Atualização sobre a Tempestade Al-Aqsa: dia 550
Kanafani não escreveu sobre a Palestina como um historiador que documenta tragédias. Ele a escreveu como um testamento final, como o grito de uma mãe enlutada, como o chamado de um combatente antes de cair mártir.

FPLP: Em memória de Ghassan Kanafani
No meio das catástrofes, entre o barulho das armas que atravessam a carne palestina, entre os gritos das mães que esperam os que nunca voltam, e as pedras das casas que agonizam sob os pés do ocupante — nasceu Ghassan Kanafani. Seu nascimento não foi apenas uma data no calendário, mas o nascimento de uma ideia que jurou nunca morrer, nunca se curvar. Uma ideia que seria uma arma quando os fuzis falhassem, e que permaneceria de pé quando todos caíssem. Para Kanafani, a Palestina não era apenas um ponto no mapa ou uma linha nos livros de história, mas uma dor permanente na memória, uma voz que chama das profundezas da ausência, uma ferida que não cicatriza no coração do exílio. Era a pátria que os refugiados respiravam, a esperança carregada pelos combatentes no gatilho das armas, e o sonho que se recusava a ser dividido pelo silêncio do mundo.
Ele via a pátria nos olhos das anciãs que ainda guardavam as chaves das casas roubadas, nas crianças que nasceram sem uma terra, mas a carregavam no sangue como o coração carrega o seu pulso, nos rostos dos refugiados que carregavam suas tendas nos ombros, mas nunca deixaram seus sonhos de lado.
Kanafani não escreveu sobre a Palestina como um historiador que documenta tragédias, nem como um político que domina a arte de falsificar palavras. Ele a escreveu como um testamento final, um nome gravado na parede de uma cela, como o grito de uma mãe em luto, como o chamado de um combatente antes de cair mártir. Sua caneta era como uma bala que não mata, mas desperta a consciência, acende a chama da revolução, quebra a barreira do medo e redefine o palestino como alguém que não é apenas um refugiado ou um ser passivo, mas alguém nascido para resistir, para voltar, para carregar pedras como pátria em suas mãos e transformá-las em bombas diante daqueles que pensam que a terra pode ser roubada.
Em “Regresso a Haifa”, Said não buscava apenas seu filho perdido, mas a pátria que deixou para trás, sua dignidade que foi roubada, uma resposta que o assombrava: “Como saímos? Como permitimos a nós mesmos sair?” A ausência não era apenas uma viagem geográfica, mas uma dilaceração da alma, um desenraizamento, uma negação da identidade. Para Ghassan, a pátria não era uma lembrança contada no exílio, mas um ato diário, uma luta constante, uma recusa contínua à derrota. Quem esquece sua terra, dizia ele, será esquecido pela história.
Em “A Terra da Laranja Triste”, a laranja não era apenas uma fruta que preenchia os pomares de Jaffa, mas uma pátria sendo roubada, sangue escorrendo das raízes das árvores, símbolo de tudo que foi tirado à força dos palestinos, de tudo que foram obrigados a deixar sem sequer uma despedida. A laranja chorava em seus textos, como choram as aldeias destruídas, como chora o refugiado ao perceber que a memória é tudo o que lhe resta da pátria — e que o mundo virou as costas, como se a Palestina nunca tivesse sido parte do universo.
Em “Umm Saad”, a pátria se manifestava em uma mulher que não se rende, que gera filhos não para serem números nas listas de ajuda humanitária, mas combatentes que pegam em armas quando os homens se cansam, que continuam o caminho quando outros recuam. “Ela dá à luz e a Palestina recebe”, como se úteros palestinos tivessem sentenças de nascimento antes mesmo de seus filhos nascerem, como se a terra compensasse sua perda com sangue, como se ela não aceitasse ser irrigada senão pelo sacrifício de seus filhos.
A literatura de Kanafani não era lamentosa, nem um soluço escondido nos cantos da frustração, mas fogo lançado no rosto de quem tentava apagar a causa. Era uma revolução incessante, uma certeza de que o retorno não é um sonho adiado, mas uma promessa que deve ser cumprida. Ele acreditava numa revolução que não morre, numa causa que não termina, numa terra que reconhece seus filhos, mesmo que tardem a voltar.
Quando o inimigo decidiu silenciá-lo, não foi por medo de um homem, mas por temor de uma palavra que continuava lutando mesmo após a partida de quem a dizia. Eles o assassinaram, mas não mataram sua voz, não mataram sua ideia, não mataram a esperança que plantou no coração dos que o leram. Não mataram a revolução que escreveu com tinta antes que mártires a escrevessem com sangue.
Hoje, mais de cinquenta anos após seu assassinato, suas palavras ainda estão gravadas nas paredes dos campos de refugiados, ecoam nas prisões, são ditas por mães ao se despedirem de seus filhos, erguidas por combatentes sobre suas armas, memorizadas por crianças como memorizam os nomes das aldeias perdidas. “Batam nas paredes do tanque” continua sendo um chamado que não adormece. “Não morra antes de ser um igual” permanece como uma lei para o rebelde. Suas palavras continuam sendo uma arma que não enferruja, uma bandeira que não cai — porque há pátrias guardadas nos corações antes de estarem nos mapas. Porque a Palestina, como Ghassan nos ensinou, não se apaga, não se vende e não se esquece.
Comunicado do Ministério da Saúde
Relatório estatístico periódico sobre o número de mártires e feridos devido à agressão sionista na Faixa de Gaza:
Os hospitais da Faixa de Gaza registraram 58 mártires e 213 feridos, como resultado da agressão israelense na Faixa de Gaza nas últimas 24 horas.
Um número considerável de vítimas ainda está sob os escombros e nas ruas, e as equipes de ambulância e defesa civil não conseguem alcançá-las.
O número de mártires e feridos desde 18 de março de 2025 atingiu 1.449 mártires e 3.647 feridos.
O total de mártires da agressão israelense subiu para 50.810 e 115.688 feridos desde o 7 de outubro de 2023.