Assassinato de Sayyed Hassan Nasrallah é mais um passo de Israel para guerra em escala regional
A morte de Nasrallah expõe ao mundo que Israel, apoiado pelo Ocidente, não segue qualquer norma internacional de conflito, e não busca objetivo militar nenhum senão expandir o escopo do conflito na região.
Por Redação
O Hezbollah libanês confirmou neste sábado (28) a morte de sua liderança, Sayyed Hassan Nasrallah, assassinado na sexta-feira (27) durante intensos bombardeios das forças israelenses contra o que seria a “sede do movimento” nos subúrbios ao sul de Beirute.
“Sua eminência Sayyed Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, juntou-se aos grandes e imortais mártires”, declarou o grupo em comunicado oficial, sem detalhar as circunstâncias de sua morte.
Na quinta-feira (26), Israel havia colocado suas forças em alerta total ao longo da fronteira libanesa, chamando duas unidades da reserva para a ativa e abrindo abrigos públicos em várias cidades, preparando-se para uma retaliação do Hezbollah.
A organização libanesa expandiu seu alcance de foguetes na sexta-feira (27) para o centro de Israel e até mesmo para a região central da Cisjordânia ocupada. As defesas aéreas israelenses interceptaram os foguetes do Hezbollah perto de Ramallah algumas horas antes do anúncio oficial do Hezbollah da morte de Nasrallah.
Israel bombardeou um bloco residencial na área de Haret Hraik, no distrito de Dahiya, com várias bombas pesadas de 2.000 libras. O massivo ataque aéreo devastou completamente um quarteirão residencial inteiro.
O presidente dos EUA, Joe Biden, emitiu um comunicado elogiando Israel pelo assassinato, chamando-o de “uma medida de justiça” para as vítimas das ações do Hezbollah, incluindo americanos, israelenses e civis libaneses. A declaração provocou críticas de parte da comunidade internacional e até de instituições jurídicas burguesas, que expressaram preocupação com a declaração de Biden, chamando-a de um precedente perigoso que desconsidera o ‘estado de direito’.
Nos anos 1970, Sayyed Hassan Nasrallah cursou estudos religiosos no Iraque, onde conheceu Abbas Musawi, com quem desenvolveu uma profunda parceria. Juntos, eles romperam com o movimento Amal e cofundaram o Hezbollah no início dos anos 1980, após a invasão israelense do Líbano em 1982.
A partir da década de 1980, em que pesem todas as considerações negativas acerca de um grupo assentado sob as bases do fundamentalismo religioso, o Hezbollah emergiu como uma força significativa da resistência libanesa à ocupação israelense, e Nasrallah tornou-se uma figura central na liderança do grupo. Em 1992, após Israel assassinar o líder Abbas Musawi, Nasrallah assumiu a posição de secretário-geral do Hezbollah. Em 1997, o filho de Nasrallah, Hadi, foi morto em combate contra as forças israelenses, o que aumentou sua popularidade no Líbano e em parte considerável do chamado ‘mundo árabe’.
Sob sua liderança, o Hezbollah enfrentou sucessivas ofensivas israelenses, começando em 1993. Em 1996, ele supervisionou as operações do grupo durante a ofensiva “Vinhas da Ira”, que culminou em um acordo para evitar ataques a civis de ambos os lados. Em 2000, após a retirada israelense do sul do Líbano, Nasrallah proclamou a vitória do Hezbollah. Ele liderou o grupo durante a guerra de 2006 contra Israel, que terminou com um cessar-fogo e a retirada israelense, solidificando a reputação do Hezbollah como o primeiro movimento de resistência a dar fim a uma invasão israelense.
Após o 7 de outubro de 2023, Nasrallah e o Hezbollah assumem o papel de solidariedade ativa no front sul da Tempestade Al-Aqsa. A solidariedade à Umma muçulmana [“nação” em tradução livre; “pátria-mãe” em sentido literal] foi um dos pilares de fundação do Hezbollah, e guiou a organização não só na adesão imediata aos esforços da Operação Tempestade Al-Aqsa, como em várias outras situações durante a história recente na região, por exemplo, na invasão americana da Síria, iniciada em 2011.
Sua morte deixa vago o cargo de secretário-geral do Hezbollah pela primeira vez em 32 anos. A maioria das fontes libanesas especulam que Hashem Safiyuddin, atual chefe do conselho executivo do movimento, será seu sucessor, enquanto outras – minoritárias no presente momento – apontam o nome de Naim Qassem, vice-secretário-geral do movimento.
A morte de Nasrallah expõe ao mundo que Israel, apoiado pelo Ocidente, não segue qualquer norma internacional de conflito, e seus adversários tendem a adotar a mesma postura. A atual contenção demonstrada pelo Hezbollah, que tem intrigado muitos analistas, poderá se tornar uma questão do passado.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, disse que a comunidade internacional não esquecerá que a ordem de um ato terrorista de Israel para assassinar Sayyed Nasrallah foi emitida de Nova Iorque. Pezeshkian disse que os Estados Unidos não podem se absolver da cumplicidade com os sionistas no ataque terrorista contra o chefe do Hezbollah.
O ato, ocorrido na semana da Reunião da Assembleia Geral da ONU, também demonstra que Israel não busca quaisquer negociações em sua ofensiva, mas sim a intensificação do conflito em escala regional. A ocupação sionista opera através de um fundamentalismo ideológico marcado por seu supremacismo étnico e sua ambição contínua de expansão territorial.