A criação do bloco “A Ho Chi Minh que nóis num Prestes”: Bateria Vermelha e bloco de carnaval como potenciais meios de agitação e propaganda
Após leituras e formações coletivas, nos baseamos em suas obras e análises para a composição do samba enredo do nosso carnaval, cujo título tema escolhido foi: Clóvis Moura narra o negro no Brasil.

Por Redação
O ano de 2024 marcou uma data histórica para o movimento comunista: o centenário de morte de Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido apenas como Lênin. Revolucionário indúbio, militante aguerrido e teórico incontornável dentro do desenvolvimento histórico do marxismo, Lênin tem, em sua vida e sua obra, a capacidade de nos apontar a direção correta para superar as barreiras míopes das pautas da social democracia, dando voz à reivindicação de um novo mundo, em rumo à real liberdade, tendo o fim do capitalismo e a construção do socialismo como único meio capaz de acabar com a exploração do homem pelo homem.
Nascido em 22 de abril de 1870, e falecido em 21 de janeiro de 1924, em seus 53 anos de vida produziu uma vasta obra em prol da expansão da teoria marxista, em especial entendendo as dificuldades organizacionais e táticas da classe trabalhadora em sua luta pela revolução. Com suas conceituações de centralismo democrático e agitação e propaganda, Lênin nos deixou verdadeiras ferramentas teóricas de guerra para auxiliar na criação de um Partido revolucionário robusto e capaz de trazer para si os membros mais preparados da classe trabalhadora. No entanto, muito além disso, também trouxe grande contribuição para lacunas existentes na teoria revolucionária até então, tais como: o funcionamento do Estado burguês e sua função de opressão de classes, bem como usurpá-lo no contexto de revolução, na obra “O Estado e a Revolução”; o desenvolvimento do capitalismo em sua face contemporânea, o imperialismo, na obra “Imperialismo: Face Superior do Capitalismo”; além de contribuições filosóficas com a obra “Cadernos Filosóficos”, em que debate extensamente a produção de diversos filósofos, em especial a dialética de Hegel.
Sendo assim, a figura de Lênin foi a escolha óbvia e unânime para o tema de carnaval de 2024 da Bateria Vermelha, em rememoração dos cem anos de sua morte. De maneira emblemática, essa data também marcou o nascimento de algo em nosso país, em um contexto conturbado de ruptura e disputa política.
Com o processo de consolidação do racha do PCB, iniciado no ano de 2023, houve momentaneamente, em suas reviravoltas conturbadas, permeadas de artimanhas políticas e expulsões arbitrárias, a sensação enevoada de um rebaixamento do nosso horizonte político. No entanto, esse contexto acabou por nomear a ferramenta da vanguarda proletária brasileira como Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, continuidade do Movimento em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB.
Ao longo dos últimos anos, camaradas do antigo PCB tocavam a tarefa de levar a bateria do Partido em atos e eventos, entretanto, sem nome próprio para a bateria, nem direcionamento partidário para ensaios e criações agitativas. Depois do episódio em que, ao aderirem ao manifesto de reconstrução revolucionária do partido, os camaradas que tocavam na bateria do PCB tiveram os instrumentos confiscados devido aos seus posicionamentos contrários ao Comitê Central, foram obrigados a começar do zero.
Com identidade visual, instrumentos novos, local de atividades e camaradas dispostos a ensinar e aprender sobre como tocar instrumentos de samba, além de formações relacionadas à música e à cultura popular, nascia também o bloco de carnaval A Ho Chi Min Que nóis num Prestes, que contou com sambas famosos condizentes com nossa linha política no repertório, dentre elas nosso samba enredo autoral em homenagem a Lênin, cuja letra estará no final desta matéria.
Após a primeira experiência como Bateria de um bloco de carnaval que, ainda que não oficial, atraiu um considerável público de camaradas e aproximados, os componentes da bateria decidiram fazer um balanço dessa primeira experiência, inferindo-a como qualitativa e necessária. A partir da Bateria Vermelha, vários aproximados do Partido puderam construir o carnaval conosco e, inclusive, interessar-se por se juntarem às nossas fileiras.
Assim, juntamente com o considerável número de camaradas e aproximados que, além de compor bloco e bateria, eram trabalhadores da cultura, fez-se também notável a vontade de construir algo para além de um bloco de carnaval, surgindo a ideia de nos estruturarmos enquanto uma célula do que era, até então, o Partido Comunista Brasileiro – Reconstrução Revolucionária.
Entendendo a agitação política como uma das principais tarefas da célula recém fundada, incluímos o bloco de carnaval como uma de nossas tarefas principais. Sendo assim, após reuniões de planejamento dos objetivos e estrutura do bloco, pautamos decidir a figura a ser homenageada no carnaval 2025.
A empolgação da camaradagem nos levou a discutir sobre muitas figuras: Clóvis Moura, Carolina Maria de Jesus, Dona Ivone Lara, Edison Carneiro, Thereza Santos, Laudelina de Campos Melo, Madrinha Eunice, entre outras.Em exercício de nossa democracia interna, nosso homenageado eleito foi Clóvis Moura.
Clóvis Steiger de Assis Moura, conhecido como Clóvis Moura, nasceu em Amarante, no Piauí, no dia 10 de julho de 1925 e faleceu em 23 de dezembro de 2003. Entre suas obras, contam títulos como “Raízes do Protesto negro no Brasil”; “Rebeliões da senzala” e “Sociologia do Negro Brasileiro”.
Baseando-se na teoria de Marx e Engels, o jornalista analisou a luta de classes no sistema escravista e questionou a visão do teórico Gilberto Freyre sobre a existência de uma democracia racial e a passividade do negro na história do Brasil. Moura estudou e expôs que a luta de classes existia no Brasil, mesmo antes do desenvolvimento do sistema capitalista, destacando a resistência negra na formação de quilombos e organização de rebeliões e fugas encabeçadas por pessoas escravizadas.
Sua extensa obra é fundamentalmente importante para entender as relações raciais em nosso país e estratégias e táticas revolucionárias para a mitigação da violência racial.
Devido a esses motivos, e por 2025 ser o centenário de Clóvis Moura, o escolhemos como tema de nosso samba enredo. Após leituras e formações coletivas, nos baseamos em suas obras e análises para a composição do samba enredo do nosso carnaval, cujo título tema escolhido foi: Clóvis Moura narra o negro no Brasil.
Enquanto os membros da Bateria Vermelha trabalham criativamente para construir os sambas enredo do Carnaval 2025 segue, como mencionado no início do texto, a letra do samba enredo em homenagem ao camarada Lênin, cujo título também encontra-se anterior à letra da música.
Veja também o lyric vídeo do samba enredo: https://www.instagram.com/p/DGqUsD3OOZn/
O FAROLEIRO DOS POVOS: 100 anos sem Lênin — samba enredo carnaval 2024
☭ Como o Rio Lena,
Que traçou o leito mais longo,
Ele subiu nos mais altos ombros,
Pra mirar a revolução.
E lá de cima, se fez como um farol,
Revelando como a luz do sol,
o horizonte que nos guia.
Não era ele, do povo um mero amigo,
Ele cria o partido,
o partido cria ele.
Assim definiu o seu xará,
e Oxalá que siga a clarear,
A luta dos povos oprimidos.
De uma faísca,
Se acendeu a chama,
Exu abriu os caminhos, da comunicação.
Arroboboi, Oxumarê,
ligou os pontos,
Criou um novo ciclo,
de transformação.
Organizou-se a maioria,
pra destronar a burguesia.
Sem se contentar,
com o ensaio geral,
A gente quer a nova ordem social.
Com o povo na rua, firme a cantar:
“Lutar, Criar, o Poder Popular!”.
Da Estação Finlândia,
Se abriu a avenida,
A Kizomba da classe oprimida,
é a Revolução.
O puxador, fantasiado de maquinista,
O mais bamba comunista,
cantou pra multidão:
“Transformai, a guerra imperialista,
Em guerra civil classista,
em luta contra o patrão.”
E assim, seguiu o curso da História,
Que a chama acesa da memória, nos guie na escuridão.
Passados 100 anos da tua partida,
A tua estrela ainda brilha, e nos guia pra revolução! ☭
Composição: Remi e Bateria Vermelha