Burkina Faso prorroga eleições em meio às tensões no Sahel
Desde 2022, o governo de transição atua tanto na reorganização da produção interna quanto nos acordos e aproximações diplomáticas, com o objetivo de garantir os meios para prosseguir no combate ao fundamentalismo.
Por Redação
No dia 24 de maio de 2024, o capitão Ibrahim Traoré, em Conferência Nacional organizada pelo governo burkinabé na capital Ouagadougou, assinou a modificação da Carta de Transição. No novo documento a transição do governo foi prorrogada por 60 meses (5 anos), além de tornar elegíveis para as eleições futuras o presidente, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia Legislativa de Transição. A medida foi tomada em meio a grave crise de segurança causada pela presença de grupos fundamentalistas na África Ocidental.
Atualmente Burkina Faso conta com mais de 2 milhões de pessoas em deslocamento em seu território nacional, além de mais de 67 mil pessoas que buscam asilo em países vizinhos. Esse cenário é resultado dos conflitos entre os grupos fundamentalistas, em especial o autointitulado Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS) e o Jama’at Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM) ou Grupo de Apoio ao Islam e aos Muçulmanos, e as forças nacionais dos países da África Ocidental, em especial Níger, Mali e Burkina Faso, além de forças do continente envolvidas em missões da Organização das Nações Unidas (ONU) e do exército francês que, até os golpes em curso nos últimos anos, mantinha efetivos e realizava missões militares em solo africano num estado de tutela neocolonial.
A junta militar no poder em Burkina Faso, organizada no Movimento Patriótico de Salvaguarda e Restauração (MPSR), travou uma acirrada disputa política no país desde o golpe de estado ocorrido em setembro de 2022, que destituiu Paul Henri Damiba, então presidente do MPSR. A chegada de Traoré ao poder foi fortalecida ao longo dos meses pelo amplo apoio popular à sua figura frente ao avanço dos grupos fundamentalistas no Sahel e o aumento no número de deslocados internos no país. Capitão do exército desde 2020, o atual presidente da junta atuou numa unidade antiterrorista, onde esteve na vanguarda das problemáticas que envolvem a segurança nacional de Burkina Faso e dos países vizinhos.
Considerando a urgência criada pela crise humanitária, setores da sociedade, sindicatos e militares ponderaram na Conferência Nacional sobre a transição e as conquistas alcançadas no último período, bem como as deficiências do processo, especialmente quanto à corrupção sistêmica dos órgãos do governo burkinabé. A constatação das dificuldades relacionadas ao conflito armado em curso, que afeta diretamente as populações mais pobres das zonas rurais ao norte, levaram grupos e movimentos sociais a defenderem que a transição fosse prorrogada por até 10 anos.
Traoré e a junta militar encontram a oposição de setores da burguesia ligados ao capital francês e daqueles que lucram com o cenário de instabilidade provocado pelos conflitos regionais. Os diversos grupos e setores da classe trabalhadora burkinabé que apoiam Traoré, alegam a impossibilidade de organizar eleições de forma ampla e democrática enquanto os grupos fundamentalistas não forem derrotados.