'Autocrítica sobre a questão religiosa (uma resposta ao camarada Yuri)' (Facó)

Para além da questão tática, o desenvolvimento de uma linha comunista cristã é impraticável pelas contradições entre o materialismo dialético e a filosofia idealista que fundamenta o pensamento cristão. Inevitavelmente essa relação resultaria em um rebaixamento dos objetivos comunistas.

'Autocrítica sobre a questão religiosa (uma resposta ao camarada Yuri)' (Facó)

Por Facó para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Saudações camaradas, venho elaborar uma autocrítica em relação a minha tribuna "Como podemos realizar um movimento revolucionário em meio uma massa majoritariamente cristã?"[1].

Após ler a tribuna do camarada Yuri "Sobre o oportunismo do “não assustar”[2] venho a aprofundar o debate em relação à questão religiosa no Brasil.

Escrevi minha tribuna a fim de desenvolver uma linha política que se utiliza do sentimentalismo cristão como forma de mobilização. Em minha autocrítica, hoje reconheço que essa proposta não só apresenta um trabalho exaustivo para a militância, vide o tamanho idealismo presente no meio religioso e seu ambiente de desconexão com nossas lutas, mas também não nos beneficia em nosso compromisso com o proletariado já que o saldo desse tipo de atividade não desenvolve diretamente a organização das massas proletárias, sendo assim, em prática é trabalho demais para um resultado ínfimo.

Para além da questão tática, o desenvolvimento de uma linha comunista cristã é impraticável pelas contradições entre o materialismo dialético e a filosofia idealista que fundamenta o pensamento cristão, seja qual for o modo de relação entre os dois pensamentos, inevitavelmente essa relação resultaria em um rebaixamento dos objetivos comunistas que não devem ser contidos pelo idealismo e muito menos pelo caráter reacionário do cristianismo brasileiro, que tem suas raízes no colonialismo.

Coincidentemente também, acabei por cair nos mesmos vícios de Feuerbach em aplicar uma lógica em que se é possível instrumentalizar a religião, da mesma forma que a religião é utilizada pelo reacionarismo. Essa lógica portanto não nos interessa, pois não buscamos manter o proletariado sob as desilusões religiosas, queremos superá-las.

A conclusão nesse instante é reafirmar o que Marx disse, "a religião é o ópio do povo" sendo essa a pedra angular que devemos utilizar sobre nossa posição acerca da questão religiosa em nosso partido[4], devemos combater as posições que procuram aplicar a religiosidade ao socialismo e vice versa, além de combater as linhas anarquistas de guerra contra religião que sabotam nossas posições perante as massas religiosas.

Ademais, agradeço a atenção do camarada Yuri pela resposta à minha tribuna, apesar de me sentir humilhado pela caracterização de oportunista, agora eu entendo que a posição que defendia só caberia ser chamada dessa forma já que até Engels já havia concluído essa questão


[1] https://emdefesadocomunismo.com.br/como-podemos-realizar-um-movimento-revolucionario-em-meio-uma-massa-majoritariamente-crista/

[2] https://emdefesadocomunismo.com.br/sobre-o-oportunismo-do-nao-assustar-resposta-para-cmrd-faco/

[3] https://www.marxists.org/portugues/marx/1886/mes/fim.htm

[4] https://www.marxists.org/portugues/lenin/1909/05/26.htm#tr1