A retirada da candidatura de Biden, o atentado a Trump e a democracia nos EUA

A luta dos trabalhadores e do povo, com sua experiência valiosa, pavimenta o caminho para a derrubada da barbárie capitalista atual, que dá origem ao fascismo e à extrema-direita.

A retirada da candidatura de Biden, o atentado a Trump e a democracia nos EUA

A publicação a seguir traz duas análises dos comunistas dos Estados Unidos veiculadas no ‘New Worker’, Órgão Central da Plataforma dos Trabalhadores Comunistas dos EUA (CWPUSA) sobre os eventos recentes acerca do pleito eleitoral dos Estados Unidos da América. O primeiro diz respeito à tentativa de assassinato de Trump e a democracia nos EUA. Em seguida, trazemos uma declaração do Conselho Editorial do ‘New Worker’ sobre a retirada da candidatura de Joe Biden às eleições presidenciais pelo Partido Democrata.

A TENTATIVA DE ASSASSINATO DE TRUMP E A DEMOCRACIA NOS EUA

Na noite de 13 de julho, um atirador abriu fogo em um comício de Trump na Pensilvânia. O atirador feriu de raspão a orelha do candidato, deixando-o ensanguentado, com um participante morto e outros dois feridos. Esses atos individuais de aventureirismo se provaram ao longo da história um beco sem saída que só prejudicaram esforços reais de organização do movimento pela revolução socialista. Nos EUA, existem muitos exemplos de tentativas de assassinato fracassadas ou bem-sucedidas.

Por exemplo, os bombardeios de 1919 pelos Galleanisti, o assassinato de JFK por Lee Harvey Oswald e o tiro de John Hinckley em Reagan. Em cada caso, os representantes da burguesia e seu Estado são legitimados aos olhos do público, seus mecanismos repressivos são fortalecidos e seu controle sobre qualquer forma de descontentamento popular enrijecido.

Diversas teorias circulam tentando fazer sentido do incidente. Elas variam desde aquelas que afirmam que o tiroteio foi encenado ou uma conspiração interna, até aquelas que fortalecem o culto à personalidade de Donald Trump, afirmando que Deus o impediu de morrer, elevando-o a um indivíduo quase messiânico. As teorias em circulação servem para levar os trabalhadores e o povo ao campo de uma ou outra facção burguesa, cada uma acusando a outra de se tornar uma ameaça à “democracia” (Democratas) ou à “América” (MAGA). De fato, a divisão da sociedade e o agravamento da situação econômica são consequências da decadência do capitalismo em sua fase imperialista, auxiliada por todas as facções políticas da burguesia.

Os opositores de Trump (ou seja, os Democratas) usam o momento para repudiar a violência política, ignorando que a classe trabalhadora e o povo enfrentam violência política diariamente em suas democracias, uma realidade que os estudantes universitários vivenciam nas mãos do Estado ao se solidarizar com o povo palestino. Os políticos capitalistas permanecem em silêncio sobre o massacre diário contínuo enfrentado pelos palestinos, que eles apoiam, enquanto agora condenam rapidamente o tiroteio de 13 de julho. Esses indivíduos ignoram os inúmeros assassinatos e mortes políticas que historicamente foram uma ferramenta da política externa dos EUA, muitas vezes orquestradas ou apoiadas por essas mesmas figuras que agora tentam assumir uma posição moral elevada.

Ambos os partidos consistentemente mobilizam as pessoas sob os exaustivos pretextos de “unidade nacional” e “união”. As teorias e posturas emergentes, resultantes do tiroteio, adotadas pelos dois principais partidos e seus representantes, destacam outro elemento na luta entre as forças políticas burguesas. Assim, não surpreende que representantes políticos das principais esferas de gestão capitalista, tanto globalmente quanto nos EUA, tenham condenado a tentativa de assassinato ou aproveitado o momento para demonstrar seu total apoio a outra presidência de Trump. Além disso, CEOs, banqueiros e vários outros representantes do capital usaram este momento para endossar Trump.

Ilusão de democracia e a responsabilidade dos partidos burgueses

A ascensão de forças de extrema-direita, semelhante às tendências em outros países, é retratada por partidos, mídia e organizações como uma perturbação da “democracia”. Essa narrativa serve para obscurecer as responsabilidades significativas dos Democratas e outros partidos e forças burguesas, que estão fundamentalmente ligados e dependentes da continuidade do domínio capitalista que dá origem a essas forças reacionárias. Sob o pretexto de abordar o protesto popular e a indignação contra essas políticas, frequentemente rotuladas como “progressistas”, são criadas as condições para que as forças de extrema-direita ganhem força. Isso se reflete nas campanhas anticomunistas e a-históricas promovidas pelo capital em todo o país, inclusive em cursos obrigatórios nas escolas públicas, que, em última análise, recompensam a extrema-direita e o fascismo.

Acima de tudo, eles tentam ocultar o fato de que todos os partidos burgueses, em meio ao imperialismo e às rivalidades intensificadas entre as classes burguesas que levam a guerras imperialistas, estão se tornando cada vez mais reacionários e agressivos em relação ao povo. Os chamados partidos “progressistas”, neste caso os Democratas e as organizações sociais-democratas, não estão isentos desse fenômeno. Essa tendência é prejudicial ao povo em todos os níveis – ideológico, político e organizativo.

O movimento Make America Great Again (MAGA), no qual forças de extrema-direita e os germes do fascismo proliferam, surgiu no contexto da reconfiguração das alianças imperialistas e das medidas para extrair benefícios adicionais para a burguesia. Sua verdadeira natureza, longe de tentar melhorar as condições da grande maioria do povo nos EUA, consiste em um esquema político que reflete a competição intensificada entre diferentes alas da burguesia. O MAGA sinaliza a tentativa do capital de alinhar mais ativamente a classe trabalhadora aos interesses da burguesia, o que, apesar das contradições, mostra diretamente ao povo que mercados, negócios, campos de batalha e a guerra imperialista são os únicos meios de resolver as contas com seus concorrentes. É um mito que Trump trará paz e acabará com as guerras dos EUA. Durante seu primeiro mandato, a administração Trump liderou operações no Iêmen, Síria e Somália, enquanto atiçava as chamas contra Pyongyang e no conflito Israel-Palestina. Trump até expressou disposição para usar forças militares contra os levantes que ocorreram após o assassinato de George Floyd.

As emergentes forças de extrema-direita e fascistas defendem ruidosamente os chamados “interesses nacionais”, unindo exploradores e explorados sob uma única bandeira, enquanto culpam imigrantes e outras minorias em vez do próprio sistema explorador. Essa agenda não se materializou do nada. Atualmente, um debate familiar, repetitivo e desorientador sobre a ascensão da extrema-direita está se desenrolando. Em resposta, oportunistas, sociais-democratas e liberais estão reciclando as medidas fracassadas do passado, ignorando o fato de que a dominação burguesa também pode ser “democrática”. Eles ignoram a responsabilidade do Partido Democrata em nutrir essas forças através da opressão e repressão dos movimentos populares e dos trabalhadores durante as administrações Biden e Obama. Suas táticas de concessão à burguesia apenas levam ao fortalecimento das forças reacionárias.

Estamos mais uma vez confrontados com a lógica falha do “mal menor”, que prejudica o povo ao apresentar uma falsa escolha entre a abominável extrema-direita e a chamada “manutenção da democracia”. Ambas as opções, em última análise, servem aos interesses do capital. Essa situação destaca uma questão crítica: a classe trabalhadora e a população em geral nos EUA hoje carecem de uma opção política que realmente lute por seus interesses, honre suas lutas e garanta a continuidade e a radicalização de seu movimento. Independentemente de quão massivas sejam as lutas dos trabalhadores e do povo, elas sempre encontrarão um beco político sem saída, pois não há hoje um partido comunista revolucionário e poderoso nos EUA para liderar a derrubada desse sistema corrupto e acabar com seu circo político. Como resultado, o povo permanece facilmente preso pelos dilemas extorsivos da burguesia, que perpetuam políticas anti-operárias enquanto elaboram novos mecanismos antipopulares de manipulação e confinamento.

É crucial que os comunistas evitem cair na armadilha da luta entre os interesses dos monopólios. Em vez disso, devemos nos engajar em uma luta intensa onde nossa tarefa imediata não é apenas expor a enganação dos dois principais partidos, mas também fortalecer nossas demandas pelo reagrupamento do movimento e pela reconstituição do Partido Comunista. Isso é necessário para confrontar a situação política atual de forma séria e apresentar aos trabalhadores e ao povo uma oposição real. Devemos preparar a classe trabalhadora para a insurreição, a tomada do poder e o exercício do verdadeiro poder da classe trabalhadora. Este trabalho só pode ser realizado com o partido comunista revolucionário através de sua prática diária, agitação constante, trabalho político estreitamente ligado às massas e o desenvolvimento de análises e palavras de ordem corretas.

Se não conseguirmos fazer isso, o movimento dos trabalhadores continuará sofrendo, celebrando as vitórias dos outros e sendo embalado por promessas vazias e falsos heróis. A luta dos trabalhadores e do povo, junto com a utilização de sua experiência valiosa e acumulada, pavimenta o caminho para a derrubada da barbárie capitalista de hoje, que dá origem ao fascismo e à extrema-direita. Este caminho certamente trará a classe trabalhadora, especialmente os comunistas, para a vanguarda da luta de classes, garantindo que seu destino não seja outra versão da barbárie capitalista, mas o poder dos trabalhadores e um novo mundo: o socialismo-comunismo.

A RETIRADA DA CANDIDATURA DE BIDEN NAS ELEIÇÕES DE 2024

Em 21 de junho de 2024 – para surpresa de ninguém – o Presidente Joe Biden renunciou oficialmente à sua indicação como candidato do Partido Democrata na próxima eleição presidencial. Muitos já esperavam que Biden desistisse depois do debate desastroso e de suas más atuações em vários meios de comunicação. A pressão para que Biden desistisse aumentou ainda mais após a tentativa de assassinato de Donald Trump, com muitos democratas buscando obter o máximo de apoio possível. Antes de sua desistência, Biden apareceu em uma entrevista na BET News, onde falou pela primeira vez sobre a possibilidade de se retirar no caso de uma condição médica. Na ABC News, ele proclamou que “somente o Senhor Todo-Poderoso” poderia fazê-lo abandonar a corrida e, mais tarde, em uma coletiva de imprensa, disse que só deixaria o cargo se seus assessores lhe apresentassem provas de que ele não poderia vencer.

Líderes democratas atuais e veteranos também começaram a pedir sua retirada, alguns até mesmo tentando persuadi-lo pessoalmente a fazer isso. Os “megadoadores” de Biden – representantes de fundos de investimento do Vale do Silício, como Ron Conway (com investimentos em mais de 650 empresas, por exemplo, Airbnb, Digg, Facebook, Google, Reddit etc.) e Laurene Powell Jobs (viúva do fundador da Apple) – também trocavam freneticamente telefonemas, mensagens de texto e e-mails, perguntando-se “o que faremos com Biden” e como poderiam acionar suas cláusulas de financiamento para que ele desistisse da disputa. Assim, a decisão final de Biden chega em um ponto de ebulição em uma intensa luta intraburguesa que ocorre no contexto da batalha em curso pela primazia no sistema imperialista entre os EUA e a China, uma batalha que também decidirá para onde o enorme capital acumulado direcionará sua próxima busca por saídas lucrativas (por exemplo, Biden para o capitalismo verde, Trump para os combustíveis fósseis).

Em meio a esse conflito, os comunistas reiteram que a solução não está no jogo entre recompensa e punição dos principais partidos e em todos os seus métodos enganosos para alinhar os trabalhadores e as forças populares aos vários objetivos da burguesia. A única alternativa, a única solução, independentemente do candidato indicado pelos republicanos e democratas, está na luta pela reconstituição do partido comunista.