É difícil fazer agitação política?

Numerosos fatos provam que os trabalhadores e o povo se interessam vivamente pelos problemas políticos e que a agitação política, quando feita com justeza, alcança os melhores resultados.

É difícil fazer agitação política?

Agitprop, suplemento de A Classe Operária, Órgão Central do PCB; publicado em Agosto de 1952.

Ainda há alguns camaradas que julgam muito difícil fazer agitação política. Pensam eles que a agitação na empresa, por exemplo, deve tratar apenas de questões econômicas – aumento de salários, assiduidade total, etc. Quando muito admitem que num volante sobre aumento de salários se ponha um “Viva a paz!”. Mas acham que não é conveniente fazer volantes especiais sobre a luta pela paz. Alegam que a massa não se interessa, em geral, por assuntos políticos.

Isto é um grave erro. Numerosos fatos provam que os trabalhadores e o povo se interessam vivamente pelos problemas políticos e que a agitação política, quando feita com justeza, alcança os melhores resultados.

CINCO EXEMPLOS

1) Em Porto Alegre, entraram em greve por aumento de salários 200 trabalhadores graniteiros. Durante a greve, realizaram várias assembléias sindicais. Numa delas levantou-se um partidário da paz e pediu para falar. Explicou, em linguagem simples, como a causa principal do aumento da miséria e da carestia é hoje a política de guerra. Mostrou que, ao lutarem pelas suas reivindicações, os trabalhadores devem igualmente pugnar pela paz. E um Pacto de Paz pode melhorar as condições de vida dos trabalhadores e do povo. Resultado: assembléia assinou, unanimemente, o Apelo por um Pacto de Paz.

Em São Paulo milhares de metalúrgicos estavam em luta por aumento de salários. Realizaram uma passeata para apresentar suas reivindicações aos patrões. Quando a massa passava em frente ao consulado americano, alguém gritou: “Pra Coréia, não!” Foi a conta: a multidão começou a repetir aquela palavra de ordem política com grande entusiasmo. A luta contra a ida de tropas para a Coréia é também una reivindicação sentida das massas.

2) Uma militante do Partido numa fábrica em São Paulo estava sem saber como começar a agitação pela paz em sua seção. Certo dia, na hora do descanso, conversava numa roda com outras companheiras de trabalho quando uma delas mostrou um retrato de seu noivo. Nossa companheira notou que o rapaz estava fardado. Então começou a falar no perigo de guerra, citou o Acordo Militar com os Estados Unidos, mostrou a ameaça do envio de tropas para a Coréia. Suas palavras impressionaram profundamente as operárias, que começaram a discutir sobre a guerra. Ela orientou a conversa para a questão do Pacto de Paz e explicou que todas podiam ajudar a impedir a guerra. Várias operárias, desde então, se tornaram ativas coletoras de assinaturas.

Esta experiência ensina que a agitação política não pode ser desligada dos fatos da vida diária do povo. Há sempre uma oportunidade para falar em paz: quando se trata de um noivado, quando se recebe o magro envelope do salário, quando se reclama contra a carestia, etc.

3) No 1º de Maio do ano passado, em São Paulo, realizou-se um torneio de futebol entre clubes juvenis operários. Na entrega da taça, um orador começou a falar sobre a paz. Mas este orador era daqueles que só sabem repetir frases decoradas. Esqueceu-se de que estava num campo de futebol e desandou a pronunciar um discurso sobre alta política internacional e nacional. “Precisamos forjar uma sólida frente em defesa da causa da paz”... “Os vândalos imperialistas nazi-ianques ameaçam a humanidade com a hecatombe de uma nova guerra”... gritava ele diante dos jovens espantados. A certa altura, os rapazes, cansados do jogo e aborrecidos com aquele palavrório, começaram a manifestar abertamente sua impaciência. E não aplaudiram o orador.

Então tomou a palavra outro orador. Também falou sobre a paz. Mas, que disse ele? “Colegas: quero felicitar vocês por esta bela festa esportiva. Todos nós gostamos do esporte, da alegria, da vida. E é por isso que precisamos lutar pela paz. Sem paz a juventude não pode dedicar-se ao esporte. Se vier a guerra, não poderemos mais viver nos campos de esporte: iremos morrer nos campos de batalha”... E continuou nesse tom, arrancando vibrantes aplausos dos jovens e conquistando seu apoio para a Cruzada da Paz.

4) Os operários de uma empresa metalúrgica de São Paulo dão um bom exemplo de agitação em defesa do petróleo, contra o projeto da “Petrobrás”. Quando se preparava o comício em defesa do petróleo, realizado na capital paulista a 30 de abril, os operários mais esclarecidos fizeram intensa agitação dentro da empresa. Explicaram à massa que, se for o petróleo entregue aos americanos, os lucros produzidos irão para os capitalistas ianques em vez de serem empregados em benefício do povo brasileiro. Mostraram também que os americanos desejam o petróleo para a guerra e querem dominar a economia nacional para aumentar a exploração dos trabalhadores.

O resultado foi que ao comício compareceram dezenas de operários da Metalúrgica. Todos queriam segurar, orgulhosamente a faixa que trazia o nome de empresa. E logo depois do comício dois operários foram recrutados para o Partido.

5) Numa cidade de S. Paulo foi convocado um comício no dia 15 de novembro, data da Proclamação da República. Um agitador comunista iniciou seu discurso dizendo:

“Há 62 anos foi proclamada a República. Há 62 anos a República brasileira vem sendo governada pelos grandes fazendeiros e grandes capitalistas, de comum acordo com os banqueiros estrangeiros. Qual tem sido o resultado desses governos? Mais fome para os operários, mais miséria para os camponeses. O povo vive oprimido, sem nenhuma liberdade. São os americanos que mandam em nosso país... Agora, de que é que o povo precisa? Agora o povo precisa que a República seja governada pelos operários e camponeses, que são a maioria da população, de comum acordo com todos os democratas e patriotas! Agora o povo precisa de um Governo Democrático Popular, como indica o Partido Comunista no Manifesto de Agosto!”

Calorosos aplausos saudaram este discurso, que calou fundo na compreensão da massa presente ao comício.