'Apontamentos sobre o caráter amador e anti-marxista do PCB' (Contribuição anônima)
Os anseios dos camaradas da linha reformista são válidos e honestos. Pois boa parte da militância de base e dirigentes ainda é recente e pouco experimentada na luta teórica aberta. Há um descolamento entre a teoria e a prática.
Contribuição anônima para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, nesse escrito pretendo sintetizar os apontamentos feitos em intervenções e em debates nas plenárias e ativos da UJC do meu estado sobre os problemas do nosso partido e o movimento comunista. Com isso, estou correndo o risco de ser redundante com o que já foi extensamente divulgado nas mídias sociais, Medium e Twitter principalmente, por camaradas de outros estados e coletivos.
Os apontamentos versam sobre os problemas identificados na condução do Partido Comunista Brasileiro aqui no estado, sua relação com os coletivos partidários e formulações sobre a lutas concretas, bem como relacionar isso com as recentes informações publicadas acerca da sua situação nacional. Os apontamentos são:
- A dificuldade de proletarização da militância do partido;
- O caráter amador e liberal da formação dos quadros nos coletivos e no partido;
- A leitura errônea dos camaradas acerca da luta intrapartidária e o juspositivismo;
- A janela de oportunidade para retificar a unidade do partido e iniciar a sua superação.
A dificuldade de proletarização da militância do partido
O partido no meu estado hoje conta com um perfil militante academicista, lotado de professores universitários e enfrenta uma dificuldade ímpar de expandir sua base militante. Até o momento, os integrantes da CR/UJC ocupam cargos de direção há anos, contam com experiência de articulação de atos, finanças, centros acadêmicos e recrutamentos e, no entanto, tem a sua “subida” para o partido atrasada, interpelada e bloqueada.
De forma que levam até anos para se finalizar o recrutamento de um camarada que já milita na juventude, bem como responder à solicitação de aproximação de outras pessoas não militantes. O que nesta altura já foi evidenciado ser uma prática nacional.
Se avolumam relatos de amigos e conhecidos que, por minha influência, buscaram se aproximar do Partido e nunca receberam resposta. Disso, podemos concluir que há um problema crônico de recrutamento de militantes no estado.
Este fato, após a publicização da presente polêmica e crise, se mostra generalizado em todo o corpo da organização. Evidenciando o caráter artesanal para o recrutamento e o descaso com o crescimento das bases. O descaso aliado ao reboquismo é tanto que chega ao ponto de a organização aqui no estado despender todos os esforços para a regularização do partido na justiça eleitoral, alegando que foi uma determinação do atual Comitê Central e que não se poderia fazer nada a respeito. Isso explica muita coisa.
Não dispondo de qualquer base militante orgânica e se colocando à direita dos partidos e organizações revolucionárias, o PCB abandona qualquer parâmetro lógico para construir base militante que não seja por coleguismo ou amiguismo até que o Partido seja regularizado na justiça. Isso é um disparate com os princípios do marxismo-leninismo, é ignorar o movimento da realidade da conjuntura brasileira.
Pois para um Partido revolucionário, o momento eleitoral é sempre tático e secundário. De certo, esperam que ao despender todo o esforço financeiro para regularizar o Partido às vistas do velho Estado poderemos então expandir a nossa base militante que espera gentilmente as respostas aos recrutamentos e aproximações. Este fato deixa novamente escancarada a perspectiva etapista dos organismos dirigentes do PCB.
O caráter amador e liberal da formação dos quadros nos coletivos e no partido
Levando em conta o caráter amador para os recrutamentos já citado, existe também um completo desprezo em relação à formação de quadros do partido. A formação marxista-leninista de quadros no partido e na juventude, atualmente, se vale da iniciativa individual de cada camarada em buscar formas de autodisciplina para estudar e apreender a realidade brasileira.
Os academicistas, mesmo com os títulos de doutores e professores universitários, não conseguem formar militantes com a teoria do proletariado. Relegando à militância de base a formação da lógica liberal do autodidatismo e segregando camaradas que não tem condições financeiras de acessar as obras da tradição marxista-leninista.
Este cenário pode ser comprovado pela falta de formulações sobre a realidade local e nacional pela nossa militância, seja ela dos coletivos ou do partido. Não há como sustentar que o partido é “um partido de quadros” se o mesmo não forma quadros e não tem uma política nacional, unificada de formação sistemática deles. Os quadros do Partido, que não foram expulsos, têm por característica de formação o contato com o marxismo (sem o leninismo) nas suas respectivas áreas de atuação profissional ou que dialogam com sua formação acadêmica. Mais uma vez, deixando a formação dos militantes para a universidade burguesa ou para o mercado de trabalho burguês.
É muito difícil ser militante comunista no Brasil nas condições sócio-econômicas atuais sem uma instituição estruturada e voltada para a formação sistemática de quadros marxistas-leninistas. Fica patente que precisamos romper com círculos universitários diminutos que preferem debater o que Marx (sem Engels) escreveu num guardanapo do que falar sobre tática e estratégia da revolução brasileira.
Tão patente que mesmo a militância mais experiente, que é construída localmente, só tem acesso aos debates sobre esse tema por vias laterais, externas ao partido, como blogs, vídeos e cursos da sua respectiva faculdade ou de plataformas digitais. Se o partido vê uma “degeneração” nos influenciadores digitais ou plataformas de cursos de formação (Caixa de Ferramentas ou Classe Esquerda), por que ele mesmo em suas sacrossantas instâncias internas não delibera esta formação? A resposta, na minha humilde opinião é que essa formação traria um fôlego inconveniente ao Partido. Faria as bases perceberem claramente os desvios direitistas e reboquistas da direção encastelada.
Portanto, nesse XVII Congresso Extraordinário deve ser debatido uma estruturação de uma formação básica para a militância, de forma nacionalizada e obrigatória para toda a militância de base. Bem como discutir a facilitação de acesso aos materiais de estudo e acesso às plataformas. Isso enseja também uma profissionalização das finanças do Partido, porém esse não será o objeto desta exposição.
A leitura errônea dos camaradas acerca da luta intrapartidária e o juspositivismo
Um problema grave das nossas fileiras, que ficou patente durante as plenárias e ativos e que estou tentando sintetizar nessas linhas, foi a de não entender a disputa intrapartidária ou teórica do movimento comunista como um passo necessário para a suprassunção de nossas contradições e melhoria de nossa organização.
Alguns camaradas gritam aos quatro cantos: “Temos que confiar nas nossas direções!”, “Precisamos confiar nas instâncias internas!”, “Precisamos combater o fraccionismo!” e quando o fazem, percebendo ou não, estão abandonando os critérios de avaliação marxista do próprio partido e movimento comunista. Não são essas instâncias (CC, CPN e CRs), camaradas que protegem assediadores e expulsam sumariamente militantes sem o devido processo? Como podemos, sustentar nessa altura dos acontecimentos uma defesa de instâncias que operam tal expediente? Apelando para o juspositivismo pequeno-burguês mais rasteiro e fugindo do debate marxista do tema.
Os camaradas se esquecem que antes das instâncias, do estatuto e resoluções vem a realidade. Se esquecem que a realidade existe e se furtam a sua avaliação rigorosa. Essas instâncias, camaradas, perderam sua validade de sustentação à medida que as contradições se acirram e foram operados expurgos dos divergentes.
Não há como retornar desse ponto e ao sustentar que devemos confiar nas direções novamente se incorre em algo fora de seu tempo. Essa possibilidade foi ultrapassada pela história no momento das expulsões sumárias e dissolução de células inteiras e dos diversos cala-bocas aplicados aos coletivos partidários. Não há mais instâncias para uma disputa interna saudável e isso já ficou patente.
O que também ficou patente é que os camaradas que defendem de maneira aguerrida o PCB e suas instâncias putrefeitas compõem uma linha intrapartidária. Não uma tendência, note-se bem. Mas uma linha reformista, elitista, juspositivista e com vícios pequeno-burgueses. Essa linha, como é esperado, diverge da linha proletária e revolucionária e isso explica as movimentações em uma defesa abstrata do Partido e o abandono dos princípios de análise marxista-leninista da própria realidade interna.
O esforço de camaradas dessa linha, a linha reformista e pequeno-burguesa está sendo todo para que nada seja feito. Apenas um congresso pode construir uma nova direção que seja legítima diante das bases e uma retificação dos nossos problemas. Para deflagrar e derrotar essa linha para que ela não atrapalhe mais a profissionalização dos instrumentos de recrutamento e proletarização, agitação e propaganda, formação do Partido etc.
Pois, camaradas, o que explicaria tamanho esforço para que nada seja feito com urgência senão que essa situação do Partido não fosse satisfatória a pequena-burguesia academicista e seus interesses?
A janela de oportunidade para retificar a unidade do partido e iniciar a sua superação
Contudo, os anseios dos camaradas da linha reformista são válidos e honestos. Pois boa parte da militância de base e dirigentes ainda é recente e pouco experimentada na luta teórica aberta. Pela ausência de uma literatura comum nas nossas fileiras e esgotamento dos militantes em tarefas práticas, há um descolamento entre a teoria e a prática. Os camaradas da linha reformista não enxergam na luta teórica uma parte imprescindível para encontrar as raízes dessa crise e superá-la.
A reconstrução revolucionária do PCB não é uma reconstrução e sim uma construção, não um retorno, mas uma estreia e como toda estreia é natural que haja tamanha insegurança em relação ao que irá acontecer com todo o trabalho positivo que foi construído nos últimos anos.
Mas precisamos organizar essa luta, debater francamente pelo convencimento dos camaradas pela linha proletária e revolucionária sem incorrer em vícios pequeno-burgueses e ilusões de que documentos produzidos no congresso passado vão nos salvar desse embate.
A falta de empenho nessa construção já demonstra a falta de experiência no embate teórico e organizativo, deixando mais uma vez patente o caráter estreante da militância nesse tipo de disputa interna.
O que evidencia o ecletismo teórico-organizativo interno, que por sua vez deságua no imobilismo e no reboquismo aos partidos do campo democrático popular. Mas que resolutamente prega que esse seguidismo é uma “mediação tática” para aumentar apenas numericamente nosso movimento (como os cabalísticos 20.000 militantes já citados pelo camarada Ivan) e construir o “poder popular”, isso, claro, sem debater a tomada violenta do poder.
Por fim, camaradas, por toda a exposição fica claro que não há uma alternativa que não seja tensionar ainda mais as contradições antagônicas das duas linhas deflagradas no Partido em um congresso para superar nossas debilidades. Tendo em vistas que o congresso não é uma panaceia e nem que ele vai resolver tudo de prontidão mas sim abrir um novo estágio na nossa construção para aprofundar a reconstrução revolucionária do PCB.
VIVA O MARXISMO-LENINISMO!
PELO XVII CONGRESSO (EXTRAORDINÁRIO) DO PCB!