As eleições para o Parlamento Europeu e a ascensão da extrema direita na Europa
Nenhuma das forças que se apresentam como “salvadoras da República” contra a extrema-direita na França propõe algo além do capitalismo, enquanto nenhuma solução duradoura pode existir dentro dele e ele deve ser derrubado para que os sofrimentos finalmente cessem.
Por Redação
Os resultados das recentes eleições para o Parlamento Europeu, realizadas entre os dias 6 e 9 de junho, demonstram como a extrema direita tem ganhado posições no continente. O direitista Partido Popular Europeu (PPE) é a força que controla a maior quantidade de assentos no órgão, com 190 cadeiras, 14 a mais do que no último pleito. O partido fascista Identidade e Democracia (ID) conta com 58 assentos, 9 a mais do que tinha. Diante do definhamento dos partidos da centro-esquerda, que perderam posições na disputa eleitoral, Partidos Comunistas da Europa se pronunciaram sobre os eventos:
Partido Comunista dos Trabalhadores da Espanha (PCTE) | Sobre as eleições europeias
Após a divulgação dos resultados provisórios das Eleições Europeias realizadas em 9 de junho, o Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista dos Trabalhadores da Espanha (PCTE) declara o seguinte:
1) Os resultados gerais a nível europeu e os específicos da Espanha apresentam cenários similares: por um lado, mantém-se uma clara maioria do que chamamos de consenso europeu, do qual fazem parte todas as forças políticas que, além de expressar diferentes opções de gestão capitalista, convergem na defesa da União Europeia (UE) e de seus planos econômicos e militares estratégicos.
2) Por outro lado, também se expressa claramente na maioria dos países da União Europeia o crescimento das posições mais reacionárias que, com diferentes níveis de apego e vínculo ao projeto da UE, propõe soluções baseadas em posições nacionalistas, chauvinistas e revisionistas da história, muito focadas nas questões migratórias e representantes de setores capitalistas menos favorecidos pelo processo de criação e desenvolvimento da União.
3) Em toda a Europa, exceto na Grécia, as posições das forças revolucionárias e classistas – que se distanciam tanto do polo capitalista que promove o desenvolvimento da UE quanto do polo capitalista que propõe um papel maior dos Estados – encontram-se em uma situação de fraqueza que só causa mais prejuízo para a nossa classe.
4) Na Espanha, o elemento mais significativo a analisar são os 5 milhões de votos de abstenção, resultados de uma série de fatores entre os quais se encontra a exaustão com a situação política do país – embora não exclusivamente – que não se traduz em um apoio às posições revolucionárias. Em um contexto de forte mobilização dos setores mais antioperários, isso se traduziu em uma ascensão geral do apoio eleitoral às forças reacionárias, que há tempos baseiam seu discurso político na questão migratória.
5) Nesse contexto, enquanto o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e as forças nacionalistas que o orbitam se mantiveram relativamente estáveis, com resultados semelhantes aos de 2019, as forças da nova social-democracia, que participaram separadas, são as que mais foram afetadas, sendo a primeira consequência a renúncia de Yolanda Díaz de todos os seus cargos partidários no Movimiento Sumar. Abre-se agora um período em que a articulação do que dizem ser o “campo à esquerda do PSOE” se dedicará a buscar novas fórmulas para tentar garantir a sua sobrevivência política, baseada exclusivamente na representação parlamentar.
6) Os resultados do PCTE são uma expressão da situação política geral, na qual ainda temos enormes tarefas pela frente, de construção, crescimento e intervenção entre nossa classe, que refletirá no apoio popular através do voto. A crescente abstenção também nos afeta, e é sintoma de que o descontentamento e o desgosto em relação à política burguesa ainda não encontraram no caminho revolucionário um espaço de enquadramento político; e isso se evidencia nos 4.000 votos de diferença em relação às eleições europeias de 2019 e nos 3.000 em relação às gerais de 2023.
7) Não mensuramos o nosso trabalho eleitoral exclusivamente pelo apoio ao partido através do voto. A campanha foi para o PCTE um marco para o trabalho político, que serviu para aumentar entre nossa classe a presença da proposta política comunista. O Partido sai reforçado em seu crescimento militante, ampliação de contatos e expansão organizativa, bem como no desenvolvimento da agitação e da comunicação do partido; todos esses elementos serão trabalhados em um futuro breve no nosso trabalho político geral.
O período que se aproxima, resultado da política belicista, imperialista e antioperária da UE, à qual se deve acrescentar a crescente influência das posições mais reacionárias entre a população, será um período difícil para a maioria operária e popular da Espanha. Nosso compromisso e nossa proposta política são invariavelmente os mesmos, independentemente dos processos eleitorais e de como se expressa a correlação de forças na luta de classes. A aposta do PCTE é que a classe operária recupere o protagonismo político perdido, volte a fazer valer seus interesses e necessidades, e volte a trilhar seu próprio caminho, um caminho de luta e de solidariedade internacional.
Partido Comunista Revolucionário da França (PCRF) | Mesma causa, mesmos efeitos – o capitalismo e seu Estado burguês são os culpados!
Na noite de 9 de junho de 2024, foi anunciado um veredito com os resultados das eleições europeias: falência eleitoral do governo Macron-Attal, com menos de 15% dos votos para a lista macronista (menos de 8% dos inscritos, devido à ainda alta abstenção) e novo avanço do Reagrupamento Nacional (RN), com mais de 31% (também a relativizar, com 16% dos inscritos).
Uma justa indignação popular, ilusões a serem desfeitas
O PCRF considera essa uma situação política grave, mas não faz coro com as vozes aterrorizadas que estigmatizam o eleitorado dito de extrema-direita, esquecendo-se de analisar toda a responsabilidade política, midiática e até sindical que, direta ou indiretamente, intensificou de certa forma o desespero de milhões de vítimas do regime capitalista francês. O movimento de questionar a política dominante, atualmente implementada pelo governo, está se fortalecendo, mas a libertação das forças populares trabalhadoras em relação aos partidos burgueses e pequeno-burgueses ainda não foi alcançada.
Lembremos da grande responsabilidade dos governos macronistas, desde 2017, na acumulação de medidas regressivas, liberticidas e brutais, que impactaram profundamente um número expressivo de trabalhadores, aposentados e jovens. Para defender os interesses exclusivos dos monopólios e dos bancos, todos os possíveis ataques foram desferidos contra a classe trabalhadora: salários, condições de trabalho, perda de empregos, precarização, direito à aposentadoria e ao seguro-desemprego, leis anti-imigração... tantos mecanismos de exploração contra os quais as lutas foram várias, mas pouco vitoriosas, devido à falta de direção suficiente dessas lutas.
Os ataques aos serviços públicos, especialmente na saúde e na educação, se multiplicaram. Para conter a oposição, a repressão – com violência policial aos montes –, a criminalização das manifestações e a censura e intimidação contra a liberdade de expressão, de estudantes, por exemplo, alcançaram um nível inédito.
O caráter belicista e colonial do Estado francês se afirmou mais que nunca. Com uma lei que duplicou o planejamento militar, Macron afirma claramente trabalhar por uma “economia de guerra”, enquanto rifa o destino do povo Kanak, com a lei que restringe o eleitorado da Nova Caledônia e as respostas exclusivamentes repressivas (8 mortos!) às mobilizações contra essa lei.
Este panorama terrível se insere em um quadro econômico específico, o do imperialismo enquanto “estágio superior do capitalismo”, que traz consigo a guerra e a reação de ponta a ponta para garantir o lucro máximo dos monopólios (grandes empresas). São exemplos a guerra na Ucrânia, amplamente financiada pelas entregas de armas e pelo apoio do imperialismo francês, e o genocídio em Gaza, do qual o governo de Attal se torna cúmplice por seu apoio e inércia em relação ao criminoso Estado israelense.
Como fechar os olhos à rejeição massiva e duradoura, entre as camadas populares, a um “macronismo” que produz tanto sofrimento e desprezo? Certo abismo se abriu entre aqueles “de baixo” e “aqueles de cima”, que a escolha pela abstenção ou por um partido que se afirma “antissistema” é também compreensível. Mas essa compreensão não nos leva a entrar no jogo nocivo de um pretenso “duelo entre o campo de Macron e o de Le Pen” ao qual quiseram nos prender. Para o PCRF, o campo a ser escolhido é o do trabalho contra o campo do capital, e enquanto perdurar o regime imperialista (o capitalismo monopolista) na França, toda ilusão democrática se chocará com a realidade dos sofrimentos do povo.
Dissolução da Assembleia e novas manobras eleitorais
Após sua derrota eleitoral, o Presidente Macron escolheu dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas antecipadas para os dias 30 de junho e 7 de julho. Pode-se supor que ele está apostando em várias frentes, incluindo a resolução relativa do problema através do “voto útil” no segundo turno, contando reconfigurar o cenário com as desistências de mais candidatos “republicanos” do que os do RN. Muitos consideram essa uma “aposta arriscada”. O PCRF adota um ponto de vista de classe e considera prioritariamente o risco sobre a classe trabalhadora e a juventude de ver perpetuado esse sistema de exploração e destruição maciça das conquistas sociais. Nenhuma das formações políticas que se apresentam como “salvadoras da República” contra a extrema-direita propõe algo além do capitalismo ou de sua reformulação, mesmo que nenhuma solução real possa existir no interior dele, e que deva ser derrubado para que os sofrimentos finalmente cessem. À esquerda, por exemplo, enquanto a coligação Nova União Popular Ecológica e Social – NUPES (PS, PCF, LFI, Verdes, POI, NPA, etc.) mostra suas contradições internas, novas manobras eleitoreiras, sob a máscara de uma pseudo “Frente Popular” oportunista, estão em andamento para arrancar o máximo de distritos possíveis, com um conhecido interesse financeiro para alguns partidos. O PCRF vê isso como a reprodução do já habitual cenário de ilusões parlamentares. A bárbara ditadura de classe, que pouco a pouco derruba os pilares da democracia burguesa para satisfazer as exigências dos monopólios e da oligarquia financeira, só pode ser combatida por lutas de uma intensidade sem precedentes. Nenhum voto para os candidatos do capitalismo ou de sua reformulação!
O papel do Partido Comunista Revolucionário
O povo trabalhador deve estar vigilante, acreditar em seu próprio poder, com a construção de seu partido de vanguarda da classe trabalhadora na França. O PCRF trabalha para forjar uma Frente de Alternativa Popular que reúna todas as vítimas do capitalismo – base social da frente – com os trabalhadores, suas organizações progressistas, democráticas, de mulheres, de jovens, anti-imperialistas, sindicatos e coletivos. É nesse sentido que o Partido trabalha para abrir novas perspectivas políticas, trabalhando no fortalecimento e na coordenação das lutas, e associando essas lutas à necessidade de derrubar o capitalismo; na França, a classe trabalhadora não tem um Partido para se organizar com vista à tomada revolucionária de poder em uma sociedade livre da exploração; ao atuar junto à classe trabalhadora e à juventude, o PCRF trabalha para se fortalecer e ser esse partido, devolvendo a esperança de uma sociedade de progresso, justiça e paz.
Partido Comunista Grego (KKE) | Declaração do CC sobre os resultados eleitorais na Europa do 9 de junho
1. O Comitê Central do KKE saúda os milhares de trabalhadores, as forças populares, a juventude e as mulheres que votaram no KKE e todos aqueles que uniram forças com o Partido nesta importante disputa eleitoral. Em particular, estende uma saudação calorosa e camarada aos membros e quadros do KKE e da KNE, aos seus apoiadores e amigos, e a todos os seus candidatos, que travaram uma árdua batalha durante esse período.
O KKE obteve 9,25% dos votos, um aumento eleitoral significativo no seu percentual de votos comparado às eleições parlamentares de maio (7,2%) e junho (7,69%) de 2023 e, claro, comparado às eleições europeias de 2019 (5,355). Isso confirma os avanços que estão em curso por um longo período e que se expressaram nestas eleições.
Uma tendência de confronto à política dominante, atualmente implementada pelo governo da Nova Democracia (ND), e à União Europeia está se estabilizando e se fortalecendo. Parte dela se expressou no crescimento do prestígio e da mobilização com o KKE, no rompimento das forças operárias e populares com os partidos burgueses que, apesar de seus desacordos com o governo, seguem a mesma linha política geral em detrimento dos interesses populares, para o desenvolvimento da rentabilidade capitalista, aos moldes dos EUA, OTAN e União Europeia. O KKE parece estar particularmente fortalecido na Ática, onde, mais uma vez, é a terceira maior força. Além disso, é a segunda maior força em vários municípios de composição operária e popular, ao mesmo tempo que registra um aumento significativo em grandes centros urbanos do país. Isto se expressou principalmente nas áreas e zonas industriais nas quais ocorreram lutas de massas dos trabalhadores, como em torno do LARCO; em áreas onde ocorreram mobilizações das massas camponesas; em áreas nas quais a palavra de ordem “só o povo salva o povo” foi colocada em prática frente às consequências destrutivas das políticas governamentais e da União Europeia, como no norte da Eubeia, na Tessália e outros locais; nas lutas para expor as causas do crime de Tempe e para demandar que ele não seja esquecido.
Isso confirma os vínculos do KKE com as forças populares que votaram no partido há um ano – muitos pela primeira vez, especialmente trabalhadores e jovens – e prova que um voto no KKE expressa fortes laços estabelecidos nas lutas importantes que ocorreram no período anterior; em nossos esforços contínuos e incessantes para comunicação direta, diálogo e debate com o povo, de várias formas, nos locais de trabalho e nos bairros. Claro, a correlação política de forças permanece desfavorável para o povo. No entanto, hoje há uma força a ser considerada, o KKE, que pode contribuir para a organização da luta proletária e popular, para a contraofensiva, a derrubada, no dia seguinte e diante das dificuldades que virão.
2. Votar no KKE é, sem dúvida, uma decisão diferente de votar em qualquer outro partido, porque as pessoas que dão esse passo à frente estão tomando uma decisão contra o sistema e a UE, e precisam superar vários obstáculos e dilemas. Elas precisam superar a lógica das ruas sem saída e das buscas por alternativas dentro dos limites do sistema que todos os outros defendem. Elas precisam superar a pressão e o chantagem dos patrões, que, por exemplo, manipularam descaradamente e chamaram os trabalhadores a votar nos partidos da UE. Elas precisam superar a desorientação sobre a relação entre a política do governo da ND e a da Zona do Euro e, portanto, sobre o que estava em jogo nesta batalha. Elas também devem superar a lógica de delegar responsabilidades ou a busca por um messias político. Acreditamos que o KKE, junto com o povo e seu movimento, pode abrir novos caminhos para uma mudança radical da situação socioeconômica e política, para a abolição da exploração de classes, para uma Grécia e uma Europa socialistas. É com esse espírito que lutamos esta importante batalha das eleições europeias.
Este resultado eleitoral positivo do KKE foi alcançado em condições de desorientação sem precedentes, alimentada pela confrontação entre os outros partidos. Em vez de discutir as questões cruciais do ataque aos rendimentos, em relação com os altos preços e baixos salários, a nova onda de comercialização da saúde e educação, o envolvimento criminoso da Grécia em duas guerras imperialistas, ou seja, questões diretamente relacionadas à política da UE que todos os outros partidos aceitam, o debate pré-eleitoral – não por acaso – assumiu características decadentes, focando na declaração de bens e fontes de financiamento de um partido e nos imóveis de outro. Os outros partidos e, claro, várias forças do establishment (por exemplo, as intervenções da Federação Grega de Empresas – SEV) fizeram esforços para evitar fazer das causas dos problemas –as políticas da UE e do capital – um critério de voto, para formular falsas linhas divisórias sobre questões secundárias e, por exemplo, fazer das possibilidades subjetivas de seus eurodeputados para determinar o principal critério de voto. Sob condições de uma tentativa sistemática dos meios de comunicação e outros mecanismos, também foi possível ocultar a dinâmica e o potencial de crescimento do partido e desacreditar o voto nele, com a pergunta persistente “por que alguém deveria votar no KKE, que é contra a UE?”. Essas são as mesmas forças que, após eleitas e fracassarem em seu objetivo, estão tentando desacreditar e minimizar o resultado eleitoral do KKE.
O sistema burguês, apesar de suas dificuldades, ainda tem poderosos mecanismos e meios para aprisionar e manipular o descontentamento popular.
Tanto a retórica da Nova Democracia, promovendo a palavra de ordem da “estabilidade”, quanto as disputas encenadas e sem sentido entre os partidos burgueses, diziam respeito às próximas eleições parlamentares. A ND está pedindo tolerância para o dia após as eleições e um terceiro mandato em 2027, enquanto SYRIZA e PASOK estão lutando sobre qual deles será protagonista em 2027. Essa confrontação prova que os partidos burgueses tratam o povo apenas como eleitores, para manter ou mudar governos, limitando seu descontentamento ora a um partido e ora a outro, a fim de “apoiar firmemente” governos que implementam as mesmas políticas antipopulares com diferenças individuais; governos que alternam no poder e não seguem um curso de derrubada desse sistema. Isso é contrário à posição do KKE distinta de todos os outros partidos, que vê no povo o fator decisivo para repelir o ataque contra ele, para obter algumas conquistas que constituem a base para a nova fase de contra-ataque rumo à derrubada total deste sistema. É por isso que o KKE pediu o seu fortalecimento onde as decisões são tomadas, para fortalecer a luta onde há possibilidades de impor a reversão das decisões antipopulares.
3. A alta taxa de abstenção carregou uma mensagem significativa de protesto contra o governo da Nova Democracia, bem como desprezo pelo sistema político burguês e seus partidos e pela UE e suas instituições, como o Parlamento Europeu. Esse descontentamento também está relacionado com a nova experiência adquirida por grandes massas populares e o papel do KKE e outras forças de vanguarda na Europa, que levaram a processos positivos, como as grandes lutas populares em muitos países da Europa nos últimos anos. São necessárias mais coordenação a nível pan-europeu, ação conjunta e solidariedade para formar uma corrente militante dos trabalhadores e do povo contra o inimigo de classe e político comum, em uma direção anticapitalista e antimonopolista.
Acreditamos que o debate pré-eleitoral, conduzido em um clima decadente e distante dos problemas cruciais e, acima de tudo, de suas causas e da perspectiva de resolvê-los, aumentou a relutância das pessoas em participar do processo eleitoral. Deste ponto de vista, essa atitude, que obviamente não aprovamos, tem características políticas, independentemente de ser expressa de uma maneira que possa ser mal interpretada, manipulada ou cooptada. Portanto, é necessário que esse protesto, especialmente dos jovens, seja expresso através da participação ativa no movimento, nas lutas organizadas e nas reivindicações, que tome características radicais e que se encontre com a política revolucionária do KKE.
É hipócrita que as forças burguesas se interessem pelas taxas de abstenção quando estão fazendo tudo ao seu alcance para caluniar a participação dos trabalhadores e do povo nas lutas e processos de massa do movimento, e estão legislando em favor da restrição da atividade sindical.
Em qualquer caso, o KKE não subestima o fenômeno da abstenção e estudará detalhadamente, por região, como esse clima afetou o comportamento dos eleitores do KKE.
4. Já dentro da burguesia dominante, o debate foi aberto e a “assimetria política” do sistema político, como eles chamaram, foi destacada. As lideranças dos partidos burgueses podem argumentar entre si, mas a burguesia, o capital, os grupos empresariais, estão principalmente interessados em garantir a alternância bipartidária-bipolar, que tem consequências trágicas para o povo grego e os povos da Europa. Na Grécia, isso foi testado com a alternância entre Nova Democracia e PASOK, mas também entre SYRIZA e ANEL.
A Nova Democracia, que sofreu uma diminuição significativa em porcentagem e votos, caindo para 28,31%, distorce e deturpa o voto popular e apresenta a desaprovação de suas políticas como um sinal para acelerar as reformas antipopulares. Está tentando inverter a realidade e usar o resultado eleitoral para apoiar a “necessidade de acelerar reformas que aumentarão a competitividade da economia grega”. Na verdade, é o contrário. O povo expressou sua insatisfação e condenação de toda a política governamental e dessas “reformas”, como o sistema tributário que esmaga as camadas populares, a política energética da caríssima “transição verde”, a comercialização da saúde e a privatização da educação, a implementação da PAC e o envolvimento da Grécia em guerras imperialistas. E isso deve ser expresso e organizado ainda mais massivamente no dia seguinte, com o desenvolvimento da luta e contra-ataque dos trabalhadores e do povo.
A verdadeira condenação do governo da Nova Democracia não deve alimentar a reordenação das forças burguesas que estão tentando reciclar as mesmas velhas ilusões e a gestão “pro-popular” da UE e do sistema. O SYRIZA PS, que está em segundo lugar com 14,92% dos votos, também registrou uma diminuição significativa em porcentagem e votos em comparação com as eleições parlamentares de 2023 e as eleições europeias de 2019, provando que uma parte significativa dos trabalhadores e do povo do país não confia nessa força como uma resposta à política antipopular do governo da Nova Democracia, especialmente após as convergências estratégicas com a ND serem ainda mais reveladas. O outro partido social-democrata, PASOK KINAL, não ficou em segundo lugar, como esperava, permanecendo em terceiro lugar com 12,79%. No entanto, uma busca por novos “salvadores” e um esforço para reviver e disfarçar a pecaminosa social-democracia será feita, utilizando as forças do SYRIZA PS e do PASOK KINAL que vimos no passado. Além disso, o governo da Nova Democracia governa com o apoio de uma oposição consensual em questões cruciais e em votações nos parlamentos grego e europeu. O oposto também aconteceu, quando a ND apoiou as políticas dos governos PASOK e SYRIZA (por exemplo, governo Papademos, terceiro memorando, etc.).
A discussão sobre a “derrota da esquerda” ou a “centro-esquerda” na Grécia e na Europa essencialmente oculta a questão mais fundamental: que, na realidade, o que foi atingido é a capacidade dessas forças de cooptar as forças proletárias e populares com “palavras de ordem de esquerda” em linha com a UE, exploração capitalista, OTAN e guerras imperialistas.
5. O resultado das eleições europeias em vários países reflete, até certo ponto, o descontentamento das amplas forças trabalhadoras e populares com as políticas da UE – como uma continuação das respectivas mobilizações de massa – e se manifestou na derrota dos governos e partidos, por exemplo, na Alemanha e na França, que estão liderando a implementação das decisões estratégicas antipopulares da UE. Tais decisões são, por exemplo, o apoio à guerra imperialista na Ucrânia em competição com a Rússia ou a política da chamada transição verde, pela qual os povos europeus estão pagando caro.
É claro que é importante que esse protesto assuma características radicais e não se prenda à competição entre setores do capital e forças políticas burguesas.
Num momento em que a UE mostra cada vez mais seu caráter reacionário, a atitude dos chamados partidos de esquerda pró-UE em vários países deixa as massas trabalhadoras e populares expostas à falsa retórica “antissistêmica” e “anti-UE” das formações de extrema-direita e nacionalistas.
A necessidade urgente de reorganizar o movimento trabalhista e comunista na Europa e no mundo e de fortalecer a solidariedade internacionalista é mais uma vez destacada.
6. Está em curso um debate sobre a necessidade de uma resposta unificada em nome da “democracia, liberalismo, valores da UE e progresso” diante das figuras da Solução Grega de Velopoulos (9,3%) e do aumento das chamadas forças de extrema-direita a nível da UE. As chamadas forças de extrema-direita são partidos do capital e do sistema. Elas atuam como um amortecedor para absorver o descontentamento popular, muitas vezes assumindo vestes “antissistêmicas”, usando as políticas reacionárias dos partidos “liberais” e sociais-democratas dominantes que se apresentam como “progressistas”. Também se apresentam com falsos slogans “anti-UE” e “pró-paz”, criticando certos aspectos da UE, como a recente revisão da PAC ou aspectos do Pacto de Estabilidade, escondendo o fato de que é uma união monopolista, apoiando os interesses de alguns monopólios sobre outros em sua competição entre si. Ao mesmo tempo, são um espantalho conveniente usado pelas forças da chamada centro-direita ou social-democracia para apresentar suas próprias políticas reacionárias como “democráticas” e “progressistas”. As negociações sobre como formar uma maioria nas novas instituições da UE, que estão em andamento e se intensificarão nos próximos dias, também incluem tais forças que supostamente a “exorcizam”.
Tem sido provado que, quando essas forças estão em posições de governo, sua retórica “antissistêmica” sempre desaparece. O caso de Meloni é revelador: ela começou como “o grande perigo para a UE” e agora Ursula von der Leyen a elogia e espera por seu apoio porque ela tem implementado decisivamente todas as decisões da UE e da OTAN. Essas forças são alimentadas pela política e ideologia oficial da UE, pelo anticomunismo e pela teoria dos “dois extremos”, apoiando forças fascistas, por exemplo, Azov na Ucrânia e pela virada reacionária geral do sistema político.
Especialmente hoje, quando os impasses do sistema são mais evidentes, quando a competição se intensifica, também dentro da UE, e a UE está entrando nas condições de uma “economia de guerra” para enfrentar a nova crise econômica emergente – um processo em que as forças sociais-democratas e “liberais” burguesas estão liderando – é meramente lógico que as forças fascistas e nacionalistas, que a história mostrou serem um apoio valioso para o poder capitalista em seus momentos mais difíceis, também sejam fortalecidas como uma saída. Nessas condições, quaisquer compromissos serão temporários e os conflitos serão agravados, criando fissuras na estabilidade da aliança imperialista e abrindo novas possibilidades para a luta das forças trabalhadoras e populares.
Como foi confirmado historicamente, apenas um movimento ascendente dos trabalhadores e do povo, a luta de classes que visa as causas que geram essa tendência política reacionária, a UE, a competição imperialista, o sistema capitalista, pode criar uma barreira à ascensão da extrema-direita. E essa é a mensagem transmitida pela ação e ascensão do KKE.
7. O KKE utiliza critérios específicos para avaliar o curso de sua influência política e o resultado eleitoral e sua porcentagem em qualquer momento. Ao longo da história do KKE, esta última sempre foi avaliada com base em critérios combinados e não exclusivamente com base no resultado específico das urnas, ou seja, exclusivamente com base em critérios parlamentares. Além disso, a politização em uma direção radical e anticapitalista não será resultado de eleições sucessivas, mas do curso geral do reagrupamento do movimento trabalhista e da formação da aliança social.
As eleições são uma importante batalha política, mas seu resultado não é principalmente determinado pelo que os partidos dizem e prometem, mas por um conjunto muito maior de fatores, como os interesses da burguesia dominante, seus partidos, que seguem a mesma linha independentemente da competição, assim como os mecanismos ideológicos, políticos e repressivos do Estado e da UE.
As preocupações do KKE de que o voto postal poderia ser usado para distorcer os resultados das eleições foram confirmadas pelos sérios problemas que surgiram nestas eleições europeias.
Há um confronto entre dois mundos. O KKE se distingue dos demais; não está sozinho, mas com a maioria do povo que sofre, independentemente de em quem votam. O papel e o impacto do KKE são sempre muito maiores do que suas respectivas porcentagens, portanto, seu fortalecimento leva a lutas muito mais poderosas com maior eficácia nas circunstâncias dadas.
8. O dia seguinte é crucial. O KKE utilizará o poder dado pelo povo para fortalecer sua voz onde decisões antipopulares são tomadas, como no Parlamento Europeu, e, acima de tudo, para organizar a luta dos trabalhadores e do povo. De amanhã em diante, seremos confrontados com os compromissos com a UE, os superávits sangrentos, as condições do Fundo de Recuperação, as duas guerras imperialistas nas quais a Grécia está profundamente envolvida. Novos encargos também serão adicionados pelo aumento dos gastos com guerra, que serão impostos aos povos da Europa, pois seu plano para lidar com a próxima nova crise econômica capitalista é transformar a economia europeia em uma “economia de guerra”, com o fortalecimento da indústria bélica e armamentos militares e a escalada da guerra.
O KKE não tem nada em comum com a lógica de outros partidos de oposição, como o SYRIZA PS, que agora afirma ser “a última chance de conter o governo Mitsotakis, porque as próximas eleições são daqui a três anos”. O povo pode e deve limitar as políticas antipopulares do governo da ND e da UE, começando amanhã, através da sua luta, e também expor a atitude de uma oposição conveniente que lhes dá um álibi e uma ajuda em questões estratégicas, e que só tem os olhos em assumir o poder daqui a três anos.
O KKE estará lá:
● Para continuar o reagrupamento já iniciado dos movimentos trabalhadores e populares, para mudar a correlação de forças nos sindicatos de primeiro e segundo nível.
● Para liderar lutas para expor e impedir diretrizes e orientações antipopulares tanto no Parlamento Europeu quanto no Parlamento Grego, onde são tomadas decisões que afetam nossas vidas. Mais importante ainda, estará na linha de frente das lutas onde essas decisões são revertidas.
● Para fortalecer a luta contra a escalada da guerra imperialista e pelo fim do envolvimento da Grécia nela.
● Para fortalecer a coordenação das lutas com a classe trabalhadora, os agricultores, os autônomos, os intelectuais, a juventude, as mulheres em todos os países da UE, onde o povo continuará a tomar as ruas da luta contra a UE das guerras, monopólios, lobbies corruptos e exploração, para abrir a perspectiva de uma outra Europa dos povos, do socialismo em cada país e em toda a Europa.
A União Europeia não é tão poderosa quanto parece. Os povos devem estar vigilantes, devem acreditar em seu próprio poder.
O KKE assumirá a responsabilidade na Grécia, enquanto contribui para o reagrupamento do movimento comunista e trabalhista europeu e internacional.
Sua proposta é realista. Porque uma coisa é ser considerada realista pelo grande capital, pela liderança da Comissão Europeia e pelos partidos que apoiam a UE, e outra coisa é ser realista para o povo grego, para todos os povos da Europa.
Porque o que é realista é sempre o que está no interesse do povo, como a história e os acontecimentos têm mostrado. É o desengajamento da UE com a classe trabalhadora, o povo no poder.
O povo grego, todos os povos da Europa, ainda não disseram sua última palavra.