As tarefas dos comunistas perante a declaração do Presidente Lula sobre o genocídio do povo palestino
Portanto, convocamos as bases partidárias e todos os defensores da causa palestina a organizarem mobilizações, manifestações e pronunciamentos com a demanda de ações concretas para concretizar o rompimento, com o objetivo de dar consequências práticas ao pronunciamento do Presidente.
Nota Política do Comitê Nacional Provisório do PCB-RR
No dia 18 de fevereiro de 2024, em fala na 37ª Cúpula da União Africana, sediada em Adis Abeba na Etiópia, o presidente Lula reafirmou o compromisso brasileiro de enviar ajuda humanitária à Gaza e criticou duramente a postura das direções políticas internacionais perante o que caracterizou de uma guerra de um exército contra mulheres e crianças. No discurso, Lula caracteriza corretamente o genocídio praticado por Israel em Gaza como um dos momentos históricos mais bárbaros do último período, construindo uma alusão aos horrores do Holocausto no século XX.
A fala do presidente, apesar de meramente constatar o evidente genocídio que sofre o povo palestino e, minimamente, responsabilizar a comunidade internacional por sua omissão, foi recebida de maneira exaltada, tanto por adversários quanto por apoiadores. Aqueles que partiram ao ataque, acusaram o presidente de anão diplomático e antissemita, enquanto que seus apoiadores aproveitaram da oportunidade para reforçar a imagem de um Lula como chefe combativo do terceiro-mundo - do “Sul Global” - que “bate de frente com o imperialismo”, “sem papas na língua”, sendo “um herói do povo”. Tal caracterização desconsidera a invasão do Haiti, capitaneada pelo governo Lula sob o disfarce de ocupação humanitária, bem como suas posições subservientes a determinados setores do capitalismo nacional e internacionalmente. Não há qualquer oposição real ao imperialismo que não seja oposição frontal ao capitalismo.
Após as declarações do presidente Lula, o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, declarou que uma linha vermelha havia sido cruzada e que os comentários caracterizam virulento ataque antissemita. Além disso, o Ministro de Relações Exteriores de Israel - Yisrael Katz - convidou o embaixador brasileiro para uma visita televisionada ao Yad Vashem (Museu do Holocausto), na qual afirmou que Lula é persona non grata em Israel até que se retrate. Em resposta a isso, o Itamaraty ordenou o retorno do embaixador brasileiro em Israel e convocou para conversas o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine.
O Brasil, em todas as suas esferas de poder, ainda possui uma série de vínculos diplomáticos, econômicos e militares com Israel, como ficou provado pelo uso de software israelense pela ABIN para espionar brasileiros. Além disso, no final do ano passado, três acordos de cooperação entre Brasil e Israel foram aprovados pela Câmara dos Deputados, firmados ainda na presidência de Bolsonaro. Esses acordos nas áreas de “cooperação em segurança e combate ao crime organizado”, “cooperação sobre serviços aéreos” e “cooperação previdenciária” poderiam ser revogados por ato discricionário do presidente da República. Após cinco meses de genocídio contra o povo palestino, o governo brasileiro ainda não tomou medidas mais firmes contra o Estado de Israel. No início da operação, o governo chegou a rotular as forças de resistência palestina como terroristas, ignorando as necessidades urgentes do povo palestino, que clama por ações concretas em vez de meras declarações.
As PMs brasileiras, que usam de tecnologia militar israelense no genocídio que praticam contra a classe trabalhadora negra, em momento algum foram enfrentadas por Lula. Muito pelo contrário, entre outras coisas, os governos petistas foram responsáveis por um dos maiores impulsos ao genocídio e encarceramento em massa da população negra ao implementar a Nova Lei de Drogas.
Ainda extremamente grave, no final de janeiro de 2024, a marinha brasileira assumiu a liderança de uma força tarefa internacional que monitora o mar vermelho contra pirataria, em um contexto no qual os Houthis operam um bloqueio militar marítimo contra Israel na região, em retaliação ao genocídio que praticam. Os Houthis sofrem retaliação militar dos Estados Unidos, e as Forças Armadas Brasileiras, ao aceitarem a liderança rotativa dessa força tarefa neste momento mostram que, na prática, estão direta e militarmente envolvidas no genocídio, ao lado do sionismo e contra os palestinos. É urgente, para que qualquer declaração inflamada do presidente seja levada à sério, que o Brasil abandone imediatamente essa força-tarefa como um todo, não só sua liderança.
O que fazer?
Dessa maneira, é importante a declaração de Lula, que abre uma conjuntura favorável à luta do movimento em solidariedade ao povo palestino no país. Os ataques sionistas à posição do presidente devem ser firmemente rechaçados e criticados pelos comunistas, pois equivalem a uma tentativa de equiparar os judeus e o judaísmo ao projeto colonial e racista do sionismo. É uma manipulação da dor e da perseguição enfrentadas pelos judeus, bem como por outros grupos sociais, étnicos e políticos, utilizando essa memória para blindar o projeto sionista de críticas e para construir um mito fundador para o país.
Entretanto, essa declaração de Lula precisa ter consequências político-práticas Ao romper as relações com Israel, toda uma cadeia de relações econômicas e militares entre os países que reforça o genocídio se rompe, de modo que golpeia-se parte da base do que sustenta Israel. Por fim, pós 4 meses de intensas mobilizações nossas e de outros partidos e movimentos que atuam na causa palestina no Brasil e no mundo se concretiza uma situação internacional mais propícia ao movimento de solidariedade ao povo palestino. Porém, os recentes pronunciamentos de Lula, por mais que “estremeçam” as relações diplomáticas entre Brasil e Israel e tenham uma capacidade de influenciar o debate internacional, pouco interferem na dinâmica dos acordos militares, diplomáticos e econômicos entre Brasil e Israel.
Os atos e atividades realizadas no país e no mundo contribuíram ativamente para combater a narrativa sionista e pressionar uma posição política mais coerente do governo Lula. Parte da tarefa da mobilização da classe trabalhadora em solidariedade com o povo palestino é enfatizar que o verdadeiro internacionalismo proletário exige uma luta contínua e incansável pela libertação completa do povo palestino da opressão colonial e de todas as formas de exploração.
Portanto, convocamos as bases partidárias e todos os defensores da causa palestina a organizarem mobilizações, manifestações e pronunciamentos com a demanda de ações concretas para concretizar o rompimento, com o objetivo de dar consequências práticas ao pronunciamento do Presidente. Agora é o momento de que todos os comprometidos com a luta do povo palestino organizem e mobilizem atos e ações massivas, reivindicando o fim de todas as relações diplomáticas, militares e econômicas que Brasil mantém com o Estado de Israel. É necessário que se construam manifestações, panfletagens, intervenções públicas de todo tipo. É necessário que os estudantes e demais setores das universidades intensifiquem suas campanhas contra os acordos com instituições israelenses e contra a perseguição sionista no movimento estudantil. É o momento de denunciar a cumplicidade do Brasil com Israel. Divulgue-se a palavra de ordem: PELO FIM DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS, ECONÔMICAS E MILITARES COM ISRAEL!
Fontes
Marinha do Brasil comanda força contra piratas no Mar Vermelho | Metrópoles
Câmara aprova três acordos de cooperação entre Brasil e Israel - Notícias
https://www.youtube.com/watch?v=4GVDgSp4bfc
🔴 Lula fala com a imprensa na Etiópia
Persona non grata: Ministro de Israel faz reprimenda pública contra Lula e amplia crise diplomática
Após reprimenda israelense, Lula chama de volta embaixador do Brasil em Israel