Após reunião em Kazan, BRICS se expande para disputar posições na cadeia imperialista
O BRICS não oferece qualquer resposta aos trabalhadores do mundo, mas serve à burguesia de seus países, aos seus próprios monopólios, que estão também ligados por milhares de laços políticos e econômicos às burguesias dos países no topo da cadeia imperialista.
Por Redação
A cúpula do BRICS e mais 36 países interessados reuniram-se em Kazan (Rússia), entre 22 e 24 de Outubro, sob o tema "Fortalecendo o multilateralismo para o desenvolvimento e a segurança globais justos", para discutir o futuro do bloco subimperialista composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, e mais 5 países que, no começo de 2024, ingressaram na lista de membros plenos: Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã.
Nas discussões, destaca-se a forte referência ao “multilateralismo” como forma de criar uma “sociedade internacional” mais “justa e pacífica”. É a mesma declaração que ouvimos, também, de muitos partidos de esquerda, que apontam o “multilateralismo” e as articulações de países “em desenvolvimento” como caminho para combater o imperialismo.
Porém, as discussões e decisões tomadas tornam evidente que o caminho dos BRICS não é o combate ao imperialismo (que não é mais do que o capitalismo em sua fase monopolista), mas sim a articulação de atores intermediários da cadeia imperialista em busca de melhores posições para suas burguesias e monopólios.
Afinal, o sistema imperialista, que oprime os povos de todo o mundo, não é uma expressão apenas do domínio econômico-militar dos EUA ou da União Europeia sobre os países restantes. O imperialismo é a fase monopolista do capitalismo, é um sistema de relações combinadas e desiguais, interdependentes entre si, que estrutura as relações internacionais, políticas, econômicas e militares de todas as nações a partir da lógica capitalista, da negociação e disputa de mercados, mão de obra e reservas naturais, seja por meios pacíficos ou violentos.
Esse sistema, no início do século, já foi encabeçado e disputado por outras potências que não os EUA (Inglaterra, Alemanha, França), e que, sempre buscaram se apresentar como alternativas mais “democráticas” e “justas” do que as contrapartes no topo da cadeia. Porém, as novas configurações dos países no centro do imperialismo não alteram o caráter profundamente reacionário e opressor desse sistema, que sempre manteve seu pilar essencial: a exploração dos trabalhadores em todo o mundo.
Por isso, apesar de se apresentar como a face “mais justa e democrática” do capitalismo, o BRICS não oferece qualquer resposta aos trabalhadores do mundo, mas serve à burguesia de seus países, aos seus próprios monopólios, que estão também ligados por milhares de laços políticos e econômicos às burguesias dos países no topo da cadeia imperialista e, justamente por isso, jamais vão romper com o sistema de exploração e opressão da classe trabalhadora, nem conceder mais paz. O acirramento da competição entre blocos na lógica imperialista leva, inevitavelmente, ao aumento das guerras e da opressão nacional.
Uma das principais discussões da última cúpula referiu-se ao desenvolvimento de sistemas de pagamento em moedas nacionais, apresentando uma alternativa ao dólar para o câmbio internacional, o que permite maior flexibilidade para que os países mudem de posições na cadeia imperialista e aumentem relações com os países dos BRICS, interessando diretamente aos monopólios do bloco subimperialista, que poderão aumentar sua competitividade internacional e alcançar maiores fontes de lucro (e exploração), especialmente para a Rússia, que durante a guerra interimperialista na Ucrânia foi excluída do principal (e único) sistema de transações financeiras internacionais (SWIFT). No meio dessa discussão, surgiu nas mãos do presidente Vladimir Putin um “modelo” de “moeda unificada” para os países do BRICS (imagem abaixo).
Apesar de não ter sido apresentada, a proposta de uma moeda única dos BRICS circula entre os países como possibilidade futura para competir com o dólar e promover uma “ordem global multipolar”. Porém, o que se esconde é que sua aprovação significa o abandono da soberania monetária brasileira, o que estabeleceria um controle ainda mais firme da burguesia internacional sobre nossa economia e destruiria os resquícios de soberania nacional que ainda mantemos. Ao contrário de livrar o Brasil do imperialismo, a “moeda única” subordinaria nosso país, com ainda mais força, aos interesses de outro bloco econômico.
Outra discussão que demonstra claramente o caráter subimperialista dos BRICS foi o convite a novos membros do bloco na categoria de “Estados parceiros”. Ao convidar 13 novos países para integrar o bloco nessa categoria, os BRICS pretendem aumentar sua zona de influência e dar os primeiros passos para um novo ingresso de membros plenos.
Nesse contexto, o governo brasileiro vetou o envio do convite à Venezuela, em razão das recentes tensões entre o governo brasileiro e venezuelano cuja eleição presidencial não foi ainda reconhecida pelo Brasil, que vem sendo cobrado pelas representações venezuelanas.
O veto brasileiro reflete uma demonstração de força da burguesia brasileira e sua disposição de afastar do bloco países que possam contestar ou ameaçar sua hegemonia na américa latina, região na qual o Brasil é o único país-membro até agora. Dos “Estados parceiros” admitidos, apenas Cuba e Bolívia se encontram no continente.
Essa atitude se insere num contexto de avanço da burguesia contra o governo venezuelano, exigindo maiores cortes de gastos, maiores liberdades para a burguesia reacionária e uma ofensiva contra as conquistas restantes da revolução bolivariana, uma ofensiva que vem desde antes das eleições venezuelanas. O veto brasileiro e o não reconhecimento das eleições destaca o papel de nosso governo como cúmplice destas pressões, elevando a tensão entre o governo brasileiro e o venezuelano.
O chanceler venezuelano publicou declaração oficial apresentando a atitude brasileira como “gesto hostil”, sendo respondido de forma dura pela diplomacia brasileira. As tensões e pressões internacionais, é certo, não ajudam em nada os trabalhadores venezuelanos, que estão sendo reprimidos sob Maduro (que cassou registro do Partido Comunista da Venezuela e ameaça com prisões e demissões os trabalhadores mobilizados), mas que também não encontram solução no golpismo da burguesia patrocinada pelos EUA, que não esconde sua intenção de suprimir as conquistas que restaram da revolução bolivariana.
Dessa forma, o BRICS não pode deixar de ser ferramenta de hegemonia regional para a burguesia brasileira, afastando qualquer narrativa sobre a “multipolaridade” ou uma ordem internacional “democrática e justa”. A desigualdade política e econômica das nações é uma lei do capitalismo, decorrente diretamente de sua tendência à concentração e monopolização, e não pode ser combatida por mudanças de posição dentro da cadeia imperialista. Pelo contrário, somente com a conquista do poder e a construção do socialismo-comunismo os trabalhadores poderão libertar-se do imperialismo.