'A luta é, sobretudo, estética - por que têm medo de nós?' (Rocco)
Coloco em reflexão: “será que PCB-RR não seria um pcbismo de nossa parte”? Será que não seria reformar um PCB (ainda existente, com a estética atual que tem) em nome de um “passado glorioso”?
Por Rocco para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camarades, essa é a primeira tribuna que estou escrevendo (porém, não a primeira que tento escrever). Recentemente algumas tribunas sobre Identidade do Partido (nomeadamente, das camaradas Tali e Bernie, Bi e outres) e questões LGBT me forçaram, positivamente, a finalmente expor e compartilhar meus pensamentos, reflexões e, por que não, minhas referências. Por fim, já gostaria de apontar que esta é a primeira de duas tribunas que trarei da temática identidade-estética do nosso (em construção) novo partido. Nesta exponho mais reflexões e na seguinte, trarei algo um pouco mais propositivo, mas, sempre, inconformado (dic.: que ou aquele que não se conforma ou não se conformou, não se resigna; recalcitrante, renitente).
A crise é, sobretudo, estética
Guiados pelo MHD (materialismo histórico dialético), voltemos para um passado muito recente e que ainda é presente. A nova onda fascista vêm assolando o Brasil desde o golpe da presidenta Dilma em 2013, ficando mais evidente no governo de J.M.Bolsonaro.
Para Jason Stanley, o Fascismo “ é a ideologia baseada em poder. Democracia Liberal é baseada na Igualdade e Liberdade. Liberdade e igualdade exigem Verdade. A verdade é necessária na mediação dos poderes. Se o poder é exercido na base da mentira, você não é livre”. … “O Facismo é uma ideologia embasada no poder e na lealdade. Ele é hipersexual e hipermasculino, e hiperpatriarcal”. Ressalto alguns dos pilares estruturados pelo autor:
- Anti-Intelectualismo - Hitler dizia: você tem que ter uma propaganda que tenha apelo diante dos menos educados.
- Tensão Sexual: Tensão sob os minoritários. Transformam o estupro em um medo permanente, na medida que usa essa palavra o tempo todo.
- Sodoma e Gomorra: História bíblica Os valores de um grupo, são melhores que os valores do outro grupo. E com isso, justificar a perseguição. “Os valores reais vem do coração da terra. As pessoas da cidade são decadentes”
- Hierarquia: As tradições do grupo dominante devem ser seguidas por todos; As minorias devem se adaptar, ou, sumir. O grupo dominante se considera o melhor que todo o resto. Eles são herdeiros daquele passado glorioso e merecem respeito somente por existirem.
Com um uso estratégico das mídias sociais, nada mais dantesco do que um “tio do pavê, guiando seu próprio exército de Brancaleone”. O Mito se fez Meme. Ensaiava simplicidade comendo farinha e se sujando todo - escondendo um verdadeiro ódio e escárnio ao povo brasileiro, em sua maioria, “da classe baixa” - enquanto desfilava jóias - ou melhor, acordos escusos com outros neo-fascistas espalhados pelo mundo -, com sua amada esposa - porém odiada pelos seus “enteados: os irmãos metralha” - uma preciosidade do NeoPentecostalismo.
Um ódio à inteligência, um ensaio de Goebbels e um pseudo filósofo negacionista eram perfeitos para o discurso - também muito usual do fascismo - a apolítica: um indivíduo fora do meio, que emerge do povo e, como um paternalista, guiará sua família de volta à um passado de glória, mas, sobretudo, de respeito, de moralidade: a ditadura empresarial-militar. Mulheres, LGBT e “populações em situação de risco” seriam seus principais alvos, afinal, a moral cristã deveria ser a única moral, uma resposta simples a qualquer problema complexo: ‘Deus, pátria e família”. Um mix dos fascistas do passado e do presente, com um “toque brasileiro”: A camisa verde e amarela. Um viralatismo como arma interna.
Percebemos assim, não só que a crise é sobretudo, estética, mas, principalmente, o quão a estética é tão importante e, ao mesmo tempo, ainda nos é muito cara.
A roupa do rei: um partido para os comunistas
Podemos ver o quanto nos é cara, inclusive dentro de “nosso campo revolucionário” (Socialismo, Comunismo e Anarquismo). Lênin, foi um, dentre tantos, que denunciava uma “tendência economicista” no POSDR, em seu livro Que Fazer:
“Se julgarmos as pessoas pelo brilhante uniforme com que elas próprias se vestiram, bem como do título pomposo que elas próprias se deram, mas segundo suas maneiras de agir e as ideias que de fato propagam, tornar-se-á claro que a liberdade de crítica é a liberdade da tendência oportunista no seio da social democracia”
“Que coisa mais superficial que pode haver do que a maneira de julgar toda uma tendência na base do que de si próprio dizem os representantes? Que pode haver de mais superficial do que a «moral» subsequente a propósito dos dois tipos ou caminhos diferentes, e até diametralmente opostos, do desenvolvimento do partido”
No fundo, o que quero trazer à baila, é: De que vale um Partido Comunista Brasileiro (PCB ou até PCdoB) que não mostra por meio de sua práxis, a construção do horizonte revolucionário, ao passo que constrói as possibilidades para o mesmo?
Um partido revolucionário receberá, como mérito de sua construção, a alcunha de comunista, e não o contrário.
Com isso em mente, coloco em reflexão: “será que PCB-RR não seria um pcbismo de nossa parte”? Será que não seria reformar um PCB (ainda existente, com a estética atual que tem) em nome de um “passado glorioso”?
Particularmente, respondo: não quero ser associado à estética atual do PCB, até mesmo pelo modus que ela tem revelado. Se mostra oportunista e com uma hegemonia interna que adoece, diariamente, os militantes que ainda acreditam em alguma mudança. Que usam os 100 anos de construção para engaranhar novas ovelhas para seu secto, ou pior, mais recentemente, em um post no instagram comparam militantes à amigos utilizando como primeira característica o auxílio financeiro, como qualquer outro “clubinho capitalista”.
Identidade Brasileira: um partido do povo
Antes de nos perguntarmos quais as características do proletariado brasileiro atual (e histórico-político e economicamente criadas) proponho que perguntemos: quem somos?
Não tenho dados concretos (o que acho de extrema importância de conhecimento de toda militância - mas isso caberia uma outra tribuna), mas percebo que a maioria de nossas fileiras é formada por homens, brancos, cisgêneros e da “classe média” (seja pequena burguesia ou proletariado premium). Só isso já me faz pensar em diversos problemas, mas não parei por aqui. Além disso, são hegemônicos também em suas referências: Marx-Lenin e seus contemporâneos Europeus.
Se a práxis é a união da teoria com a prática, como que, a partir desta realidade e destas referências, ousamos defender a bandeira da “Contra-Hegemonia”? Ora camaradas, precisamos nos atentar muito bem para nossas fileiras, quantas vozes femininas, pretas, LGBT, pcd e “periferizados” estão sendo caladas ou, minimamente, suplantadas pelas mesmas vozes masculinas, masculinistas e machistas que nos oprimem diariamente fora do partido.
Seria idealismo achar que estas contradições não estariam presentes em nossas fileiras, mas este é o nosso momento. Pessoalmente, sei que sou branco, cisgênero e de classe média. Mais ainda, dentre os LGBT, talvez “a letra que menos seja oprimida”, mas, a minha luta não é individual. Minha luta é pelo povo. Minha luta é contra-hegemônica.
Referências
- Como funciona o Fascismo. (STANLEY, Jason)
- 1984: Pilares do Fascismo I METEORO BRASIL (vídeo 1)
- Como funciona o Fascismo no Brasil I METEORO BRASIL (vídeo 2)
- Que Fazer? (LENIN)
Referências Complementares: Debates Estética
- Jones comenta debate sobre estética do Azideia | HISTÓRIA CABELUDA (vídeo 1)
- Ian Neves, humberto matos, Chavoso da USP e Paulo Galo debatem questões da esquerda | HISTÓRIA CABELUDA (vídeo 2)
- Jones Manoel traz bom ponto sobre debate entre Humberto, Ian Neves, Paulo Galo e Thiago Chavoso I HUMBERTO MATOS (vídeo 3)
Eficácia Simbólica I TEMPERO DRAG (vídeo)