'A destruição da monogamia também é uma tarefa conjunta' (Malu)

É importante que nos formemos sobre o tema e socializemos os acúmulos sobre a monogamia, para que façamos as críticas de forma séria e responsável.

'A destruição da monogamia também é uma tarefa conjunta' (Malu)
"A estrutura monogâmica, integralmente ligada ao capitalismo, por meio das morais e valores cristãos, dita, de forma violenta, como mulheres devem se relacionar, submissas a seus parceiros, tendo suas individualidades apagadas e sua independência arrancada."

Por Malu para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, gostaria de iniciar um debate essencial para a formação da nossa militância em torno dos acúmulos sobre gênero, raça e sexualidade, nesse caso sendo sobre a destruição da estrutura monogâmica. Precisamos, de agora em diante, tratar sobre esse tema com seriedade, responsabilidade e como um compromisso de nossa organização em nos formar e pensar as estratégias e táticas para o rompimento objetivo dessa estrutura.

“A ordem e a normalidade são características da colonização, de modo que a descolonização, quando se efetiva, produz justamente a desordem absoluta” (Geni Núñez, 2023)

O trecho acima foi retirado da introdução do livro “Descolonizando Afetos: Experimentações sobre outras formas de amar”, em que a autora Geni Núñez traz o debate sobre a monogamia e como ela está totalmente relacionada com o processo de colonização, de maneira que estrutura em nossa sociedade o que é considerado “normal” em um relacionamento – relação cisheteronormativa, branca e monogâmica – e o que é considerado desviante – nesse caso, Geni traz as diferentes experiências e entendimentos sobre relacionamentos afetivos (não só amorosos, mas também familiar, por exemplo) nas comunidades originárias.

Assim como a autora, Engels no livro “A origem da família, da propriedade privada e do Estado” nos mostra como a monogamia enquanto estrutura se enraíza e afeta todas as camadas da sociedade, seja ela econômica, política ou social. Por exemplo, o casamento, sendo uma relação monogâmica, não condiz apenas ao casal que se relaciona entre si, mas também é uma relação econômica que corresponde ao Estado, por meio de leis que garantem a efetivação desse casamento, e também às morais e valores cristãos.

Não pretendo aqui, camaradas, me aprofundar teoricamente sobre esse tema, mas sim introduzir um debate tão escasso dentro dos espaços de militância, mas quis introduzir trazendo esses dois autores para dar um panorama de como a estrutura monogâmica nos afeta em diferentes âmbitos de nossa sociedade. Me incomoda como um assunto que está totalmente relacionado com a vivência de mulheres, pessoas LGBTQIA + e de pessoas não-brancas ser totalmente jogado de escanteio em nossa organização, sendo que estamos falando de uma das raízes do problema das opressões contra esses grupos.

A estrutura monogâmica, integralmente ligada ao capitalismo, por meio das morais e valores cristãos, dita, de forma violenta, como mulheres devem se relacionar, submissas a seus parceiros, tendo suas individualidades apagadas e sua independência arrancada. Infelizmente, muitas têm suas vidas tiradas por seus parceiros por não quererem se submeter a uma vida que não foi ditada por elas. Enquanto isso, ditam para pessoas LGBTQIA+ e não-brancas que não há espaço para elas nessa estrutura, para nós o afeto é negado. Se divulga que o sonho do indivíduo é a família branca cisheteronormativa, enquanto nos coisificam enquanto desviantes, nossa forma de se relacionar é “exótica” ou “estranha demais” para essa estrutura.

Falar sobre e criticar a monogamia, camaradas, além de analisar sobre nossas relações com nosses parceires, amigues, família e nós mesmes – o que também é extremamente importante –, é falar, como foi dito anteriormente, sobre uma estrutura que nos aprisiona e violenta diariamente. Não falar sobre ou não tratar com seriedade (como é feito nas redes sociais de tratar o assunto como um “meme”, de forma moralista) apenas atrasa nossos debates sobre gênero, sexualidade e raça, além do erro que é terceirizar essas discussões para, sobretudo, camaradas mulheres e LGBTQIA+, como se apenas nós que tivéssemos o compromisso de debater. Se temos o horizonte, como organização, de emancipar os grupos marginalizados e destruir essas categorias, temos que, também de forma conjunta, ter como horizonte a destruição dessa estrutura! O capitalismo não será derrotado enquanto existir a estrutura monogâmica ou qualquer sistema de opressão contra algum grupo!

Dito isso, camaradas, é importante que nos formemos sobre o tema e socializemos os acúmulos sobre a monogamia, para que façamos as críticas de forma séria e responsável. Pensemos juntos os caminhos para a destruição da monogamia. Para isso, gostaria de recomendar alguns materiais, dois que usei de referência e um vídeo:

  • “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” - Friedrich Engels
  • “Descolonizando Afetos: Experimentações sobre outras formas de amar” - Geni Núñez
  • “FAMILIA, RELIGIÃO E POLÍTICA”| Amanda Palha, Flávia Biroli e Henrique Vieira https://youtu.be/A_HFxALrTS8?si=RA__tHm5OdTsAaUi

Camaradas, concluo o texto pedindo para que todes debatam, consumam esses conteúdos e que também, se achar necessário, trazer críticas em torno do meu texto. Espero que, daqui em diante, possamos ter debates mais aprofundados sobre o assunto.

Saudações comunistas.