'Balanços e perspectivas sobre os conchavos entre a prefeitura de Belém e o governo do estado do Pará: a quem interessa os acordões?' (Mattheus Leal)

Os comunistas precisam derrubar e combater a farsa que é a realização da COP 30 em Belém, que promete oferecer soluções para os problemas ambientais da região, mas que faz lobby com o capital estrangeiro concomitante a essa farsa.

'Balanços e perspectivas sobre os conchavos entre a prefeitura de Belém e o governo do estado do Pará: a quem interessa os acordões?' (Mattheus Leal)
"O partido comunista brasileiro deve ter opinião consensual de oposição ao governo Barbalho no estado do Pará. Os comunistas no norte do Brasil precisam se organizar e produzir acúmulos que denunciem e explicitem os crimes cometidos no interior do estado, em complacência com o governo do estado e federal."

Por Mattheus Leal para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Saudações, camaradas. Inicio este texto contextualizando o momento em que me despertou o interesse em redigir esta tribuna. Nos dias 24 e 25 de novembro de 2023, o camarada Ivan Pinheiro esteve em Belém para a realização da 4ª etapa do ciclo de palestras do extremo norte realizado pelo PCB-RR Pará, que nas etapas passadas contou com a participação dos camaradas Gustavo Gaiofato, Gabriel Landi e Jones Manoel respectivamente. Em meio a sua passagem a Belém, Ivan realizou uma atividade de formação interna com os militantes do partido. Durante as discussões, alguns camaradas levantaram um questionamento onde foi apontada a necessidade de construir acúmulos teóricos e práticos a respeito da atual conjuntura política belenense e paraense. Assim , espero que este texto sirva como uma fagulha que possa inspirar outros camaradas a produzirem textos visando formular a questão amazônica sob uma perspectiva comunista.

A PREFEITURA DE BELÉM E O ESPECTRO DE EDMILSON RODRIGUES

Para iniciar essa discussão, penso que é inevitável citar a atual gestão de Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém. Para contextualizar, Edmilson Rodrigues (PSOL) foi eleito para o mandato de 2021 a 2024 contra o candidato de Bolsonaro, Everaldo Eguchi (PATRIOTA) - ex-delegado da Polícia Federal , afastado do cargo em julho de 2022  - novato na política paraense, mas mesmo assim arrastou a disputa até o segundo turno, onde acabou sendo derrotado. Essa ameaça se deu junto da “onda bolsonarista”, que já demonstrava sinais de declínio nas eleições municipais de 2020.. Edmilson até começou bem seu mandato, tendo 21% das promessas cumpridas em apenas um ano de governo, segundo o jornal “Ponto de Pauta” [Link Nº 6], porém, parece que o feito o deixou satisfeito e Edmilson Rodrigues “empacou”.

Durante sua campanha, Edmilson fez 24 promessas no total. Sob uma breve análise, é possível identificar várias omissões sobre questões que remetem especificamente à população mais pobre de Belém e que vive nas periferias. Dessas 24 propostas, duas delas foram direcionadas a políticas administrativas. A primeira consistia em equipar pelo menos 20% da frota de ônibus com ar-condicionados nos primeiros 3 anos, o que não aconteceu. Na verdade, para lidar com as questões do transporte público, Edmilson se aliou ao governo do estado que efetuou a compra de 300 ônibus climatizados e que até agora não dão nenhum sinal de quando começarão a circular. A outra proposta remetia à criação de subprefeituras, para receber pedidos e reclamações da população, assim como solucionar problemas apontados. Esse modelo de gestão não é novidade no Brasil, tendo sido implementado em vários outros estados como Rio de Janeiro e São Paulo, porém, a proposta continua somente no papel até então, se demonstrando somente mais uma artimanha eleitoreira do psolista.

Quanto às propostas que estão no âmbito dos direitos humanos e sociais, Edmilson Rodrigues falhou em propor qualquer política voltada para a população LGBT de Belém, ignorando completamente esse grupo no seu projeto de governo. Além da omissão completa de políticas LGBT, Edmilson também propôs um “ÚNICO” plano de combate ao racismo em Belém que foi a criação do “Conselho dos Negros” para garantir atendimento em advocacia para vítimas de racismo e oferecer serviços de educação permanente. A postura omissa de Edmilson relacionada a esses grupos sociais demonstra o descaso do candidato em lidar com problemáticas vigentes e reais do cotidiano do belenense. Dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup/PA) apontam que os crimes mais reportados contra a população LGBTQIA+ são: ameaça, difamação, estupro, injúria, lesão corporal, homicídio, entre outros.

Entre os meses de janeiro e maio de 2021, apontam os dados da Segup, houve um total de 47 casos de homofobia em Belém, dentre estes quatro homicídios. Um número alto comparado ao ano anterior, em que foram registrados 71 casos de homofobia durante os 12 meses. Porém, houve nove homicídios em 2020.

Deve-se ainda considerar a subnotificação de crimes do gênero, visto que nem todos são devidamente denunciados, o que pode tornar os números ainda maiores.

Quanto a omissão de Edmilson no combate ao racismo, é evidente que a criação do “Conselho de Negros” é uma clara tentativa de apaziguar a situação das vítimas e propor atendimento para aqueles que sofrem crimes relacionados ao racismo, porém, não há nenhuma política voltada para o combate a esse tipo de crime, nenhum incentivo que remeta a discussão, organização e criação de outras políticas que sejam mais firmes, combativas e mais reais no tocante ao combate contra o racismo. Em 2021 o Pará foi o estado a registrar o maior número de casos de injúria racial no Brasil inteiro, o que evidencia a necessidade de políticas locais para combater esse crime que é real e faz parte do cotidiano belenense, que foi relativizado completamente por Edmilson durante todo seu mandato.

Sobre habitação, o candidato psolista fez somente uma promessa durante toda a sua campanha, que foi propor a criação de moradias em prédios abandonados no centro comercial de Belém. A ideia era reformar e transformar prédios do centro histórico sem uso em moradia ou para uso comercial. Veja bem, de todas as propostas que constam no plano de governo, essa é a que me parece mais eleitoreira que qualquer outra. Primeiramente, os prédios abandonados no centro comercial de Belém não estão ali a esmo, esses imóveis pertencem em sua maioria ao capital privado, instituições religiosas ou a herdeiros e estes não têm nenhum interesse em abrir mão de seus bens para promover moradia para a população de rua. Em contrapartida, com o anúncio de Belém como cidade-sede da COP 30 em 2025, o governo federal ofereceu dois prédios abandonados ao capital privado para serem reformados e servir  de estadia para os visitantes de Belém durante a conferência em 2025. Assim, se evidencia um claro desinteresse em lidar com a questão de moradores de rua, tanto por parte do governo municipal, quanto do federal, que poderiam ter promovido políticas de habitação voltada para esses imóveis bem antes de qualquer anúncio de COP, porém, lidar com problemas de habitação não parece ser uma preocupação de Edmilson Rodrigues e sim agradar ao capital estrangeiro (um claro aceno à direita).

Tanto nas políticas de cunho administrativo, tanto nas de âmbito social e na área habitacional, a gestão do prefeito fica aquém de suas promessas, de sua linha política e de seu histórico como gestor. Sim, o neoliberalismo de Lula irá suprimir investimentos em políticas públicas a partir de 2024, o que não inviabiliza a demagogia de Edmilson desde 2021 com as pessoas que o elegeram.

A QUESTÃO DO ATERRO DE MARITUBA

O problema da coleta de lixo também foi um grande nêmesis que tem acompanhado o candidato psolista desde o começo do seu mandato, estabelecendo até mesmo uma crise que se deu devido à ineficácia do governo municipal em lidar com essa questão. Para entender a crise do lixo em Belém, vamos voltar alguns anos no tempo. O aterro de Marituba recebe aproximadamente 480 mil toneladas de resíduos por ano. São cerca de 40 mil por mês, algo em torno de 1.300 por dia. Belém corresponde a quase 75% dos resíduos, Ananindeua com cerca de 20% e Marituba com aproximadamente 5%. Há também uma pequena quantidade de clientes privados.

A CPTR, conhecida como aterro de Marituba, começou a operar em 25 de junho de 2015. As atividades na área de 100 hectares começaram, por exemplo, sem o funcionamento do centro de triagem para separação de material reciclável do orgânico.

Segundo a Guamá Resíduos Sólidos, que é a empresa que administra o local, "a separação de orgânico do reciclável deve sempre ocorrer na coleta seletiva municipal, na origem da geração de resíduos, com a coleta pública ou com cooperativas”. A empresa afirmou que tem "uma central de triagem, com esteira mecanizada e baias de armazenamento de recicláveis, as quais são cedidas para a prefeitura de Marituba".

O aterro sanitário foi instalado em 2015 para que o lixão do Aurá fosse fechado, em Ananindeua. O local recebia todo o lixo da região metropolitana sem qualquer tratamento, poluindo diretamente mananciais, o ar, além de gerar problemas econômicos e de saúde à população do entorno. O aterro sanitário já teria encerrado o recebimento de lixo se não fosse um acordo judicial que prorrogou o funcionamento até 31 de agosto de 2023. Essa indecisão na hora de destinar para onde iria o lixo fez com que a região metropolitana de Belém tivesse suas ruas tomadas pelo lixo. Enxergar grandes pilhas de lixo sem coleta virou situação corriqueira para o cotidiano belenense. A responsabilidade de tratar o lixo fica pulando de mãos em mãos, passando pelas mãos de Edmilson que é o prefeito de Belém, de Daniel, prefeito de Ananindeua e lacaio de Helder Barbalho e de Patrícia, prefeita de Marituba, local onde fica o aterro.

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Apesar de o aterro de Marituba ser o único aterro sanitário do Pará autorizado e licenciado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semas), falhas ao longo dos oito anos de funcionamento do local fizeram com que o aterro fosse alvo de reclamações e ações na Justiça. Para o Ministério Público do Pará, além dos problemas na gestão, "a omissão dos municípios se somou" [Link 3], resultando nos problemas na área. Enquanto isso, os moradores de Marituba reclamam do mau cheiro [Link 5] mesmo após o encerramento oficial das atividades, visto que o lixo depositado no local seguirá em decomposição ainda por anos. A empresa diz que os resíduos no local seguirão sendo tratados e que o local só não receberá mais lixo.

Para o MPPA, a empresa falhou na operação do aterro e os três municípios envolvidos foram omissos diante da gravidade da situação. As consequências dessas falhas são apontadas por moradores de Marituba e por um ator que não fala, mas visibiliza os danos sofridos: o meio ambiente.

Entretanto, a questão do lixo não é a única rusga que aproxima o Ministério Público do Pará e Edmilson Rodrigues.

ACUMULAÇÃO DE CARGOS PÚBLICOS DA PROFESSORA NAYRA CUNHA (ATUAL COMPANHEIRA DE EDMILSON RODRIGUES)

No começo de novembro a “TV Record” exibiu uma reportagem investigativa [Link 9] mostrando para todo o Brasil o escândalo de acúmulos de cargos de Nayra Cunha, atual namorada de Edmilson Rodrigues, o caso segue sendo investigado pelo Ministério Público do Estado (MPPA).

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Além de dar aulas em escolas do estado e do município, a namorada de Edmilson foi nomeada para cargos comissionados – tudo de uma vez. A professora de matemática chegou a receber mais de R$18 mil em um único mês. Além de ser professora concursada da Secretaria de Educação (Semec), licenciada, continuou recebendo salário; cedida para Secretaria Municipal de Administração (Semad) ela acumulou, irregularmente, o cargo de conselheira na Companhia de Tecnologia de Informação de Belém (Cinbesa). Todas as nomeações para cargos de confiança foram feitas em janeiro de 2021, logo após Edmilson assumir a prefeitura de Belém. Nayra passou 7 meses com salário acima de R$18 mil, só por parte da prefeitura. Ela também é professora do estado com salário de pouco mais de R$4 mil, conforme mostrou a reportagem da TV Record. Tudo isso se agravou mais ainda devido ao atraso do pagamento de salário dos servidores da SEMEC, que ficaram quase dois meses sem receberem seus salários, enquanto a companheira do prefeito acumulava vários.

A REFINARIA DE OURO NORTH STAR

Além dos problemas supracitados, ainda há outra questão totalmente questionável diante do mandato de Edmilson Rodrigues: o caso da promoção de um acordo entre a prefeitura de Belém e a refinaria North Star, objetivando a exploração de depósitos auríferos no estado do Pará. Cabe ressaltar que por trás dessa refinaria figura Sylvain Goetz, um membro proeminente de uma família belga detentora de um império voltado à exploração de minérios preciosos.

O enriquecimento da família Goetz advém de uma empresa que leva o nome de seu patriarca, Tony Goetz, que veio a óbito em 2005. Em 2020, o sistema judiciário belga imputou condenações a Alain e Sylvain, filhos de Tony, em virtude de práticas de lavagem de dinheiro e fraude, que se relacionam à instituição de um mercado clandestino de ouro. Vale mencionar que a empresa enfrenta proibições para a condução de transações comerciais em diversos países europeus. Entretanto, à revelia desses antecedentes, Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém, endossou a iniciativa como auspiciosa para a economia amazônica, uma perspectiva que se interpõe em franca contradição, considerando que o Brasil exporta uma quantidade de ouro anual superior à sua produção doméstica. Nesse sentido, é factível supor que o ouro submetido à refinação no Pará deve, em última instância, ser adquirido por conglomerados multinacionais. A título ilustrativo, nos últimos biênios, os produtos provenientes da empreitada dos Goetz foram incorporados a componentes eletrônicos de empresas como Tesla, Amazon, Dell, Johnson & Johnson e HP, até mesmo permeando artefatos tão prosaicos quanto as cafeteiras da Starbucks.

A demagogia de Edmilson, o acordo com a North  Star  - uma empresa de histórico muito questionável, o escândalo dos casos comissionados de sua companheira e principalmente, a crise da coleta de lixo foram, em minha opinião, fatores primordiais que desencadearam na pior gestão de Edmilson Rodrigues durante os três mandatos que já teve como prefeito de Belém. Segundo uma pesquisa do Instituto Paraná, a gestão municipal é desaprovada por 71,3% da população e aprovada por apenas 25,9% — outros 2,8% não souberam ou não quiseram responder.

Em uma recente entrevista para um podcast [Link 23], Edmilson Rodrigues disse que as pessoas criaram altas expectativas em relação ao seu governo e que a situação da pandemia e a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro atrapalharam sua administração. “Nos dois primeiros anos do nosso governo foram muito difíceis. Quando assumi, a Prefeitura estava muito endividada. Existe um movimento forte de extrema-direita em Belém, e acredito que cometemos erros na comunicação com a sociedade”, disse o prefeito. Porém, as justificativas dadas por Edmilson não são o suficiente para justificar a ineficácia da sua gestão. O argumento de que um movimento de extrema-direita belenense o atrapalhou é totalmente questionável, haja vista que durante seus primeiros meses de mandato, foram escândalos de gestão dentro do seu próprio partido que o impediram de governar plenamente, bem como as rusgas internas do PSOL tem se estendido até hoje. Não é novidade que o mandato de Edmilson rachou o partido em Belém, deixando de um lado aqueles que apoiam inquestionavelmente sua gestão, o defendendo de qualquer acusação ou crítica, do outro lado ficando aqueles que optaram por fazer um apoio crítico, denunciando os erros e excessos evidentes na gestão do prefeito, o que resultou em retaliações dentro do próprio partido, como foi o caso da vereadora Silvia Letícia (PSOL) que foi hostilizada por militantes do próprio partido por votar contra a viagem de Edmilson a Dubai - que terá duração de 28 de novembro a 6 de dezembro -. Silvia argumentou coerentemente, no sentido em que a viagem do prefeito caminha na contramão do resgate de sua gestão, corroborando para que as críticas tomem mais força e a insatisfação da população belenense aumenta.

Todo esse contexto evidencia a necessidade do planejamento de ações para que o candidato psolista tente reverter esse quadro, caso ainda planeje uma reeleição. O fato é que todos esses acontecimentos vacilantes deixaram Edmilson vulnerável, tendo que ceder a acordos com a oposição para tentar consertar sua imagem, e é assim que ele se botou como isca, a mercê a maior oligarquia do norte do Brasil: a família Barbalho.

O GOVERNO DO PARÁ - A DINASTIA BARBALHO

A dinastia Barbalho é conhecida por sua notória trajetória política no Pará, utilizando seu poder político para proteger e ampliar a considerável fortuna (não somente financeira) acumulada desde o início do século XX. A história política da família remonta ao século passado, marcada por ocupações de cargos públicos, mandatos e casos notórios de corrupção.

O sobrenome Barbalho tem origem portuguesa, e a família começou no Brasil com Francisco Barbalho e Maria Nunes, estabelecendo-se primeiro no Rio de Janeiro e depois em Salvador. Não há registros sobre a chegada da família a Belém.

A trajetória da família barbalho pode ser traçada a partir de Laércio Wilson Barbalho, nascido em 1918 em Belém (irmão do comediante e ator Lúcio Mauro), que foi funcionário dos "Correios e Telégrafos" e jornalista no jornal "O LIBERAL" – que pertencia ao PSD na época, partido ao qual Laércio foi filiado até o fim de sua vida. Em 1964, teve seu mandato de deputado federal cassado por se opor ao regime ditatorial. Anos depois, em 1982, fundou o jornal "O Diário do Pará", tornando-se um influente empresário e jornalista no Pará. Assim, presume-se que a família Barbalho sempre teve condições materiais privilegiadas, necessárias para promover investimentos no âmbito profissional e pessoal de seus membros.

Dos sete filhos de Laércio, somente um teve carreira política proeminente: Jader Barbalho. Jader destacou-se como prefeito de Ananindeua e governador do Pará por três mandatos, mas não consecutivos. Sua influência concentrou-se principalmente no estado, por meio do jornal "O Diário do Pará". Durante seu mandato como governador, em 2001, enfrentou acusações de desvios de recursos da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) [Link 24] e foi condenado, além de ter seu nome ligado ao "Mensalão" [Link 24]. Jader teve quatro filhos, dois deles seguiram carreira política: Jader Filho (atual ministro das cidades, indicado por Lula) e Helder Barbalho (governador do Pará).

Helder Barbalho, seguindo os passos do pai, teve desempenho político significativo, com cargos que incluem vereador, deputado estadual, prefeito, ministro e atualmente governador em seu segundo mandato. Assim como seu pai, ele enfrentou denúncias de corrupção, como na "Operação Lava Jato" (supostamente recebendo doações de empreiteiras investigadas em troca de favores políticos), "Caso Belo Monte" (questionamentos sobre supostos favorecimentos a empresas na usina hidrelétrica de Belo Monte) e a Operação S.O.S. (investigação de desvios de recursos destinados ao combate à pandemia de COVID-19 no Pará) em 2020. São notáveis também os problemas registrados durante seu mandato como prefeito de Ananindeua e governador, incluindo questões de saneamento básico e crimes ambientais.

O "rei do norte", como ficou conhecido após sua oposição ao governo bolsonaro durante a pandemia, deixou a prefeitura de Ananindeua com o título de PIOR SANEAMENTO BÁSICO DO BRASIL [Link 25], além de acumular recordes de crimes ambientais em seus mandatos desde o começo do exercício como governador.

A influência política dos "Barbalho" está ligada a interesses próprios e de seus aliados, muitas vezes à custa das necessidades da população carente. O clã utiliza diversos recursos para manter seu poder e controle. A trajetória da família, embora com impacto no cenário paraense, é cercada por questionamentos éticos e de integridade, gerando debates justos e necessários sobre seu legado político. De fato, os mais beneficiados pela trajetória do clã foram eles mesmos, enquanto a população carente e humilde, maioria no estado do Pará, é mencionada somente em seus discursos de campanha e depois esquecida.

No que diz respeito à atual gestão do governo do estado do Pará, Helder atualmente exerce o seu segundo mandato, tendo o primeiro durado de 1 de janeiro de 2019 até 31 de dezembro de 2022 e o segundo a partir de 1 de janeiro de 2023 até agora. Durante o primeiro mandato, Helder ganhou destaque nacional principalmente no combate à pandemia e por posturas de oposição ao governo federal que era liderado pelo ex-presidente fascista Jair Bolsonaro. Ao passo em que a pandemia de Covid-19 avançava e o governo federal retrocedeu em relação a políticas de combate ao vírus, vários governadores ganharam destaque por suas atuações independentes respaldadas pelo STF, Helder foi um deles. A oposição ao governo Bolsonaro fez com que o Barbalho ganhasse destaque da mídia nacional, além de também crescer entre a própria esquerda liberal que via no mdbista uma via de possibilidades. Assim, as expectativas futuras não seriam diferentes: consumado o primeiro turno das eleições presidenciais, em que Lula e Bolsonaro emergiram como os finalistas, Helder Barbalho expressou seu apoio ao candidato petista. Esta declaração reverberou imediatamente em uma onda de banners contendo os retratos de ambos os líderes, ostentados em diversos pontos da capital paraense. Emerge, assim, uma campanha cuidadosamente orquestrada que, posteriormente, segundo conjecturas, teria culminado na nomeação do irmão mais velho de Hélder, Jader Filho, para a função de Ministro das Cidades após a vitória do governo liderado por Lula. Parece coincidência, contudo, cabe a cada indivíduo determinar o grau de crédito a ser atribuído a tais eventos, considerando que os fatos se encontram firmemente ancorados na realidade. A fim de se alcançar uma compreensão mais completa da história política do estado do Pará, a análise da atuação da família Barbalho assume uma importância de relevo, abarcando desde a influência de Laércio, pai de Jader e avô de Helder Barbalho, até a trajetória dos primos e sobrinhos de Hélder, inclusive seu próprio filho que se vislumbra como uma promessa política em ascensão.

Ao fim das eleições de 2022, Helder Barbalho foi eleito com 70,41% dos votos válidos (3.117.276 votos). Seu principal concorrente, Zequinha Marinho (PL) registrou 27,13% dos votos válidos (1.201.079 votos). Com essa vitória avassaladora, Helder se estabeleceu como o governador com o mandato mais forte no norte do Brasil, além de também ser aquele que mais trava diálogos e acordos com o governo federal, o que se explicita na nomeação de seu irmão mais velho para ocupar o cargo de ministro das cidades, na escolha de Belém para sediar a COP 30 em 2025, bem como em outros acordos com o governo federal como o que resultou na compra de 300 ônibus citados anteriormente no início deste texto, usado como uma conquista da prefeitura frente a tanta desaprovação da população sobre a atual gestão.

A ligação de Helder, embaixador amazônico da COP 30, e Jader Filho, ministro das Cidades, com o presidente Lula obrigam os detentores do poder local a combinar o jogo com o Planalto. E essa combinação passa por um mínimo de garantia para manter a aliança com o Psol: a garantia de que o prefeito tenha condições de se reeleger, de acordo com as pesquisas de opinião. “Lula e Helder têm compromisso com a vitória, não com Edmilson” [Link 26]. O compromisso existe, mas seu cumprimento certamente depende de condições objetivas que não estão se confirmando.

Percebendo que a terra se move sob seus pés, Edmilson vacilou. Em uma live gravada sob fogo cerrado da oposição [Link 26], em que misturou o lixo de Belém com lixo de Ananindeua antes da coleta, Edmilson chegou a verbalizar: “se eu for candidato...”, mostrando na condicional que essa decisão não é dele, mas de outro. Seria um ato falho?

Nos bastidores do Palácio do Governo, há quem aposte que o governador aproveitará a COP de Dubai para apresentar à Lula um estudo que justifique a desistência em apoiar Edmilson e a emergência em apresentar um nome de consenso MDB-PT.  O problema é o nome. Petistas ligados ao senador Beto Faro, cujo grupo segue nos cargos da administração Edmilson, dizem que esse nome precisa ser do PT, para substituir e "envernizar a troca”. Os nomes do MDB testados em pesquisas foram José Priante, Ursula Vidal e Zeca Pirão. Desses, Ursula Vidal e José Priante são os que apresentam trajetórias mais “sólidas” e têm margem para crescimento. Úrsula tem perfil de centro-esquerda e transita bem entre os ministros do PT. Priante, por outro lado, é um político mdbista raiz, experiente, e já esteve nessa disputa outras vezes, mostrando-se competitivo. Zeca Pirão teria um teto baixo para crescimento porque dos três é quem tem maior rejeição. Tem um perfil mais conservador e se confunde com os adversários, como Eder Mauro ou Eguchi. De certo, nenhuma das possibilidades citadas anteriormente trazem boas sensações a nós, da esquerda radical, tampouco nos remete a perspectivas de avanços de políticas voltadas para a população mais pobre, para a classe trabalhadora. É possível afirmar que independente do candidato eleito, seja um nome novo ou até mesmo a reeleição de Edmilson, a prefeitura estará totalmente submetida aos interesses do governo do estado, que tem uma agenda fiel com a abertura de nossas fronteiras para exploração de mineradoras internacionais.

Em síntese, a dinastia Barbalho construiu uma narrativa política marcada por uma sucessão de poder, desde as origens no século XX até os dias atuais, refletindo uma trajetória pontuada por conquistas e controvérsias. A história da família é permeada por acusações de corrupção e um aparente descompasso entre os interesses políticos do clã e as necessidades da população paraense. Helder Barbalho, atual governador, consolidou sua influência com uma vitória avassaladora, destacando-se nacionalmente pela oposição ao governo federal. No entanto, as alianças estratégicas com Lula e a nomeação de seu irmão para o cargo de ministro levantam questões sobre a verdadeira natureza dessas relações. Enquanto se delineiam novos cenários políticos para o Pará, a incerteza paira sobre a sucessão municipal, evidenciando a complexidade e os desafios da política local.

O QUE PODEMOS ESPERAR PARA 2024?

Com base nas informações apresentadas, as eleições municipais de 2024 em Belém se configuram como um cenário complexo e desafiador, permeado por questões políticas, sociais e ambientais. A gestão de Edmilson Rodrigues enfrentou críticas significativas, especialmente em relação a promessas não cumpridas, a crise na coleta de lixo e casos controversos envolvendo a companheira  do prefeito, gerando desaprovação expressiva na população.

A dinastia Barbalho, com Helder Barbalho à frente do governo estadual, mantém uma forte influência na política paraense, consolidando alianças estratégicas e ampliando sua presença no cenário nacional. A possível desistência de apoio a Edmilson Rodrigues, evidenciada nos bastidores políticos, sugere uma reconfiguração nas alianças e a busca por um candidato que possa melhor atender aos interesses do governo estadual.

As opções de sucessão para a prefeitura de Belém apresentam nomes com características e trajetórias políticas distintas, seja do PT ou MDB, dando rumos à dinâmica política para os próximos anos. Contudo, a incerteza persiste quanto à independência da prefeitura em relação aos interesses do governo do estado, que demonstra uma influência marcante na condução dos rumos municipais.

Para os eleitores e a população belenense, é crucial analisar criticamente as propostas e históricos dos candidatos, considerando não apenas as alianças partidárias, mas também o comprometimento com as demandas da população mais carente, como segurança, infraestrutura e educação de qualidade, além da gestão eficiente dos serviços públicos e a preservação ambiental diante da exploração de recursos internacionais.

A questão da COP 30, sediada em Belém em 2025, acrescenta um elemento adicional ao contexto eleitoral, podendo influenciar as estratégias dos candidatos em relação à visibilidade internacional da cidade. As perspectivas para as eleições municipais de 2024 dependem, portanto, da capacidade dos candidatos em dialogar com as demandas locais, superar desafios históricos e construir uma gestão comprometida com a melhoria da qualidade de vida da população belenense.

Em suma, as eleições municipais de 2024 em Belém se apresentam como um momento decisivo para redefinir a trajetória política da cidade e do estado, considerando tanto os aspectos locais quanto as influências externas. A população terá a responsabilidade de escolher líderes comprometidos com a efetiva transformação da realidade local, superando as adversidades e construindo um futuro mais promissor para a capital paraense. Porém, a população não pode contar com nenhuma oposição ao governo do estado, haja vista que a prefeitura de Belém está totalmente rendida aos interesses dos barbalhos. No espectro da esquerda, o PCdoB em Belém está totalmente alinhado aos interesses do PSOL, assim ocupa cargos comissionados pela prefeitura em órgãos municipais, o que impede que o partido direcione qualquer crítica à atual gestão da prefeitura. As redes do partido contam com poucas ou quase nenhuma crítica direcionada à gestão de Edmilson, mesmo tendo tantos motivos para fazê-lo, conforme vimos anteriormente no texto.

Enquanto não surja uma força que atue entre as massas e que represente todas as demandas da classe trabalhadora, da população periférica, das minorias sociais, o Pará estará submetido aos interesses das oligarquias locais, que sucateiam o serviço público para inserir seu próprio capital como solução, conforme os Barbalho estão fazendo no sistema de saúde e no de educação no estado do Pará.

O partido comunista brasileiro deve ter opinião consensual de oposição ao governo Barbalho no estado do Pará. Os comunistas no norte do Brasil precisam se organizar e produzir acúmulos que denunciem e explicitem os crimes cometidos no interior do estado, em complacência com o governo do estado e federal.

O norte do Brasil sofre com o descaso dos seus gestores em relação à destruição do meio ambiente. Além do Pará, estados como Amazonas e Manaus também enfrentam grandes problemas como a maior seca da história do Rio Tapajós que atinge milhares de famílias ribeirinhas, bem como a fumaça em Manaus que faz com o que o estado tenha a segunda pior qualidade de ar para respirar no mundo.

Os comunistas precisam derrubar e combater a farsa que é a realização da COP 30 em Belém, que promete oferecer soluções para os problemas ambientais da região, mas que faz lobby com o capital estrangeiro concomitante a essa farsa. A destruição da Amazônia, bem como a destruição de qualquer outro bioma natural, dá um prazo de validade ao planeta que é corroborado a cada avanço do sistema capitalista.


REFERÊNCIAS TEXTUAIS

  1. https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2023/09/15/cop-30-predios-federais-desocupados-em-belem-serao-ofertados-ao-setor-privado-para-a-construcao-de-hoteis.ghtml
  2. https://www.portalolavodutra.com.br/materia/com_edmilson_rodrigues_em_queda_livre_nucleo_do_governo_aposta_helder_deve_oferecer_plano_b_a_lula
  3. https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2023/11/27/lixo-na-grande-belem-misterio-publico-diz-que-e-urgente-responsabilizar-municipios-e-gestores-por-omissao-com-residuos.ghtml
  4. https://www.oliberal.com/politica/em-meio-a-crise-do-lixo-em-belem-camara-municipal-aprova-viagem-de-edmilson-rodrigues-para-dubai-1.750129
  5. https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2023/10/31/tcm-pede-explicacoes-a-prefeitura-de-belem-e-sesan-a-respeito-da-coleta-e-destino-dos-residuos-solidos-de-belem.ghtml
  6. https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2023/08/01/lixo-na-grande-belem-o-sufoco-de-quem-vive-proximo-a-aterro-que-funciona-sob-acordo-judicial.ghtml
  7. https://pontodepauta.com/2023/11/17/prefeitura-de-belem-afirma-que-busca-solucao-para-o-problema-do-lixo-com-a-conclusao-da-licitacao/
  8. https://pontodepauta.com/2021/02/01/edmilson-propoe-criar-subprefeituras-em-belem/
  9. https://parawebnews.com/atual-namorada-de-edmilson-rodrigues-tem-dois-cargos-na-prefeitura-de-belem-e-recebe-mais-de-r-15-mil/
  10. http://www.saude.pa.gov.br/governador-assina-termo-de-cooperacao-para-atender-a-area-da-saude-de-belem/
  11. https://g1.globo.com/pa/para/eleicoes/2022/noticia/2022/10/03/helder-barbalho-mdb-governador-eleito-com-maior-percentual-no-brasil-em-2022-fala-sobre-apoio-no-2o-turno-das-eleicoes-a-presidencia-e-tarifa-de-energia-no-para.ghtml
  12. https://dol.com.br/noticias/politica/836107/roda-viva-helder-barbalho-fala-sobre-florestas-e-cop-30?d=1
  13. https://dol.com.br/noticias/para/837820/entidades-da-industra-criticam-reativacao-do-aterro-do-aura?d=1
  14. https://especiais.g1.globo.com/para/2021/as-promessas-de-edmilson/#/1-ano
  15. https://www.poder360.com.br/governo/lula-promete-expulsar-narcotrafico-e-crime-organizado-da-amazonia/
  16. https://www.poder360.com.br/pesquisas/aliado-de-bolsonaro-eder-mauro-lidera-corrida-eleitoral-em-belem/
  17. https://www.oliberal.com/politica/apyterewa-parlamentares-do-para-denunciam-acoes-do-governo-federal-perseguicao-1.748092
  18. https://www.oliberal.com/politica/em-meio-a-crise-do-lixo-em-belem-camara-municipal-aprova-viagem-de-edmilson-rodrigues-para-dubai-1.750129
  19. https://www.oliberal.com/politica/repercute-em-belem-anuncio-do-ibama-sobre-decisao-em-2024-do-licenciamento-para-pesquisa-de-petroleo-1.750371
  20. https://www.oliberal.com/politica/lula-elogia-desempenho-de-jader-filho-a-frente-do-ministerio-das-cidades-1.750742
  21. https://pontodepauta.com/2023/11/10/prefeito-edmilson-rodrigues-e-eleito-presidente-do-forum-que-reune-gestores-de-cidades-pan-amazonicas/
  22. https://www.terra.com.br/nos/aterro-sanitario-ameaca-terras-quilombolas-no-para,73f58073ad2d61b36b39c77bd93140752nkok5cl.html
  23. https://aamazonia.com.br/rejeitado-por-70-do-eleitorado-prefeito-de-belem-anuncia-pacote-de-r-2-bilhoes/
  24. https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/07/entenda-condenacao-de-jader-barbalho-por-desvio-da-sudam.html
  25. https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/geral/audio/2017-02/ananindeua-pa-tem-o-pior-saneamento-entre-100-maiores
  26. https://www.portalolavodutra.com.br/impressao/com_edmilson_rodrigues_em_queda_livre_nucleo_do_governo_aposta_helder_deve_oferecer_plano_b_a_lula

REFERÊNCIAS DE IMAGENS

IMG 1 - João Gomes / Agência Belém;

IMG 2 - João Gomes / Comus;

IMG 3 - Fábio Costa / O Liberal;

IMG 4 - Print retirado da folha de pagamento da prefeitura de Belém.