'As relações entre a juventude e o partido a partir do XVII Congresso –a necessidade da dissolução da UJC?' (P. Acácio)
Essa dissolução quase total da juventude seria, entretanto, temporária. Uma vez que o partido estivesse bem solidificado e organizado e que a situação de inversão estivesse corrigida, defendo que refundemos uma estrutura própria da UJC em um futuro Congresso, com congressos próprios e tudo mais.
Por P. Acácio para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, gostaria de debater aqui a relação Juventude-Partido: me parece que temos hoje na relação PCB-RR e UJC (assim como tínhamos na relação PCB e UJC antes do racha) uma situação de inversão de papéis, onde o partido é muito menor que a juventude, tendo muito menos trabalho e muito menos quadros formados. Evidentemente essa situação ocorreu pelo boicote e pelo desinteresse oportunista do PCB de avançar o trabalho do complexo partidário, de modo que foi na UJC onde o trabalho pode se desenvolver, crescer e se complexificar, ao mesmo tempo que, percebendo o avanço organizativo e político da juventude, essa separação entre juventude e partido foi usada pelos oportunistas para murar o PCB na disputa política contra a linha esquerda e, como efeito, permitiram sem que quisessem que a UJC virasse uma arma na luta interna do partido (e que bom que virou!).
Dessa forma, a UJC em SP teve criar formas organizativas cada vez mais complexas e tocar trabalhos que fugiam do escopo de juventude, por exemplo, alguns poucos meses antes do racha desceu uma ata da CR que começava a preparação para a criação de coordenações intermediárias entre CR e núcleos enquanto o partido se mantinha no marasmo organizativo de sempre. Um outro exemplo, do ponto de vista de ir além do trabalho de juventude, a UJC em SP tem experiência com associação de moradores, um trabalho que não tem como alvo específico jovens (ainda que os englobe) e, portanto, não deveria ser um trabalho tocado por uma organização de juventude, e sim por um Partido Comunista.
Assim, – visto que um dos motivos do racha foi esse boicote e amadorismo constante do PCB – visando uma organização na qual poderemos trabalhar de fato, sem atar nossas próprias mãos, me parece que não fará mais sentido – a partir do XVII Congresso – que a UJC mantenha-se tocando trabalhos que não são específicos de juventude (como definidos no parágrafo anterior, trabalhos que tem a organização exclusiva ou majoritária da juventude enquanto objetivo) nem que tenha que manter uma estrutura organizativa grande e complexa como mantém atualmente.
Dessa maneira, tenho duas propostas, uma que defendo e outra que imagino que será apresentada enquanto mediação, a qual acho ineficiente. Seguem abaixo
- A que defendo: que a UJC, enquanto organização estruturada (Congresso, CN, CRs e núcleos) seja dissolvida, de modo que o nome, identidade visual e redes sociais mantenham-se apenas nas células do partido que toquem trabalhos específicos de juventude (ME secundarista e universitário, especificamente, e outros trabalhos a serem definidos). Ou seja, nesse caso, todos os organismos e militantes seriam parte igual do Partido, não havendo coordenações regionais ou nacional próprias da juventude nem congresso próprio.
Essa situação de juventude dissolvida serviria para “transferir” ao Partido o trabalho, quadros e capacidade organizativa que a Juventude teve de desenvolver para além de suas fronteiras de Juventude e contra o antigo Partido, visando resolver a situação de inversão que comentei no começo do texto e visando ampliar a capacidade política e organizativa do Partido que deve ser a vanguarda da revolução brasileira e, ainda, de quebra, seria um passo significativo rumo ao fim da militância dupla, de forma que não teríamos mais camaradas tanto na Juventude como no Partido, como tivemos até agora.
Essa dissolução quase total da juventude seria, entretanto, temporária. Uma vez que o partido estivesse bem solidificado e organizado e que a situação de inversão estivesse corrigida, defendo que refundemos uma estrutura própria da UJC em um futuro Congresso, com congressos próprios e tudo mais (CN, CRs, núcleos, finanças etc), mas agora limitada a trabalhos de juventude e sem ter que fazer o trabalho de um Partido incompetente por ele.
O único problema político mais sério que vejo nessa proposta é que, sem uma estrutura própria da juventude, os militantes e quadros mais jovens teriam que (até a reestruturação da UJC no momento oportuno) fazer disputa política diretamente com quadros mais velhos e experientes (e competentes, diferente do PCB-CC, se tudo der certo), o que pode ser problemático. - A mediada é que, no XVII Congresso, todos os trabalhos específicos de juventude sejam definidos (ME secundarista e universitário, alguns trabalhos de cultura etc) e todos os organismos e militantes que não estejam tocando esses trabalhos sejam transferidos (e não recrutados, tem que acabar o recrutamento da Junventude para o Partido) para o Partido e toquem os trabalhos “adultos” que tocavam na UJC, enquanto Partido. A partir disso, a UJC (nas bases e nas direções) seria enxugada e deveria se reestruturar.
Meu problema com essa proposta é que ainda assim continuaria em parte considerável o problema de que a UJC teria quadros e trabalhos mais avançados que parte dos do partido, especificamente os do ME. Nossos núcleos de ME têm alguns dos trabalhos mais avançados do complexo partidário e, onde o complexo ainda é pequeno, são os únicos trabalhos ou a maioria esmagadora e os mais bem organizados. Nesse período de 2013 até aqui, a maioria dos trabalhos mais complexos e dos quadros mais bem formados vieram do ME (não todos, de maneira alguma). Dessa maneira, visto que o desequilíbrio ainda estaria mantido entre Partido e Juventude, não vejo sentido algum em manter parte considerável dos quadros e trabalhos mais avançados (e, em alguns estados, a maioria da militância) em uma estrutura paralela e subordinada, com poderes deliberativos inferiores e relativos aos do Partido, murando o Partido em relação a Juventude.
Em conclusão, não vejo motivo para tomar a segunda opção ao invés da primeira. Acho que temos aqui uma oportunidade preciosa de finalmente construir um Partido revolucionário e não só uma juventude revolucionária a revelia de seu Partido e por ele atrapalhada. Entendo que esta parece uma decisão bastante drástica, mas não nos apeguemos a estruturas formais e mantenhamos sempre em mente o mais central da teoria de organização leninista: formas organizativas servem para se lidar com situações políticas, não devem existir no vácuo nem devem ser perenes sem justificativa política – e a situação política que enfrentamos até agora era a de lutar contra oportunistas encastelados num Partido que buscava limitar e boicotar todo o trabalho do complexo, de modo que foi necessário erguer uma estrutura e trabalhos tão grandes e amplos (em relação aos do Partido). Agora enfrentamos o desafio político da construção de um partido revolucionário e do avanço do trabalho comunista nas classes que compõe as massas trabalhadoras, especialmente no proletariado. Temos de avançar nossa organização!
Avante camaradas, com coragem!