'A União Soviética acabou! / Uma resposta à tribuna 'O novo nome do partido deve ser Palmares' (Gabriel Andrade)

Percebam, a ideia de lutar para “reconstruir um passado perdido” não é uma ideia marxista, ou mesmo revolucionária, mas reacionária! A ideia marxista, a ideia revolucionária é lutar pelo novo, lutar pela emancipação e lutar pelo futuro!

'A União Soviética acabou! / Uma resposta à tribuna 'O novo nome do partido deve ser Palmares' (Gabriel Andrade)
"O culto irrestrito a um passado místico (e inexistente, em parte) é completamente perigoso para nossa organização, nos faz parar de olhar para o lugar em que estamos, que horas são e parar de usar os acúmulos das revoluções passadas para pensar a nova revolução, a nossa revolução, e passamos a ver o evento histórico [passado] como um objeto de culto."

Por Gabriel Andrade para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, sabemos que no dia 07/11/1917 a classe trabalhadora mudou o mundo para sempre, os bolcheviques, liderados por Vladimir Lenin, tomaram o poder da Rússia e, posteriormente, dos outros territórios que constituíam o Império Russo, formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Acontece que, com o passar dos anos, o caráter revolucionário e seu espírito comunista foi se perdendo, se diluindo, a nação se tornou social-chauvinista, o internacionalismo foi perdido e, em 1991, a União Soviética é, enfim, dissolvida.

Bem, a União Soviética caiu, a União Soviética acabou, a União Soviética não existe mais! Viver em um passado eterno, fetichizando toda essa nação que não existe mais é infantil, não vivemos pela União Soviética, lutamos pela emancipação da classe trabalhadora brasileira e internacional, saudar a todo instante, em detrimento da realidade material que vivemos, uma experiência que FRACASSOU em sua missão de alcançar uma sociedade comunista não é uma postura marxista!

“Então você não considera as conquistas, os acúmulos que Lenin e a revolução bolchevique trouxe à luta da classe trabalhadora internacional?”

Claro que considero! Sou marxista-leninista, acredito que Vladimir Lenin renovou o marxismo e propôs novas táticas de atuação que devem servir de base para a conquista de poder da classe trabalhadora em todos os países em que há relações de produção capitalistas, acredito que a revolução de outubro exemplifica a potencialidade da classe trabalhadora de libertar-se das amarras dos capitalistas, porém a nossa revolução não deve ser a versão farsesca da revolução que ocorreu na Rússia em 1917, revolução que fracassou, ressaltando, a nossa revolução parte do agora e constrói o futuro, um escape a um passado mistificado é reacionarismo! Lembremos do que nosso camarada Marx nos diz e alerta:

“Não é do passado, mas unicamente do futuro que a revolução (...) pode colher a sua poesia. Ela não pode começar a dedicar-se a si mesma antes de ter despido toda a superstição que prende ao passado. (...) A revolução (...) precisa deixar que os mortos enterrem os seus mortos para chegar ao seu próprio conteúdo. Naquelas, a fraseologia superou o conteúdo, nesta, o conteúdo supera a fraseologia.” – Karl Marx, editora Boitempo, o 18 de brumário de Luís Bonaparte, páginas 28 e 29

Não vamos esquecer, por exemplo, que a própria Revolução Russa só teve sucesso (no sucesso que teve) por ter seguido a palavra de Marx e ter se preocupado com a sua revolução, com o seu presente estado das coisas, nós não iremos conseguir uma revolução se ela for a versão farsesca de qualquer outra revolução do passado! Se seguirmos assim, estaremos fadados a cometer os mesmos erros que nossos camaradas cometeram, a nossa revolução, como disse Marx, deve encontrar sua poesia não do passado, mas unicamente do futuro! O culto irrestrito a um passado místico (e inexistente, em parte) é completamente perigoso para nossa organização, nos faz parar de olhar para o lugar em que estamos, que horas são e parar de usar os acúmulos das revoluções passadas para pensar a nova revolução, a nossa revolução, e passamos a ver o evento histórico [passado] como um objeto de culto.

Devemos deixar que os mortos enterrem os seus mortos e encarar o fato que a União Soviética acabou! Isso não é ignorar os acúmulos que ela trouxe ou ignorar o que ela foi e representou, mas perceber e aceitar a realidade, encarar o que ela foi e representou em seus erros e acertos, superarmos, seguirmos em frente e construirmos a nossa revolução!

Gostaria de fazer uma adição posterior ao texto a partir de uma tribuna que li de um camarada, onde ele propõe que o nome do nosso partido deva ser “Palmares”, acredito que isso exemplifica, em parte, o que estou querendo dizer, abandonar o presente e abandonar nossa perspectiva de construção de futuro para saudar um passado mistificado ou, como o texto do camarada sugere, “Reconstruir Palmares”. Mais uma vez, gostaria de mostrar uma citação de Marx em 18 de Brumário, onde ele fala dos revolucionários franceses de sua época:

Enquanto faziam a revolução, os franceses não conseguiam parar de pensar em Napoleão (...) agora eles não só têm a caricatura do velho Napoleão, mas também o próprio Napoleão caricaturado em atitude condizente com meados do século XIX.” – Karl Marx, editora Boitempo, o 18 de brumário de Luís Bonaparte, página 28, negrito adicionado por mim

Inclusive, é no próximo parágrafo que ele começa a citação que mostrei antes dessa, acima, mas o fato é que fazer nossa identidade e nossa luta a partir do passado enquanto lutamos para construir o futuro, não constrói nenhum futuro, apenas nos prende a fantasmas, nos algema, e o Partido passar a se chamar “Palmares” é um reflexo disso.

Percebam, devemos, sim, reivindicar e reafirmar a cultura que foi negada de nós, as revoltas que, ao longo da história, os oprimidos travaram contra os opressores, tanto em nosso país quanto no mundo, afinal, Fanon nos explica que uma etapa do inferiorizado para se revoltar é quando ele conhece e descobre que têm história e cultura, porém, ao nos prendermos completamente ao passado no ponto do nome do partido se chamar “Palmares” é o reflexo do absurdo! Não construiremos o futuro enquanto estamos presos ao passado, como o próprio Marx nos diz!

Devemos nos ver como continuação das lutas por libertação do passado e reivindica-las, reafirma-las, mas nosso sentido, ou como Marx diz, nossa poesia deve se encontrar no futuro, na sua construção!

Percebam, a ideia de lutar para “reconstruir um passado perdido” não é uma ideia marxista, ou mesmo revolucionária, mas reacionária! A ideia marxista, a ideia revolucionária é lutar pelo novo, lutar pela emancipação e lutar pelo futuro!

DISPUTAR O PRESENTE, CONSTRUIR O FUTURO!