Brasília: Célula Dirce Machado em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB
O sectarismo leva apenas ao apequenamento e ao isolamento de qualquer organização. A ausência de diálogo e a exclusão não podem ser o caminho para a construção do poder popular, pois conduzem à formação de grupos isolados da realidade e servem apenas à preservação do pequeno poder do dirigente.
Pelo direito ao diálogo
Os abaixo-assinados militantes da célula Dirce Machado, do Partido Comunista Brasileiro no Distrito Federal (PCB/DF), manifestam por meio deste sua discordância das ações e métodos adotados por parte do Comitê Central do Partido.
Entendemos que o Partido Comunista deve ser a principal forma política da luta do proletariado por sua libertação. Esta só pode ser obtida por meio de sua participação efetiva nos rumos das suas instâncias organizativas. Para que o Partido Comunista seja realmente a vanguarda, o exército dirigente do proletariado, o centralismo democrático deve extrair a necessária unidade na ação a partir de um exaustivo e amplo debate interno. Sua organização deve ser uma verdadeira síntese, uma fusão da centralização e da democracia operária.Essa fusão só pode ser obtida pela atividade e luta comum permanente do conjunto do partido. São fundamentais, por um lado, tanto a participação e abundância de instâncias de ação e debate, quanto por outro, a capacidade adaptativa da liderança partidária aos desígnios de sua base.
Foi e é importante a luta pela reconstrução revolucionária do PCB após o ataque liquidacionista de 30 anos atrás. O reconhecimento a seus próceres, porém, não significa em absoluto qualquer tipo de idolatria ou de crença em sua infalibilidade. Tampouco avaliza sua permanência indeterminada na direção do Partido. Foi e é vital a incorporação da energia política dos jovens quadros ingressos nos últimos anos, que representaram visível salto nas esferas de agitação e propaganda. É papel de uma direção consciente promover o diálogo entre o acúmulo histórico do PCB e a capacidade interpretativa, organizativa e comunicativa de cada nova geração. Por meio da ação de sua juventude na internet, em palestras, cursos, publicações, atos, o PCB logrou um significativo salto de crescimento, atraindo novos e valorosos quadros que forçosamente devem promover uma mudança nas formas de atuação do PCB.
Parte dos dirigentes, incapazes de compreender este previsível e natural processo histórico, em nome de uma suposta “cultura partidária” que mal esconde seu apego ao protagonismo, acabam por incorrer no mais elementar conservadorismo, que trava as iniciativas da base, impede o debate interno e, ao fim e ao cabo, estiola capacidade de resposta à conjuntura – essencial ao tempo da política. Tais vícios de nosso Comitê Central infelizmente têm encontrado reflexos nas ações do Comitê Regional do Distrito Federal. Em defesa dessa suposta “tradição”, por exemplo, tivemos todo o debate pré-eleitoral de 2022 interditado, ao que se seguiu uma escolha intempestiva e unilateral de candidatos. O resultado foi uma campanha carente de apoio político entre nossos próprios camaradas. Onde impera o arbítrio e o conservadorismo, reinam também muitos dos elementos do sectarismo: a ausência de prestação de contas das lideranças, detentoras do monopólio da verdade, a atribuição de excesso de tarefas aos militantes, o isolamento em relação a outros grupos políticos e à população em geral. A demonização de egressos é outro sintoma típico de grupos sectários.
No último mês, uma parte do Comitê Central do PCB operou uma série de expurgos arbitrários, excluindo de suas fileiras quadros importantes simplesmente por haverem levado a público seu protesto. Fica claro que, se abriram a divergência externamente, foi porque toda tentativa de diálogo interno havia sido anteriormente solapada, num procedimento imobilizante, replicado a troco de nada em várias instâncias do Partido. Em nosso entendimento daquilo que foi apresentado, houve certamente faltas cometidas pelos camaradas expulsos, mas certamente nenhuma nem seu conjunto justificava sua expulsão como sanção.São militantes que dedicam e dedicaram suas vidas à atuação política e todos só temos a perder com sua exclusão de nossas fileiras.
A sanha punitiva do grupo dirigente que operou os expurgos é tal que vem estimulando ações ainda mais arbitrárias nas esferas regionais: diversas exclusões sumárias vêm sendo denunciadas em redes sociais, sem qualquer processo disciplinar ou justificativa plausível. As mútuas acusações de “reformismo” que se seguiram acabam oferecendo um lamentável espetáculo fratricida eivado de evidentes calúnias de parte a parte, numa viciada disputa pelo monopólio do doutrinarismo esquerdista. Espetáculo que apenas enfraquece a todos nós como Partido.
É impossível a um militante comunista, que visa à emancipação a classe trabalhadora, coadunar com a interdição do diálogo como método e com o expurgo como solução de divergências sustentadas por tal proceder. Não houve período de expurgos na história de nosso movimento que não tenha sido depois lamentado em seu conjunto. O sectarismo leva apenas ao apequenamento e ao isolamento de qualquer organização. A ausência de diálogo e a exclusão não podem ser o caminho para a construção do poder popular, pois conduzem à formação de grupos isolados da realidade e servem apenas à preservação do pequeno poder do dirigente. Conviver com a diferença é essencial ao amadurecimento e ao crescimento de toda organização política. É necessário ao Partido, sempre, saber compreender as múltiplas visões da própria classe trabalhadora.
Estamos seguros de que aqueles verdadeiros militantes que se reúnem hoje em torno ao Partido Comunista Brasileiro – em uma luta sabidamente desgastante– não o fazem por escolher o caminho fácil e oportunista da conciliação a todo custo ou da mera luta por cargos institucionais ou recompensas financeiras. Para isso haveria organizações mais aparelhadas e enfronhadas nas engrenagens do poder.
Não há divergência conceitual ou organizativa que justifique a expulsão sumária de qualquer dirigente eleito democraticamente, pois somente o Congresso partidário pode destituir o que instituiu. Trata-se de uma tática evidentemente autodestrutiva que levará seus adeptos a uma inexpressividade política incompatível com os objetivos e a missão histórica de todo Partido Comunista. Nosso partido não pode e não deve ser destruído. Ao contrário, seu crescimento deve corresponder à elevação de consciência de nossa classe trabalhadora diante das condições materiais de crise do capitalismo.
Nesse cenário, apoiamos aqueles militantes comunistas que clamam pelo direito ao diálogo e à discordância, independentemente de diferenças doutrinárias que com eles certamente temos e teremos. Estamos seguros de que é nosso dever político condenar veementemente os arbítrios cometidos por nosso Comitê Central e sua política que serve apenas a sua manutenção no poder. Cumpre solidarizar com o grupo injustamente expulso, somando esforços pela continuidade da reconstrução revolucionária do Partido Comunista Brasileiro de que nossa classe trabalhadora necessita e pelo qual cada vez mais anseia. Manifestamonos em defesa do diálogo, da democracia partidária, e da convocação do XVII Congresso do Partido Comunista Brasileiro com Tribuna de Debates aberta a toda a militância.
“Enquanto existir miséria e opressão, ser comunista é nossa decisão”.
Brasília, 18 de agosto de 2023.
Subscrevem
• Antônio Barreto
• Danilo Matoso
• Diego Lima
• Felipe Ribeiro
• Filipe dos Santos
• Gabriel L.
• Gabriel Xavier
• José Vieira
• Joao Stemeler
• Michele Dutra
• Mateus Cavalcante
• Borges
• Inaldo Eleuterio
• Pedro Dinis
• Apo Corã
• Raul Floriano
• José Eduardo