'A invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil - importante reflexão do tema de redação do Enem' (Clara Medeiros)
O sistema capitalista se apropria de pautas para esvazia-las a seu bel prazer, ao inserir as mulheres no mercado de trabalho e coloca-las como responsáveis pelo trabalho de cuidado não remunerado, cria-se uma dupla e até tripla jornada de trabalho, resultando na exaustão sistemática de muitas.
Por Clara Medeiros para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Ainda que, enquanto comunistas, sabemos que o Exame Nacional do Ensino Médio é excludente e nem deveria existir, há grande importância no tema escolhido para a redação e algo pouco discutido pelo movimento de esquerda, ainda que tenha grande base teórica e acúmulo por parte de comunistas e marxistas.
Com isso em mente, cito a grande estudiosa do assunto, com diversos artigos e livros publicados a cerca do assunto: Silvia Federici.
˜Exigir salários pelo trabalho doméstico é, por si só, recusar a aceitar nosso trabalho como um destino biológico. Na verdade, nada tem sido tão eficaz na institucionalização de nosso trabalho quanto o fato de que não é salário, e sim o ‘amor’, que sempre pagou por ele.”
Vendo os textos motivacionais de apoio ao tema, o Inep propositalmente peca ao não trazer neles a raiz do problema, tão bem colocada por Federici: o capitalismo.
Como a autora traz em seu livro “O Calibã e a bruxa”, historicamente, o sistema opressor sempre colocou a mulher como responsável pelo trabalho do cuidado: filhos, casa, marido e pais. Sendo esse um trabalho não remunerado, o sistema se beneficia colocando a responsabilidade sobre a mulher, sendo as da classe trabalhadora as principais prejudicadas nessa situação.
Se hoje em dia o sistema capitalista se apropria de pautas para esvazia-las a seu bel prazer, ao inserir as mulheres no mercado de trabalho e coloca-las como responsáveis pelo trabalho de cuidado não remunerado, cria-se uma dupla e até tripla jornada de trabalho, resultando na exaustão sistemática de muitas.
Federici é certeira ao pontuar que a solução imediata é lutarmos pela remuneração, por parte do Estado, a esse trabalho tão essencial, ainda que tão invisibilizado.
Portanto, voltando ao fator desse ser o tema da redação, ao solicitar ˜desafios ao enfrentamento”, há apenas uma resposta correta: o fim do sistema capitalista. Sendo essa a raíz do problema, é óbvio concluir que ao cortar o mal pela raíz, o problema se dissolve.
E é esse um dos pontos fundamentais do feminismo classista.