'A revolução só virá pelas mãos da classe trabalhadora!' (Dhafne Braga)
A construção de uma identidade partidária essencialmente da classe trabalhadora brasileira é um imperativo para todo e qualquer partido comunista e revolucionário, não excluo a participação da classe média, especialistas e acadêmicos assim como Kollontai não excluiu.
Por Dhafne Braga para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, estive fazendo uma leitura para satisfação pessoal do primeiro volume da série obras escolhidas de alexandra kollontai organizada pela editora Lavra Palavra, o livro “a revolução socialista e as mulheres” contém um texto escrito por Kollontai que se dedica a detalhar o programa de sua corrente, a Oposição Operária, no interior do partido Bolchevique, mais precisamente na terceira sessão intitulada “A Revolução”. Impossível fazer esta leitura e não relacionar ao recente processo de ruptura com o PCB CC e ao atual estágio de névoa que nos encontramos, recomendo fortemente a leitura como preparatória ao congresso.
Contextualizando rapidamente, o conflito ocorre a partir da questão primeira sobre a economia ser controlada pelo Estado ou pelos sindicatos, a posição de Lênin afirma a primeira, a de Trotsky também e a de Kollontai e a Oposição Operária corresponde a segunda afirmativa, ao longo do texto, Kollontai prova a lógica de sua posição política, entre outros bons fatores, o combate a burocracia burguesa intrínseca aos especialistas e economistas do antigo Estado, que “se renderam” ao novo governo socialista e a subjugação da base operária em contato direto com a economia aos dirigentes especialistas e membros do Estado, ocasionando assim, uma imposição comum do modo capitalista de produção ao modo socialista em construção. Um debate travado nas páginas do livro também me trouxe a pensar nas tribunas preparatórias para o congresso, tal debate diz respeito sobre a identidade proletária que o partido deve ter, lembro bem de uma sugestão ser posta na mesa de debate a fim de evitar o aburguesamento do partido, visto que ainda haviam pessoas forjadas pelas velhas práticas russas pré 1917 que se negavam a autocrítica, no entanto, kollontai sugere sobre uma espécie de “filtro” entre os militantes, em sua visão o indivíduo deve comprovar seu envolvimento no mundo operário por pelo menos 3 meses e os especialistas sem práxis devem ser expulsos sob a pena de contaminar o sistema em nascimento. Radical, não? porém muito tempo pensando sobre o texto me fez refletir que talvez devêssemos implementar medida parecida nesse novo partido ou novo momento histórico do PCB RR, vejam camaradas, apesar de um pouco radical visto que não recriminamos as classes médias e os acadêmicos, por esses estarem mais perto do proletariado do que da elite burguesa, devemos admitir que apesar da proximidade e empatia devemos relembrar da célebre frase de Marx e Engels “a criação do comunismo será obra da classe trabalhadora(…)” .
Outro motivo que me fez enxergar a dura verdade que Kollontai nos trouxe, é que chegamos a esse ponto por degeneração dos próprios especialistas e acadêmicos que hoje correspondem ao PCB CC, com a nossa linha de ação não sendo definida pela classe trabalhadora (embora a classe trabalhadora brasileira sendo cada vez maior devido as grandes desigualdades do capitalismo dependente, creio que nenhum trabalhador abriria a boca para dizer que gasta demais sustentando os filhos na Europa) fica mais fácil que ela escape as nossas mãos e gire a direita, ainda que sem total consciência visto que nossa consciência é forjada pela reprodução do sistema capitalista. Ademais, a construção de uma identidade partidária essencialmente da classe trabalhadora brasileira é um imperativo para todo e qualquer partido comunista e revolucionário, não excluo a participação da classe média, especialistas e acadêmicos assim como Kollontai não excluiu, desde que o compromisso em servir a classe trabalhadora seja assumido e sua ligação seja genuína, ecoando o que as massas reivindicam, identificando suas dores e se aliando a elas sem egoísmos ou mesquinharia. Gostaria de concluir essa pequena reflexão trazida aqui, que essa conclusão tomada por mim foi uma conclusão difícil, visto que ela também me penalizaria já que me encaixo na definição de classe média, mas devemos reconhecer a verdade que há nessa sugestão em nome de nosso compromisso com a sociedade socialista e nosso amor pela revolução - amor construído pelo ódio de classe - .
No mais, recomendo fortemente a leitura ou a releitura do enxerto, só me debrucei sobre uma das raízes da polêmica e sugestões presentes no texto.
Saudações Camaradas!
Dhafne Braga - Célula Dalcidio Jurandir PCB RR PA.