Atualização sobre a Tempestade Al-Aqsa: dia 799

Aos 58 anos da Frente Popular, Marwan Abdel Aal analisou a guerra em Gaza, a crise do projeto nacional palestino e defendeu a resistência, unidade de objetivos e otimismo revolucionário como caminhos da libertação.

Atualização sobre a Tempestade Al-Aqsa: dia 799
Reprodução: Redes sociais.

FPLP: Abdel Aal sobre o aniversário de fundação da Frente

No quinquagésimo oitavo aniversário de sua fundação, e em um momento palestino considerado o mais sangrento e complexo das últimas décadas, a Frente Popular para a Libertação da Palestina retorna ao centro do debate nacional como uma corrente revolucionária que nunca separou resistência e política, nem libertação nacional e justiça social.

Em meio a uma guerra de extermínio aberta contra a Faixa de Gaza, ao bloqueio do horizonte político, à persistência da divisão interna e ao fracasso dos projetos de liquidação e normalização, o membro do Birô Político da Frente Popular, o camarada Marwan Abdel Aal, apresentou uma leitura abrangente do percurso da Frente e de sua experiência de luta, delineando uma visão clara para a próxima etapa, a partir da resistência abrangente, da unidade de objetivo e da renovação das ferramentas da ação revolucionária.

Nesta entrevista ao Portal Al-Hadaf, Abdel Aal aborda as lições de 58 anos de luta, avalia o recente acordo sobre Gaza e define as prioridades do confronto político e de campo, o papel da juventude, os perigos da normalização e as condições de quaisquer entendimentos futuros. Dirige, assim, uma mensagem clara ao povo palestino e às gerações vindouras: a Palestina não é administrada nem liquidada, mas libertada pela vontade de seu povo, pela clareza de seu programa e por uma consciência que protege o significado antes mesmo da terra.

58 anos de resistência e firmeza

Abdel Aal afirma que, ao longo de cinquenta e oito anos, a Frente Popular manteve sua posição como uma corrente revolucionária clara, que vincula a libertação nacional à justiça social e resiste a todas as formas de acordos rebaixados. Durante esse período, enfrentou grandes desafios, incluindo o cerco político, a divisão interna palestina, as mudanças nos equilíbrios regionais de poder e a escalada da ofensiva colonial-fascista contra Gaza, a Cisjordânia e a região como um todo, especialmente o ataque aos pilares da frente de resistência em nível regional.

Apesar dessas dificuldades, explica Abdel Aal, a Frente conseguiu preservar sua presença combativa, de campo, social, política, midiática, cultural e organizativa, mantendo sua linha intelectual e militante em seu sentido revolucionário e permanecendo como um símbolo de firmeza em tempos de retrocessos.

Ele destaca que a experiência confirma que a resistência não é um ato isolado, mas um projeto abrangente que exige a mobilização de todas as energias populares e partidárias em todas as comunidades palestinas e em todos os campos de confronto. A força da resistência reside em sua capacidade de desencadear a ação em larga escala, apoiada por uma estrutura social, cultural e política coesa, o que requer fortalecimento contínuo, uma vez que a resistência abrangente é central para o trabalho revolucionário.

O dirigente acrescenta que a experiência demonstrou a necessidade constante de injetar novo fôlego e desenvolver ferramentas de organização, trabalho popular, sindical, juvenil e de massas. Mostrou também que a base de qualquer projeto de libertação nacional é a “unidade de objetivo antes da unidade das facções”. A estratégia palestina deve ser construída a partir desse objetivo comum – a libertação completa –, sendo a estrutura organizacional um meio para alcançá-lo, e não um fim em si mesma.

Abdel Aal observa ainda que a realidade regional comprova que a Palestina não será libertada isoladamente de seu entorno, mas dentro de um processo revolucionário histórico que abrange toda a região, o que exige a reconstrução de uma frente árabe e popular de apoio como condição de força. Nesse contexto, a consciência constitui a primeira linha de defesa, e sua perda é mais perigosa do que a perda da terra, tornando a revalorização da cultura e do legado dos fundadores uma necessidade estratégica, e não um luxo.

Ele enfatiza que a Frente Popular oferece um modelo de continuidade, entrega e sacrifício apesar das dificuldades, com capacidade de autocrítica sem renunciar aos princípios. A maior lição para a próxima etapa é que a resistência precisa de mais clareza, organização e consciência – uma tríade cujos elementos de força a Frente ainda preserva.

O momento de Gaza e a divisão: redefinindo as prioridades nacionais

Sobre a continuidade da agressão e da divisão interna, Abdel Aal afirma que “o momento de Gaza desmascarou muitas forças políticas: algumas lutaram até o fim, outras se congelaram em seus cálculos antigos, enquanto algumas se limitaram a declarações formais sem qualquer efeito no terreno”.

Acrescenta que a Organização para a Libertação da Palestina, enquanto estrutura supostamente portadora do projeto nacional, mostrou-se incapaz de recuperar seu papel histórico, contentando-se com uma posição simbólica, sem capacidade real de influência ou mobilização. Também ficaram evidentes os limites da Autoridade Palestina, cuja função administrativa e de segurança passou a se restringir à gestão do cotidiano sob ocupação, sem capacidade de formular opções reais de libertação.

Ele ressalta que a prioridade da Frente Popular, diante das consequências da agressão contínua, é formular uma equação integrada para proteger a causa palestina, baseada no fortalecimento da resistência abrangente e na redefinição da função do movimento nacional. A confrontação atual provou que a resistência está no centro da equação, mas a questão central é como ela se mantém no coração do conflito, como se integra à gestão do enfrentamento, à sua continuidade e ampliação, e ao fortalecimento de sua base popular.

Abdel Aal alerta que transformar a divisão em um instrumento de dispersão da força nacional e converter as instituições do povo em ilhas isoladas serve aos objetivos do inimigo, que busca fragmentar a entidade palestina política e geograficamente. Por isso, a reconstrução da unidade nacional com base em um programa claro de libertação é uma exigência urgente, pois a unidade de objetivo é a condição essencial. O papel da Frente é contribuir para a formulação de uma visão comum que redefina a função das facções, da autoridade e das instituições, integrando-as em uma única estratégia de resistência e libertação.

A batalha pelo significado antes da terra

Sobre a dimensão regional e internacional, Abdel Aal afirma que, a partir de sua posição de esquerda, de suas alianças internacionais e de sua presença nas diásporas palestina e árabe, a Frente busca transformar as mudanças internacionais em curso em uma oportunidade para romper a hegemonia sionista-americana, construindo redes de pressão e alianças políticas e populares que recolocam a ocupação em seu verdadeiro lugar: o de uma força colonial isolada.

No plano interno, afirma que a defesa da sociedade palestina e de sua resiliência, em seus aspectos materiais e morais, é parte essencial da própria resistência. Isso inclui proteger as pessoas do deslocamento forçado, sustentar as condições de vida, enfrentar o genocídio e a fome e ativar a cultura revolucionária como primeira linha de defesa da consciência coletiva.

Segundo Abdel Aal, com essa visão abrangente, fica claro que a batalha não é apenas pela terra, mas pelo significado, pelo programa e pela capacidade de transformar a indignação popular em um projeto de libertação nacional dotado de clareza de objetivos e eficácia de meios.

A juventude no centro da batalha: renovação e construção de novas lideranças

Sobre o fortalecimento da participação da juventude palestina e a preparação de novas lideranças, Abdel Aal explica que a Frente deu recentemente um passo qualitativo na renovação de seus quadros ao relançar sua estrutura juvenil, após anos em que as circunstâncias impediram uma ação organizada e sistemática.

O processo teve início com a formação do comitê preparatório central da Organização da Juventude Palestina, concebida como o espaço que formará os futuros quadros juvenis da Frente.

Abdel Aal esclarece que essa organização não é apenas mais um braço organizativo, mas um complemento juvenil que reconecta a Frente à geração que hoje dita o ritmo das ruas palestinas, injetando novas energias que se expressam no trabalho de campo, na ação popular e na produção intelectual.

Por meio desse espaço, a Frente busca construir uma escola de luta contemporânea, que forme jovens em organização, pensamento revolucionário, métodos de ação e cultura de iniciativa, permitindo-lhes participar da tomada de decisões e assumir responsabilidades, e não apenas executá-las.

Ele destaca que o núcleo da aposta é que a Organização da Juventude se torne um espaço de emergência de novas lideranças, capazes de compreender as transformações em curso e de reformular as ferramentas de luta de acordo com a realidade e a experiência da nova geração, de modo que os jovens não sejam apenas uma base social da Frente, mas um de seus pilares de liderança na próxima etapa.

Projetos de liquidação e normalização: elos de um mesmo projeto colonial

Sobre os projetos de liquidação política e as tentativas de normalização, Abdel Aal afirma que não se trata de iniciativas isoladas, mas de elos de um mesmo projeto colonial que busca esvaziar a Palestina de seu significado histórico e transformá-la em uma “questão administrada”, fora do contexto da libertação.

A essência desses projetos, explica, está em eliminar o palestino como ator político e privá-lo de sua capacidade de decidir o próprio destino, por meio de uma engenharia de segurança e economia que preserva a ocupação e elimina o conflito.

Ele observa que a guerra brutal lançada contra o povo palestino, especialmente em Gaza, utilizou todos os instrumentos de morte, apagamento, genocídio e limpeza étnica para retirar o palestino da equação. No entanto, a vontade do povo frustrou essa lógica e recolocou o palestino no centro da equação regional como uma força capaz de bloquear qualquer engenharia política construída sobre a negação de seus direitos.

A partir desse diagnóstico, a Frente trata a normalização como um sistema de dominação colonial, e não apenas como uma opção política, considerando sua confrontação parte integrante da luta contra a própria estrutura colonial.

Por isso, concentra-se em reafirmar a centralidade da resistência em todas as suas formas, impedindo a consolidação de fatos consumados de liquidação, e em reconstruir um bloco palestino unificado em torno de um programa de libertação que redefina a função das instituições e estruturas nacionais como instrumentos de luta, e não como apêndices de acordos impostos.

A Frente também trabalha para ampliar a frente árabe e internacional de rejeição à normalização, criando fatos políticos e populares que constranjam os regimes e revelem sua cumplicidade, ao mesmo tempo em que restituem à causa palestina seu papel ético como fator de força capaz de limitar a margem de manobra política da entidade ocupante.

Com essa visão, a Frente reafirma que derrotar os projetos de liquidação não se alcança por meio da retórica, mas pela construção de um novo equilíbrio de forças que imponha à região e ao mundo o reconhecimento de que a Palestina não é um dossiê de negociação, mas um foco de conflito histórico que só se resolve com o fim do próprio projeto colonial.

O acordo de Gaza: uma trégua tática, não uma mudança estratégica

Comentando o acordo de cessar-fogo em Gaza, Abdel Aal afirma que ele não é um evento isolado, mas uma etapa imposta pela ocupação, buscada pelo presidente americano Trump como uma iniciativa política passível de exploração para obter ganhos por outros meios.

Segundo ele, o inimigo recorreu ao acordo sob o peso do colapso de sua narrativa diante do mundo, da pressão internacional, de seu isolamento e das fissuras em sua frente interna, e não em razão de qualquer mudança na essência de seu projeto colonial. Isso torna qualquer trégua incapaz, por si só, de interromper o genocídio ou abrir um horizonte político real em favor do povo palestino.

Abdel Aal explica que a Frente vê o acordo como uma oportunidade para interromper o massacre, ganhar fôlego e proteger o povo da continuidade da máquina de morte, preservando a sociedade palestina em Gaza da limpeza étnica, do deslocamento forçado e da fragmentação. No entanto, isso não representa uma transformação estratégica nem um caminho confiável de longo prazo.

O valor do acordo, segundo ele, mede-se por sua capacidade de fortalecer a resiliência da população, recuperar alguma capacidade de organização, proteção e gestão, e impedir o caos, a exploração e a corrupção.

Ele alerta que apostar na transformação do acordo em uma abertura política abrangente ou em um caminho automático para a reconstrução e a abertura irrestrita das passagens é um erro, pois o inimigo busca, por meio dele, administrar o conflito pela via humanitária.

O acordo deve ser entendido como uma pausa condicionada em uma batalha prolongada, e não como uma mudança estrutural no curso do conflito. O critério decisivo é a capacidade dos palestinos de transformar o tempo concedido em força adicional e de impedir que a ocupação utilize a trégua para impor novos fatos consumados.

Abdel Aal acrescenta que a Frente considera o recente acordo de Gaza uma “trégua tática” imposta pelos equilíbrios do conflito, que pode se tornar um fardo perigoso caso seja usada como porta de entrada para arranjos externos ou para uma tutela internacional sobre a Faixa de Gaza.

Nesse sentido, a Frente propõe claramente a formação de um comitê nacional profissional e temporário de administração em Gaza, composto por personalidades íntegras do próprio território, responsável por gerir a fase de transição sob plena referência palestina e em coordenação com as instituições nacionais, impedindo a imposição de alternativas externas.

Ele enfatiza a rejeição categórica da Frente a todas as tentativas de consolidar a interpretação israelense da Resolução 2803 do Conselho de Segurança, especialmente os esforços para demarcar a chamada “linha amarela” como fronteira permanente e criar a chamada “zona verde” sob controle contínuo, o que consolidaria novos fatos no terreno.

Qualquer presença internacional eventual, ressalta, deve ser árabe-islâmica e limitada às linhas de contato, enquanto a polícia palestina deve assumir a segurança interna das cidades, por se tratar de uma questão soberana nacional que não admite delegação nem usurpação.

Abdel Aal reafirma que “as armas da resistência são uma questão política e nacional por excelência, não sujeitas às condições da ocupação, e só podem ser discutidas no âmbito de um consenso palestino abrangente que preserve o projeto de libertação nacional e proteja a unidade do povo e de suas forças vivas”.

Aniversário de Frente: a esperança como válvula da resistência e estratégia do futuro

Abdel Aal observa que o aniversário de fundação da Frente não é apenas uma recordação histórica, mas uma mensagem às gerações futuras: “A Palestina permanece, e sua liberdade não será concedida, mas arrancada e construída com paciência, sacrifícios, firmeza do povo, unidade, trabalho e esperança”.

Ele acrescenta que segurar o futuro começa por preservar a esperança. A esperança, afirma, não é um sentimento passageiro, mas uma estratégia existencial e prática que transforma a firmeza em força, o sofrimento em terreno fértil para a construção e os sacrifícios individuais e coletivos em elementos sólidos no longo caminho da libertação.

Citando o filósofo italiano Antonio Gramsci, Abdel Aal recorda: “Precisamos do pessimismo da razão e do otimismo da vontade”, destacando que a realidade deve ser vista como ela é, com toda a sua tragédia e complexidade, sem fechar os olhos nem a transformar em ilusão.

Ele explica que a esperança necessária não é um anestésico para aliviar a dor, mas uma ferramenta ativa de ação e libertação. Ela só pode existir quando vinculada a uma compreensão precisa da realidade e à capacidade de transformá-la.

Uma esperança sem base na realidade transforma-se em fantasia; ligada à realidade, converte-se em estratégia de sobrevivência, trabalho e luta.

Abdel Aal conclui afirmando: “Sempre possuímos esperança, ela se concretize ou não. Mas quando se separa da realidade, perde sua essência e se converte em ilusão, gerando apenas fraqueza e desespero. Por isso, o otimismo revolucionário deve ser uma consciência prática, que combine o reconhecimento das dificuldades com a determinação da vontade de transformá-las em uma força real capaz de construir o futuro.”

Comunicado do Ministério da Saúde

Relatório estatístico periódico sobre o número de mártires e feridos devido à agressão sionista na Faixa de Gaza:

Nas últimas 24 horas, chegaram aos hospitais da Faixa de Gaza 3 mártires, sendo 2 novos e 1 recuperado dos escombros, além de 5 feridos.

Ainda há várias vítimas sob os escombros e nas ruas, e as equipes de ambulância e da defesa civil continuam impossibilitadas de chegar até elas até o momento.

Desde o cessar-fogo (11 de outubro de 2025):

• Total de mártires: 379
• Total de feridos: 992
• Total de corpos recuperados: 627

O número total de vítimas da agressão israelense aumentou para 70.369 mártires e 171.069 feridos desde 7 de outubro de 2023.