'Camaradagem; o vínculo de proximidade político que se forja' (V. Castilhos)

A palavra camarada tem o seu elemento político intrínseco. Desta forma, o relacionamento entre camaradas não é mediado por sangue ou casamento, também não é mediada por herança, ou laços de coleguismo, ou ao invés de passar como uma propriedade e/ou privilégio.

'Camaradagem; o vínculo de  proximidade político que se forja' (V. Castilhos)
"Atitude humanista e respeito mútuo entre as pessoas. Um homem é amigo, camarada e irmão de um homem", tradução do que está escrito na imagem.

Por V. Castilhos para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

“Na agitação aborrecida provocada pela provação e pelo sofrimento, na luta febril da miséria, no lodo vil do egoísmo, nos subsolos das casas onde vegetava pobreza, criadora de riquezas, sonhadores solitários cheios de fé no indivíduo, estranhos a todos, profetas das sedições, moviam-se como faíscas emitidas de alguma longínqua lareira de justiça. [...] E esses seres taciturnos, esses oprimidos, ouviam sem muita crença a música das novas palavras – a música pela qual seus corações há muito aguardavam. Pouco a pouco, eles ergueram a cabeça e rasgaram as malhas da teia de mentiras com a qual seus opressores os envolveram. Em sua existência, feita de raiva silenciosa e contida, em seus corações envenenados por inumeráveis injustiças, em suas consciências sobrecarregadas pelos enganos da sabedoria dos fortes, nesta vida escura e laboriosa, todos penetrados pela amargura da humilhação, tiveram ressoando uma palavra simples: Camarada!”

O trecho acima faz parte do conto de título Camarada, escrito por Maksim Górki. Nesta tribuna, busca-se dar início a um tema pouco debatido e, até mesmo, elaborado na militância. Ela também se vincula com duas tribunas já lançadas, e que recomendo fortemente a leitura. A primeira, escrita pelo camarada Thandryus Augusto, intitulada: Sobre fofocas e camaradagem… uma carta a quem optou por ficar. E a outra: Contra a fofoca em nossas fileiras, escrita por Iuri Ota.

Mas para que possamos iniciar as exposições desta tribuna, é preciso esmiuçar o que é a Camaradagem. Se partimos do pressuposto que ser um camarada é uma relação social entre indivíduos que possuem a mesma ideologia, estamos sendo muito ingênuos. Não que se trate de algo negativo, mas uma questão a ser superada urgentemente, pois, vícios, problemas e coleguismo poderão ser gerados a partir dessa definição, ou até mesmo, podemos estar praticando uma relação de aliades, em vez de camaradas. Para um breve contexto sobre o que é ser aliades, que em vez de construir organizações que possuem condições de travar a revolução, es aliades tendem a unir-se para si mesmos, defendendo suas identidades e fazendo falas sobre como defender e pregar a ação individual localizada. O contraste em relação à camaradagem é que os revolucionários lutam de forma coletiva, socialistas e comunistas ao cultivarem a solidariedade e camaradagem (DEAN, 2021).

Nesta tribuna adianto que será usado muito Jodi Dean, professora universitária estadounidense, que hoje é quem mais traz contribuições para o embasamento científico e luz para um melhor entendimento, no século XXI, sobre esta relação que se forja dentro de um partido comunista (mas não somente dentro dele, mas também para formação de uma nova sociedade).

Para Dean, o termo camarada é algo genérico, pois ele não se refere a raças ou gêneros específicos, mas sim a aqueles que compartilham uma política, ou seja, aqueles que se encontram do mesmo lado e que se pode contar. De primeira, podemos entender que esse tratamento, entre nós “camaradas” substitui as designações de gênero e hierárquicas (Sr, Sra e etc) se torna uma designação igualitária; como camaradas, somos todos iguais.

Com isso, dentro da camaradagem, temos o que a autora expõe como duas tendências (DEAN 2017), que caracterizam a influência no ativismo de esquerda contemporâneo. Sendo a primeira que habita as mídias sociais, universidades, e algumas redes de ativistas, se vocalizando através de intenso apego à identidade e de apelos à interseccionalidade. Já a segunda predomina em meios mais estéticos e conceituais, assim, Dean explica:

De um lado, nós temos sobreviventes, aqueles que não tem nada mais para lhes dar suporte a não ser suas identidades, geralmente identidades forjadas através de lutas pela sobrevivência e apegadas à dor e ao trauma destas lutas. Do outro lado, nós temos sistemas, processos operando em escala tão vasta, tão complexa, que podemos apenas escassamente imaginá-los, que dirá alterá-los. Estas duas tendências correspondem ao desmantelamento das instituições sociais realizado pelo capitalismo neoliberal, à intensificação do capitalismo via mídias digitais personalizadas em rede e informatização, o que eu chamo de “capitalismo comunicativo”.

Desta forma, ao trazer o termo “sobreviventes”, Dean explica que os indivíduos vivem a insegurança e instabilidade em todos os aspectos sociais. Mas com o neoliberalismo, são forçados a individualizar a sua “auto-cultivação”, assim, os sobreviventes lutam para viver nas condições insuportáveis que o capitalismo atual nos coloca,fazendo-nos sentir responsabilizados pelos nossos erros. Os sobreviventes também vivem no que Mark Fisher vai tratar em seu texto: Deixando o Castelo do Vampiro, onde elenca cinco “leis” dentro deste Castelo, caracterizado como sendo o capitalismo comunicativo neoliberal intensificado pela internet. Na terceira lei, ele expressa que a pessoa deve propagar o máximo de culpa possível, pois quanto mais culpar ou se culpabilizar, melhor.

Ao acrescentar essa questão, podemos adicionar também para entendermos fatos que podem influenciar a relação de camaradagem. No texto: “Desamparo e sociedade capitalista: o que a psicologia tem a dizer?”, de Lígia Márcia Martins, é apresentado um recorte analítico, tomando alguns eixos centrais de Marx, para versar sobre os malefícios da sociedade capitalista. Na forma de resumimos os trechos trazidos por Martins, Marx desvelou a face do trabalho, fundante da mercadoria cujo fim não é outro, senão, a criação da mais valia e, por meio dela, a produção e reprodução do capital. Em dos pontos, é que o trabalho do indivíduo e seu resultado, ao tornam-se independentes, provocam uma ruptura entre motivos e finalidades do ato produtivo, que resulta em uma das formas para a alienação do trabalho. Rompendo a articulação necessária entre o trabalho e seu resultado na medida em que as necessidades às quais corresponde não são as do indivíduo que produz, da mesma forma que o salário que recebe pelo seu trabalho, meio social pelo qual atende suas necessidades, não corresponde ao trabalho realizado. (MARTINS, 2020).

Sendo assim, as forças que regem a relação entre o trabalho e seus resultados se tornam alheias ao produtor, subordinando-se a uma ordem de fatos centralizada no valor econômico, em relações monetárias em detrimento das relações humanas. Com isso, sob tais condições, os indivíduos não são sujeitos de si e, perdendo seu poder de determinação e autodeterminação, resta-lhe administrar subjetivamente o desamparo objetivamente criado. (MARTINS, 2020).

Ao conectarmos essas questões, que ainda temos que finalizar a questão dos "sobreviventes" trazidas por Dean, e por toda essa “responsabilidade social” que é nos imposta, com a competição acirrada, nos fazendo viver nessa condição insuportável de autossuficiência. É comum vermos cada vez mais, todas as idades da classe trabalhadora, até mesmo, os jovens de 14 anos, terem das mais variadas doenças e vícios, somado a problemas de inseguranças socioeconómicas e familiares. Com essas condições adversas, parece que as condições de um espaço comum, em favor de um futuro melhor, dá a sensação de que qualquer política se torna uma luta ininteligível.

Para iniciar, a primeira ferramenta que contrapõe esse alento, é como uma das primeiras teses, no seu texto: Quatro teses sobre o camarada. Dean vai dizer que: “Camarada” denota uma relação caracterizada pela semelhança, igualdade e solidariedade, cortando através das determinações da sociedade capitalista. E também, Fischer no mesmo texto citado acima, sobre o Castro do Vampiro, cita que um dos a objetivo da nossa luta é a estruturação da classe trabalhadora, para o enfrentamento contra o capital e a burguesia, e aprender como construir essas relações de camaradagem, em vez de fazer o trabalho próprio do capital, que é individualização e praticando atitudes pequenos burguesas, como a fofoca.

Ao longo da história as relações políticas sempre se basearam em explicar as virtudes e atributos de certas figuras políticas, até mesmo no nosso campo. Porém, para qualquer período da história, desde que o socialismo científico foi elaborado por Engels e Marx, não existe qualquer explicação profunda sobre o que é camaradagem. Os primeiros a darem abertura a esse conceito social dentro dos comunistas foram Gorki e Kollontai, contudo, com uma visão ainda muito utópica dessa relação. Dando uma ligação a visão de uma luta num futuro onde todos serão camaradas, ou seja, todos serão iguais.

Em outro exemplo, é um periódico estadunidense trazido no texto por Dean: The Comrade, onde trazia vários textos, políticos à românticos, e um deles, é o “amor masculino entre camaradas” de Walt Whitman. Esse conto traz que as relações de camaradagem são relações de um novo tipo, que desmancham as restrições heteropatriarcais. Como amostra desse desmanche das relações patriarcais, o termo camarada, atualmente na China, significa “Tongzhi” que também significa gay. (DEAN 2021). Isso é exposto por Hongwai Bao, que o “Tongzhi” ele “abre” as relações de um novo mundo social, dando conexões entre desconhecidos que compartilham a mesma visões e políticas, transformando aspecto privado burguês, em intimidade pública.

Assim, reforçamos que ser um camarada é a figura genérica e igualitária, que corta esse aspecto social capitalista. Dean também expõem parte do livro de Fanon, condenados da terras que diz:

“Venham, camaradas, o jogo europeu está finalmente acabado, nós devemos procurar por outra coisa”; e na última linha do livro, “Pela Europa, por nós mesmos, e pela humanidade, camaradas, nós devemos fazer um novo começo, desenvolver um novo jeito de pensar, e empreitarmos em criar um novo homem”. [23].

Mas é preciso concordar ainda que, por mais tenha sido citado as questões acima, precisamos entender a epistemologia da camaradagem. E com o todo desalento social que o capitalismo nos trás, a super individualização de nossas mentes e corpos, recobrar esses sensos citados, parece ser inalcançável. Assim, temos a tese Dois de Dean: Qualquer um, mas nem todo mundo, pode ser um camarada. Qualquer um mas nem todo mundo possa ser um camarada denota uma relação que ao mesmo tempo é uma divisão. A inclusão e a exclusão são premissas da camaradagem – qualquer um, mas nem todo mundo pode ser um camarada. Não é uma relação infinitamente aberta ou flexível, mas uma relação baseada na divisão e na luta. Camaradas são aqueles do mesmo lado da divisão, no que diz respeito a essa divisão, é ao dizer “camarada” é anunciar um pertencimento, e uma semelhança que surge ao estar do mesmo lado. Não quer dizer que devemos sempre concordar um com os outros, e ter uma “centralismo-teórico”, pelo contrário, as mudanças sempre foram movidas pelas diferenças e pelo confronto entre as diversidades. Então devemos criar condições internas em que as divergências consigam acontecer sem o medo de expulsão ou conversas de pé de ouvido.

Portanto, a relação entre camaradas não é uma relação de parentesco, não é a mesma relação que aquela entre irmãos, irmãs, genitores e crianças, cônjuges, primos ou amigues. A palavra camarada tem o seu elemento político intrínseco. Desta forma, o relacionamento entre camaradas não é mediado por sangue ou casamento, também não é mediada por herança, ou laços de coleguismo, ou ao invés de passar como uma propriedade e/ou privilégio. Camaradagem se coloca contra isso, desfazendo-se dessas hierarquias, com a insistência igualitária daqueles que lutam do mesmo lado (DEAN, 2017). Além do mais, Camaradagem não designa uma relação especial ou uma obrigação que brota da proximidade ou da sociabilidade compartilhada, o camarada excede até mesmo o Estado, ou seja, não somos cidadãos, mediada nessa forma de Estado-Nação burguês, pois, os comunistas querem o fim do Estado.

Em outro exemplo, Dean traz outro exemplo, ao citar o livro de Claudio Lomnitz, que é: O Retorno do Camarada Ricardo Flores Magón. Neste livro, Lomnitz descreve a vida do Partido Liberal Mexicano, em meio a Revolução Mexicana. Que vai contar a vida de emigrantes e exilados mexicanos, que estão vivendo nos EUA. Neste tempo, eles misturavam o trabalho político e o trabalho para sobreviver sob condições capitalistas, dedicando tudo à sua causa. Mas, em certo momento, alguns camaradas se abriram para o oportunismo daqueles menos comprometidos, e começaram a priorizar fazer seus próprios objetivos dentro dos EUA. Levando ao comprometimento da política do partido Um certo ponto, alguns camaradas ainda firmes na luta e nos ideais, levam suspeitas de infiltramentos. Certo ponto, Lomnitz escreve:

“E se pensavam que um camarada estava sendo oportunista e tinha ambições pessoais, aquela pessoa poderia estar disposta a se entregar ou talvez até mesmo entregar seus camaradas. Por essa razão, a linha entre desgostos pessoais e suspeitas de traição poderiam se tornar tênues, e era necessário um esforço para manter essa distinção”.

Neste exemplo, podemos ver que os camaradas podem se tornarem amigues, mas amizade e camaradagem não são a mesma coisa. Isso porque as amizades podem desgastar, devido a várias maneiras. E se a camaradagem for levada como uma amizade, logo, a antipatia pessoal surge. As associações íntimas, as relações de camaradagem se esfumaçam, e a amizade se sobrepõem. Manter a diferença e a distância entre as duas demanda esforço, um importante trabalho. Demanda aquilo que é essencial, que é uma subjetividade revolucionária, pois segundo Carl Ratner, se a subjetividade é o que nos torna sujeitos e não objetos. Então, devemos empregar esse esforço e ter a vontade e estar sempre abertos, a aprender e a construir essa nova relação social, a camaradagem. Pois a camaradagem estica a contar das relações íntimas e se alonga até relações com aqueles que não conhecemos pessoalmente de forma alguma. Qualquer pessoa pode ser uma camarada, goste dela ou não, seja ela como eu ou não.

A distinção então, entre o camarada e o amigo, não tem nada a ver com a pessoa ou a personalidade em sua especificidade; ela é genérica. A camaradagem está abstraída das especificidades das vidas individuais, das peculiaridades da experiência vivida. Ao invés disso, trata-se da semelhança que surge ao estar do mesmo lado numa luta política. Nesse sentido, o camarada está liberto das determinações de especificidade, liberto pelo horizonte político comum. Assim, a camaradagem não é pessoal. É política! Assim, se pretendemos ter uma luta ideológica ativa e com uma totalidade coesa, ou seja, se somos comunistas e lutamos por uma revolução e pela superação do capitalismo, devemos ser contra aquilo que Hoxha disse em: “Sobre o caráter ideológico do Mexericos”. onde parafraseamos:

Os mexericos são um fenômeno típico da pequena-burguesia. Têm um caráter pequeno-burguês e são manifestações da ideologia burguesa. Os mexericos mal intencionados são produto do subjetivismo e não têm nada de comum com uma crítica sã, realista e construtiva. Bem pelo contrário, têm um caráter denegrir, frequentemente calunioso, tanto com intenção como sem ela. Na maior parte das vezes, são mexericos sem fundamento e, quando, raramente, se trata de um assunto que tenha qualquer fato concreto por base, transforma-se em ato denegrir por efeito da própria forma sob a qual se desenvolve e do juízo subjetivo daquele que interpreta o assunto.

Fazendo também, citarmos outro ponto, do Mao sobre o contraliberalismo:

Em privado entregamo-nos a críticas irresponsáveis, em vez de fazermos activamente sugestões à organização. Nada dizemos de frente às pessoas, mas falamos muito pelas costas; calamo-nos nas reuniões, e falamos a torto e a direito fora delas. Desprezamos os princípios de vida colectiva e deixamo-nos levar pelas inclinações pessoais. É uma segunda forma de liberalismo ( Tse Tung, Mao, 1937).

Desta forma, citaremos a quarta tese de Dean. Aqui nos traz que a relação entre camaradas é mediada pela fidelidade a uma verdade. Um contexto é quando Marx, ao citar sobre a comuna de Paris, em sua carta para Kugelmann (Carta a Ludwig Kugelmann, 11 jul. 1868), chama os comunardos de camaradas, mesmo que não seja do mesmo partido, mas são no sentido histórico amplo, desta forma também, em 1866, para AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores), que a associação deve fazer que os trabalhadores de diferentes países não se sintam, mais ajam como camaradas. Ou seja, que camaradas lutam em determinadas práticas e performam fidelidade e materializam a verdade no mundo. Ao trazer contribuições de Alain Badiou, sobre a verdade e exercício da fidelidade, serem formas ou processos de explicarem as ações dentro da camaradagem, e de Peter Hallward, de que a concepções de verdade é subjetiva, mas, apenas são fiéis a uma verdade eventual. É no quarto ponto que a fidelidade não é cega, é na realidade, um engajamento rigoso e despreocupado com a personalidade individual, ou seja, a camaradagem exige esta ação individual de cada.

Ao aplicarmos isto na camaradagem, é uma ruptura de velhas formas de vínculos e um novo relacionamento que emerge da força dos muitos, em lugares aos quais agora, como classe, que eles pertencem. Isto é, camaradas demonstram fidelidade através do trabalho político, através de sua ação radical e engajamento político. Este trabalho político prático estende a verdade da luta emancipatória igualitária dos oprimidos mundo adentro, mantendo aberto o “vão”. Construindo um novo corpo de verdade e ao pormos no prisma da tradição socialista e comunista, este corpo tem sido o partido.

É então a militância dentro do partido, o espaço necessário para isso, e o Partido esse, que leva um corpo organizado, mergulhado na verdade que media as nossas relações internas e vice e versa. Dentro do partido então, a identidade de gênero, raça e/ou, hierarquia não mediam relações entre nós. Muito além disso, devemos praticar a fidelidade, com o trabalho pela construção da revolução, isso sim nos dará sentido prático a Camaradagem. E além disso, ser camarada, é uma relação disciplinante: expectativas, e a responsabilidade de cumpri-las, constringem a ação individual e geram capacidade coletiva. Consequentemente, os camaradas devem aprender a deixar de lado os interesses próprios e certos desejos de conforto pessoal ou promoção. O deve ser cultivado é a subordinação do interesse pessoal em prol da produção de uma nova relação social, tão suficiente para suportar os longos anos de luta revolucionária.

Lênin dizia, a necessidade de disciplina no partido revolucionário, que é a disciplina rigorosa, disciplina proletária, disciplina de ferro, disciplina socialista, disciplina de camaradagem. Que por meio da disciplina de camaradagem, teremos a disciplina partidária para a unidade em ação, com centralismo-democrático e crítica aberta. A disciplina proletária, ou melhor dizendo, para a nova organização do trabalho sob o socialismo, a organização voluntária dos trabalhadores com consciência de classe, onde uns aos outros, nós auxiliamos para sermos mais fortes. Nosso compromisso de trabalhar juntos em direção ao nosso objetivo comum funciona de volta para nós, nos permitindo superar e talvez até abolir os atributos individualistas produzidos pelo capitalismo (Dean, 2021).

Podemos cometer erros, aprender e mudar, mas para isso é necessário a humildade, a vontade de aprender antes de ensinar, ou “achar”. Reconhecermos nossas próprias debilidades e erros, para que possamos entender a necessidade de ser generosos e compreensivos com as deficiências e erros dos outros. Mas conjuntamente, desenvolvemos uma melhora nos erros, pela luta coletiva, e uma apreciação por pontos fortes e talentosos de cada camarada. Nos tornamos um novo tipo de coletividade. A coletividade substitui o isolamento, o egoísmo e a autoafirmação. Ou melhor dizendo, torna as pessoas capazes de liberdade.


Fontes:

Maksim Górki – Camarada: https://traduagindo.com/2021/09/28/maksim-gorki-camarada/

Quatro teses sobre o camarada, Jodi Dean, Novembro de 2017: https://traduagindo.com/2021/05/24/quatro-teses-sobre-o-camarada/

Desamparo e sociedade capitalista: o que a psicologia tem a dizer? Lígia Márcia Martins, 2021: https://traduagindo.com/2020/12/25/desamparo-e-sociedade-capitalista

Sobre o Caráter Ideológico dos Mexericos, Enver Hoxha, 12 de Setembro de 1969: https://www.marxists.org/portugues/hoxha/1969/09/12.htm

Contra o Liberalismo, Mao Tsetung, 7 de Setembro de 1937:
https://www.marxists.org/portugues/mao/1937/09/07.htm

De aliados a camaradas,Jodi Dean, 2021:
https://traduagindo.com/2021/05/02/de-aliados-a-camaradas/

Camaradas: não nascem, se tornam!, Jane Cutter, 2020:
https://traduagindo.com/2020/04/28/camaradas-nao-nascem-se-tornam/

Deixando o castelo do vampiro, MARK FISHER, 2023: https://jacobin.com.br/2023/09/deixando-o-castelo-do-vampiro/

Subjetivismo e Subjetividade, Carl Ratner, 2020: https://traduagindo.com/2020/06/02/subjetivismo-e-subjetividade-por-carl-ratner/