A Palavra Falada – principal arma do agitador

A agitação falada permite ao agitador atuar imediatamente, diante de cada fato inesperado, sem perda de tempo. Quando acontece um acidente no trabalho ou uma violência policial, quando surge uma nova medida de guerra do governo, o agitador não pode esperar que se imprima um volante.

A Palavra Falada – principal arma do agitador

Agitprop, suplemento de A Classe Operária, Órgão Central do PCB; publicado em Junho de 1952.

 “O propagandista atua principalmente por escrito, o agitador de viva voz” (Lênin)

São variadas as formas de agitação empregadas pelo Partido: jornais, volantes, comícios, pixamentos, palestras, etc. Nelas utilizamos ora a palavra escrita, ora a palavra falada. Todas estas formas de agitação têm valor e são necessárias. Devemos saber utilizar cada uma delas de acordo com a situação em que atuamos. Entretanto, é necessário compreendermos a importância especial da agitação falada.

Por que dizemos que a palavra falada é a maior arma do Agitador?

É MAIS IMEDIATA

A agitação falada permite ao agitador atuar imediatamente, diante de cada fato inesperado, sem perda de tempo. Quando acontece um acidente no trabalho ou uma violência policial, quando surge uma nova medida de guerra do governo, o agitador não pode esperar que se imprima um volante. Sem perder tempo, deve falar à massa e chamá-la à luta.

Há alguns meses atrás houve um acidente fatal numa fábrica do Rio. Um operário perdeu a vida por culpa dos patrões, que não querem fazer despesas para melhorar as condições de segurança no trabalho. Criou-se logo na fábrica um ambiente de grande indignação contra о саpitalista. Mas não surgiu nenhum agitador para falar aos operários e transformar sua indignação, naquele momento oportuno, em luta contra o patrão. Em vez disso, que fez a célula do Partido? Comunicou o fato ao Comitê Distrital e pediu que imprimisse um volante. Quando o volante chegou, dois dias depois, já a indignação dos operários havia esfriado. O volante teve pouca repercussão. É claro que o resultado seria outro se os agitadores tivessem chamado a massa à luta na hora do acidente.

O valor da agitação falada nas denúncias imediatas é comprovado, entre muitos outros exemplos, pelo que ocorreu na fábrica General Motors, em Santo André. Esta empresa americana ia apresentar aos operários, para ser assinado, um documento que resultava no compromisso de aceitar o horário de 12 horas de trabalho. A manobra chegou ao conhecimento dos operários mais esclarecidos, antes de ser tornada pública. Estes não perderam tempo. Começaram logo a fazer agitação, lançando a palavra de ordem que correu de boca em boca: “Ninguém assina”. A direção da empresa, sentindo-se desmascarada pela reação dos operários, não teve nem coragem de apresentar o documento. A manobra morreu no nascedouro, graças à agitação falada. Se os operários perdessem um ou dois dias para imprimir um volante, talvez fosse tarde demais.

POSSIBILITA O DEBATE

Ao fazer agitação falada, o agitador pode argumentar mais com a massa do que escrevendo. Num volante ou num jornal de empresa apenas damos nossa opinião. Se alguns leitores tiverem dúvidas e quiserem novos esclarecimentos, é preciso certo trabalho para conhecer seu pensamento e voltar a tratar do assunto em outro volante ou jornal. Mas, quando falamos aos operários, notamos imediatamente como eles recebem nossas palavras. Podemos ouvir seus apartes, suas perguntas e responder logo a suas dúvidas ou corrigir nossos enganos. A palavra falada permite um debate vivo com a massa.

Falando aos operários, o agitador entra em contacto direto, pessoal, vivo, com eles. Isto faz aumentar a confiança da massa no Partido e liga mais o Partido à massa. Não basta lançar volantes e fazer pixamentos. Estes têm importância, certamente, pois levam à massa nossas palavras de ordem. Mas, além disso, a massa quer discutir o que leu, quer tirar suas dúvidas, e isto só é possível com a palavra viva do agitador.

Recentemente, em São Paulo, um agitador do Partido fez um comício relâmpago na porta do Curtume Franco-Brasileiro. Levantou as reivindicações dos operários da empresa, que conhecia bem, ligando-as à luta pela paz, contra a carestia, por um governo democrático-popular. Seu discurso, concreto e combativo, teve grande efeito. Foi muito aplaudido. Depois de ter falado uns dez minutos, o agitador ia retirar-se com os camaradas que o acompanhavam. Mas os operários os cercaram e não permitiram que partissem. Durante quase meia hora foram bombardeados com perguntas: “Por que vocês não aparecem há tanto tempo?” — “Como vai o nosso Prestes?” — — “Que acha o Partido: vai haver guerra?” — “Por que é que o Getúlio está tão ruim?” etc. Se o agitador tivesse apenas lançado volantes na porta da empresa, e depois ido embora, não seria possível este debate vivo com a massa.

ATINGE A TODOS

A agitação falada atinge a toda a massa, inclusive os analfabetos. No Brasil isto tem uma grande importância, porque cerca de 60% da população do país não sabe ler. E a grande massa dos analfabetos está justamente entre os operários, os camponeses, as camadas trabalhadoras da população, para as quais nossa agitação deve ser principalmente dirigida.

É SEMPRE POSSÍVEL FAZER

Além disso, a agitação falada sempre se pode fazer, de uma ou de outra forma, ao passo que a agitação escrita nem sempre é possível. A agitação escrita exige certos meios (material de impressão) com que às vezes não se pode contar.

Numa greve em São Paulo, por exemplo, a polícia ocupou a tipografia do Partido. Ali imprimiu um volante, em nome do Partido, concitando os trabalhadores a voltarem ao trabalho. Como era natural, o volante lançou grande confusão no meio da massa. Que fazer? O Partido não podia tirar material impresso desmascarando a manobra, porque não dispunha de outra tipografia e não havia tempo a perder. Só através da palavra falada dos agitadores era possível esclarecer os grevistas e sustentar a luta.

FORMAS DE AGITAÇÃO FALADA

Quando se trata da agitação falada, em geral se pensa apenas nos discursos de comício. Os discursos são, sem dúvida, uma importantíssima forma de Agitação. E tanto têm importância os grandes comícios em praça pública como os pequenos comícios, os comícios relâmpago que se realizam nas portas das empresas, nas feiras, nos pontos movimentados da cidade.

Mas a agitação falada não se faz apenas por meio de discursos. Uma das formas mais importantes é a agitação que se faz diariamente em palestras com os companheiros de trabalho na empresa, com os vizinhos no bairro. Esta agitação, quando tem um caráter contínuo, persistente e orientado, obtém grandes resultados.

Outra forma de agitação falada, de grande importância, é a visita de casa em casa. O êxito das campanhas de assinaturas ao Apelo de Estocolmo e ao Apelo por um Pacto de Paz decorre, em grande parte, desse contato vivo entre os agitadores e a massa.

ORIENTAÇÃO DOS AGITADORES

Existe entre nós esta agitação por meio de conversas na empresa, de palestras com grupos, de visitas de casa em casa? Certamente existe. Mas ainda é insuficiente e, sobretudo, não é orientada. Alguns companheiros das células conversam espontaneamente com a massa, sobre qualquer assunto, sem ter um objetivo com a palestra.

Esta agitação diária na empresa pode e deve ser organizada e orientada. É o que nos mostra a experiência recente de uma fábrica de São Paulo. Ali, o encarregado de agitação e propaganda orienta os militantes sobre as conversas diárias. Na hora do almoço, os comunistas dessa empresa não se reunem num canto, isolados da massa, para conversarem uns com os outros. Pelo contrário: espalham-se no meio da massa e cada um procura conversar com o maior número de operários não comunistas sobre o assunto do dia. Surgiu, por exemplo, a questão do Acordo Militar com os Estados. O “agit-prop” da célula orientou logo os companheiros sobre o assunto, deu os principais argumentos e mostrou como responder às dúvidas dos operários. Depois de alguns dias, ouviu os companheiros e colheu experiências interessantes. Estas experiências foram discutidas e aplicadas. O resultado foi que, em poucos dias, um abaixo-assinado contra o Acordo Militar recebeu dezenas de assinaturas. 

Tudo isto mostra que a palavra falada é realmente a principal arma do agitador. O que não significa que a agitação escrita não tenha também uma grande importância. Um bom volante ou um jornal de empresa bem feito são poderosos meios de agitação.

Utilizando todas as formas de agitação, precisamos valorizar a agitação falada e acabar com as tendências que existem para subestimá-la. Subestimar a agitação falada é não compreender a necessidade de ligação viva com a massa, é ter medo de falar à massa, é uma manifestação de sectarismo.