'A violência da esquerda contra os trabalhadores' (Paulo Pinheiro)

Como cereja intragável desse bolo de atrocidades, o início da exploração da mão de obra encarcerada em moldes não educativos, de não serviço social, ganha corpo com o novo governo Lula, em alianças com os representantes mais retrógrados da burguesia.

'A violência da esquerda contra os trabalhadores' (Paulo Pinheiro)
Os recentes governos petistas estaduais, em todos os seus sucessivos mandatos, tem deixado clara a posição de classe do partido: inimigo de morte dos trabalhadores, especialmente jovens e negros.

Por Paulo Pinheiro para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

O Partido dos Trabalhadores, surgido nos escombros da luta revolucionária contra a ditadura militar, fortalecido ainda mais com a derrota mundial dos socialistas, pela destruição do bloco soviético, vem aos poucos deixando à mostra suas mãos sujas de sangue, sua virada e participação no genócídio negro e seu tosco anticomunismo, seja internamente, seja internacionalmente.

Peru

Uma das primeiras medidas do primeiro governo Lula (9 de junho de 2003), foi autorizar uma ação contra “terroristas” no Peru que, na verdade, eram militantes comunistas em armas, e foram cassados, graças à operação da Força Aérea Brasileira, com aeronave especialmente preparada para intercepção de comunicações e localização em terra dos emissores, e por consequência a localização da base de operações do grupo, que tinha em seu poder oficiais do estado peruano e funcionários de uma empresa argentina que construía um gasoduto na região de Ayacucho. Operação essa, que até antes do quinto mandato petista, terceiro de Lula, estava presente no site da Aeronáutica, mas agora “foi sumida” do portal. Aqui, algumas notícias ainda presentes, em outros portais:

http://www.militarypower.com.br/frame4-conf25.htm
https://istoe.com.br/13727_MISSAO+SECRETA+NO+PERU/
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2109200326.htm

Além do fato dessa específica ação militar brasileira, devemos considerar o íntimo relacionamento entre as forças repressivas latinoamericanas, alimentadas também por Lula e o PT.

Haiti

Sem dúvida, uma das mais vergonhosas, violentas e inconfessáveis ações do estado brasileiro, e sob comando petista, fora de nosso solo. Além da grave intervenção colonial contra o povo haitiano, temos uma leva de soldados com graves problemas psicológicos abandonados após voltarem ao Brasil.

Violência extrema, suspeitas muito concretas de massacre contra civis, especialmente mulheres e crianças, estupros e execuções. Além de um laboratório para experimentos de repressão e eliminação de inimigos em terreno urbano. E um saldo terrível, figuras execráveis alçadas à política nacional como o General Heleno e o Capitão, agora governador de SP, Tarcísio de Freitas (Viva Lamarca, capitão do exército brasileiro, que em missão na Faixa de Gaza, volta profundamente abalado e com a semente do socialismo em seu ser).

Tenhamos em conta que a atuação das Polícias Militares é determinada diretamente pelo Exército Brasileiro, através do COTER (Comando de Operações Terrestres):

Em homenagem ao ministro Haddad, uma ligação ao site da Amazon, de um livro particularmente esclarecedor sobre ações e consequências da missão no Haiti para os desamparados soldados brasileiros:

Operações Internas

Nas jornadas de junho de 2013, com a pauta do transporte coletivo, a intensa repressão aos manifestantes ganhou fôlego com a desculpa do policial com o rosto ensanguentado. Haddad toma o lado das empresas, garantindo um aumento no valor das passagens, e negando-se a negociar, com a declaração “Não vou dialogar em uma situação de violência, falei várias vezes. A renúncia à violência é pressuposto ao diálogo”. Desqualificando politicamente o movimento, e tomando parte em favor do cartel dos transportes, Alckmin pode fazer sua parte, levando a violência às ruas com máxima potência.

Outro grave legado do PT, foi em relação à usina de Belo Monte, tendo como figuras principais dessa tragédia há muito planejada, mas defendida e concluída pelos petistas, temos Lula e Dilma. Indígenas e ribeirinhos, destruídos em seu modo de vida, com processos acusando o governo de etnocídio. Trabalhadores das usinas em terríveis condições, inclusive com execuções de lideranças nas lutas e greves por melhores condições. Destruição ambiental, ineficiência energética, repressão a povos, comunidades e trabalhadores.

Outro caso relegado ao esquecimento, é a desocupação e demolição imediata de uma casa (em uma escola abandonada) de apoio a mulheres vítimas de violência, ocupada e coordenada pelo movimento Olga Benário (PCR). A atuação junto às populações mais afetadas pelas violências tão presentes contra mulheres, e o descaso da prefeitura em promover ações de apoio e acolhida, leva a um tenso período de perseguição a essas mulheres até o auge, com o despejo e imediata demolição. Prefeitura do PT, cujas direções partidárias em todas as instâncias calaram-se, ou deram aquela comum “passada de pano” no caso.

https://averdade.org.br/2022/04/casa-helenira-preta-e-removida-ilegalmente-e-demolida-pela-prefeitura-de-maua/

Política de extermínio e encarceramento

Os recentes governos petistas estaduais, em todos os seus sucessivos mandatos, tem deixado clara a posição de classe do partido: inimigo de morte dos trabalhadores, especialmente jovens e negros.

Não é coincidência que a guerra antidrogas tenha sido radicalizada por Lula, em agosto de 2006. Explode o aprisionamento da juventude brasileira, especialmente por porte de drogas, facilmente transformado em crime de tráfico pelo aparato legal.  O uso indiscriminado de “kits flagrante” para forjar crimes se torna cada vez mais comum, por parte das autoridades. Recompensas por produtividade (efetuar mais prisões), acentuam essa grave situação.

Na Bahia, o genocídio é aberto e escala suas atrocidades, sem críticas, e até com apoio. O discurso do governo (não de simples quadros da “frente ampla”, mas dos aliados mais íntimos, fantoches, como Flávio Dino e Ricardo Cappelli) se rebaixa ao discurso punitivista e assassino da burguesia brasileira. O neoliberalismo econômico anda de mãos dadas com o fascismo. A esquerda busca tornar tudo mais aceitável, em maior ou menor grau.

Como cereja intragável desse bolo de atrocidades, o início da exploração da mão de obra encarcerada em moldes não educativos, de não serviço social, ganha corpo com o novo governo Lula, em alianças com os representantes mais retrógrados da burguesia. Acelera o processo de administração privada de presídios, e amplia a aceleração de presídios privados, financiados pelo BNDES. Com a exploração da mão de obra encarcerada, o patronato enxerga o trabalhador ideal: confinado, sem mobilidade, sem possibilidade de crítica, de ação sindical, sem direitos. E tudo isso iniciando por uma empresa consagrada em irregularidades como fornecimento de alimentação estragada.

Enfim, se lutamos para não permitir a reeleição de Bolsonaro, não temos razão alguma para nos mantermos no mesmo campo que a esquerda contemporânea, por mais avançados que grupos de esquerda radical possam ser, se comparados com a esquerda majoritária.

Apoiar os governos petistas, especialmente o federal, significa apoiar a morte e encarceramento dos nossos, de nós mesmos. Para além do PT, não podemos mais nos reduzir a uma força de esquerda. Estamos em uma situação, percebida pela população em geral, em que, por décadas, nem esquerda, nem centro, nem direita deram certo. E não precisamos perder tempo e esforços em explicações desnecessárias sobre que tipo de esquerda somos. Não somos esquerda, apenas temos alianças pontuais com esses grupos, que participam e administram o estado burguês. Para muito além de esquerda, somos socialistas, somos revolucionários, somos comunistas.