órgão central do Partido Comunista do México (PCM)
Junho de 2018 começou com um turbilhão de emoções entre a população mexicana. Pela primeira vez na história de nosso país, seríamos governados por um partido de esquerda. Andrés Manuel López Obrador venceu as eleições após mais de uma década de campanha e chegou com a promessa de colocar os pobres em primeiro lugar, o que não é pouco no México. De fato, quando AMLO assumiu a presidência, havia mais de 50 milhões de pessoas na pobreza no México. “Os pobres”, disse ele, haviam sido esquecidos durante todos os governos neoliberais, de Salinas a Peña Nieto.
Entretanto, embora os pobres tenham existido e continuem existindo na imaginação do MORENA, os ricos não são uma figura recorrente. Falam muito sobre os conservadores, mas não sobre os liberais. Falam dos reaças, e eles respondem falando dos esquerdistas e vagabundos [1] que, segundo eles, se mantêm no luxo do desemprego graças ao parco apoio do obradorismo.
Essa ausência de narrativa não poderia ser apenas isso, não em um movimento político cuidadosamente elaborado, no qual cada símbolo e cada palavra foram escolhidos entre uma infinidade de opções para causar o máximo de impacto na população e para criar um labirinto confuso o suficiente para fazer malabarismos com suas contradições ideológicas. Os ricos não aparecem como inimigos dos pobres em todos os discursos de Obrador ou Sheimbaum por uma razão simples: porque não são considerados como tal.
Os ricos, definidos como o 1% da população que detém a maior parte da riqueza do país, podem ou não fazer parte dos inimigos, dependendo de suas declarações e posições públicas. Assim, Salinas Pliego, um empresário libertário que se opõe abertamente ao governo Morena, é um inimigo, não por ser rico, mas por ser conservador. E Carlos Slim, o homem mais rico do México, é um aliado, o engenheiro, não por ser um entusiasta da igualdade e da justiça social, mas por suas declarações de apoio a Obrador.
Com tudo isso, não deveria nos surpreender o fato de que, durante o primeiro mandato de seis anos da esquerda no México, os ricos ficaram mais ricos. É normal: eles nunca foram o alvo, por mais que os círculos de ideólogos que ainda se sentem marxistas queiram nos dizer que por trás do óbvio conforto de Obrador e de seu movimento com essas somas obscenas de riqueza se esconde muito, muito bem, um verdadeiro revolucionário.
De acordo com os cálculos da revista Forbes, a fortuna das 10 pessoas e famílias mais ricas do México aumentou em 45,2%. No início do mandato de seis anos, essas fortunas totalizavam 121,7 bilhões de dólares, e agora somam mais de 176,5 bilhões. Os que mais se beneficiaram com isso foram Carlos Slim e sua família, Germán Larrea e sua família, e até mesmo o arqui-inimigo da 4T e conhecido sonegador de impostos, Ricardo Salinas Pliego e sua família.
Somente no caso de Carlos Slim, sua fortuna cresceu 52,2% de 2018 a 2024. De acordo com a Oxfam, uma conhecida agência internacional de pesquisa, foi o relacionamento de Slim com o governo federal que permitiu que ele aumentasse sua riqueza dessa forma, pois se beneficiou de várias concessões em obras e permissões privilegiadas.
É importante observar que esse aumento na riqueza pessoal não é totalmente explicado pelo aumento no valor das empresas que esses capitalistas dirigem, já que a riqueza dos 48 maiores empresários do México aumentou 12%, enquanto o mercado mexicano de ações aumentou apenas 6%. Ou seja, a riqueza desses empresários aumentou duas vezes mais do que o valor de suas empresas.
É assim que termina esse período de seis anos de transformação em favor dos mais pobres: sem reforma tributária para cobrar mais impostos dos mais ricos e com os bilionários mexicanos acumulando cada vez mais riqueza em um país que ainda mantém cerca de metade de sua população abaixo da linha da pobreza.
Notas
1. No original, “Se habla de los fifis, y ellos responden hablando de los chairos y los ninis”. Fifis é um termo pejorativo para os conservadores, chairos é usado como desqualificante de pessoas de esquerda, e ninis seriam os “nem-nem”, parte da população que não está inserida na educação ou no mercado de trabalho.