Atualização sobre a Tempestade Al-Aqsa: dia 90

Os EUA entregam munições a Israel, usam duas vezes o seu poder de veto contra o cessar-fogo em Gaza e, ao mesmo tempo, “criticam” a estratégia israelense e o número de vítimas civis, o que faz com que o resto do mundo se pergunte: se não concorda, então por que fornece a Israel meios para fazê-lo?

Atualização sobre a Tempestade Al-Aqsa: dia 90
Manifestante levanta a bandeira palestina.

REVISTA FRANCESA DESTACA RUPTURA ENTRE PAÍSES OCIDENTAIS E DO SUL GLOBAL

Durante quase dois anos, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ocidente tentou salvar a sua relação com os países do Sul, que não foram convencidos da sinceridade do seu discurso sobre o direito internacional. O 7 de outubro em Israel e os acontecimentos na Faixa de Gaza levaram a melhor sobre estes esforços: a ruptura é completa e é, sem dúvida, irreversível.

Com esta introdução, o jornalista francês Pierre Haski iniciou a sua coluna na revista L'obs, explicando que a opinião pública no Sul, ainda mais do que os seus governos, assumiu a causa dos habitantes de Gaza que morrem sob as bombas israelenses há quase três meses. Ela se volta para o Ocidente e diz: para onde foi o seu discurso sobre a lei, sobre os crimes de guerra, sobre a justiça?

Assim, para Haski, a brutalidade da resposta israelense e as imagens de vítimas civis palestinas espalhadas pelas redes sociais criam uma situação insustentável para aqueles que defendem a Ucrânia em nome da lei face à agressão russa e se calam à situação palestina, como se as opiniões no Sul e mesmo entre alguns ocidentais dissessem: “Não nos dê mais lições de moral”.

O Ocidente só deveria culpar-se – como diz a revista – porque durante duas décadas se afastou da questão palestina, que parecia estar sob controle, de modo que os americanos, especialmente o seu presidente Joe Biden, se encontraram numa posição desconfortável como o garante da segurança de Israel sem ter a menor confiança no seu Primeiro-Ministro, Benjamin Netanyahu.

O que é estranho – diz Haski – é que os Estados Unidos entregam munições a Israel, usam duas vezes o seu poder de veto contra o pedido de cessar-fogo em Gaza e, ao mesmo tempo, “criticam” a estratégia israelense e o número de vítimas civis, o que torna a sua posição incompreensível, e faz com que o resto do mundo se pergunte: se você não concorda, então por que dá a Israel os meios necessários para continuar com isso?

Tal como os EUA, os europeus declaram o seu apoio incondicional a Israel, de uma forma que contradiz a sua avaliação de que a sua resposta é desproporcionada, e os seus tímidos apelos a um cessar-fogo não parecem chegar à opinião pública daquele Sul, que acredita que a Europa mantém silêncio hipócrita quando as vítimas são não europeias.

O colunista concluiu que a ajuda humanitária, embora importante, não é suficiente para mudar a percepção da cumplicidade ocidental no assassinato das crianças de Gaza, e os ocidentais não serão capazes de restaurar a sua credibilidade, exceto através da seriedade quando falam de uma solução política e de dois Estados.

Haski conclui que o principal não está apenas em Gaza, mas na Cisjordânia, onde a questão não está relacionada com a ala militar do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), mas sim com os assentamentos e a luta sangrenta por terra e território, e que as pessoas não serão capazes de condenar a expansão russa na Ucrânia e, ao mesmo tempo, fechar os olhos à colonização na Cisjordânia, porque o mundo está a observando o que acontece.

IMPRENSA MUNDIAL CONDENA OPERAÇÕES DE WASHINGTON E TEL-AVIV

A imprensa internacional continua cobrindo as repercussões da guerra travada pela ocupação sionista na Faixa de Gaza e a possibilidade de se transformar numa guerra regional à luz dos ataques que se acredita terem sido conduzidos por Tel-Aviv e Washington nos últimos dias.

Neste contexto, o jornal britânico Financial Times discutiu o contexto temporal do ataque americano que teve como alvo um líder das Forças de Mobilização Popular no Iraque na quinta-feira, e disse que surge à luz da guerra em curso entre Israel e a Palestina, que aumenta a risco de um conflito regional mais amplo.

O ataque também ocorre – segundo o jornal – dois dias depois de o proeminente líder do Hamas, Saleh Al-Arouri, ter sido alvo de ataques no Líbano.

Quanto ao jornal francês Le Monde, falou sobre uma difícil equação enfrentada pelo libanês Hezbollah após o assassinato de Al-Arouri. Não pode deixar de responder ao que considera uma provocação de Israel no seu reduto.

O jornal acrescenta: “Por outro lado, qualquer resposta forte corre o risco de arrastar o Hezbollah para uma guerra abrangente com Israel, que tem evitado desde 8 de outubro”.

Por sua vez, a revista Foreign Policy publicou um artigo resumindo várias lições que Israel deve aprender com o ataque do Hamas, observando que o ataque provou que a política de dissuasão é inútil.

O artigo explica que não é possível confiar apenas nos serviços de inteligência para alerta precoce, nem em defesas de alta tecnologia, salientando que o maior perigo para Israel, segundo o artigo, é “interno” e que matar mais palestinos mina sua reputação em todo o mundo.

Por sua vez, o americano New York Times mencionou numa reportagem que a sociedade israelense ficou chocada com as forças armadas, que tinham boa uma imagem de se basear num conjunto de princípios humanitários.

A reportagem recorda a ocasião do assassinato de três prisioneiros em Gaza pelo fogo do exército israelense, depois diz que crescem as dúvidas entre os israelenses quanto às regras de combate impostas pelo exército, ao mesmo tempo que se fortalece a convicção dos grupos de direitos humanos de que os fracassos do exército neste aspecto concentra-se, na maioria dos casos, nas suas relações com os palestinos.

O jornal israelense Haaretz, num artigo, aconselhou os israelenses a “apoiarem o fim da guerra se procuram os seus próprios interesses, se não pelo bem de Gaza e dos seus residentes.”

O artigo analisa muitas das repercussões da guerra na vida cotidiana dos israelenses desde o início da guerra, incluindo a interrupção da escolaridade, o aumento dos encargos econômicos, o declínio do investimento, uma elevada taxa de criminalidade e incidentes de utilização de armas na sociedade. em um ritmo alarmante.