'Aprofundamento da Reconstrução Revolucionária?' (Licuri)

Precisamos de muito mais, precisamos sentir a efervescência do Proletariado Revolucionário nos entusiasmando, precisamos de território sob nossa influência, precisamos ser um Partido que vá além de Notas de Repúdio.

'Aprofundamento da Reconstrução Revolucionária?' (Licuri)
"O avanço teórico-prático, a meu ver, passa pela fusão de nossas forças e demarcação irrestrita pela hegemonia proletária"

Por Licuri para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Deflagrada a ruptura da unidade partidária, o aprofundamento da Reconstrução Revolucionária do PCB mostra uma oportunidade sem igual em nossa história para consolidar as bases de uma organização à altura da tarefa de destruir os pilares do capitalismo brasileiro e consolidar a transição socialista, rumo ao comunismo. Contudo, isso não será possível sem uma profunda autocrítica sobre as contradições cultivadas no Complexo Partidário e como podemos trazê-las ao PCB-RR, tendo em vista que a reunificação se torna cada vez mais distante de nós.

Frente à recente dissolução do núcleo UJC-UFBA, me vi na obrigação de escrever sobre múltiplas questões que aparentam uma longevidade e dimensão maiores que meu núcleo, meu tempo organizado em nossa Juventude e como ao longo dos anos as absorvemos em nossa prática militante. Tais consequências formam uma constelação de contradições que repercutem de diferentes formas na nossa construção política interna e não irão desaparecer pela mera verbalização, ou seja, por identificarmos os problemas. Irei começar o texto tentando destrinchar melhor o fenômeno do mandonismo, tentando compreender diferentes faces desse mesmo problema e com as limitações teóricas, não somente individuais, mas também coletivas sobre o tópico.

O tão citado mandonismo não é uma questão de um ou outro núcleo e célula, mas pela número de relatos aparenta ter uma ampla dimensão na cultura de nossa Juventude e nossas células em boa parte do país (com notórios pontos de foco), assim de início gostaria de indicar que todo o debate deve ser aprofundado numa análise minuciosa e científica, sob condução do materialismo histórico-dialético, afim de compreender suas origens e apontar uma superação dialética da questão, evitando que a gente se afogue em moralismos, sendo este texto apenas um ponta-pé inicial, sejam nas potencias concordâncias e discordâncias.

O mandonismo se expressava de uma maneira tão ampla que antes mesmo de ingressar ao núcleo, já observava em nossos atos de rua durante o Fora Bolsonaro, mas passavam por despercebidos em vista da situação tensa de estarmos na rua protestando contra uma Presidência Reacionária (com direito em Outubro de 2021, à tentativa de atropelamento de parte do bloco por alguém que conduzia um carro) de forma a encarar como normais certas atitudes grosseiras de camaradas que provavelmente estavam organizando seus primeiros atos de rua, sob o citado contexto político, o barulho nas ruas, a organização das fileiras e o caos de pessoas atravessando nosso bloco. Assim, num primeiro momento o mandonismo, é caracterizado por mim como um sintoma do amadorismo de nossa organização, com direito a uma conduta “militaresca” que não tinha um contexto prévio de conversa, fosse com aproximados (como era meu caso) e demais camaradas, conduta esta que buscava impor ordem na confusão. Nos dias anteriores aos atos de 2021, conversamos sobre aspectos gerais do Bloco do Poder Popular, sobre o que trazer e não trazer, sobre nos manter em fileiras, mas o processo de realizar o ato de rua em si eram frontalmente confrontado pela prática, restando apenas que camaradas da Juventude estivessem constantemente “centralizando” pessoas em suas posições no bloco (muitas vezes inclusive, desatentas à condução do ato) e em vários quesitos (recolher bandeiras, pessoas chegando no meio do ato, etc) . Essa face do mandonismo enquanto um sintoma de amadorismo também deve ser explicada nas insuficiências formativas de camaradas na função, na ausência/debilidade de trocas de acúmulos na condução dos atos de rua e no planejamento coletivo, apelando à prática verticalizada quando o planejado é confrontado pela materialidade. É fundamental deixar claro que não quero utilizar essas questões para atacar figuras que eram da Juventude, justamente por entender que grande parte do problema está no fato de que tais camaradas “se forjaram no fazer da coisa” e cujo papel de orientação dos quadros mais experientes, quando houve,  foi profundamente insuficiente, assim como o planejamento dos atos, falho. Não afirmo que se eu fosse exercer esse papel hoje eu faria um trabalho melhor (com quase dois anos organizado), mas que com certeza estaria profundamente suscetível a repetir o conjunto de problemas apresentados.  É fundamental que estudemos vários erros passados para ter a chance de não continuar errando da mesma forma nas mesmas questões, como parece ser o caso do CR que caracterizou no “Balanço do trabalho de direção na Bahia” a UJC como dirigista, sem debater as ausências e insuficiências dos membros do Partido, enquanto a Juventude tenta a qualquer custo “fazer acontecer”, a despeito de potenciais tropeços e potencial reprodução de problemas.

Essa face “amadora” do mandonismo também se mostrou presente na cultura do núcleo UJC-UFBA. Contexto: nosso núcleo teve um momento de grande expansão a partir de 2020, passando por uma “crise de aproximações” na qual por exemplo, o antigo Secretário Político chegou a relatar que conduziu em um dado momento 6 aproximações simultâneas(!) e tal aspecto não pode ser deixado de lado quando falamos na cultura mandonista no núcleo, afinal quem reproduzia também foi esmagado em algum momento pela mesma lógica, assim também devemos considerar a possibilidade dessa questão enquanto produto de uma cultura militante mais ampla e o momento histórico de expansão do Complexo Partidário. Essa problemática revela também o desamparo pelos camaradas do Partido, ao que tudo indica, engolidos numa luta interna regada à reprodução de repressões, como consta no documento racista e misógino, “Balanço do trabalho de direção na Bahia”.

As ausências do Partido para com a Juventude se amplificaram na lógica de recrutamento desenfreado que revelou alguns aspectos deficitários de nossa política neste quesito: (1) a falta de estruturamento do que seriam os “amigos da organização”, espaço fundamental para recrutamento, diferenciando quem tem compromisso, com quem não tem; (2) brecha grave de segurança, exemplificada por uma figura de Economia que passou um ano inteiro em nosso núcleo sem participar de uma única reunião e/ou ato de rua conosco, mas também com várias pessoas ingressando no núcleo por alguns meses e vendo que não poderiam seguir, eu mesmo reproduzi esse mesmo erro de demais camaradas, apelando ao convencimento contra a materialidade que estava posta em questão, de que a pessoa não deveria ser recrutada pela falta de comprometimento, mas já havia um consenso quase universal no núcleo de que deveríamos convencer aproximadas, processo esperado na consolidação da convicção de quem estava entrando em processo de aproximação; (3) UJC enquanto espaço simultâneo da vanguarda e de “simpatizantes” (na prática); (4) perda qualitativa das aproximações em favor do quantitativo. Toda a reprodução dos problemas era coletiva, mas o peso recai excessivamente sobre membros do Secretariado, favorecendo cenários nos quais uma prática verticalizada se tornava inevitável, afinal, as problemáticas citadas nesse e no parágrafo anterior revelam problemas de planejamento nos recrutamentos, militantes que não buscam tarefas ou debatem formas de desenvolverem trabalho positivo dentro de sua materialidade (assim como tivemos inúmeros momentos de baixa adesão em atividades planejadas) atrelada inclusive à forma do Secretariado, numa cultura “parental” de concentrar toda iniciativa em si, ao invés de acompanhar o desenvolvimento e estimular formulação de propostas, assim camaradas no Secretariado (final de 2021 e todo 2022) em diferentes momentos atropelaram diálogos através de ordens, assim como nunca eram debatidas as causas materiais da baixa adesão em certos momentos. Apesar de hoje não termos um Secretariado mandonista, isso parece mais uma postura moral, de não reproduzir o problema do que alteração da estruturação material de nossa organização interna, ou seja, as condições materiais de reprodução do mandonismo estão intactas. Poderíamos ter uma maior flexibilidade na condução de nossas atividades com o Secretariado e/ou Comissão observando e dialogando sobre as propostas apresentadas por camaradas com objetivo de inserção nossa nos locais de atuação, sem demérito da ação totalizante pontual prevista em nosso calendário semestral, evitando qualquer rebaixamento de nossas resoluções e preservando a centralização de nossas ações no Secretariado.

Os parágrafos anteriores servem para tentar destrinchar melhor as condições materiais e históricas que conduziram a práticas mandonistas no Núcleo UJC-UFBA, mas não podemos deixar de aprofundar no aspecto especialmente vilanesco do Mandonismo como praticado em núcleo, em sua forma de tensão racial e de classe. Nisso houveram pessoas que estavam compondo nossas fileiras que revelaram essa face do mandonismo em 2022 e que tinham presença em Secretariado, além de laços de amizade entre si, de forma que o mandonismo quando unido ao coleguismo, refletia um estágio maior de agressão, falta de camaradagem mínima e um problema com maior dificuldade de ser resolvido, afinal, tinham a possibilidade de agir enquanto bloco. Por questões legais, não vou sair citando os nomes, mas duas figuras pequeno-burguesas tinham destaque em tal problema: uma que saiu de nossas fileiras para a UJL e outra que é sionista (haviam dois sionistas, mas não lembro de um deles praticar o mandonismo), além de ter construído além do núcleo, uma célula.

Primeiro, a figura que passou a construir a UJL. Durante o período de maior contato que tive com ela nos primeiros meses de 2022, a figura escondia seu caráter real, com alguns sinais negativos raros como num primeiro momento, pressionando pessoas recém ingressas e tímidas a falar em reunião (“camaradas silenciosos”) junto à figura sionista e num segundo momento, mencionando uma conversa na alguém que o contratava para dar banca a seu filho disse a tal esse “ex-camarada”: “largue isso de comunismo, vamos  ganhar dinheiro!”, conversa na qual falava em “ganhar dinheiro com especulação imobiliária”. Não durou muito: entre um e dois meses depois, abandonou nossas fileiras (sendo que não havia sido discutido a existência de problemas financeiros, mas falava explicitamente em enriquecimento). As pessoas chamadas de “camaradas silenciosos”, com o devido acolhimento, desenvolveram a fala pública e outras habilidades, possibilitando ao núcleo avanços importantes. As camaradas pressionadas também eram em maioria mulheres, pessoas pretas, LGBTQIAP+, assim como quadros proletários. O mandonismo praticado pelo agora membro da UJL tinha justamente esse caráter compartilhado com a figura sionista, de criar tensionamento racial e de classe no núcleo, induzindo a quebra de camaradas de ingresso recente, nisso o mandonismo se desdobra em sua face racista e elitista, algo me leva a me questionar: quantas pessoas nós perdemos dessa forma?

A constante pressão ao invés do diálogo construtivo e que buscasse compreender o desenvolvimento militante de cada pessoa (já que não possuímos uma política consolidada de Amigos da UJC, as pessoas têm de passar por muitas etapas de seus desenvolvimento militante já em núcleo) resultou nessas figuras toscas sempre se sentindo à vontade para elevar o tom de voz (como a sionista) e o constante mando, a ponto da sionista (por estar na Extensão da Secretaria Política) “quebrar” uma camarada quando esta não ter aceito uma ordem, indo conversar com o Secretário Político para tomarem a decisão em questão. O fato dela não ter aceito uma ordem da sionista foi utilizado em reunião de maneira persecutória, conduzindo ao progressivo distanciamento da camarada.

E como lidamos com tudo isso? A maneira de lidar com todos nossos problemas era unicamente jogar panos quentes, evitar o confronto e tentar manter a unidade acima de qualquer coisa, afinal, como foi repetido à náusea durante o Ativo do Complexo Partidário em 12/08, “somos atravessados pelas contradições da sociedade burguesa”, entendendo não que devemos mediante a teoria e camaradagem buscar fazer autocrítica, debate, acolhimento para conseguir avançar (a depender do caso), mas tão somente afirmar e manter as coisas como elas estão. Somente agora estamos discutindo como o abafamento resultou nessa crise de dimensão nacional.

No caso do traidor que agora cerra fileiras com o que há de pior no chorume reacionário, houve debate na nossa liderança, mas o “centrismo organizativo” na abordagem de contradições possibilitou sua permanência por um pouco mais de tempo e que continuasse se mascarando em identitarismo comunista. O entendimento era que seria normal, no contexto capitalista, buscarmos melhorias de vida (quando ele falava em enriquecimento) e que existem contradições em várias carreiras diferentes. Vejam, como é o procedimento: (1) Contradição é identificada; (2) é realizado um lidar “tosco” da contradição; (3) contradição se cristaliza. Haveria ainda, para inúmeros casos uma quarta etapa que pode ser “aprender a abafar a contradição coletivamente”, como foi o caso de sionistas no núcleo e célula da UFBA.

As figuras sionistas, não compõem mais nossas fileiras na UJC e  aparentemente também se afastaram do Partido (por pedido de afastamento e por conclusão de curso). Tais figuras saíram profundamente queimadas de nosso Núcleo: (1) ela, agia como uma sinhá em relação especialmente a pessoas pretas e solicitou a aproximação da UJC com uma Juventude sionista a nossa CE; (2) ele quebrou uma militante nossa com seu profundo machismo; (3) ambos sempre relativizavam e quando à vontade, defendiam a existência do Estado de Israel numa perspectiva “comunista”. Camaradas, isso ocorreu ao longo de 2022 e no final do ano, era de conhecimento tanto da direção da UJC-BA (SecPol e SecOrg) como do próprio CR, membro do CC. Inclusive é importante frisar o caráter público dessa defesa, afinal no dia 13 de setembro de 2022, nossa ex-militante divulgou em story uma palestra da StandWithUs, ONG sionista fundada na Califórnia, cuja tema era “Novas Roupagens do Antissemitismo”, tudo isso durante o Governo Bolsonaro, depois da compra do sistema PEGASUS de espionagem em massa e o lobby de Fabio Wajngarten pelo spray nasal do Hospital Hadassah, enquanto nosso povo em sua diversidade de etnias (incluindo a população judaica trabalhadora)  morria de COVID e de fome, assim como, cito aqui a própria quantidade de mortos no Estado ilegítimo de Israel por COVID e violência anti-palestina. A que ponto chegamos em que nossos dirigentes nos dizem que “discordam da opinião” de tais pessoas sobre Israel, que são a favor do fim do Estado de Israel, mas nada é feito porque “não haveria uma resolução ipsis litteris” sobre o assunto, mas essa mesma direção elaborou um documento profundamente racista e misógino entitulado “Balanço do trabalho de direção na Bahia” e durante toda a crise afirmou paulatinamente que não havia guinada à direita! Não bastasse, o Secretário Político (CE) que veio a ser derrubado pela condução e aprofundamento do racha na Bahia, ainda me deu sermão quando parei pra conversar sobre o tema porque “ela teria uma ligação subjetiva ruim com tema, por ser judia” e que eu agi errado com o sionista (não-judeu) porque chamei o sujeito de “direitista e rebaixado” quando o sionista veio problematizar críticas ao sionismo, movimento que fez e faz a América Latina, África, Ásia e os Bálkans sofrerem com as ações dessa plataforma militar imperialista, supremacista e fundamentalista religiosa! Quando tantos judeus e judias sofreram como o restante de nossas etnias sob o Governo Bolsonaro, aliado de Israel e os judeus de esquerda radical, como Noam Chomsky, Breno Altman e Norman Finkelstein são anti-sionistas, sem ignorarmos como a própria ditadura militar matou Vladimir Herzog e Iara Iavelberg. Ditadura Civil-Militar essa, olha só, aliada de Israel.

Não fosse suficientemente ruim, ambos sionistas eram membros de célula! O cretino sionista ainda teve a cara de pau de tentar me desgastar em conversas paralelas de Instagram por compartilhar uma postagem da Juventude Sanaud do dia 03 de novembro de 2022, entitulada “Eleições em Israel: políticos diferentes, o mesmo regime de Apartheid”! com a típica argumentação de tentar ao máximo me taxar como antissemita, para não debater o papel israelense no centro do sistema imperialista. O CR do PCB-BA, quando o busquei para conversar sobre a situação de sionistas na célula (componho apenas a UJC), disse que não havia algo “ipsis litteris” sobre o tema, assim, mesmo discordando, podemos ter sionistas em nossas fileiras.. Essa “dupla incrível” ainda conseguiu quebrar nosso Secretário Político (núcleo) anterior, depois de uma longa campanha de provocações ao longo do ano enquanto o SecPol efetivava a mesma política de apaziguamento a ponto de antes da reunião de balanço, eu cometer o erro de avisar que iria “lavar roupa suja” sobre essa dupla e ele manobrar para que não houvesse o confronto, envolvendo o membro da CE que caiu em Janeiro e se desligou, o então assistente, o Secretário Organizativo para efetivar a fórmula do fracasso: a política de apaziguamento. Tudo porque as figuras tinham posição em Centro Acadêmico! A “viabilidade eleitoral” falava mais alto que qualquer coisa. Então, como o problema não pôde ser resolvido em pleno, o então SecOrg da CE me disse que era um problema de “cultura política do Núcleo” e que não poderia “jogar nas costas do Partido”, quando o Partido reconheceu aquelas figuras medonhas enquanto quadros e as recrutou para suas fileiras, logo, com direito a voto em Congresso. Você dos coletivos que está lendo, como se sente abaixo de sionistas numa organização comunista que se pretende revolucionária, anti-imperialista e anti racista?

Coube a mim o trabalho de testa de ferro contra os sionistas, um desgaste contornável, ao contrário do que esperamos quando lidamos com pessoas de fora da Organização em momentos de disputa acirrada. E assim camaradas, também avalio que é fundamental não me colocar fora da perspectiva que também edifiquei essa política que hoje vejo enquanto “centrismo organizativo” (construída desde minha aproximação até o deflagrar da crise partidária), algo que se entranhou em mim de tal forma que foi necessário todo o decorrer da crise para consolidar uma autocrítica, inclusive com tratamento hostil a um camarada que questionou rebaixamentos ocorridos na nossa campanha presidencial (críticas a Manzano e Iasi). Assim, acredito na necessidade de conduzirmos a autocrítica a suas últimas consequências, sem que nos posicionemos por fora das contradições.

Os desdobramentos do tensionamento racial no Núcleo foram muitos. Não bastasse esse desgaste, depois de conversar durante um semestre com um camarada, ficou clara uma tentativa de cooptação para o CNMO, não para somar com uma dupla militância (o que já é complicado, pensando que não podemos dissociar as lutas, ilhar partes diferentes do mesmo Complexo Partidário e considerar a própria sobrecarga militante), mas a prejuízo da UJC-UFBA (entrada em um, saída de outro). Não culpo o camarada de forma alguma, entendendo sua dor de não se sentir bem vindo no espaço com alguém cheia de atitudes racistas e não ter seu desenvolvimento militante respeitado em múltiplos momentos. Mas ter de acionar o SecOrg da CE para evitar problemas entre coletivos foi um ponto muito baixo. Isso me levou a reconsiderar se devemos ou não continuar com os Coletivos. Tal aprofundamento da Reconstrução Revolucionária deve considerar se num espaço em disputa devemos nos dispersar em múltiplas “ilhas” nas quais devo dizer, avançamos nos acúmulos teóricos sobre os temas, mas dispersando (ou melhor, subtraindo) a força do Partido num vasto leque de Núcleos e Célula (singular, referente à da UFBA), resultando por vezes nessa competição medonha por comunistas. E se falamos em sobrecarga, é complicado imaginar ainda a necessidade de diálogos entre diferentes Secretariados, acrescentando uma nova camada de reuniões. Nisso, escrevo aqui minha tendência a pensar nossa atuação através de uma simplificação Organizativa, no qual teremos a menor quantidade possível de Secretariados atuando num mesmo espaço de acordo com critérios a serem debatidos de: (1) Otimização do trabalho, mantendo alta e resoluta nossa demarcação de classe entendida como Hegemonia Proletária na política revolucionária; (2) Segurança, entendendo os desafios quantitativos de organicidade interna necessária em momentos de repressão acentuada, ou seja, conhecer quem cerra fileiras conosco; (3) Profunda Divisão do Trabalho Revolucionário mediante reestruturação interna, incorporando os acúmulos Teórico-Práticos de todos Coletivos, tal qual a continuidade desses trabalhos sob uma militância em contato com tais acúmulos, a partir de Comissões para cada  questão num(a) mesmo(a) Núcleo/Célula (Movimento Estudantil, Sindical, Antiracista, LGBTQIAP+, Feminista, Anticapacistista, Geográfica, Campo-Cidade, etc) pensando na articulação permanente e sólida do combate a todas opressões que  permeiam a materialidade cotidiana do Proletariado no Brasil e umas às outras; (4) Criação de uma Comissão na Instância Estadual/Regional para acompanhamento e caracterização de tensionamentos envolvendo as múltiplas opressões, de maneira a identificar os casos “trabalháveis” e os casos “incorrigíveis”; (5) Submeter, através do fusão dos coletivos,  o conjunto da militância à totalidade das contradições e formentar uma cultura de crítica em pleno em desfavor de fofoca, um sintoma de organizações repressivas, onde a crítica e dissidência são sufocadas por meio de uma multiplicidade de métodos, sendo realizadas na surdina aos sussurros.

Outro fator crucial que acertadamente tem sido posto nessa nova etapa de Reconstrução Revolucionária é  a circulação de tribunas através da polêmica pública, acredito que o estímulo à escrita e formulação terão papel crucial no desdobrar da Reconstrução Revolucionária, sendo necessária a possibilidade de cada camarada ter suas tribunas publicadas. Acredito também que as tribunas devam circular em dois canais distintos: um local interno e um  regional/estadual aberto. As tribunas devem ser operacionalizadas de maneira que seja permitido a nós a construção coletiva permanente da práxis revolucionária à altura de nossos desafios políticos.

Inclusive, aproveito também para polemizar sobre outro tópico fundamental, no que diz respeito a nossa posição internacional: houve recentemente quem aderisse à Reconstrução Revolucionária, por partilhar de uma série de críticas à Fração CC, mas ainda assim apoia a PMAI, algo que poderia ser um objeto de debate educativo se tivéssemos um canal permanente de tribunas, afinal não estamos falando de algo distante de nossa realidade: a greentech chinesa “Build Your Dreams” (BYD), vai se instalar no polo industrial de Camaçari localizada a quase 37 quilômetros de Salvador, com a promessa de “cinco mil empregos diretos e indiretos”. O empreendimento é fruto da caravana governista à China, na qual estava o Governador  Jerônimo Rodrigues, (um reacionário de notoriedade) que recentemente atacou reportagens sobre os mais de 30 mortos pela Polícia Militar em nosso Estado dizendo “respeitem nossa Polícia Militar!”. Nesse sentido, já observamos a aliança da China com nossos inimigos de classe e um arranjo de alianças feito pelo alto, em eventos, almoços e jantares nos quais o papel do Proletariado de qualquer país somente é de encher as taças, arrumar o espaço e servir a comida. Pergunto a quem defende que a China é socialista: quem trabalhar na BYD terá o controle sobre os meios de produção? Terão as melhores condições de trabalho possíveis? Gostaria de saber daqueles rebocados à linha Terceiro-Mundista se as forças revolucionárias devem apoiar uma greve em qualquer empreendimento que envolva capital Chinês (ou de qualquer outra burguesia e/ou Estado fora do centro imperialista) ou nos abster sob a desculpa de uma aliança anti-imperialista. Não apenas o Governo Chinês não possui preocupação humanitária com a quantidade de mortos ao se aliar com quem celebra a morte de nosso povo e defende nossos algozes, como não é nenhuma surpresa, que a própria China manteve laços com Rodrigo Duterte (para citar um exemplo de vários, como investimentos em Israel) após o povo filipino ser massacrado com sua Guerra aos Pobres, assim como continuam massacrando as forças revolucionárias nas Filipinas tal qual qualquer Governo burguês faria. Retrato semelhante em toda região, no qual a China boicota sistematicamente as forças comunistas asiáticas. A chegada da BYD, na Bahia revela um pragmatismo burguês na economia política e não há ganho algum para as forças revolucionárias que buscam a conquista violenta e incontestável do poder estatal pelo Proletariado (a menos que sejamos etapistas rasteiros), mas tão somente a manutenção do Capitalismo. Lembro àqueles que se iludem com o Terceiro Mundismo: nunca houve por parte dos Estados burgueses desenvolvimentistas qualquer recuo quanto a esmagar as forças revolucionárias em qualquer país que fosse, quando assim entendessem.

O papel da China no fortalecimento do comércio Sul-Sul se manifesta continuamente com sua notória política econômica envolvendo perdão de dívidas de vários países africanos e Cuba, assim como seu papel em não impôr reformas estruturais na gestão pública tal qual o Fundo Monetário Internacional além das parcerias/transferências tecnológicas que resultam no desenvolvimento das forças produtivas de vários países. A leitura etapista constrangida busca nas relações Sul-Sul melhores condições para a revolução, indica um reboquismo unilateral ao Terceiro-Mundismo e às burguesias nacionais, que vejam só, continuam burguesias, classe inimiga do Proletariado, que no Brasil proletarizam a pequeno-burguesia e esmagam o campesinato. Acho preocupante que com a consolidação do racha é preocupante ver essas leituras que pesam as contradições contra o Bloco Revolucionário no próprio Movimento de Reconstrução Revolucionária, a exemplo do Camarada Gustavo Gaiofato, afinal iremos conseguir realizar um aprofundamento da reconstrução revolucionária sob esses preceitos reboquistas? No âmbito nacional, o Camarada comentou recentemente (31/08) num vídeo entitulado “Os Perigos da da Lógica de Austeridade: Nova Crise a Caminho?” defendendo uma tese de que se não pressionarmos o Governo Lula à esquerda, “teremos em quatro anos um processo cataclísmico” (últimos minutos do vídeo). Camaradas, o que nos falta para enxergar que o Governo Lula é mais um Governo burguês? O que está posto agora é a corrida pela Hegemonia Proletária na Política Revolucionária contra a Social Democracia, cuja liderança centrada no Partido dos Trabalhadores já liberou alianças com o PL em 2024, ou seja, já estão aprofundando a guinada ao conservadorismo com direito a uma bancada petista antiaborto e alianças, como na Bahia, com figuras fundamentalistas exemplificadas no Pastor Isidório (Avante). A catástrofe já foi iniciada e não há possibilidade de sucesso nossa que não passe pela Hegemonia Proletária, a auto organização popular e seu avanço de consciência. Se o poder proletário não for nosso horizonte, continuaremos nos rebaixando em leituras que não agregam ao fortalecimento das forças revolucionárias, mas que efetivamente nos enfraquecem. Devemos ser o Partido da extrema oposição e da Hegemonia Proletária!

Eu trago esse questionamento fraterno ao camarada Gaiofato por entender que não estou somente buscando ajudar na reconstrução de uma organização cujo Secretário Geral arquitetou junto ao CR-CC na Bahia e outros dois militantes do Partido uma perseguição sistemática à camarada Ana Karen, pela presença passada de sionistas  em meu núcleo (e em célula), mas por enxergar no PCB um Partido que está em sabotagem contínua a muito tempo. Precisamos de muito mais, precisamos sentir a efervescência do Proletariado Revolucionário nos entusiasmando, precisamos de território sob nossa influência, precisamos ser um Partido que vá além de Notas de Repúdio quando a polícia baiana mata mais pessoas em 2022 que toda polícia estadunidense no mesmo período, que façamos barricadas, que levemos a luta de massas a outros patamares para além da covardia social-democrata que envenena nosso potencial! Nem toda radicalização da luta de massas é necessariamente armada. As armas terão seu papel no momento certo e vejo que já estamos caminhando no debate sobre segurança.

A crítica feita por mim ao camarada Gaiofato é também para mostrar como nos acostumamos à política rebaixada. Normalizamos alianças a reboque do PSOL, como feito aqui na Bahia, em apoio a Hilton Coelho, um líder popular admirável, mas que não tem o mesmo horizonte que o nosso. Apoiamos Hilton Coelho, com sua presença parlamentar mais que consolidada em detrimento de nossa construção e sem questionar o que seria um avanço do mandato dele em termos de votação, conferindo sobrevida à social democracia através de seus setores à esquerda que irão legitimar a ordem burguesa. É fundamental que às vezes estejamos juntos com Hilton Coelho, assim como demais lutadores e lutadoras sociais não comunistas quando convergimos na defesa de interesses fundamentais do Proletariado e demais classes do trabalho, mas o cerne fundamental de toda nossa política deve ser a tomada violenta do Poder Estatal pelo Proletariado, algo sem a menor indicação de ocorrer com quaisquer figura do PSOL. As organizações com as quais podemos cerrar fileiras, eleitoralmente falando, deve ser um tópico de debate nos momentos adequados a partir de uma leitura material de que trabalham com o mesmo fundamento. Assim, nossa política de alianças para manifestações pode envolver o PSOL em questões convergentes, mas eleitoralmente não devemos apoiar tal partido ou quaisquer partido Social-Democrata em nenhuma hipótese, não daremos sobrevida a essas forças.

Sobre o envenenamento social-democrata em nossas fileiras há muito que se falar! Na UJC (nacionalmente) em períodos eleitorais não é difícil ver como nosso programa tem sido sacrificado em torno de listas de reinvidicações. Na última eleição para tiragem de delegados para o CONUNE, um conhecido meu ficou (corretamente) incomodado por não termos incluído uma pauta anti capacitista. Para ele, era óbvio o abandono da questão por justamente não termos listado em nosso material de campanha uma pauta tão crucial para ele (que é PCD). Haviam sido listadas (panfletos, post e lambes) várias propostas contemplando diferentes grupos, mas mesmo que conseguíssemos elaborar uma “lista completa de sofrimentos”, não teríamos dinheiro para tal, enquanto as Juventudes Social-Democratas sempre terminam as eleições com pilhas de material sobrando, como é esperado de forças burguesas na disputa eleitoral. O debate sobre opressões é um caminho incontornável na consolidação da hegemonia proletária na política revolucionária por estas partes da classe sentirem com maior frequência e intensidade a exploração capitalista, mas não podemos resumir nosso trabalho sobre opressões a listas/cartas de reinvidicações, porque tais questões são de uma incrível complexidade de forma que múltiplas opressões atravessem uma mesma pessoa. Acredito que não podemos terceirizar a coletivos o trabalho de estudar e formular sobre as opressões,pois a realidade sobre a qual atuamos sempre nos mostra uma classe atravessada pelas mais variadas questões, assim como a absorção dos acúmulos é moralizada. Logo, é fundamental a formulação conjunta, contínua e totalizante em torno das opressões que atravessam o proletariado, sempre demarcando nossa atuação prioritária para esta classe acima de quaisquer outra, mesmo com a importância do campesinato e da pequena-burguesia.

Eu diria que na minha experiência militante, esta constante pressão eleitoral têm resultado numa militância que não dispõe das ferramentas críticas necessárias para o avanço qualitativo justamente pela indisponibilidade do tempo e mínimo de saúde. Não à toa, anteriormente citei o caso de um camarada que criticou rebaixamentos de nossa campanha presidencial, com uma resposta hostil de minha parte. O cansaço, as insuficiências teóricas, não me permitiram enxergar o que ele estava colocando, inclusive quando depois trouxe a necessidade de repensarmos nossa inserção nas entidades de base, que em muitos casos tem ocorrido “por baixo”, em alianças nas quais sequer podemos falar enquanto UJC em determinados espaços por pressão de sociais democratas no contexto de desorganização política do corpo estudantil, mostrar nossos símbolos nesses espaços e tudo isso para quê? Não formulamos sobre nossas atividades de maneira suficiente, de forma que o trabalho em cada entidade sempre retorna à estaca zero, nos reduzimos a militantes tarefistas. Nossa presença política “eleitoralesca” nos reduz a Movimento Estudantil (como sindicalistas/trade-unistas), ao invés de comunistas no Movimento Estudantil. Com um fim das incontáveis divisões organizativas (Coletivos), devemos canalizar nossas forças em avançar qualitativamente e quantitativamente na práxis revolucionária, não reduzindo opressões a “coisas a se listar” ou se híper especializar num universo de certa opressão específica. No Movimento Estudantil estamos constantemente combatendo múltiplas opressões que podem afligir simultaneamente uma mesma pessoa, com misturas homogêneas de sofrimentos sobre o proletariado. Nesse sentido o avanço teórico-prático, a meu ver, passa pela fusão de nossas forças e demarcação irrestrita pela Hegemonia Proletária. Seria consolidada dessa forma, uma militância que estará de maneira orgânica construindo um Partido Revolucionário à altura de nossa classe e que não viva novamente os dias terríveis desse racha marcado de inúmeras opressões.

Saudações Revolucionárias.