Acampamento Marielle Vive sofre com incêndio, mas Polícia Militar agride moradores ao ser chamada para auxiliar os Bombeiros

Na noite do último sábado (31/08), enquanto um incêndio ocorria na mata vizinha ao acampamento Marielle Vive em Valinhos (SP), policiais invadiram o acampamento e agrediram moradores. Ainda não se sabe o que iniciou o incêndio.

Acampamento Marielle Vive sofre com incêndio, mas Polícia Militar agride moradores ao ser chamada para auxiliar os Bombeiros
Reprodução: Acampamento Marielle Vive.

Sábado, dia 31 de agosto, na mata ao lado do acampamento do MST – Marielle Vive, em Valinhos-SP, uma comunidade com mais de 500 famílias. Teve início um incêndio que se alastrou para dentro do acampamento. Os moradores se mobilizaram para conter o fogo na mata que foi, em grande parte, reflorestada pelos próprios moradores e militantes do MST com mudas nativas da região.

Conversando com moradores, fomos informados que quando os bombeiros chegaram, não conseguiram descer com o caminhão para iniciar a operação para conter o incêndio, e precisaram aguardar caminhões menores para conseguirem acessar o local. Enquanto isso, os próprios moradores estavam tentando conter o incêndio.

Aproximadamente, meia-hora depois, a Polícia Militar chegou ao acampamento, porém, não para ajudar os moradores a conter o incêndio, mas por motivos que até o momento não foram esclarecidos por completo. Coagiram os moradores com truculência, armamento pesado, e com xingamentos.

Há vários anos, desde seu surgimento, o acampamento Marielle Vive passa por repressões e ataques do Estado, sob a acusação de que se trata de “uma invasão de terra”. Essa justificativa, contudo, não se sustenta nem juridicamente, já que na própria Constituição Federal é falado sobre a “função social” da propriedade pelo menos 15 vezes, sendo o Art. 184 bem claro sobre a necessidade da união “desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social”. A fazenda onde o acampamento se encontra é propriedade da Eldorado Imóveis e estava há anos improdutiva, sob a justificativa de que a terra era inférteis para cultivo, quando o MST ocupou o território — afirmações provadas falsas pela própria produção agrícola do acampamento, que é vendida em feiras da região e no Armazém do Campo em Campinas.

Nenhum morador ficou ferido por causa do incêndio, mas, sim, por conta das ações truculentas da Polícia Militar, que rendeu moradores que tentavam apagar o incêndio, atacou um deles com coronhadas e atirou balas de borrachas contra outros. Nessa ação, os Policiais Militares estavam armados com calibres 12, submetralhadoras, pistolas e bombas. Depois de questionados pelo jornal Brasil de Fato, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que: "Foi acionada para atender uma ocorrência de incêndio, na tarde de sábado (31), dentro da comunidade, em Valinhos. Para a equipe dos bombeiros conseguir atuar no local, foi necessário solicitar apoio da Força Tática, RPM e demais viaturas. As chamas foram controladas pelo Corpo de Bombeiros".

Reprodução: Acampamento Marielle Vive.

Estima-se que foram 800 mil metros de mata queimada, como o incêndio tomou uma grande proporção vários moradores estão com problemas respiratórios, aproximadamente 200 adultos estão fazendo tratamento médico, e uma criança esteve internada com pneumonia decorrente da inalação de fumaça.

Mas, fica o questionamento: Se foram acionados para auxiliar a conter o incêndio, por que dos armamentos pesados? E, talvez, o mais importante: não seria muita coincidência o incêndio ter se inicia na mesma noite que aconteceria essa ação violenta e ilegal da PM?

Perguntas sem respostas.

O que sabemos é que mais uma vez, a Polícia Militar, provou a quem serve: à burguesia brasileira, e não ao povo trabalhador, que luta pelo direito à terra, trabalho, alimentação, e saneamento básico. Mesmo sendo de responsabilidade da prefeitura, a gestão da prefeita Lucimara Godoy (PSD), além de ignorar as necessidades dessas pessoas, tem usado as forças do Estado para atrapalhar os auxílios destinados ao acampamento.

Entre as perdas causadas pelo incêndio, estão: 300 mudas nativas para reflorestamento; água para o uso básico do dia a dia — já que não é fornecido pelo Estados os moradores se organizam para a compra de caminhões pipa —; e TODOS os pertences de alguns moradores, inclusive o barraco de uma das famílias foi completamente perdido.

Às pessoas que puderem ajudar, foi disponibilizada uma chave Pix para ajuda solidária: 19 9 8304-1262. No nome de Luciana de Jesus Oliveira.