'Centralização sem debate, muito centralismo e pouco democrático' (Emanuel Alencar)

Há um profundo sentimento de confusão e descontentamento que desemboca em desilusão entre nossas bases, e cabe a nossos/nossas dirigentes a competência em construir uma democracia de fato em nosso partido, sobretudo neste momento de crise.

'Centralização sem debate, muito centralismo e pouco democrático' (Emanuel Alencar)
"Para as/os camaradas militantes de base, ficou claro que o atropelo nos debates levou a ações de franco dirigismo"

Por Emanuel Alencar para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Vimos nas últimas semanas a assinatura de diversas instâncias da UJC em diferentes lugares do país e dos demais coletivos partidários, destacando-se CFCAM E CNMO, seja em favor do XVII Congresso Extraordinário, seja em favor de uma tese contrária que alega, em diferentes ocasiões, liquidacionismo, golpismo, fracionismo e tantos outros adjetivos. Afinal, impor centralização com base em acusações sem claras justificativas seria a apoteose da forma organizativa de Lênin?

Desde o texto do camarada Euclides, agora referido como ex-dirigente nas circulares, “Direção dirige ou a necessidade de decidir o que fazer agora”, que sintetiza, (agora um pouco obsoleto), as posições que a juventude tem tomado diante da crise que vivemos até as mais diferentes notas políticas que clamam pela defesa do PCB, constata-se uma confusão por parte da militância, especialmente da maioria do complexo partidário, em determinar qual lado tem mais méritos nesse embate, afinal onde realmente está o PCB que faz jus a palavra de ordem “Lutar, Criar, Poder Popular!”?

Para as/os camaradas militantes de base, ficou claro que o atropelo nos debates levou a ações de franco dirigismo. A começar pela nota da direção nacional da UC e CFCAM, que marcavam a dita defesa do PCB logo no início de toda a publicização da polêmica, que era pouco compreendida pelas bases, levando a crer que o posicionamento não fluía de um acúmulo tirado entre as bases. Aqui, a desconfiança entre os camaradas com quem divido fileiras aumentou de forma vertiginosa. Depois o posicionamento contrário, que fazia coro ao chamamento ao XVII Congresso Extraordinário, do CFCAM-SP, foi apontado por algumas camaradas como produto de uma deliberação à revelia do debate entre as bases do estado. Na sequência tivemos o posicionamento da Coordenação Nacional da UJC em favor do XVII Congresso Extraordinário, o que foi apontado por algumas regionais como, mais uma vez, uma atitude de dirigismo e falta de acúmulo com as bases (apesar de naquele momento um número superior de estados já ter se alinhado previamente às palavras de ordem da iniciativa PCR-RR). Dentre essas Regionais, a UJC Ceará, somando-se a UJC Góias, assinou recentemente uma nota política conjunta com outros órgãos do complexo no estado sob a justificativa de centralização em defesa do partido em um contexto em que toda a UJC não dispõem de tribuna de debate ou qualquer meio de comunicação e discussão fluída entre os organismos de base para fazer valer o segundo, mas não menos importante, termo do tão caro centralismo-democrático.

Como militante de base, acredito que expresso uma preocupação comum com minhas/meus camaradas: onde estão os mecanismos de democracia interna do PCB e seus coletivos partidários? Em que medida esses meios de democracia interna estão sendo aperfeiçoados de forma prática (destaco aqui a condenação das plenárias que ocorrem dentre nossa juventude de São Paulo e Minas Gerais, mas sem outra proposta que faça valer a gestão da polêmica de maneira efetivamente democrática)? E se isso não acontece, o que podemos dizer de nosso complexo que se afirma marxista-leninista, com o devido hífen (ou seria marxista e leninista)? Se tudo que fazemos é “centralizar” incessantemente os comandos de instâncias superiores sem uma via de mão dupla efetiva entre bases e direções no que tange a análise e ação, então seríamos cães adestrados e não comunistas?

Há um profundo sentimento de confusão e descontentamento que desemboca em desilusão entre nossas bases, e cabe a nossos/nossas dirigentes a competência em construir uma democracia de fato em nosso partido, sobretudo neste momento de crise. Caso não estejam à altura da tarefa, correm o risco de perder suas bases, isto é, o partido em si.