Atualização sobre a Tempestade Al-Aqsa: dia 740
O primeiro ano de martírio de Yahya Sinwar, liderança estratégica da Operação Tempestade Al-Aqsa, foi rememorado no dia de hoje por organizações da resistência palestina e solidárias por todo o mundo.

Um ano do martírio de Yahya Sinwar
Há um ano, Yahya Sinwar, quadro histórico do Hamas e liderança estratégica da Operação Tempestade Al-Aqsa, era assassinado em Gaza pelas forças de ocupação israelenses. O fato foi rememorado por organizações da resistência palestina e solidárias por todo o mundo.
Yahya Ibrahim Hassan Sinwar, conhecido entre a resistência pelo codinome Abu Ibrahim, nasceu em 19 de outubro de 1962 no campo de refugiados de Khan Yunis, ao sul da Faixa de Gaza. Sua família havia sido expulsa da cidade de Majdal Asqalan durante a Nakba de 1948, evento que marcaria de forma definitiva a consciência política e o destino de toda uma geração. Desde cedo, Sinwar viveu o cotidiano de um povo em exílio permanente – pobreza, superlotação e um ambiente social moldado pela ocupação e pela resistência.
Na juventude, ingressou na Universidade Islâmica de Gaza, onde se formou em Língua Árabe. Foi ali que se aproximou das ideias de Sheikh Ahmed Yassin, fundador do Hamas, e rapidamente se destacou como um dos líderes estudantis mais ativos do movimento islâmico.

Em 1983, ao lado de outros militantes, ajudou a criar o Serviço de Segurança da Da’wa, responsável por proteger os pregadores e simpatizantes do movimento. Três anos depois, sob orientação de Yassin, participou da fundação da Majd – organização encarregada de identificar e neutralizar colaboradores palestinos a serviço de Israel. Com essa experiência, Sinwar se firmou como um estrategista do aparato de inteligência da resistência islâmica.
Entre 1982 e 1988, participou de diversas ações e confrontos contra as forças israelenses. Preso pela primeira vez em 1982, passou seis meses na prisão de Fara’a. Em 1988, foi novamente capturado e sentenciado a quatro prisões perpétuas, totalizando 426 anos de cominação.
Passou 23 anos nas prisões israelenses, sendo quase quatro na solitária. Encarcerado, tornou-se figura central entre os prisioneiros do Hamas: liderou comitês internos, organizou greves de fome e escreveu obras que mais tarde seriam vistas como a base da doutrina de segurança do movimento.

Em 2004, uma cirurgia de emergência salvou-lhe a vida após a descoberta de um tumor cerebral. O dentista israelense que o operou, Yuval Bitton, relataria mais tarde que Sinwar fez questão de compreender, por meio de um guarda muçulmano, o significado espiritual de ter sua vida salva por um não muçulmano. Essa convivência improvável marcou um dos episódios mais humanos de sua trajetória – e também um elo inesperado que voltaria a aparecer décadas depois.
Libertado em 2011, após 23 anos, Sinwar deixou as prisões israelenses no âmbito do acordo Wafa al-Ahrar (“Lealdade dos Livres”), que trocou 1.027 prisioneiros palestinos pelo soldado israelense Gilad Shalit. Foi um dos arquitetos do acordo e, até ser isolado em solitária, atuou como interlocutor direto nas negociações, recusando-se a aceitar qualquer veto israelense sobre os nomes a serem libertados. Após sua libertação, declarou publicamente: “Não pouparemos esforços para libertar os que ainda estão atrás das grades. A melhor notícia que um prisioneiro pode receber é a captura de um soldado inimigo.”
O pensamento político do ‘Leão de Gaza’ é nascido da experiência da prisão, da resistência e da autodisciplina. Os analistas israelenses repetiam: “É preciso entrar na mente de Sinwar.” Mas o próprio Sinwar, em seus escritos e falas, já havia revelado o essencial de seu pensamento – um pensamento que transformava o sofrimento em método e a resistência em destino.

Sua principal obra, O Espinho e o Cravo, escrita em 2004, é uma alegoria da história palestina recente. A narrativa entrelaça biografia e política, e revela, sob o véu da ficção, a filosofia que guiaria o próprio Sinwar: a ideia de que o homem deve forjar a si mesmo pela luta, tornando-se um “indivíduo autoconstruído” – um ser feito pela vontade e pela responsabilidade.
Essa noção do homem que guia a própria história é central no pensamento de Sinwar. Sinwar vê na renúncia consciente ao conforto e à paixão em nome de uma causa superior o fundamento dessa transformação. O verdadeiro sentido da existência estaria em servir à libertação nacional, e sua jihad seria tanto uma prática espiritual quanto política: a luta contra a ocupação e contra as próprias fraquezas. Segundo sua concepção, marcada fundamentalmente pela fé islâmica, o indivíduo deveria, portanto, encontrar em sua fé e em sua conduta a base da soberania.
Sua filosofia é também uma resposta direta à experiência da prisão. Em cativeiro, Sinwar aprendeu a usar o tempo como instrumento de poder. Traduziu obras sobre o sistema político israelense, estudou o hebraico e se debruçou sobre a história judaica. De dentro das prisões de seu inimigo, buscou compreender suas lógicas, suas fraquezas, seu pensamento. A prisão, que deveria quebrá-lo, tornou-se o berço de sua doutrina – um espaço onde o inimigo se torna objeto de estudo e a paciência, uma arma estratégica.
A libertação nacional, para ele, dependia da formação de uma sociedade capaz de “produzir resistência” mesmo sob destruição – uma sociedade em que cada indivíduo compreenda seu papel político, viva com consciência de segurança e esteja preparado para o sacrifício. Em seu romance, ele descreve jovens que constroem universidades sob tendas e combatentes que enfrentam o inimigo sem esperar ordens: a resistência como modo de vida, o cotidiano como campo de batalha.
Sinwar acreditava que o objetivo último da luta palestina não era apenas expulsar a ocupação, mas produzir um novo tipo de pessoa – um sujeito livre, consciente, moralmente disciplinado e politicamente soberano. Nessa visão, a fé islâmica oferece as ferramentas éticas para moldar esse homem novo: ascetismo, responsabilidade e sacrifício. A luta não é só contra Israel, mas contra a submissão interior. A libertação começa dentro do próprio indivíduo.

De volta a Gaza, casou-se em 2012 e teve três filhos: Ibrahim, Abdullah e Reda. O ex-prisioneiro tornou-se rapidamente uma das figuras mais influentes do Hamas. Foi eleito membro do Bureau Político da organização em 2012, assumindo o comando do dossiê de segurança. No ano seguinte, integrou o Bureau Político Geral, responsável pela ala militar, e em 2015 assumiu a pasta dos prisioneiros israelenses em poder das Brigadas Al-Qassam. Em 2017, foi eleito chefe do Bureau Político do Hamas em Gaza – posição para a qual seria reeleito em 2021 – e, em 2024, sucedeu o “mártir da nação” Ismail Haniyeh na liderança máxima do movimento, após o assassinato de Haniyeh em Teerã.
Após a Operação Tempestade Al-Aqsa, Sinwar foi declarado o homem mais procurado por Israel. Caçado incessantemente, desapareceu repetidas vezes das operações de inteligência israelense, que só o encontrariam quase por acaso meses depois, nas ruínas de Rafah. Segundo relatos, morreu aos 61 anos, atingido por um projétil de tanque, após resistir ferido e continuar combatendo até o último instante. Sua morte foi filmada por um drone: sentado entre escombros, coberto por um keffiyeh, lança um pedaço de madeira contra o drone que o vigiava – um gesto de desafio que se tornaria símbolo de sua trajetória.

Comunicado do Ministério da Saúde
Relatório estatístico periódico sobre o número de mártires e feridos devido à agressão sionista na Faixa de Gaza:
Os hospitais da Faixa de Gaza registraram 124 mártires e 33 feridos, como resultado da agressão israelense na Faixa de Gaza nas últimas 24 horas.
Um número considerável de vítimas ainda está sob os escombros e nas ruas, e as equipes de ambulância e defesa civil não conseguem alcançá-las.
O total de mártires da agressão israelense subiu para 67,806 e 170,066 feridos desde o 7 de outubro de 2023.
O número de mártires e feridos desde 18 de março de 2025 atingiu 14,938 mártires e 58,025 feridos.