'A UNE somos nós, nossa força e nossa voz!' (Koba)

Oras, a UNE sob uma direção consequente, com uma linha proletária e revolucionária não teria capacidade de organizar e mobilizar os estudantes? Camaradas, o futuro desta entidade e do ME está em nossas mãos!

'A UNE somos nós, nossa força e nossa voz!' (Koba)

Por Koba para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas escrevo essa tribuna no propósito de pensar sobre nosso trabalho no Movimento Estudantil, principalmente Universitário, e nas construções das entidades de bases e das entidades gerais, entendo que esse ponto se mostra bastante importante para nos debruçarmos enquanto partido para tirarmos saldos, sínteses e apontamentos para o nosso trabalho. Nesse sentido estamos em um momento de construção de nossa organização que algumas perguntas devem ser bem iniciais, para que a construção e convencimento políticos sejam bastante coesas e sólidas, sem obviamente descartar os acúmulos que tivemos nos últimos anos, assim começo;

Devemos construir o Movimento Estudantil? 

O movimento estudantil principalmente no Brasil e na América Latina, teve papel chave em momentos cruciais para a conjuntura. Se posicionando como uma das principais reservas de força da classe trabalhadora na luta de classes, os exemplos estão presentes tanto na história como no presente: a luta contra o nazi-fascismo no Brasil, a luta pelas reformas de base, a luta em toda América Latiana contra os regimes militares, passando pelas Diretas Já, mobilizações do Fora Collor e das lutas contra o pacote neoliberal de FHC e chegando ao junho 2013, a primavera secundarista, as greves estudantis contra o golpe e às contras-reformas de Temer e a luta contra o governo Bolsonaro. Aqui é importante ressaltar o caráter de reserva de forças do movimento estudantil, muitas vezes sendo o setor que dá os primeiros passos para o confronto, para o embate na luta de classes, aliás os estudantes, principalmente aqui na América Latina sentem assiduamente as contradições do capital. 

Alguns camaradas argumentam que o movimento estudantil é pequeno-burguês, não é estratégico e que o trabalho dele não seria importante. Ora os camaradas não compreendem o peso que o debate educacional tem para a classe trabalhadora brasileira? Não tem a capacidade de analisar isto na materialidade? Isso demonstra a incapacidade de compreender concretamente o movimento estudantil na luta de classes, uma visão porcamente mecânica.

Desde a segunda metade do século XX temos novas condições da educação e da universidade no Brasil se desenhando. Se nos anos 50 e 60 o debate sobre acesso e permanência na universidade muitas vezes foi delimitado principalmente pelas realidades das classes média e dos centros urbanos, esse quadro já é alterado no final dos anos 60, junto ao projeto educacional da ditadura e acordo MEC-Usaid. Se tínhamos de um lado as classes médias pautando maior acesso à educação universitária, para melhorar suas condições de vida, a ditadura empresarial-militar avança na educação superior, na sua ampliação em uma perspectiva de qualificação da mão de obra em consonância à uma nova fase do desenvolvimento capitalista no Brasil e na América Latina. Assim temos já o broto da formação dos grandes conglomerados da educação, inclusive a universitária, que se expressa hoje em Universidades Privadas de massa como Anhanguera, Unip, FMU, Estácio, entre outras, que tem como principal público setores pauperizados do proletariado. Vale citar também a grande quantidade de universidades privadas municipais, que nos anos 80 e 90 o movimento estudantil destas foi importante para o processo de reconstrução das entidades gerais nos interiores, como em São José do Rio Preto no Estado de São Paulo.

Vale mencionar também como no Brasil a pauta do acesso à educação é uma pauta que movimenta amplamente a classe trabalhadora, afinal as pautas da reforma universitária e da reforma educacional de base eram grandes pautas nas  mobilizações populares das reformas de base, pré-ditadura, e fica nítido na atualidade a luta pelo maior acesso do proletariado a universidade pública, e concretização desse processo acompanhado da precarização das mesmas. Ora a classe trabalhadora quer que seus filhos acessem a educação para melhorar no mínimo suas condições de vida, para que seus filhos tenham acesso a empregos com mais direitos garantidos, a ideia de ascensão social que aqui na realidade diz sobre a possibilidade de acessar direitos básicos. Assim é nosso dever deixar explicitado que o único caminho para o direito ao acesso, à educação de qualidade, de produção de ciência para os seus, é a construção da luta nas escolas e universidades, a construção do Poder Popular nesses espaços, rumando à Escola Popular e Universidade Popular, entendendo que estes só poderão ser concretizados em um processo de mudança disruptiva geral da sociedade brasileira: O processo revolucionário brasileiro.

Construir as Entidades Gerais - Construir a UNE!

Surge em nossas fileiras, com certa força, posições que negam a importância política dos comunistas construírem o movimento estudantil e as entidades gerais, algumas dessas posições são perceptíveis de onde surgem, de problemas reais de modus operandi do movimento estudantil, mas as respostas são simplesmente desastrosas!

Primeiro aponto as necessidades políticas e materiais de em que nosso país haja uma entidade nacional, que seja a expressão da luta dos estudantes em cada Universidade, em cada região do país. A expressão nacional da luta dos estudantes trabalhadores sob a hegemonia proletária. São poucos os casos em que os estudantes de um determinado país constroem uma entidade nacional, como a UNE. Isso demonstra um nível bastante avançado de organização e articulação que historicamente o Movimento Estudantil de nosso país alcançou. São vários os momentos em que fica nítido essa necessidade sentida pelo ME brasileiro, a de construção de uma entidade que garantisse a articulação nacional, desde a criação da UNE, até como a pauta de sua reorganização já nos fins da Ditadura Empresarial-Militar  se coloca como central para o movimento estudantil, inclusive sendo um dos principais pontos da quase totalidade das correntes do ME. Esta necessidade se dá por primeiro as dimensões continentais de nosso país, e segundo é que diferente do que se pensa o senso comum, o sudeste e o eixo Rio-São Paulo nunca foram necessariamente o principal palco de organização dos estudantes e de expressão do ME, nem mesmo se restringiu às capitais, desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul temos a construção  de históricas entidades que encabeçaram importantes lutas em suas regiões: UEE´s, DCE´s, CA´s e entidades municipais. Assim a articulação nacional se mostra nitidamente necessária e o nível avançado de desenvolvimento político do ME nacional também. 

Ainda sobre a necessidade de articulação nacional, é importante notar que diferente do movimento sindical por exemplo, onde existem mais de cinco centrais sindicais, a UNE hoje é a única entidade nacional do Movimento Estudantil, reconhecida e disputada pela grande maioria dos setores do ME: participaram do CONUNE forças desde a JPT até o Rebeldia/PSTU, afinal a ANE-L morreu e podemos nos perguntar se um dia de fato ela chegou a existir.

Hoje a UNE é dirigida por setores reformistas que posicionaram a entidade nos últimos 20 anos como extensão do Ministério da Educação dos governos petistas, e vacilaram constantemente com as bases estudantis. Camaradas por isso mesmo é nosso dever retomar esta entidade para nossas mãos, a defesa de que não disputamos esta entidade se parece muitas vezes com a defesa de que não façamos uma disputa consequente e frontal contra os setores pelegos e vacilantes, um trecho da tribuna “Recusitemos o poder popular e abandonemos a UNE” exemplifica muito essa compreensão:

Sem contar que temos experiências suficientes de disputa com a UJS para analisarmos que o espaço da Caravana seria igualmente vazio de questões políticas. Se somando a isso, as relações entre a UJC e UJS no Paraná são extremamente hostis, inclusive com uma dirigente da UJS partindo para a agressão física de uma militante nossa no CONUPE. Além de, no mesmo CONUPE, a UJS ter tentado desestabilizar falas de nosses militantes, ter nos xingado, nos hostilizado e nos vaiado durante a plenária final. Logo, camaradas, acreditar que vale a pena nos expor a todas essas questões para realizar uma atividade que não terá ganho político já que, repetimos, será esvaziada e monopolizada pela UJS, é um disparate.

Ora camaradas sendo assim iremos nos ausentar de disputar inúmeros sindicatos e associação de moradores onde em seus processos congressuais e eleitorais militantes nossos já foram ameaçados com armas de fogo. Iremos nos ausentar na realidade de qualquer espaço onde não somos hegemônicos, e as forças  da social-democracia nos tratoram: que é basicamente a grande maioria dos espaços do movimento sindical e dos movimentos sociais. Nesta tribuna também os camaradas apontam que para disputar a UNE precisaríamos “rebaixar nossa linha e fazer acordos com a UJS”, assim fica nítido que um dos principais pontos para alguns camaradas se levantarem contra a disputada desta entidade (vale também mencionar a incompreensões de alguns camaradas), seja na realidade limitações de nossa organização em levar a frente uma disputa consequente, de organizar nosso trabalho de disputa dentro das entidades gerais de uma forma que seja articulada com todo o trabalho junto às bases , de construção de entidade de bases, de nosso trabalho de organização dos estudantes e trabalhadores em cada universidade do país. 

Nosso trabalho e nossa disputa na UNE não se dará e não será resumido a rebaixamento de linha e acordos com a majoritária, ele se dará pela nossa capacidade de organizar as massas de estudantes, de hegemonizar com uma linha revolucionária o Movimento Estudantil, tomaremos a UNE e as entidades gerais deste país quando formos uma das principais forças em cada universidade, escola e unidade educacional deste país, rumando para a construção do Poder Popular junto aos estudantes e trabalhadores, e novamente digo: na construção de uma linha revolucionária e proletária para o Movimento Estudantil.

Faremos a UNE e as UEE 's desse país serem novamente a expressão da organização e luta dos estudantes, a expressão e articulação da construção do Poder Popular em cada canto desse país, organizado por estudantes e trabalhadores. Porque se alguns camaradas não conseguem ver na materialidade como a UNE pode contribuir para a construção do Poder Popular e paralisação da produção, devemos relembrar a todos e em alto e bom tom que a produção de conhecimento, de ciência e tecnologia é central para a manutenção da ordem burguesa, que a formação de trabalhadores é fundamental para a manutenção do capital. Que a construção do Poder Popular deve perpassar a disputa nas escolas e universidades, na luta pela Universidade Popular e Socialista feita pela e para a classe trabalhadora e que só poderá ser concretizada num processo de mudanças subsanciais da sociedade brasileira, em um processo revolucionário. Só assim faremos de fato a UNE ser nossa força e nossa voz!

UNE : PASSADO - PRESENTE - FUTURO. 

Já finalizando esta tribuna, com alguns pontos postos, quero dialogar com os camaradas que apontam que nossa escolha política de disputar a UNE se daria por um apego saudosista ao que já foi a entidade: Quero trazer dois pontos para o debate, primeiro é que analisando as formulações do conjunto de nossa militância fica nítido que são poucos os que se debruçam de fato na compreensão histórica e política do M.E, isso se dá por um problema formativo em nossa militância, e por um problema herdado pelo PCB-CC de não avançarmos em uma delimitação política e teórica clara sobre nossa compreensão do M.E, quantos saldos históricos bem delimitados sobre as experiências do ME nacional nossa organização abertamente já fez? Os únicos saldos e compreensões políticas que chegam a ter um caráter mais desenvolvido (e ainda sim limitado), são os da UNE-Pré 64, em que a direção da entidade era do PCB junto a AP. Ora a UJR tem livros publicados, em que dirigentes históricos desta organização, delimitam análises de conjuntura e saldos históricos bastente ousados, acerca do desenvolvimento do ME em nosso país. Está na hora de nós, os comunistas organizados na UJC e PCB-RR, carregando uma vasta tradição, também o fazermos. 

Também entendo que o problema formativo se estende em não conseguirmos profissionalizar quadros de maneira planejada para pensar, formular e atuar no M.E,  e que essas formulações sejam socializadas pela militância. Não garantimos condições materiais para esta profissionalização, principalmente a nível nacional. Todos os nossos principais quadros do M.E se “profissionalizaram” e se tornaram figuras públicas de maneira artesanal e improvisada. Isso deve ser superado para ontem se queremos conquistar nossos objetivos: sem um militância preparada para as tarefas, certamente ficaremos sempre a reboque da social-democracia e oportunismo. Esse problema é resultado de um problema geral em nossa organização: o de formação de quadros. 

O segundo ponto é uma análise bastante afastada da materialidade, a qual a UNE não teria mais a capacidade de organizar e mobilizar os estudantes. Pois gostaria de relembrar os camaradas que a UNE mesmo sob uma direção pelega conseguiu mobilizar o Tsunami da Educação, que organizou e mobilizou muito mais que milhares de estudantes pelo Brasil afora. Também vale mencionar as ocupações de inúmeras universidades na luta contra a PEC da morte, onde a UNE teve um importante papel, e novamente, mesmo com uma direção pelega (que naquele momento tinha uma postura de apostar muito mais nas mobilizações, frente à conjuntura de golpe contra e ex-presidente Dilma e avanço da burguesia e da extrema-direita). Me parece uma análise mal elaborada, que porque HOJE a UNE  é afastada dos estudantes, que ela em sí não tem mais nenhuma capacidade de mobilização, que ela deixa de ser completamente uma referência para o conjunto de estudantes, o que na materialidade não se confere, quando analisamos o quadro de atuação do Movimento Estudantil, as forças atuantes e o trabalho das entidades.

Oras, a UNE sob uma direção consequente, com uma linha  proletária e revolucionária não teria capacidade de organizar e mobilizar os estudantes? Camaradas, o futuro desta entidade e do ME está em nossas mãos!