Acordo comercial entre grupo peruano e estatal chinesa no Amazonas desvia debate sobre preservação ambiental
Fake news divulgaram equivocadamente a venda da maior reserva de urânio do Brasil à estatal chinesa, porém não foram levantados desdobramentos em termos de preservação de desmatamento e exploração do minério.
Por Redação
Circulou a informação equivocada de que a maior reserva de urânio do Brasil havia sido vendida a uma estatal chinesa. A circulação errada de informações também não trouxe questionamentos sobre seus possíveis desdobramentos em termos de preservação ambiental, desmatamento e exploração mineral. O acordo em questão é a aquisição da Mineração Taboca, empresa peruana que opera a Mina de Pitinga, no Amazonas, pela estatal chinesa CNMC (China Nonferrous Metal Mining). A transação, de cerca de 340 milhões de dólares, foi inicialmente divulgada com alarde e imprecisão, desviando o debate do verdadeiro risco representado: a intensificação da mineração predatória e seus impactos sociais e ambientais.
A confusão surgiu devido à presença de pequenas quantidades de urânio na região da Mina de Pitinga, mas a própria Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) esclareceu que a jazida é exclusivamente de estanho. Segundo a Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear, minerais nucleares como o urânio podem ser detectados, mas estão presentes em concentrações extremamente baixas, sem relevância para comercialização ou exploração. Além disso, a exploração de urânio no Brasil é monopólio da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia, conforme estabelecido pela Constituição Federal.
É fundamental desfazer o equívoco e retomar o foco no cerne da questão: o que significa a aquisição da Mineração Taboca pela CNMC em termos de preservação ambiental e desenvolvimento econômico? A exploração de estanho, por si só, já representa um desafio histórico para o meio ambiente amazônico. A região, que abriga uma das maiores jazidas de estanho do mundo, tem um longo histórico de impacto ambiental, com desmatamento e contaminação dos rios devido à atividade mineral. A chegada de novos investidores internacionais, sob promessas de modernização tecnológica e expansão da produção, intensifica os riscos já existentes.
Os defensores do acordo comercial argumentam que a aquisição da Mineração Taboca representa uma oportunidade de crescimento econômico e desenvolvimento tecnológico. A CNMC, uma das maiores estatais chinesas do setor mineral, apresenta-se como uma potencial catalisadora de avanços na produção de estanho, com promessas de investimentos que modernizariam a infraestrutura da mina e aumentariam sua competitividade no mercado global.
No entanto, a realidade é mais complexa. A mineração na Amazônia, marcada por um histórico predatório, tem causado desmatamento, contaminação de rios e impactos diretos nas populações locais, como apontam relatórios de organizações ambientais e pesquisas recentes. Relatórios da Repam (Rede Eclesial Pan-Amazônica) e de organizações de defesa ambiental denunciam a contaminação de rios e solos por metais pesados, o desmatamento extensivo e os danos às populações tradicionais, incluindo comunidades ribeirinhas e indígenas que dependem dos recursos naturais para sobreviver. Entre 2020 e 2022, a mineração na Amazônia teve responsabilidade por recordes de desmatamento, avançando sobre áreas de conservação e territórios protegidos.
A promessa de progresso econômico mascara um modelo extrativista que coloca o lucro acima da vida e respeito aos povos da floresta. A exploração de estanho e outros minerais gera riqueza para grandes conglomerados internacionais, mas os custos ambientais e sociais são inteiramente arcados pelas populações locais. O governo do Amazonas manifestou apoio ao acordo, desde que os investimentos estejam em conformidade com as leis e normas ambientais. No entanto, a história mostra que a fiscalização e o cumprimento das normativas ambientais são frequentemente falhos, abrindo brechas para a intensificação da degradação ambiental.
O equívoco inicial sobre a suposta venda da maior reserva de urânio do Brasil não foi acidental. Ao espalhar a falsa narrativa de que uma estatal chinesa estaria adquirindo urânio no Amazonas, setores da imprensa desviaram o foco do real problema: a exploração predatória de recursos minerais na região amazônica. A desinformação serviu para fortalecer posicionamentos contrários à preservação ambiental e à soberania nacional, enquanto legitima a continuidade do modelo econômico extrativista.
De acordo com especialistas consultados, o monopólio da exploração de urânio pela INB é claro e irrefutável. Qualquer atividade de mineração que detecte urânio, mesmo em concentrações baixas, é rígidamente monitorada pela CNEN. A comercialização ou exploração de urânio é vedada a empresas privadas, nacionais ou internacionais. Não há, portanto, base legal para as notícias que alegaram a venda de reservas ricas em urânio.
O falso debate ganhava força, os impactos concretos do acordo entre o grupo peruano e a estatal chinesa passaram quase despercebidos. A expansão da atividade mineral na Mina de Pitinga traz uma série de riscos ambientais, entre eles o aumento do desmatamento, a contaminação dos rios e o agravamento da vulnerabilidade das comunidades locais.
A aquisição da Mineração Taboca pela estatal chinesa CNMC não deve ser tratada como um simples acordo comercial, mas como parte de um modelo extrativista que tem se aprofundado na Amazônia, colocando grandes corporações acima da vida humana e ambiental. A defesa da Amazônia exige uma ruptura com esse modelo predatório e a construção de uma economia popular, pautada pela soberania dos povos amazônicos. A resposta está na revolução, com organização da classe trabalhadora e resistência ativa contra a exploração das riquezas nacionais em benefício dos interesses do imperialismo.