A guerra imperialista e a revolução socialista como resposta
A crise do capitalismo e a política belicista do capital monopolista suscitarão novas situações revolucionárias. É nossa tarefa preparar o movimento operário para assumir o poder e instaurar a ditadura do proletariado.
Via Partido do Trabalho da Áustria (PdA)
Na véspera da Primeira Guerra Mundial imperialista, tornava-se cada vez mais claro que, no movimento operário, começavam a formar-se duas correntes que se afastavam do marxismo: por um lado, o oportunismo/revisionismo e, por outro, o anarquismo. Em 1912, Lenin observa em seu texto “As diferenças no movimento operário europeu” que não se tratava de um fenômeno limitado a alguns países, mas que começava a surgir em toda parte; ou seja, a causa devia ser encontrada no próprio desenvolvimento do capitalismo.
Também hoje nos encontramos no meio de uma crise abrangente do sistema imperialista mundial e podemos observar a formação de um bloco oportunista e revisionista no movimento comunista e operário internacional. Lenin não deu apenas uma resposta teórica ao revisionismo e ao oportunismo; sob sua liderança, os bolcheviques deram também uma resposta prática com a Revolução de Outubro, comprovando a correção da teoria marxista.
No início do século XX, a formação do imperialismo como fase superior do capitalismo estava concluída. Nos países capitalistas mais desenvolvidos da época havia se estabelecido um capitalismo monopolista, e a partilha dos mercados estava finalizada.
No entanto, o desenvolvimento desigual do capitalismo fez com que a divisão dos mercados e das colônias não estivesse, nem pudesse estar definitivamente concluída. Enquanto alguns procuravam assegurar sua influência, capitais emergentes e seus Estados tentavam impor uma nova repartição. Já por volta da virada do século XIX para o XX, observa-se um aumento dos conflitos e confrontos armados, em parte diretos e em parte indiretos, travados entre as grandes potências.
Estes culminaram inevitavelmente na Primeira Guerra Mundial imperialista, que não por acaso se iniciou nos Bálcãs, onde se chocavam os interesses da Rússia, da Monarquia dos Habsburgo e do Império Otomano, todos buscando estabelecer sua supremacia na região.
Ao mesmo tempo, formaram-se correntes oportunistas e revisionistas na social-democracia europeia como desvios do marxismo, cujos teóricos mais destacados foram Bernstein e Kautsky. Bernstein questiona a concentração do capital e a monopolização no capitalismo e, em seu lugar, defende a tese de que a propensão do capitalismo às crises estaria diminuindo e a prosperidade aumentando. A partir disso, tenta substituir a revolução pela reforma e afirma a existência de um caminho para o socialismo por meio de reformas.
Essas teses de Bernstein, e posteriormente desenvolvidas por Kautsky, encontraram terreno fértil em setores da social-democracia, como Lenin já constata em “As diferenças no movimento operário europeu”. Lenin identifica como causa disso a formação do capitalismo monopolista, do imperialismo, enquanto causa econômica. Devido à alta concentração de capital, o capital monopolista pode subornar partes da classe operária com superlucros – a chamada aristocracia operária – que se torna portadora do oportunismo e do revisionismo no movimento operário.
O oportunismo e o revisionismo culminam, por fim, no colapso da Segunda Internacional no início da Primeira Guerra Mundial imperialista e na passagem dos partidos social-democratas para o lado da burguesia nacional respectiva, apoiando-a na guerra imperialista sob palavras de ordem como “defesa da pátria”, “guerra defensiva” ou “libertação da classe operária russa do jugo do tsarismo”.
Em essência, Lenin opõe ao oportunismo e ao revisionismo no movimento operário cinco teses:
- O capitalismo moderno, o imperialismo, é um capitalismo monopolista no qual o Estado é o Estado do capital monopolista e financeiro.
- O imperialismo é um capitalismo apodrecido, que só consegue enfrentar as crises por meio de guerras, e no qual a concentração dos meios de produção nas mãos dos monopólios e a socialização do trabalho já avançaram a tal ponto que se trata de um capitalismo de transição, maduro para a revolução socialista.
- A guerra é uma guerra imperialista pela redivisão do mundo entre os monopólios; nessas condições, nenhum dos países envolvidos trava uma guerra defensiva, mas sim uma guerra pela supremacia.
- A classe operária não tem interesse nessa guerra; sua tarefa é virar os fuzis, derrubar o próprio governo dos monopólios, instaurar a ditadura do proletariado e preparar o terreno para a construção do socialismo e do comunismo.
- Para derrotar o capitalismo monopolista organizado, é necessária uma organização revolucionária sólida e disciplinada, o partido de novo tipo – o partido comunista –, uma organização de revolucionários profissionais capaz de atuar tanto na legalidade quanto na ilegalidade e de preparar a revolução.
Se, na época de Lenin, apenas um punhado de bandidos imperialistas dividia o mundo entre si, hoje lidamos com o imperialismo como um sistema mundial. A exportação de capitais, o colapso em grande parte dos impérios coloniais na segunda metade do século XX e a contrarrevolução nos Estados socialistas da Europa deram origem a uma multiplicidade de Estados capitalistas mais ou menos desenvolvidos e criaram novos centros imperialistas por meio do desenvolvimento desigual do capitalismo. O atual sistema imperialista mundial é caracterizado por interdependência, dominação e subordinação.
O capital monopolista e financeiro austríaco navega na esteira do capital monopolista e financeiro alemão, economicamente muito mais forte, e soube utilizar habilmente a guerra imperialista da OTAN contra a Iugoslávia, bem como a ampliação da UE para o Leste, para sua própria exportação de capitais para diversos países, consolidando sua influência econômica. Ao mesmo tempo, não é competitivo frente aos monopólios europeus mais fortes e se subordina prontamente quando surgem contradições.
O surgimento de novos Estados capitalistas e centros imperialistas, bem como o aprofundamento contínuo da crise do capitalismo, intensificaram ainda mais a concorrência entre os monopólios, de modo que os conflitos passam cada vez mais a ser travados não apenas por pressão diplomática, mas por meios militares.
Isso pode ser observado no aumento de conflitos militares em todo o mundo, chegando até o genocídio de Israel na Palestina, com o apoio da OTAN, da UE e dos EUA, bem como de seus aliados árabes. A militarização e o rearmamento tornam-se cada vez mais pilares da economia da UE em crise. Em preparação para novos e maiores confrontos militares, a UE está convertendo sua economia em uma economia de guerra. Ao mesmo tempo, a UE corre o risco de ficar para trás em relação à China capitalista e aos EUA nas áreas de IA e novas tecnologias.
A política de rearmamento e militarização vem acompanhada de ataques intensificados aos direitos sociais e políticos da classe operária e das camadas populares. O anticomunismo volta a ser socialmente aceitável e, especialmente nos Estados da Europa Oriental, torna-se um pilar essencial de sua política. Símbolos e partidos comunistas são proibidos ou ameaçados de proibição. A UE, que se proclama defensora da democracia, apoia essa política por meio de resoluções que equiparam comunismo e fascismo e falsificam ativamente a história.
Mais uma vez, fica evidente que a democracia burguesa é uma mascarada para ocultar a política da classe dominante. Uma política semelhante pode ser observada também na Rússia capitalista, onde a classe dominante se apropria seletivamente de símbolos do passado socialista para encobrir sua política reacionária. Ao mesmo tempo, fascistas e contrarrevolucionários são reabilitados, enquanto comunistas são criminalizados e perseguidos.
Hoje, o movimento comunista e operário enfrenta desafios semelhantes aos da véspera da Primeira Guerra Mundial imperialista: o agravamento das contradições entre os monopólios pela disputa de controle e supremacia sobre recursos, matérias-primas, rotas comerciais e domínio geopolítico; o aumento do perigo de guerra; e novas correntes oportunistas e revisionistas que tentam dividir e desorientar o movimento operário.
Desde o reformismo clássico dos chamados partidos eurocomunistas até grupos que afirmam que a Rússia estaria travando na Ucrânia uma guerra antifascista e que seria necessário fortalecer alianças capitalistas como os BRICS ou a ALBA para enfraquecer o bloco transatlântico dos EUA, da OTAN e da UE.
Todos esses desenvolvimentos deixam claro que as contradições fundamentais analisadas por Lenin na véspera da Primeira Guerra Mundial não apenas continuam a existir, mas retornam de forma agravada.
Como em 1914, hoje nos encontramos diante de uma situação em que o capital busca uma saída para a crise por meio da guerra, o movimento operário é confundido por correntes oportunistas e revisionistas, e amplos setores da opinião pública são desorientados por ideologias burguesas – desde narrativas de guerra “democráticas” até ilusões multipolares.
Justamente por isso, coloca-se novamente a questão: que lições tiramos da Revolução de Outubro?
Pois os bolcheviques não apenas forneceram a análise correta da guerra, mas sobretudo mostraram qual conclusão prática a classe operária deve tirar em uma situação histórica como essa.
A Revolução de Outubro foi a resposta à guerra imperialista. E ela também nos oferece hoje um critério para compreender a atual intensificação global do sistema imperialista – e uma orientação sobre como o movimento revolucionário deve reagir às novas condições.
As tarefas do movimento comunista e operário hoje são:
- a luta contra o oportunismo e o revisionismo, pela clareza e pela unidade;
- a (re)construção de um movimento sindical classista e anticapitalista;
- a organização de um movimento pela paz anti-imperialista e anticapitalista;
- a (re)construção de partidos comunistas fortes como partidos revolucionários de novo tipo, estreitamente ligados ao movimento operário em seus países e capazes de dirigi-lo e organizá-lo;
- desmascarar de forma implacável a política da classe dominante, dos partidos burgueses e social-democratas.
Essas são as condições fundamentais para poder contrapor uma forte mobilização operária e popular à guerra imperialista que se aproxima. A crise do capitalismo e a política belicista do capital monopolista inevitavelmente suscitarão novas situações revolucionárias. É nossa tarefa preparar o movimento operário e popular nos países para assumir o poder e instaurar a ditadura do proletariado.