'As torcidas organizadas como ferramenta de luta de classes' (Duda)

As torcidas organizadas precisam ser um instrumento da luta de classes e antifascista, promovendo tarefas como a quebra dos bloqueios das estradas dos bolsonaristas, que torcidas organizadas do país inteiro se juntaram para desbloquear.

'As torcidas organizadas como ferramenta de luta de classes' (Duda)
"Que nós façamos a disputa de linha política nesses espaços e consigamos criar uma frente anticapitalista e orgânica, usar as torcidas organizadas como uma ferramenta para a estratégia socialista e de luta de classes."

Por Duda para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Saudações, camaradas.

Venho através desta tribuna manifestar a necessidade de uma inserção orgânica e organizada, que não damos prioridade ou até mesmo considerações. No entanto, um importante espaço que é ocupado pelo proletariado, unidos pelo esporte popular no Brasil, o futebol.

Me refiro às torcidas organizadas do futebol, que desde a ditadura burguesa militar é composto pelos trabalhadores que se unem para além de uma torcida pelo seu time do coração, mas também pela luta contra opressões e anticapitalista, mesmo que sem discernimento da luta de classes. Nesta tribuna, busco trazer reflexões e vivências que tive e presenciei dentro das torcidas organizadas do Paraná, em específico de Curitiba, e manifestar a questão política e anticapitalista para além do futebol.

Previamente a minha militância orgânica dentro da UJC e do ME, durante os atos Fora Bolsonaro, dentro do seio das torcidas organizadas dos times proeminentes em Curitiba, sendo eles, o Coritiba com a Império Alviverde, Atlético Paranaense com o Furacão e Paraná Clube com a Fúria, nasceu uma base e a criação das torcida antifascista, que era composto majoritariamente por torcedores independentes e uma figura especifica do Partido dos Trabalhadores (Paulo Opuszka) e do PCdoB (Maia). O inicial Coxa Comunas (o time o qual eu torço e presenciei mais de perto sua organização), nascido do antigo Movimento Organizado Coritibano (MOC) e a posteriori se tornando Resistência Alviverde. Travou a sua atuação principal, além da presença nos jogos, também nas manifestações Fora Bolsonaro. Mesmo não tendo uma linha política definida por não ter uma disputa concreta e também orgânica, todos os presentes adotaram a prática de circulismo e cotização para confecção de materiais, como bandeiras e camisetas, e também para ajudar a comunidade periférica. Logo depois, se tornou constante a tarefa de propagação com lives semanais de discussões da política fascista do Bolsonaro, que era construídos com as outras torcidas do Paraná que também estavam se consolidando.

No entanto, após alguns conflitos entre o “dirigente” do Coxa Comunas e os torcedores que construíam, devido opiniões divergentes referente a “terceira via” das eleições presidenciais que ainda estava a 1 ano de distância, a torcida se fragmentou, resultando na dissolução de tudo o que foi construído entre as torcidas antifascistas de Curitiba.

Apesar de todos esses desvios, que eram previstos pelo amadorismo da organização, o que quero trazer como contribuição é outras experiências e a realidade das torcidas organizadas do Brasil.

E o contexto?

As torcidas organizadas foram sim idealizadas e criadas por membros da burguesia paulista, até porque nos anos 20, o acesso ao esporte, tanto como entretenimento quanto profissão era a realidade apenas da burguesia e pequena burguesia brasileira e estrangeira no Brasil. Porém, na década de 50, mesmo com o escasso acesso à informação e ao entretenimento através das televisões e rádios, a juventude das classes mais pobres se envolve com o esporte e disputa espaço com a pequena burguesia dentro das torcidas organizadas a partir de reivindicações contra os diretores e dirigentes dos times de futebol. Quando o golpe acontece, essa juventude se une contra a repressão militar. Época em que muitas torcidas surgem e são estruturadas com direções, sedes, comandos e movimentos culturais, mesmo dentro da ilegalidade.

Qual é o contexto das torcidas organizadas atualmente?

Nas últimas décadas, as torcidas organizadas vem sendo um espaço de confraternização, cultura, reivindicações, e claro, de torcida. Concentrando a juventude periférica em suas fileiras, e as direcionando para diversas tarefas, seja na bateria, organização de seus comandos regionais, produção de material agitativo, vendas, criação de eventos e diversas outras atividades. E ainda dentro das maiores torcidas organizadas do Brasil, há diversos coletivos, de mulheres, pessoas não-brancas, pessoas PCD, imigrantes, contra a criminalização das drogas e muitos outros.

E o que os comunistas têm a ver com isso?

Na última resolução do XVI congresso do antigo PCB, havia uma resolução sobre a importância da inserção de militantes e disputa de espaços dentro das torcidas organizadas[1]. Entretanto, sabemos que isso não existia, ou apenas em casos específicos. Trago essa tribuna para fazer a nossa militância refletir sobre os nossos espaços de inserção, principalmente nos movimentos de bairro, em que as torcidas organizadas trariam uma facilidade maior de inclusão e engajamento nas atividades, e um foco na juventude trabalhadora e periférica que estão nesses espaços, que na maioria das vezes por estarem em torcidas organizadas sofrem com a perseguição e repressão policial. Que a gente organize essa juventude e trabalhadores para a reivindicação do esporte e o entretenimento como um direito da classe trabalhadora, e também dispute a consciência de classe dos mesmos, rumo a construção do socialismo.

As torcidas organizadas precisam ser um instrumento da luta de classes e antifascista, promovendo tarefas como a quebra dos bloqueios das estradas dos bolsonaristas, que torcidas organizadas do país inteiro se juntaram para desbloquear. Que nós façamos a disputa de linha política nesses espaços e consigamos criar uma frente anticapitalista e orgânica, usar as torcidas organizadas como uma ferramenta para a estratégia socialista e de luta de classes.

Bom camaradas, peço desculpas pela qualidade da tribuna, sei que poderia ser melhor, mas acredito que consegui transmitir a mensagem. Agradeço pelo incentivo dos meus camaradas do Núcleo Honório Delgado Rúbio e ao camarada Ivan Pinheiro, para escrever a tribuna.

Saudações revolucionárias, Duda.


Referências:

[1]Resoluções congressuais XVI Congresso Nacional do PCB: Programa de Lutas para implementação da estratégia socialista no Brasil. Resolução n°65.

“O esporte no Brasil (principalmente o futebol) tem um forte apelo popular, constituindo-se em patrimônio cultural dos/as trabalhadores/as, mesmo com a desilusão crescente e distanciamento da população proletária por conta da elitização e o avanço da mercantilização do esporte. No caso específico do futebol, pelo seu caráter de massas, abrem-se grandes possibilidades de atuação em clubes comunitários, nos grandes clubes profissionais, coletivos populares e de torcedores, no meio jornalístico e principalmente entre as torcidas organizadas. Devemos lutar pela ampliação da participação popular no futebol, contra o processo atual de monopolização pelos grandes investidores e pelo direito ao lazer dos/as trabalhadores/as sempre na perspectiva de construção do poder popular. Fica como tarefas do Comitê Central a organização e o estímulo à formação de espaços de debates, acúmulo e intervenção política nessa área (como frações partidárias, seminários e ativos).”