Como forjar um Partido Bolchevique
Os partidos comunistas construíram sua organização como os social-democratas, por circunscrição eleitoral, por local de habitação dos membros do Partido [...], as organizações do Partido Comunista nos países capitalistas estavam organizadas sem ligação permanente de organização com as empresas.
Ossip Piatnitsky
Escrito na década de 1930
Publicado a partir de marxists.org
O XI Pleno do CE [Comitê Executivo] da IC [Internacional Comunista] comprovou o atraso das seções da Internacional Comunista nos países capitalistas com relação ao ascenso do movimento operário e camponês revolucionário. Passou um ano desde a assembleia. É período suficiente para examinar seus resultados. Esse atraso foi liquidado?
Nos três últimos trimestres de 1931 e no primeiro trimestre de 1932 se tornou palpável uma séria agravação da situação das classes laboriosas, operários e camponeses pobres e médios. Os partidos socialistas, os social-democratas e os burocratas sindicais ainda seguidos por massas importantes de operários e de empregados, se colocaram plenamente há muito tempo do lado da burguesia e traem diariamente os interesses da classe operária. No transcurso deste período, o ascenso do movimento operário e camponês, não só não decaiu em nenhuma parte, senão que se acentuou em certo número de países, (Espanha, Polônia, Tchecoslováquia, China, Japão, Índia, América, França, Alemanha). Mesmo assim, nos principais países imperialistas (Inglaterra, América, França, Alemanha), os partidos comunistas se encontram atrasados como antes do Pleno do CE da IC. Cada país tem suas razões objetivas para este atraso. Não obstante, isto não quer dizer que o fator subjetivo — a incapacidade de aproveitar o descontentamento das grandes massas de trabalhadores determinado pela queda do nível de vida, o desemprego, a fome, os impostos, a ação dos social-democratas, dos partidos socialistas e dos burocratas sindicais — não tenha uma parte enorme neste atraso.
A força das tradições reformistas
Como se explica esta incapacidade de arrancar as massas operárias dos partidos social-democratas e socialistas e dos reformistas e agrupar, organizar e reter em nossas filas os que passaram para o Partido Comunista e para o movimento sindical revolucionário dos países capitalistas?
Principalmente pelo fato de que as tradições reformistas e social-democratas estão ainda profundamente arraigadas em todos os domínios da atividade dos partidos comunistas, dos sindicatos vermelhos e das operações sindicais. Comparando os métodos de trabalho entre as massas, as formas de organização, a apreciação da situação dada e a tática correspondente dos bolcheviques e dos social-democratas, demonstraremos mais adiante que as seções da Internacional Comunista nos países capitalistas se saturaram muito em seu nascimento e ainda hoje em dia estão bastante impregnadas da prática dos partidos social-democratas.
A autocracia e a pandilha dos feudais agrários eram os amos do poder na Rússia czarista. Não somente a situação dos operários, mas também a dos camponeses, era insuportável. A pequena-burguesia íntegra (e inclusive a burguesia liberal nascente) estava descontente com a autocracia (daí, por outro lado, a ampla participação dos intelectuais e dos estudantes no movimento revolucionário de 1905 contra o absolutismo). Como confirmaram os acontecimentos de 1905, a Rússia marchava para a revolução democrático-burguesa. Sobre isso, Lênin escrevia em março de 1905:
“A evolução objetiva das coisas colocou o proletariado russo ante o problema de uma revolução democrático-burguesa... Este problema se erige ante todo o povo, inclusive as massas pequeno-burguesas e camponesas. Sem esta revolução o desenvolvimento, por menos que seja, de uma organização independente de classe com vistas à revolução socialista, é inconcebível.” (A ditadura revolucionária-democrática do proletariado e do campesinato, Obras Completas, Tomo VI, Edição russa).
Em 1890, este período da revolução democrático-burguesa já havia sido franqueado pelos principais países estrangeiros. As revoluções democrático-burguesas, realizadas pelo proletariado e a pequena-burguesia, haviam se desenvolvido sob a égide da burguesia, a falta de partido operário revolucionário.
Os partidos social-democratas e socialistas que em 1890 já existiam como partidos de massas nos principais países, haviam se adaptado ao regime e às legislações existentes. Antes da guerra mundial, a luta política travada pelos partidos social-democratas era uma luta pelas reformas no terreno da legislação social e pelo sufrágio universal. E mesmo essa luta era travada essencialmente por meio da cédula eleitoral.
Se de palavra não renunciavam ao objetivo final da luta do proletariado, o socialismo, de fato não empreendia nada sério e prático para preparar e travar batalhas revolucionárias, educar com esse objetivo os quadros necessários, dar às organizações do partido uma orientação revolucionária, romper no curso da luta com a legalidade burguesa, etc. Toda a orientação dos partidos social-democratas e socialistas tendia essencialmente a obter por meio do sufrágio universal, igual e secreto, a maioria no parlamento, para “instaurar então o socialismo”. As mesmas tentativas de adaptação, que o Partido Bolchevique ilegal combateu violentamente, encontraram igualmente sua expressão na Rússia na pessoa dos mencheviques liquidadores (e na pessoa de Trotski), que qualificaram o regime de Stolypin de regime burguês e trataram de se adaptar a ele, passando à atividade legal e lutando por reformas, imitando os partidos socialistas da Europa ocidental. Os mencheviques não levavam em conta o fato de que as tarefas da revolução democrático-burguesa haviam ficado sem solução depois da revolução de 1905.
No ocidente, os sindicatos estavam voluntariamente reduzidos ao par de organizações auxiliares das grandes massas operárias e à defesa exclusiva dos interesses econômicos imediatos da classe operária, coisa importante, certamente, mas nem sequer se propunham a tarefa de derrubar a burguesia e instaurar a ditadura do proletariado. Abandonavam todo o domínio da política “pura” ao partido político. Não se propunham a outro fim que concluir contratos coletivos e declarar greves econômicas. O papel das cooperativas era, todavia, mais reformista. Os sindicatos se achavam às vezes em desacordo, inclusive com os partidos social-democratas, sobre a fixação das festas revolucionárias e o desencadeamento de greves políticas, mas as cooperativas estavam, por sua vez, em desacordo com os sindicatos, que pediam sua ajuda nos períodos de greves econômicas. Por esta razão, os partidos social-democratas e socialistas estrangeiros, com muita tolerância à revisão bernsteiniana dos princípios fundamentais do marxismo, sem pensar nem sequer em fazer a cisão, mesmo quando alguns partidos social-democratas tivessem adotado resoluções contra os oportunistas, os revisionistas e os reformistas. Na verdade, quase toda a ação dos partidos social-democratas e das organizações operárias que dirigiam estava impregnada de bernsteinismo.
Como os bolcheviques lutavam contra os desvios do marxismo
Na Rússia czarista ocorria outra coisa. Em 1890, em todas as cidades, sobretudo nos centros industriais do antigo Império da Rússia, existiam paralelamente aos grupos populistas, grupos e organizações social-democratas. Diferentes correntes antagônicas se manifestaram no seio destes últimos a partir de sua aparição: os “economicistas”, os membros do Bund, partidários destes últimos e da [autonomia] nacional e cultural, os social-democratas revolucionários, os oportunistas social-democratas que se punham ora de um lado ora de outro. O periódico social-democrata Iskra, publicado pelos social-democratas com Lenin à cabeça, combateu desde o primeiro dia todos os desvios do marxismo em geral e o economicismo em particular.
Lênin e os revolucionários, depois de obter a maioria no II Congresso do Partido (bolchevique), prosseguiram sua ação ulterior à política social-democrata revolucionária da antiga Iskra. Travando uma luta infatigável contra o menchevismo, os liquidacionistas, os otzovistas, os trotskistas, a direita, o oportunismo na prática, o sectarismo, os conciliadores no seio do Partido e contra todos os desvios da linha política do Partido, tudo isso em nome do advento, da manutenção e do fortalecimento da hegemonia do proletariado na revolução democrático-burguesa, na luta contra a autocracia czarista, na luta incansável contra a burguesia liberal que pactuava com a autocracia czarista e se esforçava para que a revolução russa tomasse o “caminho prussiano”, na luta contra todo o regime capitalista, em todas as etapas da revolução democrático-burguesa. O Partido Bolchevique, dirigido por Lênin, forjou a estratégia e a tática bolcheviques, os métodos de ação de massa e os princípios de organização do Partido. Os bolcheviques russos, ao contrário dos partidos comunistas dos países capitalistas, não tiveram que se livrar de antigas tradições reformistas e oportunistas arraigadas na tática, nos princípios de organização e nos métodos de ação.
Além disso, os bolcheviques estudavam minuciosamente, para assimilá-las, as lições das revoluções democrático-burguesas e o papel desempenhado nessas revoluções pela burguesia liberal. Despojaram de tudo o que tinha de nocivo à teoria, o progresso e o trabalho prático dos partidos social-democratas do Ocidente e das organizações operárias de massa, apropriando-se do que tinham de bom.
Quais eram as condições na Rússia czarista e no estrangeiro?
Até 1905, não havia nenhum partido legal na Rússia czarista. A própria burguesia liberal tinha que publicar seu órgão Osvobosjdenie (A emancipação) no estrangeiro (em Stuttgart). No estrangeiro, durante quase toda existência do movimento operário de massa (com raras exceções temporárias, tais como a lei de exceção contra os partidos socialistas na Alemanha) os partidos social-democratas gozaram de liberdade de ação até a guerra. Nos principais países capitalistas (França, Alemanha, Inglaterra, América, Tchecoslováquia e em muitos outros países), os partidos comunistas existem mais ou menos legalmente. Falarei destes partidos. São eles que oporei e compararei ao partido bolchevique da antiga Rússia czarista.
Antes de 1906 não existiam na Rússia sindicatos legais de massa, os que foram criados depois de 1905, pelo Partido Operário Social-Democrata da Rússia (bolcheviques e mencheviques), vegetaram até 1912. Os mencheviques se esforçaram por dar aos sindicatos que criaram um caráter e funções análogas aos dos sindicatos do Ocidente. E se não conseguiram, deve-se à luta infatigável que os bolcheviques travaram contra essas tentativas nas organizações operárias de massa. Os mencheviques liquidacionistas trataram, no período de reação, de substituir o Partido pelos sindicatos. Durante a guerra e até a Revolução de Fevereiro, os sindicatos foram proibidos ou colocados em tais condições de vigilância policial que não puderam funcionar normalmente. No estrangeiro, nos principais países (Inglaterra, América, Itália), os sindicatos precederam à organização dos partidos social-democratas. Na França, o movimento sindical estava imbuído de um sindicalismo que queria ignorar os partidos políticos. Em certos países (Inglaterra, Bélgica, Suécia, etc.) os sindicatos se aderem coletivamente aos partidos operários, até o ponto que se pode dizer que certos partidos foram formados de sindicatos. Inclusive na Alemanha, o movimento sindical é mais antigo que os partidos políticos independentes. Em 1860-70 os sindicatos, em diferentes centros operários (tipógrafos, cigarreiros de Berlim) apareceram e funcionaram antes que os círculos de estudo operários, onde surgiram os partidos operários alemães, os lassallianos e os eisenachianos que se desprenderam do partido progressista burguês, para formar mais tarde o partido social-democrata alemão. As greves de operários prosseguiam fora dos partidos políticos, sobretudo até os anos de 1860-1870.
Para se ter uma idéia da atitude frente às greves de um dos partidos políticos operários mais ativos dessa época, citarei uma resolução muito característica do congresso de Hamburgo, levado a cabo em 1868, pela Associação Universal dos Trabalhadores (partido político dirigido por Lassale e, depois de sua morte, por Schweitzer). Por 3.417 votos o Congresso se pronunciou não pela direção das greves, mas sim por uma atitude favorável a respeito delas. Considerando o quanto é vaga esta fórmula, 2.583 votos a rechaçaram. O congresso rechaçou a proposição de convocar um congresso operário alemão com o propósito de constituir uma federação sindical. Resta dizer que certos socialistas e em particular na I Internacional, dirigida por Marx e Engels, exerceram uma influência muito grande nos sindicatos nascentes e no desenvolvimento das greves. Mas é um fato evidente que nesta época, inclusive na Alemanha, os partidos políticos não organizavam as greves nem dirigiam os sindicatos. Mais tarde, sob a lei contra os socialistas, os sindicatos alemães foram menos lesionados que o Partido Social-Democrata. O desenvolvimento impetuoso do capitalismo reforçou o movimento sindical, apesar das perseguições.
Nestas condições, os sindicatos não podiam deixar de aumentar sua independência. A fração social-democrata parlamentar, que desempenhava a função de Comitê Central, não dirigia a luta econômica do proletariado e se ocupava unicamente da política parlamentar. Assim, desde os primeiros momentos da experiência dos partidos social-democratas e das organizações sindicais, estas tenderam à independência. Na Rússia czarista, pelo contrário, as organizações bolcheviques dirigiam tanto a luta econômica como a luta política. No estrangeiro, estas funções eram compartilhadas pelos sindicatos e os partidos social-democratas, os partidos se ocupavam da política pura, os sindicatos da luta econômica. Observe-se que até o presente certos partidos comunistas dos países capitalistas acham inútil se ocupar da direção da luta econômica. Deixam isso aos cuidados da oposição sindical e aos sindicatos vermelhos. Essas tradições social-democratas têm se transmitido, pois, aos partidos comunistas. Pelo contrário, nos países onde os comunistas organizam as greves e se ocupam do movimento sindical, são observadas algumas manifestações de sectarismo. Custa muito aos partidos comunistas desembaraçar-se destes desvios.
As formas bolcheviques e social-democratas de organização do Partido
Até 1905 não houve na Rússia czarista eleições nem campanha eleitoral. Nem os camponeses, nem os operários participavam das eleições dos zemstvos ou das municipalidades urbanas. Não possuíam o direito de voto. Depois de 1905, quando, em razão das eleições para a Duma se elaboraram condições especiais para os operários, foram criadas divisões especiais e os operários votavam por empresa e por fábrica.
Uma situação ilegal de todos os partidos até 1905, uma ausência de campanhas eleitorais e ao mesmo tempo (o qual é essencial) uma posição justa dos bolcheviques na questão da organização do Partido (o recrutamento para o Partido de operários de fábricas e de empresas, a criação de círculos de estudos políticos e gerais, tais foram na Rússia czarista as particularidades da formação do Partido bolchevique. A situação ilegal do Partido bolchevique, além das razões já mencionadas, o impulsionava a criar os grupos do Partido nas empresas, pelo fato de que era mais fácil e cômodo militar. A edificação do Partido começou, pois, nas fábricas e nas empresas. Isso deu brilhantes resultados, tanto nos anos de reação e depois da revolução de fevereiro como, particularmente, no curso da revolução de outubro, em 1917, da guerra civil e da grande construção do socialismo.
Durante a reação, depois de 1908, quando os comitês locais do Partido e sua direção (o Comitê Central) eram aniquilados periodicamente, nem por isso sua base deixava de se manter firme nas fábricas e empresas. As células do Partido continuavam a ação. Depois da revolução de fevereiro, as eleições dos sovietes de deputados operários também eram realizadas por fábrica e por empresa. É importante destacar que as eleições para as dumas das cidades e bairros e para a Assembléia Constituinte tinham lugar não por empresa, mas por domicílio dos eleitores. Mesmo assim, depois das revoluções de fevereiro e de outubro o Partido bolchevique obteve os mesmos êxitos apesar de não ter organizações de bairro e de concentrar sua agitação nas empresas e nos quartéis. As células, os comitês de zona, e os comitês de cidade fizeram a campanha eleitoral sem constituir organizações especiais para as eleições por bairro. O Partido Bolchevique sempre tinha suas organizações de base no local de trabalho de seus membros.
Outra coisa ocorria no estrangeiro. Ali as eleições ocorriam não por empresa, mas por distrito, pelo domicílio dos eleitores. A tarefa principal que os partidos socialistas se propunham era de organizar bem a campanha eleitoral e de lutar pela cédula eleitoral. Por esta razão, o Partido estava igualmente organizado no local de habitação de seus membros, a fim de facilitar seu agrupamento para realizar a campanha nas circunscrições eleitorais.
Ligação dos partidos social-democratas com as empresas
Mas não se pode dizer que os partidos social-democratas não estavam ligados às fábricas e empresas. Estavam ligados por intermédio dos sindicatos, à cabeça dos quais se encontravam membros do Partido Social-Democrata. Apesar de que os sindicatos não estivessem organizados sobre a base das empresas, elas tinham seus delegados, seus tesoureiros, e como em sua maioria eles eram delegados e tesoureiros sindicais social-democratas, os partidos social-democratas, por intermédio destes delegados, pelos sindicatos, estavam ligados às empresas. Quando apareceram os partidos comunistas (em certos países, em consequência da cisão e da saída dos partidos social-democratas; em outros, como na Tchecoslováquia e na França, depois que a maioria decidiu aderir à Internacional Comunista, a minoria teve que se organizar em partido social-democrata) formaram suas organizações sobre o modelo social-democrata. E isso apesar dos partidos comunistas terem se proposto, a partir de sua existência, objetivos distintos dos partidos social-democratas. Eles se propunham derrubar a burguesia e conquistar o poder pelo proletariado, enquanto a social-democracia internacional, depois de ter apoiado a burguesia durante a guerra, havia se convertido em sua principal sustentação depois da guerra.
Mesmo assim, os partidos comunistas construíram sua organização como os social-democratas, por circunscrição eleitoral, por local de habitação dos membros do Partido e dos eleitores. Acrescente-se que não possuíam suas organizações sindicais e que onde as criaram, estas não tiveram nem têm até agora sólidos laços de organização com as empresas. Deste modo, as organizações do Partido Comunista nos países capitalistas estavam organizadas sem ligação permanente de organização com as empresas. É aí o principal defeito de organização do partidos comunistas, que deve ser destacado claramente pelos professores que ensinam nas escolas do Partido. As tarefas dos partidos comunistas eram outras, mas suas organizações tinham a mesma estrutura que as dos social-democratas. Se os social-democratas estavam ligados às empresas por intermédio dos sindicatos, os partidos comunistas nem sequer possuíam uma organização semelhante, e isso é igualmente válido, inclusive para partidos comunistas que têm uma grande influência nos sindicatos vermelhos (Partido Comunista Tchecoslovaco, Partido Comunista Francês). Desde sua aparição, os partidos comunistas adotaram as formas de organização do Partido Bolchevique. Mas durante e imediatamente depois da guerra, em muitos países, os operários nomearam delegados revolucionários (na Alemanha desempenharam um grande papel no curso das greves durante a guerra), elegiam comitês de empresa (por exemplo, os os shop stewards [1] na Inglaterra), e inclusive envia seus delegados aos sovietes. Desta maneira puderam se convencer das vantagens da organização dos operários por local de trabalho com relação à organização do operários por local de habitação. Mas quando a tempestade revolucionária se acalmou, as tradições social-democratas recuperaram sua posição predominante sobre as formas de organização similares às formas bolcheviques de trabalho nas empresas. Isso é o que explica porque os partidos comunistas, e em particular as organizações de zona e de base do Partido, as organizações sindicais revolucionárias e os quadros que assumem de fato o grosso do trabalho revolucionário e do trabalho do Partido, renunciaram então aos métodos quase bolcheviques do trabalho nas empresas. E hoje em dia, ao não encontrar a resistência necessária nos dirigentes do Partido, se opõem a estes métodos, mesmo tendo demonstrado sua superioridade sobre os métodos social-democratas.
O exemplo de 1923, quando o Partido não aproveitou a situação revolucionária para derrubar a burguesia, não somente porque faltava uma verdadeira direção revolucionária, mas por carência de ligação ampla e sólida com os operários das fábricas e empresas, basta para provarmos que a ausência de organização do Partido nas empresas influi poderosamente no trabalho do Partido Comunista. Em 1923, a social-democracia alemã havia se debilitado consideravelmente. Seus efetivos baixavam de uma maneira inaudita. Os sindicatos reformistas contavam, em 1922, com 9 milhões de membros... (7.895,065 na Confederação do Trabalhador e o resto no Sindicato de Funcionários). Em 1923 não conservavam mais que 3 milhões de membros. O aparato dos sindicatos reformistas se desagregava. Já não se pagava aos funcionários. Nesse momento o Partido Comunista Alemão teria podido se adonar do poder se tivesse uma direção revolucionária, se tivesse travado uma luta verdadeira contra o partido social-democrata e os reformistas, e se tivesse estado com as empresas, se as tivesse mobilizado empregando a tática revolucionária da frente única na luta pela ditadura do proletariado, em lugar da frente única de Brandler com os social democratas saxões de “esquerda” e seu governo Zeigner. A conferência convocada em 1923 pela direção oportunista de Brandler para decidir se era preciso obrar ou não, reuniu em sua maioria funcionários do Partido, chefes do movimento cooperativo e sindical entre os quais figuravam bom número de oportunistas de direita do tipo Brandler, Talheimer e Walcher, sem ligação com as massas. Eles ignoravam a vida e o estado de ânimo das massas operárias e foi esta conferência a que decidiu não intervir.
As células de Empresa e de rua
Na Rússia czarista as células (ou os bolcheviques isolados nas empresas onde não havia células) tiravam proveito de todas as reprimendas dos patrões: a brutalidade dos contramestres, os erros intencionais no pagamento dos salários, as multas, a negativa de pagar o subsídio por acidente de trabalho, etc. Propaganda era feita nas oficinas, eram distribuídos volantes, comícios eram organizados nos pátios e nas portas de fábricas, assim como reuniões de operários simpatizantes e revolucionários. Os bolcheviques imputavam os acidentes nas empresas ao regime autocrático, porquanto os operários experimentavam em suas costas o chicote dos mercenários do czar, o presídio e a deportação por seus protestos e suas greves contra os patrões. Ao mesmo tempo, as células, em sua agitação, ligavam a autocracia ao regime capitalista e devido a isso é que, desde o começo mesmo do movimento, os bolcheviques ligavam as reivindicações econômicas às reivindicações políticas, e a luta econômica à luta política.
Quando o estado de ânimo dos operários era favorável à greve, as células bolcheviques se punham à cabeça do movimento. As greves se propagavam de uma oficina a outra, de uma fábrica a outra, enquanto que, sob a direção e a influência das organizações do Partido Bolchevique, estes movimentos de greve tomavam amiúde a forma de manifestações de rua. Deste modo, as greves econômicas se transformavam em uma batalha política. A história do movimento operário na Rússia czarista viu mais de uma greve isolada de empresa se transformar em greves de todas as empresas de uma cidade e se estender a outras cidades. Todas estas greves, em que pese o trabalho clandestino dos bolcheviques, custavam enormes sacrifícios da parte desses e dos operários revolucionários. Mas com o exemplo destas vítimas, se formavam sem cessar novos quadros na luta e na ação cotidiana para continuar a batalha. As células bolcheviques se converteram assim nas organizações da luta das massas no terreno econômico e político.
Em 1921, o terceiro Congresso da Internacional Comunista formulou as primeiras teses sobre a organização dos partidos comunistas nos países capitalistas. Até 1924 os partidos comunistas fizeram ouvidos de mercador. Atualmente existem em todos os partidos comunistas células de empresa que, mesmo assim, sobretudo nos partidos comunistas legais, passam o tempo sem fazer nenhum trabalho prático nas empresas. As tradições social-democratas na estrutura do Partido se arraigaram de tal maneira nas filas do Partido comunista que dominam os membros do Partido, inclusive quando aplicam os princípios de organização. Existem em muitos lugares células de empresa do Partido, mas se acham longe de modificar os métodos de seu trabalho. Discutem as questões do Partido, participam nas campanhas de reeleição dos comitês de empresa, inclusive às vezes editam jornais de fábrica, mas não se ocupam das questões da empresa, não se dedicam a uma propaganda verbal individual nas oficinas, na porta das fábricas, nos trens nos quais viajam os operários. Raramente organizam comícios por ocasião das reuniões convocadas pelos comitês operários de empresa, onde tomam a palavra os reformistas e os social-democratas e onde, mais que em qualquer outro lugar, pode-se demonstrar e provar sua traição. As células de empresa não dirigem nem controlam o trabalho dos comunistas nos comitês sindicais de empresa dirigidos pelos reformistas.
Deixam os comitês vermelhos sem direção e é por essa causa que frequentemente não trabalham melhor que os comitês reformistas. As principais campanhas dos sindicatos e do Partido não são travadas por meio das células de empresa. Inclusive as campanhas pelas eleições municipais, legislativas e as eleições para o Landtag que ocorrem com bastante frequência, não são levadas a cabo, até agora, pelas células de empresa, mas pelas de fábrica. Em consequência disso, ocorre amiúde que as células de empresa só conhecem a declaração das greves nas oficinas e inclusive nas fábricas onde trabalham seus membros até depois que estalam. Inclusive quando as células de empresa, os grupos de oposição sindical e os sindicatos vermelhos preparam as greves, uma vez eleito o comitê de greve, as células e os grupos sindicais abandonam a direção e cessam de existir como organizações. Os reformistas aproveitam naturalmente esta situação.
Pode-se dizer o mesmo da maioria das células de empresa dos países capitalistas. Isso não significa que ali não tenha células que trabalham admiravelmente e que demonstram que o sistema das células de empresa é superior à estrutura social-democrata de organização do Partido. Mas, desgraçadamente, essas células constituem uma minoria. A enorme maioria das células de empresa não funcionam e, no melhor dos casos, funcionam mal. Um fenômeno bastante corrente até a data é que a célula não agrupa os membros do Partido na empresa. O Partido Bolchevique não conhecia mais que apenas uma organização de base: a célula de empresa, de estabelecimento público, de quartel, etc. tendo em conta as condições existentes no estrangeiro, a Internacional Comunista se viu obrigada a adotar uma forma complementar de organização: as células de rua. Estas células de rua estavam destinadas às servientas (empregadas?), aos pequenos artesãos, etc. elas deviam levar a ação comunista por bairro. As células de rua deviam compreender os membros do Partido desempregados até o momento em que encontrassem emprego. Não se podia obrigar um comunista parado a assistir as reuniões da célula da empresa onde tivesse trabalhado (admitindo que essa célula existisse) quando nem sequer tinha o dinheiro necessário para a viagem. As células de rua tarefas bem determinadas: ir de casa em casa, distribuir volantes, ajudar nas campanhas eleitorais a por de fora o trabalho das células de fábrica.
Nas grandes cidades do estrangeiro, acontece que o operário trabalha na cidade e vive nos subúrbios. Às vezes, inclusive em um povoado a algumas dezenas de quilômetros da cidade. À noite e nos dias festivos, os membros do Partido que moram longe de seu lugar de trabalho devem ser utilizados pelas células de rua e os comitês de zona para o trabalho do Partido em seu bairro respectivo. Mesmo assim, o trabalho fundamental desses membros do Partido segue sendo o trabalho nas células de suas empresas.
Mas, em lugar de fazer dela uma organização auxiliar, os partidos comunistas tem dado sua preferência à célula de rua. Se dedicam a criar células de rua até que estas agrupem na realidade 80% dos efetivos do Partido, às vezes mais. Em outros termos, os partidos comunistas encontraram uma fenda pela qual tentam passar a antiga forma de organização antiquada dos membros do Partido por local de habitação. E toda a luta travada pela seção de organização do Comitê Executivo da Internacional Comunista, durante cinco anos, para que os partidos comunistas revisem a composição de suas células de rua e eliminem delas os que trabalharem nas empresas, não deu nenhum resultado. Se tomarmos as cifras do Partido Comunista alemão, no final de dezembro de 1931, 1.983 células de empresa e 6.196 células de rua.
Baseando-nos em seus efetivos, pode-se dizer que são consideráveis, mas pouco ativos. Noutros casos, para não organizar células nas empresas, se constituíram grupos de concentração. Reúnem-se alguns comunistas de muitas fábricas e empresas e se constitui um grupo para realizar trabalho nestas empresas. Esta forma de organização está muito difundida na Inglaterra, mas não dá os resultados que poderiam dar as células de empresa. Na França se procede dessa maneira: a um ou dois operários de uma empresa são agregados de doze a dezesseis membros do Partido que trabalham fora. E a isso se chama uma célula de empresa! Estes doze ou dezesseis membros do Partido, na maioria das vezes estimando que na empresa se ocupam de futilidades, fazem com que a célula se interesse naturalmente por tudo, menos pela empresa.
As dificuldades do trabalho nas células comunistas nas empresas dos países capitalistas e os métodos para vencê-las
A ação nas empresas tropeça evidentemente com grandes dificuldades, as quais os professores que ensinam os princípios de organização do Partido não devem ignorar. Na Rússia czarista, o Partido Bolchevique era ilegal, assim como as células. Estas não saíram da ilegalidades senão quando o Partido se tornou legal. Outra coisa ocorre no estrangeiros. Nos principais países capitalistas, os partidos comunistas militam legalmente, mas as células devem trabalhar clandestinamente. Por desgraça não conseguem trabalhar sem serem descobertos. Os patrões e seus espiões vigiam constantemente os operários revolucionários e os expulsam das empresas sem o menor protesto dos sindicatos reformistas. Ao contrário, estes últimos são muito amiúde os instigadores da demissão dos comunistas. Dado que por regra geral os comunistas empreendem uma ação demasiado débil nas empresas, os operários não tomam a defesa dos comunistas despedidos (ocorrem, bem entendido, casos contrários).
Em tais condições, as células de empresa não fazem, na maioria das vezes, nada, ou então seus membros são expulsos da fábrica ao menor gesto, sendo incapazes fazer um trabalho clandestino por insignificante que seja. Amiúde ocorre que os comunistas são expulsos da empresa sem que tenham travado nela nenhuma ação, simplesmente porque são do Partido. Nossos professores nas escolas comunistas internacionais devem ter em conta esta dificuldade e indicar aos alunos, no curso do estudo do trabalho dos partidos legais, como tais células podem e devem organizar sua ação, pois nesse domínio pode ser aplicada a experiência bolchevique do trabalho ilegal nas fábricas sob o czarismo, trabalho que na ocasião dava excelentes resultados. Não se pode ver isso como um simples detalhe. Se o Partido Comunista não souber fazer um trabalho clandestino nas empresas, fica exposto a perder os comunistas e os operários revolucionários despedidos.
Certos comunistas consideram estranho que os social-democratas, os nacionalistas e os membros de outros partidos possam nomear-se abertamente, enquanto que eles, sendo legal o Partido Comunista, devem dissimular que pertencem ao Partido. Essa dissimulação é preguiça ou oportunismo de direita? De maneira nenhuma. Seria oportunismo ou preguiça se os membros da célula ou certos comunistas temessem e evitassem tomar a palavra contra os social-democratas e reformistas nas reuniões de fábrica, quando estes propõem aceitar o rebaixamento do nível de vida dos operários, aprovar demissões ou as proposições dos reformistas e dos social-democratas, etc. Isso, desgraçadamente, ocorre. Mas não é absolutamente necessário gritar pela fábrica que se é comunista, ainda mais quando isso não vai sempre acompanhado de um trabalho comunista. Pode-se e deve-se levar a cabo um verdadeiro trabalho de partido ligando as consignas deste último à luta cotidiana nas empresas sem revelar sua qualidade de membro do Partido ou da célula.
Para isso sempre é possível encontrar fórmulas apropriadas. Por acaso é impossível dizer: “Hoje li tais notícias”, ou melhor: “um operário de nossa fábrica ou da fábrica vizinha me disse isto...”, etc.? Em uma palavra, tudo deve ser apresentado dentro do espírito das decisões da célula do Partido, mas sob uma forma velada, até “inocente”. Inclusive se alguém, por ordem da célula, intervém em uma reunião geral dos operários da empresa, nem sempre é indispensável que declare estar falando em nome da célula. O essencial é que seu discurso seja dito no sentido das decisões da célula e que suas proposições sejam elaboradas ou aprovadas pelo Birô da célula. Os outros membros e simpatizantes devem não somente votar pelas proposições feitas pelos camaradas designados pela célula, mas também levar a cabo uma propaganda em favor destas proposições entre os operários. Nos partidos ilegais acontece diferente, pois tanto o Partido como as células são ilegais. Mas inclusive nos partidos ilegais desgraçadamente se dissimula muito mal a atividade da célula.
Como o Partido Bolchevique defendia os interesses econômicos dos operários
Na Rússia czarista, o regulamento e o regime das empresas eram relativamente anódinos com relação ao regulamento das empresas dos grandes países capitalistas, sobretudo nas condições atuais, depois da racionalização capitalista, que esgota os operários, e da aplicação do trabalho em cadeia. A burguesia, antes da derrocada do czarismo, pagava muito mal aos operários. Mas estes travavam uma luta tão enérgica contra o rigor do regulamento interior das empresas que os fabricantes deviam, no fim das contas, renunciar a aplicar a taylorização [2] e qualquer outro sistema de exploração dos operários. Isso facilitava o trabalho do Partido nas empresas. Além disso, os operários, pertencessem ao partido socialista que fosse, se juntavam com os operários bolcheviques na frente de luta econômica e política (greves, manifestações e até insurreições).
Mas isso não quer dizer que o Partido Bolchevique, que as células de empresa, que os bolcheviques isolados seguiam a corrente e dissimulavam nas empresas os princípios bolcheviques. Pelo contrário, tanto nas fábricas como nos periódicos e nos volantes ilegais, os bolcheviques levavam a cabo uma campanha encarniçada contra os mencheviques, os liquidadores, o trotskismo, os SR, os socialistas-populistas, etc. Os bolcheviques, por sua agitação persuasiva, por seus argumentos nas discussões com os membros de outros partidos, por suas proposições motivadas e oportunas, pelo conhecimento da situação dos operários nas empresas, por seus métodos de trabalho, pela atração dos operários a participar na solução dos diferentes problemas, por uma preparação minuciosa da luta, por seus métodos de organização, demonstravam a justeza e a superioridade de sua ação sobre as dos outros partidos. É por isso que o Partido Bolchevique logrou construir nas fábricas e nas empresas a frente única na base com os operários de todas as tendência durante todo o período da história do movimento operário da Rússia, inclusive no momento em que, em 1913-1914, os mencheviques reprovavam aos bolcheviques que “jogavam às greves”, inclusive sob Kerenski, no mês de agosto de 1917, na ocasião da greve geral organizada pelos bolcheviques contra a Assembléia Governamental de Moscou na qual se penduravam os mencheviques e os SR e, mais tarde, durante as jornadas de outubro de 1917, quando os bolcheviques desencadearam a insurreição contra a burguesia, os mencheviques e os SR.
Os partidos comunistas de hoje em dia carecem de algumas condições favoráveis. Mas é assim que devem travar a luta econômica, e não somente a luta econômica, contra os social-democratas, os burocratas sindicais reformistas, os fascistas, os amarelos, pois todos eles são aliados dos patrões. A menor imprudência que cometam, os comunistas, assim como os membros da oposição sindical e dos sindicatos vermelhos, são lançados às portas das fábricas. Isto obriga a aplicar métodos de trabalho que devem dar na luta do proletariado revolucionário o máximo de efeito e o mínimo de perdas.
Estes métodos não podem ser mais que os métodos bolcheviques experimentados. Os comunistas têm o dever de superar todas as dificuldades. Quanto mais dificuldades, mais deve-se levar a cabo um trabalho comunista perseverante e minucioso na empresa, em suas portas e onde houver operários e desempregados. Os métodos e o conteúdo do trabalho devem ser bolcheviques. É mister persuadir sistematicamente, com argumentos convincentes e probatórios, e não com injúrias, os que pensam de outra maneira, sobretudo os social-democratas e os operários reformistas. É preciso desmascarar sistematicamente, com as provas nas mãos, em termos simples e inteligíveis, a social-democracia e os reformistas, mas ao mesmo tempo é necessário não esquecer dos nacional-socialistas e em geral a todos os partidos adversos que tenham uma base operária. Mas só a propaganda não basta.
É preciso organizar a luta, provar aos operários que os comunistas sabem combater e paralisar as manobras dos social-democratas e dos reformistas. Pode-se conseguir isso aplicando os métodos bolcheviques de trabalho e de organização, não de uma maneira mecânica, mas tendo em conta a situação. Atualmente, quando a situação dos operários de todos os países capitalista tem se agravado incrivelmente e há milhões de desempregados, quando todas as consequências da crise econômica e financeira, às quais se acrescentam os gastos para a preparação das guerras imperialistas e da agressão contra a URSS, recaem sobre os trabalhadores, o Partido Comunista tem a possibilidade e o dever absoluto de superar todas as dificuldades e de melhorar seu trabalho.
O recrutamento do Partido Comunista e a flutuação de seus efetivos
Como se opera o recrutamento nos partidos comunistas? Os bolcheviques recrutam e recrutavam os operários revolucionários nas empresas. Só depois da tomada do Poder organizaram semanas de recrutamento para o Partido, ou seja, campanhas determinadas que eram levadas a cabo igualmente nas empresas. Antes da Revolução de Outubro, os bolcheviques recrutavam no curso da ação cotidiana. Os novos aderentes eram iniciados no trabalho do Partido e assistiam aos círculos políticos. Como se efetua até agora o recrutamento nos partidos comunistas dos países capitalistas? O recrutamento se faz nos comícios e nas reuniões. Às vezes até na rua (na Inglaterra). Um orador foi muito eloquente, entusiasmou o operário, que pediu sua adesão e entrou no Partido. Suponhamos inclusive, que indicou seu endereço. Mesmo assim, nossas organizações do Partido não se esforçaram nem se esforçam muito mais hoje em dia por se ligar com tais camaradas, inclui-los na organização do Partido, ir visitá-los em suas casas, averiguar em que fábrica trabalham para que seja ingresse na célula de empresa ou na célula de rua mais próxima.
Antes que os partidos comunistas se decidam a fazer este trabalho, muito mais aderentes tiveram tempo tempo de desaparecer: mudar de endereço, ir para outra cidade ou esfriar a respeito da adesão à organização comunista. É precisamente porque o recrutamento do Partido não ocorre nas empresas — sobre o trabalho da base da célula comunista na empresa, pela criação de um meio de operários sem partido ativos que se destacam na ação cotidiana e sobretudo no momento das greves e das manifestações que a célula deve ganhar novos membros — que aqueles que conseguimos atrair nos abandonam. Poderia citar cifras cifras surpreendentes que indicam flutuações dos efetivos dos partidos comunistas. Em janeiro de 1930, o Partido Comunista da Alemanha dava a cifra de 133.000 cotizantes, em 1930 registrou 143.000 adesões. Por conseguinte, em 1931, o Partido deveria ter 276.000 aderentes. No fim de dezembro de 1930 não tinha mais que 180.000. Isto quer dizer que no transcurso de 1930, 95.000 aderentes abandonaram o Partido. Em 1931, a seção de organização do CE da IC, segundo as estatísticas do Partido Comunista da Alemanha, da cifra de 210.000 novas adesões. Mas um contingente igual ao de 1930 saíram do Partido. Teriam abandonado o Partido se estas organizações soubessem trabalhar bem, se tivessem se ocupado dos novos membros, se os tivessem feito participar no trabalho do Partido, se lhes tivessem facilitado a literatura necessária e constituído círculos onde pudessem estudar? Teriam então saído das fileiras do Partido? Não creio.
No momento em que os operários e os empregados são despedidos em massa, o recrutamento do Partido deve prosseguir sobretudo entre os operários das grandes empresas dos principais ramos da produção. É absolutamente preciso se ocupar dos membros do Partido destas empresas e ramos de produção, e sobretudo dos novos aderentes. É mister estudar com eles as múltiplas questões da política corrente do Partido. É preciso ajudar-lhes a elaborar, examinando-os com eles, os discursos a serem proferidos nas reuniões públicas e na propaganda verbal entre os operários de empresa, e provê-los de uma abundante documentação contra os social-democratas, os reformistas, os nacional-socialistas, o governo, etc. Um trabalho similar deve ser feito com os militantes ativos encarregados da propaganda entre os parados e nos sindicatos reformistas. Se um trabalho semelhante fosse feito, as defecções dos antigos e dos novos membros do Partido diminuiriam.
O fato de que milhares ou dezenas de milhares de operários ingressem nos partidos comunistas e nas organizações sindicais revolucionárias demonstra que os operários se solidarizam com as consignas, com a tática e com o programa dos partidos comunistas e das organizações de massa. Mas a vida interior das organizações locais e sua atividade não satisfazem aos operários revolucionários e devido a isso é que uma grande parte dos novos recrutas se vai. Para os professores que ensinam nas escolas comunistas internacionais do Partido, assim como para os militantes ativos e os quadros encarregados do trabalho de Partido, estas questões pertinentes a recrutar e reter novos aderentes estão longe de ser secundárias. É absolutamente necessário consagrar a maior atenção. É possível que estes professores tenham já pensado nos fenômenos que indiquei, mas me baseio na experiência, nos resultados obtidos. Neste domínio se comprova que os partidos comunistas não souberam educar, até agora, os quadros indispensáveis para a edificação racional do organismo do Partido.
Os comitês do Partido, a democracia interna, a disciplina, os métodos de direção, a autocrítica, o centralismo democrático, os quadros
Tomemos os comitês do Partido. Quando os bolcheviques organizavam seu Partido sob o regime czarista, e mais tarde, os comitês do Partido eram órgãos coletivos, todos seus membros tomavam parte na solução dos problemas e cada um deles tinha funções determinadas.
Os comitês do Partido de província e de cidade examinavam e resolviam todas as questões ligadas à luta econômica e prática do proletariado no marco das decisões dos congressos, das sessões do CC do Partido, das diretivas do CC, do órgão central e das indicações de Lênin. Não se contentavam com discutir e fazer sugestões sobre o modo de aplicar nas províncias e nas cidades determinadas estas decisões e estas diretivas; também se encarregavam de aplicar estas decisões, de explicá-las e popularizá-las. Dedicavam uma atenção especial aos comitês de zona diretamente ligados às células de empresa. Velavam para que todas as organizações do Partido, sobretudo as células, examinassem as decisões do Partido, as diretivas dos comitês, formulassem suas resoluções e fixassem os métodos de sua aplicação.
Velavam para que nas organizações do Partido não fosse violada a democracia interna, mas que ao mesmo tempo se observasse uma estrita disciplina. As questões eram debatidas antes que as resoluções fossem adotadas. Mas uma vez tomada a resolução, esta devia ser aplicada sem discussão por todos os membros do Partido, inclusive aqueles que tivessem intervido e votado contra. Isso, bem entendido, não impedia os comitês do Partido de se submeterem a uma crítica rigorosa depois da aplicação das decisões, assim como a autocrítica dos próprios comitês, etc. Mas a crítica e a autocrítica não faziam mais que melhorar os métodos de trabalho da direção; a estratégia e a tática, em seguida, eram traçadas mais minuciosamente e as falhas cometidas eram retificadas. A direção do Partido, bem como a direção dos comitês de província e de cidade, não se ocupavam apenas da “política pura”. Também se ocupavam das questões de programa, de tática e de organização. Não separavam as questões políticas das questões de organização, a adoção de resoluções e de sua aplicação. Na maioria das vezes era uma direção justa, viva, revolucionária, bolchevique. Devido a isso, a diferença entre a influência ideológica sobre as massas e as forças do Partido não era grande.
Outra coisa ocorre nos partidos comunistas dos países capitalistas. Frequentemente os comitês locais do Partido não existem e, se existem, não contam, no melhor dos casos, mais que com um secretário, às vezes pago, outras vezes não. E os comitês do Partido não existem ali senão como apêndices, funcionando irregularmente enquanto órgão coletivo.
Onde os comitês do Partido funcionam, ocorre amiúde que os secretários fazem seus informes às assembléias, que adotam tudo o que eles propõem, sem que os comitês do Partido (ou seja, seus membros) estejam a par dos assuntos. Estes comitês de zona e de cidade não podem naturalmente nem organizar o trabalho das células nem imprimir uma direção justa. É preciso conceder a maior atenção aos organismos de base.
Ocorre com frequência que as decisões dos congressos e dos comitês centrais dos partidos comunistas dos países capitalistas não sejam discutidas nas células de empresa e de rua, nos grupos comunistas por local de habitação, que ainda são numerosos. Estas decisões são debatidas entre os militantes ativos das cidades e das zonas, e as coisas terminam desta maneira.
As diretivas do Comitê Central e dos comitês regionais raras vezes afetam as células, permanecendo nos comitês de zona. Mesmo assim, para citar um exemplo, as diretivas sobre a realização das campanhas de massa devem ser sobretudo transmitidas às células, posto que estas precisamente estão ligadas diretamente às massas. As células, os grupos por local de habitação são, na maioria dos casos, passivos. Carecem da atividade exigida pelas condições atuais. Esta também é uma sobrevivência social-democrata. Estas organizações do Partido não se animam mais que na véspera das campanhas eleitorais. Por isso ocorre frequentemente que a democracia interna e a disciplina bolchevique sejam diminuídas nas organizações do Partido. Nestas condições, não é surpreendente que as decisões dos congressos, as diretivas da Internacional Comunista e do Comitê Central sejam letra morta. Tomemos por exemplo as decisões dos congressos da Internacional Comunista e de diferentes partidos, as assembléias plenárias do Comitê Executivo e dos comitês centrais sobre a translação do centro de gravidade da atividade do Partido e dos sindicatos às empresas, sobre o melhoramento do trabalho das organizações de base e dos sindicatos, em particular nas empresas. É evidente que a razão da ausência de método bolchevique de trabalho deve ser buscada no conceito falso que têm os quadros dirigentes do Partido (centro, região, província e parcialmente zonas).
Em compensação, temos “autocrítica” à vontade. Quando das greves, se faz uma autocrítica aberta, quando na realidade é indispensável reorganizar o trabalho no ato, sem discursos; o mesmo é feito durante as campanhas de massa, quando é necessário organizar melhor os métodos e o conteúdo do trabalho, a fim de ampliar e acentuar a ação empreendida. Também se faz autocrítica depois das greves e das campanhas, coisa justa. Mas, seguidamente, se repetem as antigas falhas na primeira ocasião. Estes casos são frequentes.
O verdadeiro centralismo democrático
No Partido Bolchevique, inclusive sob o czarismo, quando o Partido era ilegal, se aplicava o centralismo democrático. As organizações do Partido não esperavam as indicações do Comitê Central, dos comitês regionais, provinciais ou de cidade (locais). Sem aguardar estas decisões, trabalhavam de acordo com as condições locais e com os acontecimentos, dentro do marco das decisões do Partido e das diretivas gerais. A iniciativa das organizações locais do Partido, das células, era avivada. Se os camaradas de Odessa ou de Moscou, se os de Bakú ou de Tíflis tivessem esperado sempre as diretivas do Comitê Central, dos comitês de província, etc., que, amiúde, durante os anos da reação e durante a guerra, não existiam por causa das detenções, o que teria ocorrido? Os bolcheviques não teriam conquistado as massas operárias e não teriam influência sobre elas. Os comitês provinciais e locais publicavam seus manifestos e volantes em todos os casos oportunos e por iniciativa própria.
Em muitos partidos comunistas existe, por desgraça, um ultra-centralismo, sobretudo nos partidos legais. O Comitê Central deve elaborar volantes para as organizações locais, o Comitê Central deve inclusive se pronunciar de antemão sobre os acontecimentos de interesse local para que despertem nas localidades. Falta o espírito de iniciativa que uma organização do Partido deve ter para se orientar na situação, e segundo as condições locais, em qualquer momento, poder tomar decisões, que será preciso aplicar, por suposto, sobre a base das decisões do Partido e da Internacional Comunista, independente da existência ou da ausência de diretivas oportunas. Estas não tocam o grosso dos efetivos do Partido. Não existe igualmente um controle suficiente da execução das diretivas dos órgãos superiores. É preciso combater tudo isso e atrair, ensinando, a atenção sobre isso. No Partido Bolchevique, o trabalho do Partido era efetuado principalmente nas fábricas e nas empresas por intermédio das células. A ligação com as massas, sua direção pelas células e as frações comunistas nas organizações de massas, eram vivas. A imprensa do Partido, a literatura, a agitação verbal e escrita, se dirigiam às massas.
Ademais, na antiga Rússia czarista, tendo o Partido Bolchevique permanecido ilegal até a revolução de fevereiro, o centro (o Comitê Central) e as localidades (comitês de zona, locais e provinciais), não possuíam grandes birôs, não tinham nem podiam ter locais permanentes indispensáveis para um aparato um pouco desenvolvido. Além disso, os recursos financeiros não teriam permitido o entretenimento de muitos funcionários. Devido a isso é que o centro de gravidade do trabalho do Partido (e não somente o trabalho do Partido, mas também o trabalho dos sindicatos legais e ilegais) se situava, naturalmente, nas empresas. Estas condições de trabalho do Partido se mantiveram no período de fevereiro a outubro de 1917, quando o Partido Bolchevique se converteu em um Partido legal, que se lançava a um trabalho enorme de massas, enquanto o aparato do Comitê Central, dos comitês regionais era muito restrito. A ação era levada a cabo sobretudo baseando-se nos comitês de zona, nos subcomitês de zona e nas células de fábrica e de empresa.
Nos partidos legais dos países capitalistas, a organização do aparato do Partido é exatamente o contrário. Os partidos comunistas legais têm a seu serviço locais suficientes, onde podem facilmente repartir seus funcionários. As forças principais do aparato do Partido estão concentradas no Comitê Central, nos comitês regionais e nos provinciais (a seção de organização, de agitação, a seção feminina, a comissão camponesa, o grupo parlamentar, etc.), enquanto reina o vazio nos comitês de zona e nas células. Em muitos comitês de zona dos centros industriais, sem falar das células, não há sequer um secretário pago, os comitês devem receber tudo do centro. Devido a isso, a iniciativa das organizações locais do Partido está paralisada. O CE da IC combate resolutamente este estado de coisas.
A ligação com as massas
Esta luta é tanto mais indispensável quanto que não se trata tão só das condições de organização, legais ou ilegais puramente exteriores. Não, se trata de empreender a ação entre as massas, mantendo uma ligação regular e estreita com elas. As formas de organização devem obedecer a este objetivo: estar a serviço das massas, e não vice-versa.
Nos partidos comunistas legais dos países capitalistas, a ligação com as massas e a direção destas é quase sempre convencional e operada por circulares. A imprensa, a literatura, a agitação verbal e escrita são abstratas: não correspondem quase nunca à situação concreta. A razão disso está em que, nas condições caracterizadas mais em cima, os quadros indispensáveis, capazes de agir diretamente no instante, por contato vivo com as massas, não existem. Por conseguinte, se apresenta a questão dos quadros. No Partido Bolchevique, os quadros se formavam no curso do trabalho prático entre as massas, aprendiam no curso desta ação a reagir frente a todas as questões da vida operária. Eles conheciam não somente a vida, o modo de pensar dos operários, mas também sabiam responder, organizar sua luta, indicar-lhes a solução. Por esta razão, o Partido Bolchevique tinha, inclusive sob o czarismo, uma influência tão grande entre as massas, uma autoridade tão considerável entre a classe operária.
Os quadros superiores e médios nos partidos comunistas dos países capitalistas estão em sua maioria compostos de elementos revolucionários saídos dos partidos social-democratas. Frequentemente subsistem neles os antigos métodos social-democratas. Muitos ainda não se libertaram das tradições social-democratas. E até uma parte importante dos novos quadros jovens, que no transcurso dos últimos anos a ação impulsionou para adiante nos partidos comunistas é inexperiente. Estes jovens não sabem trabalhar concretamente e independentemente. Na presença de uma centralização exagerada da direção (“tudo” do centro!), não têm a ocasião de educar-se por uma direção independente, plena de iniciativa e concretude no trabalho local.
As frações comunistas e suas relações com os comitês do partido
Na verdade era mais fácil para os bolcheviques que para os partidos comunistas dos países capitalistas estabelecer relações normais entre as frações comunistas e os comitês do Partido, pois as organizações do Partido faziam, na realidade, um trabalho multiforme. Levavam a cabo a luta econômica, organizavam os sindicatos e as cooperativas, criavam toda classe de organizações operárias que tinham a possibilidade de existir sob o regime czarista, desde 1905 até a declaração da guerra. Por este fato, as organizações do Partido eram uma autoridade reconhecida pelos militantes de todas as organizações, em sua grande maioria membros do Partido, e os simpatizantes. Esta situação era completamente natural e ninguém se opunha a este estado de coisas. Depois da tomada do Poder, se manifestaram entre certas frações comunistas dos sovietes, tendências a querer substitui os organismos do Partido, mas foram manifestações efêmeras. Antes, e sobretudo depois da tomada do Poder, as relações entre as organizações do Partido Bolchevique e as frações comunistas (ou certos comunistas isolados) das organizações operárias de massas sem partido, se apresentavam da seguinte maneira: as organizações do Partido resolviam questões importantes e as frações comunistas, assim como os comunistas isolados, de todas as organizações de sem-partido sem exceção, asseguravam a aplicação das decisões. As mesmas frações comunistas determinavam o método para isso. Em sua ação cotidiana eram completamente independentes. Podiam e deviam dar provas de iniciativa em seu trabalho no seio das organizações e dos organismos sem partido.
As frações comunistas que militavam nos organismos dirigentes das organizações sem partido tinham a obrigação não somente de dar conta de sua atividade às conferências e congressos que os haviam nomeado, mas também aos comitês do Partido. Antes, e inclusive pouco depois de outubro, quando em algumas organizações de massas sem partido subsistiam ainda mencheviques e SR, os bolcheviques transformavam cada posição conquistada em ponto de apoio para conquistar a organização na totalidade da zona, da cidade, da região ou do país. Demonstraram que sabiam trabalhar melhor que os outros, preparar melhor as questões, dirigir, cimentar e organizar melhor as massas operárias. Foi por isso que conseguiram eliminar os mencheviques, os SR e outros elementos dos partidos “socialistas” e populistas de todas as organizações operárias em massa.
Se ocorre o contrário nos partidos comunistas dos países capitalistas é porque ainda conservaram tradições social-democratas, mescladas frequentemente com concepções sectárias. Os sindicatos e outras organizações proletárias de massa, como dissemos, fizeram sua aparição muito antes que os partidos social-democratas tivessem se constituído nos principais países capitalistas. Estas organização se consolidaram entre a classe operária como organizações independentes que dirigem sua luta econômica. Os membros dos partidos social-democratas colocados à cabeça das organizações proletárias de massa tinham uma certa independência. Os partidos social-democratas não somente não combatiam esta independência, como eles mesmos sustentavam a teoria da equivalência e da igualdade dos direitos do movimento sindical e dos partidos social-democratas e proclamavam a neutralidade dos sindicatos.
Como dissemos, a única exceção era o Partido Bolchevique. Poderia citar muitos exemplos tirados do movimento social-democrata na Alemanha, que demonstrariam que as resoluções dos congressos sindicais diferiam das dos congressos do Partido Social-Democrata. Ainda que não fosse mais que sobre a questão da greve geral de 1905. E isso apesar de que no congresso dos sindicatos participavam os mesmos social-democratas, muito ao corrente do ponto de vista do Partido. A mesma coisa se repetia com respeito à celebração do 1º de Maio. Os partidos social-democratas da Europa Central o celebravam, antes da guerra, no próprio dia, ao passo que os sindicatos “livres” social-democratas o sabotavam a fim de não ter que tirar das caixas sindicais os subsídios acordados com os operários despedidos das empresas por terem faltado no 1º de Maio. Os sindicatos propunham postergar a festa de 1º de Maio para o domingo seguinte. Estas relações, anormais para os bolcheviques, entre partidos social-democratas e sindicatos de antes da guerra (depois da guerra reina entre os partidos social-democratas e seus sindicatos uma unanimidade enternecedora na obra de traição dos interesses da classe operária de cada país) são intoleráveis em um partido bolchevique, pois impedem de realizar a unidade de direção de todas as formas do movimento operário revolucionário. E os partidos comunistas dos países capitalistas herdaram estas relações dos partidos social-democratas.
As relações anormais entre os partidos e as frações comunistas
As relações anormais entre os partidos e as frações dos sindicatos e das organizações proletárias de massa em geral têm duas origens: os comitês do Partido, ao assumir às vezes, o lugar das organizações de massa, destituem os secretários eleitos para nomear outros, publicam abertamente na imprensa as proposições que dirigem aos sindicatos vermelhos; dito de outro modo: fazem o que nem o Partido Comunista da URSS faz. As decisões do Comitê Central do Partido Comunista da URSS ou dos comitês locais do Partido são executadas, no interior, pelas frações comunistas ou os membros isolados do Partido que militam em tal ou qual organização sem partido. Outra das causas dessas relações anormais é que certos membros do Partido Comunista trabalham por sua conta e risco, sem levar em conta as diretivas dos organismos do Partido e sem obedecê-las. Houve casos, especialmente na França, em que os organismos do Partido acreditavam que deviam fazer absolutamente tudo, suplantar o Socorro Vermelho, os sindicatos, as cooperativas, as organização desportivas, desde o momento que podiam desempenhar todas as funções dessas organizações. Este princípio é completamente falso. Mesmo se as direções dos partidos comunistas fossem cem vezes melhores que agora não poderiam suplantar todas essas organizações.
Por outro lado, isso é supérfluo, já que tanto o Comitê Central como as organizações locais do Partido devem somente traçar a linha política, controlar sua execução, dirigir as frações comunistas e os membros isolados que militam nas organizações de massa. O comitê Central e os comitês do Partido devem fazer adotar suas diretivas às organizações operárias de massa por intermédio das frações comunistas ou dos membros isolados do Partido, na falta de frações. Mas não deve ocupar seu lugar. Parece inútil me estender mais sobre o modo em que essas relações anormais entre o Partido, os sindicatos e as organizações de massa em geral impedem de devolver os laços entre o Partido e as massas e de se implantar solidamente entre as grandes massas. Nos países onde existem sindicatos vermelhos, coexistem sindicatos de tendências diferentes nos mesmos ramos de produção. Mesmo assim os sindicatos vermelhos raramente conseguem ganhar organizações inteiras ou grupos mais ou menos importantes de sindicatos pertencentes a outras tendências.
A oposição sindical nas organizações reformistas consegue com bastante frequência conquistar a maioria nas sessões sindicais reformistas locais. Mas os partidos comunistas e as oposições sindicais não fazem disso um ponto de apoio para propagar sua influência entre as outras seções do próprio sindicato ou de outros sindicatos aliados. O mesmo ocorre nas seções conquistadas pela oposição sindical nos conselhos sindicais locais. Não é possível explicar isso mais que pelo fato de que as próprias reações sindicais de oposição escorregam amiúde para as posições reformistas. Isto é igualmente certo para muitos conselhos de empresa vermelhos. Não é assegurada sua direção e a ajuda necessária para seu trabalho.
A imprensa
No período ilegal e no período atual, a imprensa do Partido Bolchevique, intérprete da opinião do Partido, executa suas decisões. A imprensa mobiliza, organiza e educa as massas operárias. Não é possível separar a imprensa do Partido dos comitês do Partido. No estrangeiro, os partidos social-democratas nomeavam os redatores dos jornais do Partido nos congressos. Foi visto tal ou qual Comitê Central não poder nada fazer contra um jornal: este tinha sua própria linha política, o Comitê Central a sua. Tal foi o caso da Alemanha com o Vorwärts e na Itália com o Avanti. Evidentemente os partidos comunistas repudiaram essas “excelentes” tradições. Mas essa “independência que a imprensa social-democrata possuía antes da guerra deixou marcas profundas nos partidos comunistas. Por certo que não se pode dizer que os redatores dos jornais comunistas sejam designados pelos congressos e sejam independentes do Comitê Central e dos comitês do Partido. Não é esse o caso. Mas acontece muito amiúde que o Comitê Central e os comitês do Partido prestem muito pouca atenção à imprensa do Partido: a imprensa trabalha por seu lado, o Comitê Central e os comitês do Partido trabalham pelo seu. A linha política do Comitê Central e dos comitês do Partido difere amiúde da linha dos jornais do Partido, e isso não ocorre porque o Comitê Central, os comitês do Partido ou os comitês de redação assim o queiram.
O Partido Comunista Alemão possui 38 diários. Se estes 38 diários dispusessem de uma direção justa e racional, poderiam exercer uma influência muito maior que a que exercem na realidade entre as massas operárias. O Partido Bolchevique não possuía, desde 1912 até 1914, mais que apenas um diário legal, o Pravda. E que proezas realizava então o Pravda na Rússia! Que ajuda inestimável aportava este diário aos militantes locais, apesar de que não podia dizer tudo o que quisesse por causa da censura! Tratava as questões mais importantes e mais sérias numa linguagem popular, acessível aos operários menos educados. O Pravda reservava um grande espaço para a vida das fábricas e das empresas. Nos países que citei, os jornais são legais. Podem dizer mais ou menos o que for preciso para expressar e aplicar a linha política do Partido. Os jornais, como as organizações operárias de massa, são canais por onde os partidos comunistas podem e devem exercer sua influência entre os operários, podem e devem conquistar os operários. Mas é preciso saber utilizar e dirigir os jornais do Partido.
Os diários comunistas legais não se distinguem, em muitos países, nem por uma exposição popular, nem pela acuidade dos temas, nem pela concisão dos artigos. Os jornais estão cheios de artigos escritos em estilo de teses, ao invés de exposições populares e condensadas das principais tarefas atuais. A imprensa é culpada de que os militantes ativos, todos os membros do Partido e os operários revolucionários não possuam todos os argumentos necessários para combater os partidos social-democratas, os sindicatos reformistas, os partidos nacional-socialistas e outros a quem os operários ainda seguem. A imprensa do Partido deve não somente traçar a linha política fundamental, citar os fatos concretos da traição dos social-democratas e dos reformistas, da demagogia dos nacional-socialistas, mas também indicar a forma de explorar estes fatos. A maioria dos jornais comunistas não têm crônica das fábricas e das empresas! Falta espaço na imprensa do Partido para este gênero de coisas!
Muitos partidos comunistas não compreenderam ainda a importância da imprensa do Partido. O corpo docente das escolas internacionais deve conceder uma atenção particular à imprensa do Partido na formação dos alunos. Muitos militantes formados nas escolas internacionais do Partido se convertem em seguida em redatores. Não se vê que tenham aportado algo novo e que tenham contribuído para renovar a imprensa do Partido, ou que tenham rompido com as tradições social-democratas neste domínio.
Agitação
Atualmente o mundo capitalista atravessa uma profunda crise industrial e agrária, por transtornos financeiros e por uma guerra imperialista no Extremo Oriente que ameaça se estender a outros países. Tudo isso afeta não somente os operários, os camponeses pobres, mas também a pequena-burguesia urbana (os empregados, os funcionários, etc.). É, pois, mais fácil tocar a estas massas pela agitação comunista hoje em dia, quando a estabilização capitalista terminou, que no curso de seu “florescimento”. Desgraçadamente, a propaganda dos partidos comunistas é abstrata. E o é tanto nos periódicos como nos manifestos ou na agitação oral. Parte do ponto de vista de que todos os operários conhecem a questão tão bem quanto os que escrevem nos jornais, redigem os manifestos e falam em público. Se na Alemanha é promulgado um decreto-lei que toca na carne de cada operário, seja diminuindo os salários ou aumentando os impostos, etc., em lugar de examinar ponto por ponto, de indicar quanto cada operário deverá pagar ao fisco, em que proporção os salários serão diminuídos, a fim de que as massas compreendam, preferem escrever simplesmente: protestamos contra o decreto-lei, reclamamos a greve contra este decreto.
Como os bolcheviques abordavam isso para fazer agitação? A força dos bolcheviques residia no fato de que faziam sua opinião sobre qualquer questão ser conhecida: baixa dos salários, lugares de recreação, substituição dos vidros quebrados nas fábricas, água fervente para fazer chá, multas, qualidade dos alimentos na cantina da empresa, etc. Eles desenvolviam estas questões e tiravam conclusões políticas delas. Vide as greves que se desenvolviam no sul da Rússia em 1903. Os bolcheviques souberam transformar este movimento de greves econômicas provocado pelos agentes de Zubatov, de Chaievics e companhia, em um movimento político considerável que abarcava toda a Rússia meridional. Numerosos partidos comunistas ainda não sabem organizar o trabalho de agitação de uma maneira conveniente.
Enquanto os camaradas dirigentes, redatores, propagandistas, etc., pensam que já que eles compreendem os acontecimentos e sabem se orientar, tudo é mais ou menos claro para os operários. É assim que abordam os operários social-democratas! Ao invés de pegar o menor fato de traição, indicar seu lugar, sua data, citar testemunhos, lembrar os termos exatos do ato, a data em que os líderes reformistas e social-democratas tiveram conversações com os ministros e fabricantes, traíram os interesses da classe operária, ao invés de explicar pacientemente todos estes fatos aos operários social-democratas, reformistas e sem partido, nossos camaradas não têm na boca mais que social-fascistas e burocratas sindicais. E isso é tudo. E pensam que tendo dito “social-fascistas” e “burocratas sindicais” todos os operários compreendem o sentido que estes termos injuriosos tem e acreditam que os líderes reformistas e social-democratas os merecem. Desta maneira não se faz mais que afastar os operários honestos, membros dos partidos social-democratas e dos sindicatos reformistas, pois eles não se consideram nem social-fascistas nem burocratas sindicais.
A agitação não deve ocupar um enorme lugar na educação que se dá nas escolas internacionais do Partido? Vide os artigos de Lênin em 1917. Tomais como exemplo a acusação lançada contra o Partido Bolchevique de estar a soldo do imperialismo alemão. Lênin podia dizer que, ante tal acusação, não havia mais que responder: “Canalhas, não lhes dirigiremos a palavra; achamos inútil nos justificar diante de vocês; pensem o que quiserem, seguiremos nosso caminho”. Muitos partidos comunistas teriam feito assim, considerando que refutar acusações tão abjetas equivale a rebaixar nossa dignidade! O que Lênin fez? Começou por demonstrar o que era Alexinski. Lembrou todas as infâmias cometidas por Alexinski na França e o fato de que, em uma reunião celebrada nesse país, teria sido expulso como embusteiro e falsário. De volta à Rússia, o Comitê Executivo Central, composto de mencheviques e de SR, declarou a Alexinski: “Não te aceitaremos até que esteja reabilitado”. Foi então que Alexinski iniciou, em julho de 1917, uma campanha de calúnias na imprensa contra os bolcheviques, acusando-os de trabalhar para os alemães e de estar a soldo deles. Lênin exibiu Alexinski em toda sua nudez.
O mostrou tal como era na realidade. E quando descreveu sua fisionomia moral e o aniquilou desta maneira, examinou a posição dos mencheviques e dos SR. No acontecido. Os mencheviques e os SR sabiam que os bolcheviques eram acusados de espionagem. Tsereteli havia telefonado a todos os diários para que não publicassem este ignóbil documento [3], que não era senão uma vil maquinação. Depois disso, Lênin denunciou um terceiro fato. O governo provisório conhecia esta maquinação. E, mesmo assim, não havia detido nenhum dos militantes acusados, apesar de ter conhecimento deste documento desde o mês de junho. Consequentemente o próprio governo provisório não acreditava nesta calúnia dirigida contra os bolcheviques. Lênin dissecou, repisou num estilo popular, todos estes fatos e perguntou:
“Quem está na cabeça do governo? Kerenski? Não. O Comitê Executivo Central? Não. A camarilha militar? Sim, a camarilha militar. Ela é que arrasou nossa imprensa. Quem tomou a decisão de saqueá-la? O governo provisório? Não. O Comitê Executivo? Não. Existe outro poder, o da camarilha militar, e ela é que fez saquear nossa imprensa. Mas, sabeis quem se oculta por trás dela? O Partido Constitucional Democrata (os kadets).”
No dia seguinte, citando, em outro artigo, as palavras pronunciadas pelo socialista populista Chaikovski na sessão do Comitê Executivo Central, Lênin demonstrava que os constitucionais democratas e os imperialistas do Ocidente faziam causa comum e que os imperialistas não queriam dar dinheiro a mais ninguém que aos constitucionais democratas. Lênin tinha começado por Alexinski e terminou fazendo o processo do poder e de seu caráter de classe. Não blasfemava, não dizia que refutar acusações tão ignóbeis era rebaixar nossa dignidade, senão que demonstrou estas insinuações e esta tarefa de ladrões, que a princípio fora obra da imprensa dos renegados, foram em seguida recolhidas e ampliadas pelo governo provisório, por toda a imprensa burguesa, menchevique, populista e SR.
Graças a uma agitação tão acessível e ao mesmo tempo tão popular, os bolcheviques puderam não somente rechaçar o ataque dos mencheviques, dos SR e dos kadets num período particularmente difícil para os bolcheviques, senão também desencadear durante três meses uma vasta agitação contra todos os partidos existentes e, em primeiro lugar, contra os social-democratas, os mencheviques e os SR, que ainda tinham influência entre as grandes massas de operários, de camponeses e soldados. Com este objeto, os bolcheviques souberam explorar a duplicidade destes partidos em todas as questões que surgiram. Nas vésperas da revolução de outubro, milhões de operários, de camponeses e de soldados foram ganhos pelo movimento. No transcurso das jornadas de outubro, os bolcheviques já haviam conquistado toda a classe operária e a maioria dos soldados e dos camponeses seguiam as consignas dos bolcheviques relativas à terra e à paz.
Fazer ressaltar a traição dos social-democratas
Os partidos comunistas dos países capitalistas procedem desta maneira em sua agitação? Os social-democratas traíram tantas vezes a classe operária, em todos os países, que a surpresa dos operários da União Soviética é bem compreensível quando lhes ocorre a pregunta sobre de que matéria são feitos os operários no estrangeiro. Vemos que os social-democratas traem a cada dia seus interesses, mas os operários do estrangeiro continuam votando nos social-democratas e pertencendo a seu Partido. A causa disso se estriba no fato de que numerosos partidos comunistas não sabem fazer agitação inclusive em uma situação tão favorável como a criada no mundo inteiro pela crise agrária e industrial atual. Uma crítica detalhada, paciente e persuasiva é indispensável da parte dos partidos comunistas, pois os líderes social-democratas, apesar de suas múltiplas traições, descobrem constantemente novos truques para se dedicarem a suas manobras demagógicas. Os social-democratas alemães fizeram o impossível para obter a aplicação dos decretos-leis. Ajudaram a espoliar os desempregados e os operários ocupados. Agora depositam no parlamento uma série de projetos de leis demagógicas: redução do desemprego, aumento dos subsídios aos desempregados, diminuição dos aluguéis, etc. No mesmo instante em que votam contra os comunistas no Parlamento, em que os votos social-democratas e comunistas, na ausência dos nacional-socialistas, formam a maioria [4], fazem adotar as férias do Reichstag, sem indicar a data de sua reconvocação, sem solicitar a discussão de seus próprios projetos de lei e, naturalmente, das proposições da fração comunista. Desde esse instante, os partidos comunistas devem tratar de pegar os especuladores social-democratas em flagrante delito, desmascarar, como o apoio de provas, cada uma de suas manobras, cada ato de traição.
O Partido Bolchevique, antes e depois da tomada do poder sempre soube educar seus membros, dar-lhes diretivas a fim de que todos, seja qual for seu trabalho e em qualquer lugar que se encontrem dirijam seus golpes na mesma direção. E, mesmo assim, frequentemente os órgãos locais do Partido não recebiam diretivas mais que pela imprensa. O Partido Bolchevique obteve tudo isso graças a seus métodos de trabalho dos quais falamos mais acima. Por desgraça não se pode dizer o mesmo da maioria dos partidos comunistas dos países capitalistas, onde ocorre amiúde que os membros do Partido operam em direções diametralmente opostas.
Acontecimentos, tática, consigna, teoria do “mal menor” e frente única
Antes da revolução de outubro os mencheviques zombavam dos bolcheviques porque examinavam demasiado amiúde, em suas reuniões, os acontecimentos. E, mesmo assim, sem uma análise exata da situação e sem uma apreciação do momento é muito difícil determinar a tática. Preconizar uma tática justa em cada situação dada e sobretudo saber aplicá-la com habilidade é uma arte. Adquirir esta arte equivale a facilitar a luta e a contribuir para a conquista das massas. Outra arte consiste em fazer uma escolha judiciosa e oportuna das consignas correspondentes à situação e suas consonâncias com as necessidades do momento. Ninguém pode negar que os bolcheviques sabiam analisar magistralmente os acontecimentos que surgiam, determinar uma tática justa, lançar consignas precisas e adequadas que as grandes massas acolhiam. Lênin zombava dos bolcheviques que permaneciam aferrados à tática de ontem e que não compreendiam que ela já não correspondia à etapa seguinte ou às novas condições (por exemplo, a proposição de Kamenev e de Bogdanov de boicotar as eleições à terceira Duma, como os bolcheviques haviam boicotado a primeira).
É esta habilidade para analisar os “acontecimentos”, a situação, e para formular a tática justa a seguir o que falta amiúde aos partidos comunistas dos países capitalistas (e isso ainda quando a Internacional Comunista, ao invés da II Internacional, determina amiúde as tarefas e traça a tática de suas seções). Se ocorre que certos partidos comunistas vêem na queda de um ministério uma “crise política”, outros tomam o fato de que o parlamento interrompe momentaneamente o exame das questões correntes pela instituição da diretiva fascista e preconizam, consequentemente, como consigna principal, a luta contra o fascismo atenuando a luta contra os social-democratas. Se este erro for reparado, é para combater unicamente aos partidos social-democratas. Quanto aos fascistas, deixam de existir. As consignas são amiúde incoerentes. Ora são consignas de luta somente sobre as questões interiores, ora consignas contra a guerra, mas sem ligação orgânica com as questões de política interior.
Desgraçadamente encontramos estas consignas incoerentes não somente na “alta” política, mas também na luta econômica, onde não são menos nocivas. É preciso estudar minuciosamente as particularidades da situação, seguir as fases e as tendências de sua evolução, ver como os operários reagem, seguir os preparativos e as iniciativas dos adversários, social-democratas, fascistas, etc., e observar a tática que adotam. Apenas mediante uma análise como esta e um exame semelhante dos acontecimentos é possível estabelecer uma tática justa, lançar consignas oportunas, dar à agitação o conteúdo indispensável e a nota requerida. As questões correntes devem ser ampla e frequentemente expostas na imprensa do Partido, com objetivo de armar, de educar e de preparar os membros do Partido para a luta, analisando para isso a situação, refutando os argumentos e a propaganda dos adversários e desmascarando seus planos e truques. Com o mesmo objetivo se discutirá o mais amiúde possível, nas reuniões do Partido, nas células, etc., os problemas do dia e as tarefas do Partido. Tal debate permitirá não somente aos membros do Partido que assimilem a tática e a linha política do Partido, que se orientem nas questões atuais e que se armem de argumentos para a polêmica e a agitação nas empresas, entre os desempregados, nos sindicatos, na rua, senão que dará igualmente animação às células e às organizações locais do Partido.
A perniciosa teoria do “mal menor”
Os partidos social-democratas e os sindicatos reformistas preconizavam frequentemente nestes últimos anos a teoria do “mal menor”. Os reformistas aconselham os operários que aceitem uma redução do salário de 8% no lugar de 12% que os patrões “exigem” (não sem o prévio acordo com os reformistas). Representam em seguida como uma vitória este “lucro” de 4% em proveito dos operários. Os partidos social-democratas sustentam as leis mais odiosas, que oprimem os trabalhadores com contribuições escorchantes e roem o salário sob o pretexto de que o governo e a burguesia tinham a intenção de exigir dos operários um tributo ainda mais elevado. E apresentam isso como uma vitória dos operários. Propõem votar em Hindenburg, a quem combateram nas eleições de 1925 como reacionário e monárquico, sob pretexto de que Hindenburg é um “mal menor” com relação a Hitler. Os mencheviques russos empregaram igualmente a teoria do “mal menor”. Assim, por ocasião das eleições à segunda Duma, sob o pretexto de que a Rússia estava ameaçada pela pior reação, os mencheviques convidavam a votar no Partido Constitucional Democrata.
Os bolcheviques reagiram com vigor contra os mencheviques e convenceram os eleitores revolucionários, que votaram nos candidatos revolucionários, fazendo ver que os mencheviques, antes, durante e depois da revolução de 1905 sustentavam a burguesia liberal, assim como hoje em dia os partidos social-democratas sustentam a burguesia em todos os domínios. Os mencheviques combatiam a hegemonia do proletariado na revolução democrático-burguesa. Seus gritos contra o perigo da reação dos Cem Negros não eram mais que escapatória para desviar a classe operária do bom caminho revolucionário. Os partidos comunistas não conseguiram até agora desmascarar as manobras a que se dedicam os partidos social-democratas sob o manto da teoria do “mal menor”, recorrendo aos métodos empregados pelos bolcheviques para desmascarar a manobra menchevique a propósito da ameaça de reação dos Cem Negros. E até que não se revele ante as massas este engano dos partidos social-democratas será difícil tirar os operários de sua influência.
A aplicação da frente única
As grandes massas operárias aspiram à unidade. Abundam nos diferentes países os casos em que os agentes mais fiéis da burguesia se servem das consignas de unidade para esquentar a cabeça dos operários. Os partidos social-democratas preconizam igualmente a unidade. O renegado Trotski lhes presta ajuda propondo o “bloco” dos comunistas e dos social-democratas, invocando para isso os bolcheviques e Lênin.
Antes me esforcei para demonstrar como os bolcheviques realizavam a frente única na base nas fábricas e nas empresas. Na história do bolchevismo há casos em que a técnica da frente única foi aplicada por baixo e por cima simultaneamente, mas foi somente no curso de uma luta real. Tal é o caso de 1905, no momento das greves, das manifestações, dos pogroms, das insurreições (em Moscou), em plena ação. Eram criados comitês de união no curso da ação comum. Eram publicados chamamentos em comum. A frente única, ao ser operada na base na luta prática das massas, obrigava os chefes mencheviques a jogar-se na luta dirigida pelos bolcheviques. Qual era a situação durante as jornadas de Kornilov em 1917? o renegado Trotski quer enganar os comunistas. No fim de agosto de 1917, Kerenski, não sem ter recebido antes o assentimento dos mencheviques e dos SR, convidou Kornilov a vir com tropas leais para aplastar o Partido Bolchevique. Kornilov respondeu ao chamado. Mas antes de entrar em Petrogrado exigiu que lhe fosse entregue todo o poder. Os operários e os soldados que ainda seguiam os mencheviques e os SR compreenderam que, obtendo o poder, Kornilov aplastaria não somente os bolcheviques, mas também a eles. Sob a pressão das massas, os mencheviques e os SR se viram forçados a unirem-se à luta dirigida pelos bolcheviques. Os mencheviques e os SR armaram os operários de Petrogrado para travar esta luta. Foi um “bloco” apenas na luta contra Kornilov. Mas inclusive neste momento os bolcheviques não cessaram com sua campanha contra os mencheviques, os SR e o governo provisório que, por sua traição aos interesses dos operários, dos camponeses e dos soldados, tinham levado o país até o terreno de provocar a insurreição de Kornilov e que vacilavam ainda entre a sustentação direta de Kornilov e a luta contra ele.
Esta situação é parecida com a da Alemanha? Como é possível, baseando-se nos acontecimentos que acompanharam o putsch de Kornilov, tirar a conclusão da necessidade de formar “bloco” com a social-democracia alemã para lutar contra o fascismo, quando a única preocupação dos social-democratas é ajudar os fascistas e a burguesia? O ministro social-democrata da polícia prussiana dissolveu a Associação da Frente Vermelha porque combatia os fascistas ao mesmo tempo que tolerava e protegia os quartéis fascistas das seções de assalto. Os policialescos social-democratas estão sempre do lado dos fascistas para golpear os operários quando eles tratam de repelir os ataques dos fascistas. Não se mistificará os comunistas invocando que Hindenburg “dissolveu”, nas vésperas das eleições na Prússia, as seções de assalto fascistas. Dissolveu-as formalmente, mas teve o cuidado de não destruir a organização e de não danificar-lhes. Esta “dissolução” tinha por objetivo permitir aos social-democratas que enganassem seus leitores e os arrastassem para seu lado graças à pretensa luta contra o fascismo.
Quase todos os partidos comunistas cometem uma multidão de erros na aplicação da tática da frente única. Mas já temos exemplos de uma boa aplicação da frente única: a luta dos mineiros que o Partido Comunista e os sindicatos vermelhos da Tchecoslováquia dirigiram na Boêmia setentrional. É preciso evitar os erros e realizar a qualquer preço, por baixo, de um modo justo e enérgico, a frente única bolchevique de luta nas fábricas e nas empresas.
Trabalho legal e ilegal. Utilização dos meios legais
Na Rússia czarista, o Partido Bolchevique, sendo no fundo ilegal, soube aproveitar amplamente os meios legais. A partir de 1905 publicou sem cessar, mesmo no transcurso dos anos mais negros da reação, jornais, semanários legais e revistas mais substanciais nas diferentes regiões da imensa Rússia. Sem falar do Pravda, o cotidiano do Partido Bolchevique, que desempenhou um papel tão grande para unificar o Partido Bolchevique na luta contra o czarismo, a burguesia, os mencheviques, os liquidacionistas, os trotskistas, os conciliadores, etc. Junto com a imprensa legal, o Partido publicava evidentemente jornais e volantes ilegais.
O Partido Bolchevique aproveitava todas as reuniões públicas legais: reuniões de médicos, de cooperativas, de professores, etc., para intervir no sentido das reivindicações bolcheviques. Militava nas sociedades operárias legais: sindicatos, cooperativas, sociedades recreativas e outras organizações. Mais ainda, o Partido Bolchevique utilizou as organizações operárias legais criadas pela polícia, as cooperativas de Zubatov e Gapón, por ocasião dos acontecimentos de 1905, para tirar os operários da influência dos agentes da polícia e das ciladas policialescas, tarefa que executou denunciando as maquinações policialescas nas próprias reuniões convocadas por estas organizações. Para dar-se conta do êxito da ação bolchevique basta saber que o padre policialesco Gapón se viu obrigado, sob pressão das massas operárias, a incluir em seu programa as principais reivindicações do programa mínimo do Partido Bolchevique a fim de não ser desmascarado como agente da polícia.
É preciso dizer que não somente os partidos comunistas legais não souberam utilizar com êxito os meios legais, mas que, coisa mais surpreendente, os partidos comunistas legais não puderam aplicar frutiferamente os métodos de trabalho, mesmo dispondo de muito mais meios que os partidos comunistas ilegais.
Quando a imprensa legal é temporariamente proibida ou quando os poderes públicos proíbem falar dos decretos-leis que se abatem profusamente sobre a classe operária, ou dos metralhamentos de manifestantes, etc., os partidos comunistas legais não fazem, nas fábricas e empresas, difundir, vasta e oportunamente, os jornais e volantes ilegais consagrados às questões das quais é proibido falar na imprensa legal. O mesmo ocorre a respeito da proibição das reuniões e manifestações; convocar comícios e reuniões sob outra insígnia ou denominação, organizar subitamente manifestações nos bairros operários, apesar das proibições, preparando-as minuciosamente, são coisas possíveis e indispensáveis.
As autoridades e a polícia proíbem os jornais por um longo período, proíbem as reuniões e manifestações operárias nos momentos mais críticos para eles. Por esta razão os partidos comunistas tem o maior interesse em que os operários aprendam não somente o que as autoridades querem ocultar-lhes, mas que protestem, sob a direção do Partido contra as medidas em questão. Desta maneira somente os partidos comunistas poderão conquistar as massas e dirigi-las. Se faltam nas empresas boas células, haveria as maiores dificuldades para trabalhar e para manter a ligação com as massas quando os partidos comunistas sejam postos na ilegalidade.
As tarefas atuais
1) O trabalho comunista sindical nas empresas
Em que ponto deve ser concentrada a atenção nas escolas do Partido? Custe o que custar no trabalho nas empresas. Sem trabalho nas empresas é impossível combater vantajosamente pela ditadura dos proletariado. Essa é a questão. Mas o trabalho nas empresas adquire uma importância de primeira ordem ante a proximidade da guerra imperialista, que significa em primeiro lugar a destruição do movimento operário revolucionário legal, das organizações comunistas e dos sindicatos vermelhos legais. Nestas condições, o trabalho nas empresas se converte mais que nunca no meio mais importante e, por assim dizer, no único, de ligar-se às massas operárias das fábricas e das empresas, de influenciá-las e de dirigir sua ação. Além disso, em período de conflitos as empresas se ocupariam quase exclusivamente da fabricação de armamentos, do aprovisionamento dos exércitos imperialistas do país ou dos outros países, e a luta contra a guerra deverá ser, mais que nunca, travada nas empresas.
É difícil fazer ação na empresas. Hoje em dia, aproveitando-se do desemprego, expulsa-se a todos os operários revolucionários. Nossa tarefa consiste em penetrar nas fábricas e empresas a todo custo, por todos os meios, sob outra bandeira se for necessário, a fim de fazer nelas o trabalho comunista. É preciso fazer uma grande agitação popular, como os bolcheviques faziam antes da guerra e de fevereiro a outubro de 1917. Os partidos comunistas dos principais países capitalistas são momentaneamente legais. Têm sua imprensa, podem convocar reuniões. A agitação deve reverter outro caráter, desencadear-se nas fábricas, nas portas das empresas, nas paradas de bonde, do metrô, em todos os lugares onde trabalham e se concentram os operários e empregados. É preciso criar quadros de militantes que saibam se expressar breve e claramente; é preciso formá-los, instrui-los e enviá-los para a rua, para as empresas, as fábricas para desencadear ali a agitação. Isto é possível? Certamente. É preciso que voltem a militar em seus partidos respectivos, que compreendam e saibam realizar este trabalho.
2) as greves
Como preparar uma greve? Como dirigi-la, como formular as reivindicações? Estas não são questões simples. Para a maioria dos partidos comunistas, dos sindicatos vermelhos e das oposições sindicais, estas questões raramente recebem soluções felizes. Ainda bem recente, um bom número de partidos comunistas não apresentavam mais que as reivindicações do programa máximo e descuidavam das reivindicações imediatas. Atualmente pensam assim: formulemos apenas as reivindicações imediatas sem ligá-las à política e ao programa máximo, pois quando não apresentávamos mais que as reivindicações políticas os operários não nos seguiam e todo o trabalho se ressentia disso. Sabemos por experiência que os bolcheviques sempre ligavam o político ao econômico e vice-versa. Conheço um caso que remonta a 1905, no qual os bolcheviques, ao declarar uma greve política, formularam reivindicações de ordem econômica e vice-versa.
Preparar bem uma greve é uma tarefa difícil. Na organização e na direção de uma greve, assim como nos objetivos perseguidos pelos social-democratas e os reformistas, por um lado, e os bolcheviques, pelo outro, havia grande diferença. Os bolcheviques recolhiam dados sobre a situação dos operários nas fábricas e empresas, militavam entre eles a fim de explicar-lhes sua situação. Uma vez terminado o trabalho preparatório (exame pela célula de todos os detalhes da greve de acordo com os militantes revolucionários sem partido), se declarava a greve, formulavam-se reivindicações e se elegia um comitê de greve que reunia os operários e propunha ante eles as questões relativas à greve. Se o comitê de greve e os militantes revolucionários eram detidos, da mesma maneira era constituído outro comitê de greve. Os contratos coletivos não existiam.
Se a greve era declarada repentinamente como consequência do agravamento das condições de trabalho, de um acidente, da ausência de um sistema de proteção nas máquinas, etc., os bolcheviques da empresa ou da fábrica se punham à cabeça do movimento e formulavam as reivindicações. Assim, a greve era preparada por baixo, nas empresas, e inclusive nos casos em que se estendia de empresa em empresa, ou de cidade em cidade, isso não se fazia sempre espontaneamente. As organizações urbanas do Partido, nas zonas e nas células, discutiam os métodos para desenvolver o movimento. Os bolcheviques, ao declarar as greves, perseguiam dois objetivos:
1. melhorar a situação material e cultural dos operários, e
2. objetivo ainda mais vasto, arrastar as grandes massas operárias na luta para derrubar a burguesia e instaurar a ditadura do proletariado.
Os social-democratas e os reformistas, desde que os sindicatos foram criados, se esforçaram por centralizar as greves de maneira que os operários nas fábricas e empresas não pudessem fazer greve sem o consentimento de seu sindicato. Se começavam a greve sem seu consentimento, o conselho sindical (o presidente) não a sancionava, considerando-a uma greve “selvagem” e não lhe dava nenhuma ajuda material. Se sancionava a greve, tomava sua direção e os grevistas não tinham nada que fazer senão, por acaso, organizar piquetes de greve nas portas das fábricas quando fosse necessário. Quando os sindicatos reformistas se tornaram mais fortes, começaram a assinar contratos coletivos a longo prazo com as uniões patronais e era raro ver estalar greves durante a duração do contrato. Às vezes greves importantes eram declaradas na ocasião da renovação dos contratos coletivos. Aí, as greves eram dirigidas pelos comitês centrais dos sindicatos. Os grevistas deviam, no melhor dos casos, formular as propostas de greve. Os sindicatos reformistas eram guiados na luta econômica (antes da guerra, eram eles que dirigiam as greves) apenas pela idéia de melhorar a situação material e cultura da classe operária, sem cuidar da luta contra o conjunto do sistema burguês.
Os partidos comunistas que dirigem os sindicatos vermelhos, que são quase sempre organizações paralelas aos sindicatos e à oposição sindical e que não englobam grandes massas, na adotaram mais amiúde um método bolchevique, mas reformista, social-democrata, de organizar a greve nas empresas, método que consiste em preparar seu próprio despacho sem conhecer sempre bem o estado de ânimo dos operários. É por isso que ainda ocorre com frequência que os operários não respondem aos chamamentos de greve lançados pelos sindicatos vermelhos e as oposições sindicais ou que os próprios operários — o que menos se pensava — os que se declaram em greve.
Nas escolas internacionais do Partido os alunos devem aprender a organizar, sustentar e dirigir as greves.
3) A luta contra os reformistas e os partidos social-democratas
É preciso desmascarar a social-democracia e os reformistas e mostrar a diferença que há entre suas palavras e seus atos. É mister fazê-lo diariamente na imprensa do Partido, nos volantes, na agitação verbal. É necessário ler a imprensa reformista e replicar imediatamente suas manobras. É preciso reagir sob uma forma popular e acessível. Todo artigo, todo discurso dos social-democratas e dos reformistas pode fornecer aos agitadores e propagandistas comunistas uma documentação suscetível de alimentar sua ação contra esses elementos. Só assim poderemos desmascarar a social-democracia. Do contrário é pouco provável que se consiga isso. Desmascarando os social-democratas e os reformistas, não há que perder de vista os outros partidos e organizações que têm influência, ou que querem adquiri-la, entre a classe operária (católicos, nacional-socialistas, etc.).
Os partidos democratas de certos países assumem diferentemente seu papel de principal sustentáculo social da burguesia. Até as últimas eleições, o partido trabalhista da Inglaterra desempenhou abertamente este papel frente ao governo. Nem bem se apercebeu que os operários lhes viravam as costas, decepcionadas por sua política, e que essa ameaça era real, sacrificou seus dirigentes e passou à “oposição”. Na França, depois da guerra, o Partido Socialista não participou do governo. Às vezes, nas vésperas das eleições, ocorre inclusive de votar no parlamento contra tal ou qual lei, sabendo certamente que o governo obterá a maioria apesar de tudo. Na realidade, o Partido Socialista francês é o fiel servidor e sustentáculo do imperialismo militar francês. Quanto aos social-democratas na Alemanha, é inútil mencioná-los. São uns virtuosos na arte de enganar as massas e seu partido é o mais hábil em manobrar na II Internacional.
Os partidos comunistas devem, assim como os bolcheviques russos, prever as manobras dos social-democratas e denunciá-las às massas. É preciso desmascarar estas manobras a cada vez que os social-democratas as realizem e enganem os trabalhadores. Os partidos comunistas, os sindicatos vermelhos, todas as organizações revolucionárias de massa devem denunciar sem trégua os social-democratas e os reformistas, pois se não livrarem os operários de sua influência, os partidos comunistas não poderão conquistar a maioria da classe operária, sem a qual é impossível combater com êxito a burguesia. Os partidos comunistas devem travar uma luta enérgica e infatigável contra os nacional-socialistas que exploram a traição dos social-democratas e dos reformistas, assim como os erros e debilidades dos partidos comunistas para difundir sua influência entre a pequena-burguesia e enraizar-se entre as massas de desempregados mediante consignas demagógicas, e frequentemente até consignas comunistas.
4) O desemprego
Estamos na presença de uma desocupação formidável. Exceto o Partido Comunista, ninguém, na realidade, se ocupa dos desempregados. E quando era possível organizar os desempregados, quando era fácil fazê-lo defendendo seus interesses cotidianos, os partidos comunistas não souberam aproveitar esta situação. Poucos comunistas trabalham nas empresas, porque são expulsos. Por isso, não é fácil desenvolver a ação na empresa. Mas, por que não se organiza a ação militante entre os desempregados nas bolsas de trabalho, nos asilos noturnos, entre as longas filas de desempregados que esperam para receber pão e sopa? Entre os desempregados, são numerosos os membros do Partido e dos sindicatos revolucionários. É tão difícil organizar o trabalho entre os desempregados por meio destes camaradas? Na Tchecoslováquia e na Polônia, as organizações de desempregados souberam, em certas partes, mobilizar as importantes massas e fazer pressão nas municipalidades, ao cabo da qual os desempregados obtiveram subsídios. Na América, os desempregados não recebem subsídios nem do Estado nem do patronato. Os desempregados se vêem obrigados a recorrer à casa de beneficência. São despejados em massa de seus alojamentos. Em 1930 e 1931, apenas em Nova Iorque, foram despejadas 552.496 famílias. As organizações comunistas e revolucionárias dispõem ali de um vasto campo de ação e, mesmo assim, não tiram proveito desta situação senão em pequena escala. Ora criam associações estreitas de desempregados, ora se dedicam a organizar manifestações, mas perdem de vista que devem organizar refeitórios, construir um movimento capaz de impedir a expulsão dos desempregados de seus alojamentos, exigir e obter subsídios para os desempregados, etc.
As razões do atraso dos partidos comunistas e dos sindicatos revolucionários com relação ao movimento operário e camponês revolucionário
Em meu informe me esforcei para mostrar a diferença entre a tática, a organização, os métodos, o conteúdo do trabalho, os objetivos finais dos bolcheviques e os da social-democracia. Indiquei as razões que causaram esta diferença. Nós, militantes do Comitê Executivo da IC ouvimos dizer às vezes que a antiga experiência bolchevique, especialmente o método de trabalho nas empresas, não convém aos partidos comunistas dos países capitalistas. A experiência destes últimos anos refutou esta opinião. Onde foram adotados métodos bolcheviques de trabalho, onde foi aplicada uma tática ágil, onde foram feitas ações nas empresas, os resultados foram excelentes. Não constitui o movimento operário e camponês de massas na Polônia o caráter agudo de sua luta, o papel dirigente que exerce nele o Partido Comunista polaco, a melhor prova de superioridade dos métodos bolcheviques sobre os métodos social-democratas? Pois o proletariado revolucionário polaco, o antigo partido social-democrata, convertido hoje em Partido Comunista, sejam quais forem seus erros, combateram lado a lado com o Partido Bolchevique da Rússia. Recolheram os métodos bolcheviques de trabalho e é por isso que não se acham isolados do proletariado polaco, apesar do inaudito terror fascista.
Os partidos comunistas, os sindicatos vermelhos, a oposição sindical que, nos países capitalistas não se livraram ainda das tradições social-democratas, que não assimilaram ainda, que não aplicam ou aplicam mal os métodos de trabalho e as formas de organização bolcheviques, que não dão à ação um conteúdo bolchevique, se deixam ultrapassar pelo movimento operário revolucionário, pelos acontecimentos, e não se acham em situação de consolidar no terreno da organização sua crescente influência política (por exemplo, com quatro ou cinco milhões de votos nas eleições não se consegue organizar a resposta à ofensiva dos patrões contra os salários). Este atraso é inevitável até que os partidos comunistas, os sindicatos vermelhos, a oposição sindical não se livrem das tradições social-democratas assimilando a verdadeira experiência bolchevique em todos os domínios de sua ação política e econômica.
A preparação dos quadros e os métodos de ensino nas escolas do Partido
Nas condições atuais, a questão dos quadros adquire para os partidos comunistas, os sindicatos vermelhos e as oposições sindicais, uma importância considerável. Uma das importantes formas da preparação dos quadros revolucionários está representada pelas escolas internacionais do Partido. O ensino que se dá nelas tem, pois, uma importância essencial porque a necessidade de quadros teóricos preparados, que saibam coordenar a preparação teórica e a experiência do trabalho prático é muito grande nas seções da Internacional Comunista. Esta necessidade não somente não diminuiu, como inclusive se incrementou nos último anos, dado que não houve o afluxo de quadros esperado.
As escolas internacionais do Partido podem fornecer os quadros que os partidos comunistas dos países capitalistas necessitam. Algumas destas escolas existem há muito tempo, mas a Internacional Comunista ainda não viu sair delas os quadros necessários à ação comunista. Dito de outro modo, quando os alunos das escolas internacionais do Partido terminam seus cursos conhecem, inclusive muito bem, as principais obras de Marx, Engels, Lênin e Stalin. Em certos países estes alunos são postos inclusive na cabeça dos partidos. Mesmo assim, os partidos ainda não receberam destas “escolas internacionais” camaradas que, aplicando as noções do marxismo e do leninismo de acordo com as condições locais, pudessem organizar e levar a cabo o trabalho de massa, coisa precisamente indispensável, no momento atual, aos partidos comunistas. Ainda não receberam os militantes que poderiam efetivamente lhes ajudar a reorganizar o Partido, os sindicatos vermelhos e a oposição sindical sobre a base das empresas.
A que se deve isso? Ao seguinte: os alunos estudam a estrutura do Partido Comunista da URSS, ou seja, das formas de organização que não serão plenamente aplicáveis em seu país senão depois da tomada do poder pelo proletariado. Mas mesmo esta estrutura é estudada superficialmente. Não estudam com a atenção requerida o que deveriam conhecer sobretudo, ou seja: os métodos de trabalho entre as massas, as diferenças de tática sobre as diversas camadas de trabalhadores, a agitação de massa e suas formas de organização, as relações entre as frações comunistas, (sobretudo as das organizações de massa sem partido) e as células e comitês do partido correspondente, os trabalho das organizações sem partido e o papel das frações comunistas nestas organizações, a direção e o controle do trabalho das frações comunistas pelas células e os comitês do Partido, o trabalho das células de empresa e dos comitês de empresa, etc.
Não estudam nem assimilam a experiência relativa ao período precedente à conquista do Poder pela classe operária, ou seja, a experiência dos bolcheviques sob o czarismo e sob Kerenski, de fevereiro a outubro. E, sem embargo, esta experiência é a que mais necessitam nossos partidos irmãos. É precisamente nesta experiência onde se encontram fases análogas à situação que existe atualmente nos partidos comunistas dos países capitalistas. Mas também há fases, pontos particulares nos quais diferem. É por isso que consagrei uma parte de meu informe a destacar a diferença entre a situação do Partido Bolchevique sob o czar e a situação dos partidos comunistas nos países capitalistas.
O fato de que os partidos comunistas não recebam das escolas internacionais os militantes que necessitam, prova que o ensino decerto não está adaptado às condições de seu desenvolvimento, de suas tradições e de seus costumes.
A tarefa das escolas internacionais é ajudar os alunos a assimilar e compreender a experiência bolchevique tanto na organização do Partido como no trabalho de todo o Partido de uma maneira que lhes permita aplicar esta experiência segundo as condições de seus países. Tomai as condições alemãs e vereis que se diferenciam das condições francesas, que se diferenciam muito das condições inglesas e não menos das condições que encontramos nos Estados Unidos. Cada país tem seu movimento operário, sua história, suas tradições, sua estrutura de Partido, suas organizações operárias. Quando se ensina por grupo de países, é preciso ter isso em conta. Uma documentação necessária e correta sobre cada país, que traduza sua situação, que caracterize suas condições, pode ser obtida pelos professores dos próprios alunos que tomaram parte do trabalho prático de seus respectivos partidos comunistas.
As escolas internacionais do Partido devem ajudar os partidos comunistas e o movimento sindical revolucionário a forjar verdadeiros quadros bolcheviques.
Notas
[1] Na Inglaterra são chamados assim os comitês de fábrica, organizados durante a guerra imperialista na Escócia. No Congresso de Greds (abril de 1921) os “Shop Steward Commitees” se fundiram com o Partido Comunista.
[2] O sistema Taylor ou racionalização da produção foi introduzido primeiro nos Estados Unidos. Consiste na intensificação do trabalho e em seu maior rendimento.
[3] O jornal Yivoce Slovo, n. 51 de 18 de Maio de 1917, Petrogrado, publicou a declaração de Alexinski e de Pankratov, que, apoiando-se no depoimento prestado pelo sub-oficial Ennolenko ao Estado Maior e ao serviço de contra-espionagem em 28 de Abril de 1917, acusava os bolcheviques de receber dinheiro da Alemanha para fazer agitação contra a guerra.
[4] O autor se refere ao Reichstag de 1930, no qual a composição política era a seguinte: Comunistas: 76 deputados; Social-democratas: 143, Nazis: 107.