'A revolução brasileira será evangélica, ou não será' (Filipe Bezerra)
Os evangélicos estão nas favelas, nas fábricas, no comércio, no estádio de futebol, nas portarias, nos supermercados, nos ônibus, inclusive se você está lendo essa tribuna no ônibus ou no metrô, provavelmente a pessoa ao seu lado e na sua frente, também são evangélicos.
Por Filipe Bezerra para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
(Um debate necessário, sobre religião, dominação, interesse do capital e inserção na política)
Falar de revolução sem falar de religião é o mesmo que encher pneu de trem ou tampar o sol com a peneira. As religiões conseguem moldar comportamentos sociais, relações entre povos, e é utilizada para gerar guerras, que matam trabalhadores em todo mundo. Mas antes de entrarmos na questão do Brasil e das igrejas Pentecostais e Neopentecostais, é necessário mostrar como o capital utiliza da religiões como forma de dominação e alienação da classe trabalhadora, e portanto, uma ferramenta essencial para manutenção da ordem e dos interesses do capital.
É importante colocar que nós, comunistas, não somos e não devemos ser anti-religião, é um dever histórico nosso defender a liberdade religiosa, bem como o Estado laico, mas ao mesmo tempo que não devemos ser anti-religião, não significa que devemos nos isentar da crítica, pelo contrário, é papel nosso, dos comunistas, promover o pensamento crítico, instigar o debate, nas suas devidas proporções, de acordo com o local e a pessoas, e alertar/informar a classe quando esta se encontra cega pelas armadilhas do capitalismo.
Pois bem, o que pretendo trazer nesta tribuna é primeiro uma crítica ao conjunto da esquerda e da militância revolucionária, por tratar de maneira anticomunista a questão da religião, trazendo o debate raso, que parece ser explanado apenas para demarcar um posição pessoal, que acaba mais afastando-nos da nossa classe do que aproximando para lutarmos juntos por um novo mundo.
Precisamos entender que as igrejas evangélicas, sejam elas neo ou Pentecostais, ocuparam um espaço onde nós deveríamos estar. Obviamente, em dado momento histórico nós fomos expulsos de alguns desses locais, porém, em outro momento histórico, a esquerda brasileira tomou uma linha totalmente equivocada, se afastando de onde nunca deveria ter saído. Portanto precisamos compreender que essa relação entre religião e dominação da classe é como carne e unha. O perfil socioeconômico dos evangélicos no Brasil explica bem essa relação.
Primeiramente temos que saber qual o quantitativo de evangélicos no Brasil. Em 2020, uma pesquisa do Datafolha indicou que 31% da população brasileira se declarava evangélica — um crescimento que tornou este segmento central na política nacional. Estamos falando de aproximadamente 66.7 milhões de brasileiros, quase um terço da população brasileira.
Agora vejamos o perfil socioeconômico dessa população:
- Cerca de 67.7% dos evangélicos recebem mensalmente, no máximo, dois salários mínimos
- Percebam nessa tabela que do total de evangélicos no Brasil ( ⅓ da população) 67.7% recebe no máximo até 2 salários mínimos. Mas percebam também que, independente da religião, quem as compõe é maioria esmagadora, trabalhadores, com renda baixa, precarizados.
Diante desses dados e dessas considerações, eu reafirmo o título deste tribuna: A revolução será evangélica, ou não será!
Afirmo isso pois 1: esse grupo representa é 31% da população brasileira; 2:Em sua grande maioria, são trabalhadores precarizados, com baixíssima renda; 3: Estão presentes na maioria do território Nacional; 4: Estão influenciando na política nacional; 5: Possuem um exército determinado a fazer o que se propõe; 6: São extremamente disciplinados – arrisco afirmar, inclusive, que são mais leninistas na sua forma organizativa do que a esquerda brasileira atualmente.
Diante desses dados eu deixo uma afirmação: Os evangélicos não são nossos inimigos, configuram esmagadora parte da classe trabalhadora, são explorados, tal como nós e sua fé é roubada, enganada, para alimentar o interesse da burguesia e manter os interesses do capital.
Portanto é dever nosso: a) Estudar sobre a questão, saber o que é Neopentecostal, Pentecostal, pois isso pra determinar muito as nossas táticas de atuação; b) devemos aprender com eles. Como? Política de finanças, disciplina, atividades que desenvolvem para fazer a agitação e propaganda da igreja, método de abordagem, etc; c) Devemos disputar a mente e os corações dessa população, sem querer impor uma ruptura ou nos comportando como os seres iluminados, donos da verdade. Para disputar essa população, devemos aprender a falar a língua deles, portanto não penso nem duas vezes antes de falar: Temos que saber e estudar a Bíblia, saber como usa-la para dialogar se maneira que seja mais interessante e compreensível. A luta de classes e a bíblia tem mais semelhança do que a gente imagina.
d) devemos sempre instigar o debate fraterno, demonstrar curiosidade, ganhar confiança desses companheiros sempre que estivermos nos nossos locais de atuação, nos territórios. Por que? Porque o poder de propaganda e agitação deles é algo impressionante que temos que aprender e muito ainda.
Neste penúltimo parágrafo, deixo a experiência da Marighella, onde cerca de 75% dos moradores são evangélicos, temos de Pastor a Missionária, e sem dúvida alguma, são os companheiros e companheiras que mais contribuem na questão organizativa da luta, na solidariedade e o principal pra nós, são os mais radicais.
Para finalizar, essa tribuna vai ficar com várias lacunas, pois o assunto é bastante complexo, mas espero que ela instigue o debate para aprofundarmos. Mas lembremos: os evangélicos estão nas favelas, nas fábricas, no comércio, no estádio de futebol, nas portarias, nos supermercados, nos ônibus, inclusive se você está lendo essa tribuna no ônibus ou no metrô, provavelmente a pessoa ao seu lado e na sua frente, também são evangélicos.